Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Enriquecimento de Alimentos só traz benefícios?


Sustagen é um alimento muito recomendado para crianças, quando os pais querem ou os médicos atestam um problema de crescimento ou deficiência nutricional.
Segundo MeadJohnson Sustagen® é : “Sustagen® é um alimento enriquecido com alto teor nutricional especialmente desenvolvido para crianças que precisam de um maior reforço de vitaminas e minerais em sua alimentação. Sua fórmula balanceada é rica em cálcio, proteínas, vitamina C, ferro, zinco e cobre que auxiliam no desenvolvimento saudável das crianças.”
Seu uso parece interessante para crianças com deficiências nutricionais, mas tem alguns porém. Será que todas as crianças com problemas nutricionais teráo deficiência de todas essas vitaminas e minerais? Além disso, será que o organismo consegue absorver todos esses nutrientes visto que alguns são absorvidos pelos mesmos receptores?Será que há algum risco de se ingerir essas vitaminas e minerais em excesso?

Por Luiz Paulo de Oliveira




INTRODUÇÃO
O Sustagen é um alimento conhecido pelas mães de classe média a alta. Sempre que os pais acham que o filho não creceu o sufuciente ou está muito magro eles compram o Sustagen. O problema que um alimento desse deve ser usado com cautela por ter um potencial risco se consumido por quem já tem essas vitaminas e minerais em boas quantidades no organismo, pois pode levar a alguns problemas. Além disso, alguns desses nutrientes pode apresentar efeito antagônico na absorção de outros. A tabela nutricional encontra-se abaixo com os respectivos %VD.



LEGISLAÇÃO
Segundo, Resolução - CNNPA nº 12, de 1978 alimentos enriquecidos são:
Considera-se alimento enriquecido, todo alimento ao qual for adicionada substância nutriente, com o objetivo de reforçar o seu valor nutritivo, seja repondo quantitativamente os nutrientes destruídos durante o processamento do alimento, seja suplementando-os com nutrientes em nível superior ao seu conteúdo normal.
A suplementação do alimento com vitamina e/ou sais minerais, obedecerá o critério de correlação entre o consumo médio diário recomendado de um certo alimento e a necessidade diária recomendada desses nutrientes.
Para as vitaminas e sais minerais adota-se para adultos, em estado físico normal, as tabelas anexas. Quando o alimento, pelo seu uso variado, não poder dispor, na sua rotulagem, de indicação clara de quantidade diária a ser utilizada, esta será calculada aproximadamente com base no consumo médio diário utilizado.
Quando os alimentos enriquecidos com vitaminas e/ou sais minerais e/ou aminoácidos não se destinarem a adultos em estado físico normal, as necessidades diárias desses nutrientes serão levadas em consideração com base em estudos e recomendações oficialmente aceitas. Para as vitaminas adota-se a tabela do "National Rescarch Council", Washington, U.S.A.
Para as vitaminas não constantes da Tabela anexa, a autoridade competente estabelecerá quantidades em cada caso, na ocasião oportuna.
Os alimentos enriquecidos de vitaminas e/ou sais minerais, para que assim possam ser denominados, devem fornecer na porção média diária ingerida, 60% no mínimo, da quota diária recomendada para adultos, dos nutrientes citados. É permitida a adição de até 100% a mais de vitaminas, exceto vitamina D, para compensar as perdas eventuais decorrentes do tempo de armazenamento do alimento; esse excesso de adição deve ter sua necessidade comprovada e ser declarado em relatório de fórmula que acompanha o processo de registro do alimento.
É proibida a adição de vitaminas às bebidas alcoólicas.
O enriquecimento de alimentos com aminoácidos específicos deve ser feito para corrigir a relação quantitativa entre os diversos aminoácidos existentes, ou para atender a necessidades orgânicas específicas. Em casos especiais de comprovada necessidade, para atingir objetivos de Saúde Pública através de programas destinados à nutrição de grupos populacionais, a autoridade sanitária poderá permitir a adição de nutrientes em níveis mais elevados.

NATUREZA DOS NUTRIENTES
No enriquecimento de alimentos, nenhuma substância nociva ou inadequada deverá ser introduzida ou formada como conseqüência da adição das vitaminas quimicamente puras ou de concentrados vitamínicos, dos sais minerais quimicamente puros, de aminoácidos, ou como conseqüência de processamento com o propósito de estabilizar as vitaminas.
As vitaminas que podem ser adicionadas são:
Vitamina A - retinol ou outra substância de ação vitamínica A; betacaroteno ou outra provitamina A ou mistura delas.
Vitamina B1 - tiamina ou outro derivado de tiamina.
Vitamina B-2 - riboflavina ou outro derivado da riboflavina.
Vitamina B-6 - piridoxina.
Vitamina B-12 - cobalamina.
Nicotinamida ou ácido nocotínico - niacina ou niacinamida - fator PP.
Ácido Fólico - e derivados.
Pantotenol e Fantotenatos de Sódio ou de Cálcio.
Vitamina C - ácido ascórbico ou outroderivado com ação vitamínica C.
Vitamina D - ergocalciferol (Vitamina D2) e colecalciferol (Vitamina D3) ou outra substância de ação vitaminica D.
Vitamina E - tocoferol ou outra substancia de ação vitamínica E.
Os sai minerais não nocivos que podem ser adicionados aos alimentos derivam dos seguintes elementos:
Cálcio, sob a forma de sal.
Magnésio, sob a forma de sal ou de óxido.
Ferro, sob a forma de metal livre ou de sal.
Iodo, sob a forma de sal iodeto ou iodato.
Cobre, sob a forma de sal.
Fósforo, sob a forma de sal fosfato, hiposulfito ou pirofosfato.
Será permitida a utilização de vitaminas e/ou sais minerais e/ou aminoácidos em forma de pré-misturas ou soluções, que utilizem solventes, diluentes ou dispersantes inócuos.

