Contém um sistema de carboidratos de lenta absorção, gorduras monoinsaturadas, além de muitas vitaminas e minerais. Em sua embalagem alega que há ‘’comprovação clínica na melhora da resposta glicêmica’’.
Fundamentos Bromatológicos
Glucerna SR apresenta como principal ingrediente a maltodextrina, que seria o carboidrato de lenta absorção referido. Possui em sua formulação caseinato de cálcio (proteína que aparece como segundo ingrediente em quantidade) e óleo de girassol altamente oléico (aparecendo como terceiro ingrediente) que são as gorduras monoinsaturadas citadas.
Além disso, em sua composição há fibras (fibra de soja e frutooligossacarídeos), muitos minerais (cálcio, ferro, fósforo, magnésio, zinco, manganês, selênio, iodo, potássio, cloreto, cobre, cromo e molibdênio) e muitas vitaminas (A, D, E, K, C, complexo B, niacina, ácido pantotênico, ácido fólico, colina e biotina).
Carboidratos são macronutrientes que correspondem a aproximadamente metade do valor energético total da alimentação. Podem ser complexos (oligossacarídeos e polissacarídeos) ou simples (dissacarídeos como lactose, maltose e sacarose ou monossacarídeos como glicose e frutose). Dependendo do tempo de digestão e da velocidade de absorção destes carboidratos, acarretam em diferentes respostas fisiológicas.
A maltodextrina pode ser considerada um oligossacarídeo, já que é composta por 5 a 10 unidades de glicose. É obtida a partir da hidrólise do amido (um polissacarídeo), sendo um amido parcialmente degradado, tendo estrutura química semelhante e menor peso molecular que este. Desta forma, este carboidrato seria de lenta absorção, pois é necessária sua hidrólise por amilases em fragmentos menores, para que então sejam absorvidos no trato gastrointestinal.
Carboidratos simples como os monossacarídeos são imediatamente absorvidos pela mucosa intestinal por transportadores ativos, sendo fontes de glicose rapidamente disponível.
O índice glicêmico é o aumento da glicose sanguínea após a ingestão de carboidratos, decorrente da absorção destes. Assim, a resposta glicêmica referida pelo produto seria o pico de concentração de glicose sanguínea, que ocorre após um estímulo alimentar contendo algum tipo de carboidrato.
A medida que a glicemia aumenta há uma resposta das células β – pancreáticas que secretam insulina para controlar esse aumento da concentração sanguínea de glicose pós-prandial, estimulando a captação da glicose pelas células, além de participar no controle do metabolismo intermediário.
No caso da maltodextrina haveria uma melhora da resposta glicêmica considerando que esta seria lentamente hidrolisada e absorvida. Assim, o produto anuncia que é formulado para pacientes diabéticos já que para estes não é desejável esse pico de glicemia pós-prandial.
Os portadores de diabetes mellitus tipo 1 apresentam células β – pancreáticas que perderam a capacidade de produzir insulina, então a secreção de insulina não é compatível com a necessidade metabólica do indivíduo e a glicemia permanece elevada.
Já nos portadores de diabetes mellitus tipo 2 há um quadro chamado de resistência insulínica, em que frequentemente há produção suficiente de insulina mas esta não consegue atuar de maneira adequada pois as células perdem a sensibilidade à insulina, e não captam a glicose sanguínea, não reduzindo a glicemia.
Outros componentes presentes no produto como fibras alimentares e gorduras podem contribuir para um aumento da sensação de saciedade. Os lipídeos retardam o esvaziamento gástrico e assim tornam o processo de absorção mais lento. Por este motivo, os ácidos graxos monoinsaturados presentes podem contribuir para a liberação lenta (slow release) de carboidratos, além de ter efeitos benéficos ao perfil lipídico.
Glucerna apresenta distribuição calórica de 19,94% em proteínas, 47,44% em carboidratos e 32,62% em gorduras. Assim, o produto alega que fornece uma nutrição completa e balanceada segundo as recomendações da Associação Americana de Diabetes (ADA), já que esta preconiza dietas com gorduras fornecendo de 25 a 35% da energia e ricas em carboidratos complexos, fornecendo de 45 a 60% da energia.