FUNDAMENTOS BROMATOLÓGICOS
Há certos riscos de se consumir em excesso vitaminas e minerais. São eles:
Vitamina A-pele seca e puriginosa, descamação da pele, dermatite eritematosa, alteração no cresimento dos cabelos, fissura nos lábios, dor e hipersensibilidade nos ossos, hiperostose, cefaléia, papiledema, anorexia, edema, fadiga, irritabilidade e hemorragia, pode também ocorrer hepatoesplenomegalia, hipertrofia das células que armazenam gordura, fibrose e hipertensão portal e ascite, no fígado, além de hipercalcemia, elevações dos triglicerídios plasmáticos e redução do colesterol e lipoproteínas de alta densidade. Além disso, pode levar a uma coloração alaranjada da pele.
Vitamina K-anemia hemolítica e hiperbilirrubinemia.
Vitamina D- causar graves danos aos ossos e uma fragilidade dos tecidos e dos rins. Provoca também um aumento exacerbado de cálcio sanguíneo, retirando este mineral dos ossos para a corrente sanguínea. Esse excesso tende a ser depositado nos tecidos moles do organismo. Pode haver a formação de litíases renais, pois o sangue tentará excretar o cálcio; além disso, pode haver formação de esclerose dos vasos sanguíneos.
Vitamina B1(Tiamina)- vasodilatação periférica, queda na frequência respiratória, convulsões, podendo levar à óbito por paralisia do centro respiratório.
Vitamina B12- reações alérgicas e alterações esplênicas.
Vitamina C- Cálculos renais, escorbuto de rebote nos filhos das mães que ingerem altas doses. Além disso, como a vitamina C auxilia na absorção do Ferro, um excesso de vitamina C pode levar a um acúmulo de Ferro.
Biotina- Diarréia.
Niacina- coceira, ondas de calor, hepatotoxicidade, distúrbios digestivos e ativação de úlceras pépticas.
Cálcio: cálculos renais, má absorção de magnésio, anorexia, dificuldade de memorização, depressão, irritabilidade e fraqueza muscular.
Ferro-vômito, diarréia e lesão intestinal. A pele apresenta uma coloração bronzeada. O indivíduo apresenta cirrose, câncer de fígado, diabetes e insuficiência cardíaca e morre prematuramente. Os sintomas podem incluir a artrite, a impotência, a infertilidade, hipotireoidismo e a fadiga crônica.
Zinco- sabor metálico, vômitos e problemas gástricosbaixos níveis de cobre, alterações na função do ferro, diminuição da função imunológica e dos níveis de colesterol bom.
Iodo- pode produzir o bócio e, algumas vezes, o hipertireoidismo.
Magnésio- Pressão baixa, problemas respiratórios, distúrbios no ritmo cardíaco, inibição da calcificação óssea.
Manganês- O excesso acumulado no fígado e no sistema nervoso central produz os sintomas do tipo Parkinson.
Cobre- náusea e vômito.

DISCUSSÃO
Há um grande problema na preparação de um alimento enriquecido com muitas vitaminas e minerais. Em primeiro lugar alguns destes competem pelos mesmos transportadores para serem absorvidos. Outro problema é a superexposição a esses nutrientes, visto que em raras exceções uma criança será desnutrida de todos esses ingredientes. Uma criança desnutrida de todos esses nutrientes estaria com seriíssimos problemas e provavelmente nem teria condições de adquirir uma lata que custa na faixa de R$20,00.
Um problema encontrado na legislação é que a mesma diz que nenhuma substancia nociva ou inadequada deverá ser introduzida, mas procurando na literatura o uso prolongado de suplementos pode levar a problemas pelo excesso de vitaminas em minerais.
Além disso, a legislação diz que para ser considerado enriquecido deve ter no mínimo 60% do VD em na porção. Isso não ocorre com a maioria dos nutrientes que o Sustagen tem. Além disso, 60% é um valor extremamente alto, o já que o consumidor só terá que consumir 40% em todos os outros alimentos existente, o que é muito pouco. A própria resolução da ANVISA faz com que alimentos enriquecidos possam se tornar um perigo para seus consumidores.