Glucerna SR é registrado na ANVISA na categoria de alimento para nutrição enteral e para situações metabólicas especiais.
De acordo com a Portaria SVS/MS nº 29, de 30 de março de 1998, que aprova o Regulamento Técnico referente à Alimentos para Fins Especiais, estes são definidos como ‘’alimentos especialmente formulados ou processados, nos quais se introduzem modificações no conteúdo de nutrientes, adequadas à utilização em dietas diferenciadas e/ou opcionais, atendendo às necessidades de pessoas em condições metabólicas e fisiológicas específicas.’’
Dentro dos alimentos para fins especiais, está a categoria de alimentos para dietas para nutrição enteral que são ‘’alimentos com ingestão controlada de nutrientes, na forma isolada ou combinada, de composição definida, especialmente formulada e elaborada para uso por sondas ou via oral, industrializada, utilizada exclusiva ou parcialmente para substituir ou complementar a alimentação oral em pacientes desnutridos ou não, conforme suas necessidades nutricionais em regime hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, visando a síntese ou manutenção dos tecidos, órgãos ou sistemas’’.
Mais especificamente, Glucerna SR foi classificado como Alimento para Situações Metabólicas Especiais para Nutrição Enteral, que são definidos como ‘’alimentos que apresentam redução, supressão ou incremento de um ou mais nutrientes, de forma a atender, total ou parcialmente, as necessidades nutricionais diárias de indivíduos com alterações ou doenças metabólicas específicas’’.
Entretanto, ao buscar outras classificações, verifica-se que o FDA (Food and Drug Administration) regula os alimentos funcionais baseado no uso que se pretende dar ao produto, na descrição presente nos rótulos ou nos ingredientes do produto. Assim, a partir destes critérios, o FDA classificou os alimentos funcionais em cinco categorias: alimento, suplementos alimentares, alimento para usos dietéticos especiais, alimento-medicamento ou medicamentos.
Os alimentos para fins dietéticos especiais são aqueles processados ou formulados para atender as necessidades de grupos específicos da população, devido a uma determinada condição fisiológica. Podem ser usados em grupos como lactentes, gestantes, idosos, em pessoas com necessidade de controle de peso, pessoas com hipersensibilidade a determinados componentes dos alimentos, dentre outros.
Os alimentos para fins dietéticos especiais podem ser alimentos funcionais desde que sejam apresentados sob a forma de um alimento convencional e não apresentem a alegação de prevenção ou tratamento de uma doença em particular.
Os alimentos-medicamentos são definidos como alimentos formulados para serem consumidos sob a supervisão de um médico. Estes alimentos são usados para fins dietéticos específicos em caso de uma doença ou condição para qual existam requisitos nutricionais distintos, baseados em princípios científicos.
De acordo com o Codex Alimentarius, alimentos para fins médicos especiais são definidos como uma categoria de alimentos para usos dietéticos especiais, que são especialmente processados ou formulados e apresentados para o controle dietético de pacientes, podendo ser usados somente sob supervisão médica.
Desta forma, pela definição do FDA, Glucerna poderia ser melhor classificado como um alimento-medicamento, uma categoria mais estreita de alimentos usados por pessoas com doenças ou condições particulares, que no caso seria diabetes mellitus, e precisariam de supervisão médica.
No Brasil, o Ministério da Saúde, através da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), regulamentou os Alimentos Funcionais através da Resolução n 18, de 03/12/1999 e da Resolução ANVISA/MS n 19, de 10/12/1999. Por definição, Alimento Funcional é todo alimento ou ingrediente que, além das funções nutricionais básicas, quando consumido como parte da dieta usual, produz efeitos metabólicos e/ou fisiológicos e/ou efeitos benéficos á saúde’’.
Sendo assim, do ponto de vista legal, constata-se que os alimentos para fins especiais e alimentos funcionais possuem conceituações muito vagas e abrangentes, e que as classificações se confundem ao comparar diferentes fontes como ANVISA e FDA. Desta forma, conclui-se que persiste a dificuldade de regulamentação dos termos.
O próprio nome comercial atribuído ao produto alimentar, Glucerna SR (slow release), que lembra glicose, pode ser considerada uma forma estratégica do fabricante, no caso uma indústria farmacêutica, estabelecer uma relação medicamentosa, aproveitando ainda o fato de ser um alimento vendido no comércio farmacêutico, ficando nessa interface.
Na informação nutricional, discrimina-se que em 100g do produto, há 56 g de carboidratos totais dos quais 12 g de frutose, zero de sacarose, glicose e lactose, não especificando os carboidratos slow release com suas respectivas quantidades. No caso, seria a maltodextrina que não é nenhum sistema de carboidratos novo, revolucionário, nem milagroso.
Existem estudos clínicos da utilização de Glucerna em pacientes diabéticos, porém estas pesquisas científicas foram realizadas em condições específicas. O produto foi consumido como um substituto de alguma refeição, como café da manhã ou jantar, e não como um complemento alimentar. Além disso, esses estudos foram realizados em pacientes diabéticos com a glicemia controlada e uma dieta hipocalórica. Ou seja, não há como ter melhora da resposta glicêmica se outra fonte de carboidrato estiver sendo consumida concomitantemente.
Uma questão importante a ser considerada é que nas instruções de uso aparece apenas o modo de preparo, não tendo nenhuma recomendação de quando utilizar e de quantas vezes ao dia poderia ser consumido.
Este fato pode acabar induzindo ao uso indiscriminado por pacientes diabéticos que acreditam que irão obter cada vez mais benefícios. Deveria ser usado apenas sob supervisão médica já que os diabéticos apresentam uma condição metabólica complexa e influenciada por muitos fatores que podem levar a um descontrole a qualquer momento.
Um outro ponto relevante seria o custo, já que uma lata de 400g, fornece apenas 7 porções de 237ml, sendo que seu preço fica em torno de R$ 40,00. Assim, a utilização deste produto regularmente por diabéticos para o controle glicêmico, exige uma disponibilidade de recursos financeiros. Há outros produtos alternativos de composição semelhante, como o Nutren Diabetes da Nestlé, sendo que este custa em torno de R$ 70,00.
É válido ressaltar ainda que há controvérsias quanto a maltodextrina, pois em alguns estudos foi considerada um carboidrato de rápida digestão e velocidade de absorção comparável à sacarose, sendo inclusive utilizada em suplementos esportivos por este motivo.
Desta forma, pode-se concluir que o controle da quantidade total de carboidratos ingeridos é mais importante no que se refere ao aumento da glicemia em pacientes diabéticos do que o tipo de carboidrato presente no alimento consumido.
Yokoyama, J.; Someya, Y.; Yoshihara, R.; Ishii, H. Effects of High-monounsaturated Fatty Acid Enteral Formula versus High-carbohydrate Enteral Formula on Plasma Glucose Concentration and Insulin Secretion in Healthy Individuals and Diabetic Patients. The Journal of International Medical Research, Vol 36 (1), p. 137-146, 2008.
Elia M., Ceriello A., Laube H., Sinclair A.J., Engfer M., Stratton R. J. Enteral Nutritional Support and Use of Diabetes-Specific Formulas for Patients With Diabetes. Disponível em:
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Ortiz M.G., Abundis E.M., Salazar E.H., Ramos A.M., Cervantes J.A. Effect of a nutritional liquid supplement designed for the patient with diabetes mellitus (Glucerna SR) on the postprandial glucose state, insulin secretion and insulin sensitivity in healthy subjects. Disponível em: <http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1463-1326.2005.00512.x/full>
París A.S., Calvo L., Guallard A., Salazar I., Albero R. High-fat versus high-carbohydrate enteral formulae: effect on blood glucose, C-Peptide, and ketones in patients with type 2 diabetes treated with insulin or sulfonylurea. Disponível em: <http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0899900798001245>
Tsuda K.; Fukuda M.; Fukushima M. Effect of Glucerna® SR as Breakfast Substitute on the Reduction of Diabetes Risk in Obese Subjects with High Normal Fasting Blood Glucose Level. Disponível em: <http://cat.inist.fr/?aModele=afficheN&cpsidt=23885963>
<ftp://ftp.bbt.ufv.br/teses/ciencia%20da%20nutricao/2003/179772f.pdf>
Eu utilizo o produto, ou melhor utilizava antes desta suspensão absurda, faço uso do produto há 6 meses com acompanhamento médico contínuo e minha glicemia se estabilizou de forma surpreendente.