CONCLUSÃO
A ANVISA diz que não pode ser adicionado nenhuma substância nociva ou inadequada. Por todos esses problemas apresentados, essa quantidade percentual alta de vitaminas e minerais apresenta um grande risco e dependendo do caso pode ser considerada uma substância nociva. Devemos ter muita cautela na hora de tomar algo enriquecido com tantas vitaminas e minerais e a ANVISA deveria ter uma legislação em que não entrasse em contradição com a própria literatura, já que vitaminas e minerais podem causar problemas.

4 comentários:

  1. Segundo o trabalho acima, o excesso de vitaminas e minerais, principalmente em crianças em período de crescimento, apresenta inúmeros riscos. A fim de ratificar o que foi exposto pelo trabalho mencionado, o artigo intitulado "O consumo de cálcio e a osteoporose", publicado na Revista Semina: Ciências Biológicas e da Saúde, a qual trata-se de uma publicação semestral de divulgação científica e tecnológica vinculada à Universidade Estadual de Londrina, o consumo excessivo de cálcio é arriscado por não haver estudos suficientes em humanos avaliando os efeitos do consumo de cálcio por longos períodos (maiores que 2 anos). Desta forma, os resultados existentes podem ser influência do remodelamento ósseo transitório, um processo fisiológico e recorrente. Ainda segundo o mesmo trabalho, os suplementos devem ser tomados com cautela. Apesar de serem justificados para a maioria das mulheres, há uma possibilidade de que os suplementos de cálcio, por exemplo, causem alguns efeitos adversos e desequilíbrio se forem tomados em excesso.

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  2. Mariana de Rezende Silva10 de setembro de 2013 às 13:21

    Corroborando com o dito por Luiz Paulo de Oliveira e comentado por Caroline Vieira Cavalcante, o excesso nem sempre vai ser bom.
    O nível ideal de iodo no organismo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é de 100 a 300 µg/L (microgramas por litro), que é medido por um exame de urina.
    Observando este valor preconizado, numa porção de Sustagen® de 4 colheres de sopa contem 104µg de iodo que corresponde a 80% do valor diário recomendado. Considerando que uma criança ingere no mínimo 2 vezes ao dia esta porção, ela terá 208 µg, mais outros tipos alimentos que esta criança ingere que contêm iodo naturalmente, mais o sal de cozinha que é enriquecido com iodo, deste modo haverá um excesso de iodo nesta criança, considerando o preconizado pela Organização Mundial de Saúde.
    O enriquecimento de iodo no sal de cozinha tem com objetivo de prevenir doenças como bócio e, no caso das gestantes, ocasionar o nascimento de crianças com rebaixamento mental e surdez congênita. No entanto, o excesso de iodo pode ter como consequência o aumento de casos de Tireoidite de Hashimoto e hipotireoidismo.

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  3. Deve-se levar em conta a quantidade especificada para cada nutriente. Por exemplo, a vitamina D, cujo rótulo da embalagem diz que equivale a 17% ou 20% da recomendação diária, dependendo do tipo de uso. Essa quantidade está de acordo com a legislação citada, a Resolução - CNNPA nº 12, de 1978, que preconiza como dose diária de vitamina D para adultos como 400UI. De acordo com um estudo realizado nos EUA, a dose diária de vitamina D está muito abaixo da necessária para corrigir deficiência da mesma, com uma dose mínima de 5000UI diários, e uma dose de manutenção de 2000UI. Logo, cada vitamina deve ser levada em conta, assim como as doses preconizadas pela legislação vigente devem ser revistas.

    Referência: Singh G, Bonham AJ. A predictive equation to guide vitamin D replacement dose in patients. J Am Board Fam Med 2014;27:495–509

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  4. Entendo a boa intenção dos responsáveis em comprar o produto em questão para os seus filhos. Afinal, mais uma vez o apelo do marketing sobre produtos do tipo é grande e os responsáveis dificilmente pensariam que a inserção de um produto rico em vitaminas poderia trazer malefícios a saúde de uma criança. Porém a hipervitaminose é realmente uma questão a ser considerada. Observando o rótulo apresentado no trabalho me chamou atenção que um copo de 200 mL contém 73% da quantidade necessária de Vitamina A para um dia. Considerando que uma criança possa consumir o produto mais de uma vez ao dia, já que existem versões do produto com sabores atrativos ao paladar, já teríamos um extrapolamento das necessidades diárias de vitamina A. Por parecer um produto inofensivo muitas vezes os responsáveis não consultam um pediatra antes de oferecer o produto às crianças. Além disso, a falta de acompanhamento de crianças por um pediatra é realidade ainda em famílias de classe média. A hipervitaminose A pode ocorrer no consumo aumentado da vitamina A em suplementos e algumas das suas manifestações são: visão embaçada, pele seca e perda de cabelo. Podem ocorrer ainda lesões hepáticas, o que destaca a importância de se falar dos riscos de tais produtos.
    Penniston KL, Tanumihardjo SA. The acute and chronic toxic effects of vitamin A. Am J Clin Nutr 2006; 83:191.

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