ResponderExcluirSou paciente diabético e agora por conta de uma suspensão sem sentyido algu, serei impedido de utilizar o que pra mim funciona e muitissimo bem como medicamento.
Deveriam dar uma satisfação ao consumidor, um produto de tão boa aceitação não sei o motivo de sua retirada do mercado.
ResponderExcluirDeveria colocar nota explicativa para os usuários.
Estou torcendo que o produto volte o mais breve poss[ivel.
Enquanto essa coisa chamada ANVISA,não tiver profissionais qualificados,capacitados, para tais funções,nós ficaremos a merce dessas "palhaçadas",onde no caso desse produto Glucerna SR, deveria ser avisado nós usuário com certa antecedencia,para substituir esse medicamento,que no meu caso trouxe inúmeros benefícios
ResponderExcluir"Isso é Brasil"
Mais uma vez as farmacêuticas querendo se aproveitar dos pobres pacientes.... maltodextrina pode ser encontrada baratinha em qualquer loja que vende suplementos para a prática de atividades físicas......
ResponderExcluirEstou com diabete gestacional e substituindo o café da manhã pelo Glucerna SR (acompanhado de uma dieta elaborada pela minha endócrino) consegui manter controlada minha glicemia do 2º ao 8º mês de gestação.
ResponderExcluirEstou a 3 semanas de ganhar o bebê e com a falta do produto minha Glicemia voltou a subir, mesmo mantendo a dieta a risca.
Acompanho minha curva glicêmica desde quando foi identificada a diabete no inicio da gestação (medida antes das refeições e 2 h depois - todos os dias), por ela dá pra notar o quanto o Glucerna SR foi importante no controle glicêmico.
Infelizmente o produto foi tirado do mercado e eu vou ter que passar a fazer uso de insulina.
No meu caso, a picada diária da agulha seria desnecessária se o procuto não tivesse saído de circulação.
ANVISA, não seria melhor reclassificar o produto ao invés de tirá-lo de circulação?
Se esses comentários chegam até a ANVISA, estão gostaria de pedir PELO AMOR DE DEUS não tomem suas atitudes pensando no retorno financeiro que terão as industrias farmacêuticas e sim no retorno de Deus para as suas vidas (pessoas responsáveis) fazendo o bem ao próximo somente por querer o bem, afinal as prestações de conta do que fizeram em vida não são para nós, e sim para Deus, e Ele tudo vê, conhece as intenções de cada coração. Obrigada!
ResponderExcluirPessoal existem muitos produtos no mercado similar ao Glucerna, eu tomo o Nutri Diabetic (fabricante: Nutrimed) e tambem tenho todos os resultados satisfatórios que voces apresentaram....o Produto é excelente, não troco por nada, e é aprovado pela Anvisa!!
ResponderExcluirPq o glucerna sr foi retirado do mercado?
ResponderExcluirQnd aconteceu isso?
uso indiscriminado, estratégia de marketing
ResponderExcluirtenho um filho de 5 anos gostria de saber se ele pode tomar glucerna ele tem diabete 1.
ResponderExcluirna cidade onde vivo vende a GLUCERNA SR
ResponderExcluirNa minha cidade vende e eu uso, me dou muitíssimo bem!!
ResponderExcluirA ANVISA é uma agência terrível para a população brasileira. Seus dirigentes e técnicos julgam-se donos da verdade. O mal que os censores da ANVISA causam à população é indescritível, toda vez que proibem a venda ou obrigam os laboratórios a mudar a fórmula de um medicamento útil para o povo. Se houvesse justiça neste país, os diretores da ANVISA estariam todos na cadeia.
ResponderExcluirMinha nutricionista me passou glucerna para substituir o jantar 3 vezes por semana para ajudar a emagrcer so que nao sou diabetica ta certo isso?
ResponderExcluirMinha nutricionista me passou glucerna para substituir o jantar 3 vezes por semana para ajudar a emagrcer so que nao sou diabetica ta certo isso?
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