Em 2008, a ANVISA determinou a suspensão da propaganda do Activia em todo país sob a alegação de que o produto estaria abusando dos meios de comunicação para vender o iogurte como se ele fosse "uma forma de tratamento para o funcionamento intestinal irregular”. Já na Europa, a Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA) julgou improcedentes muitas alegações em favor da eventual melhoria da condição de saúde que o mesmo segmento da indústria alimentícia lá fazia. Um exemplo disso foi a proibição do comercial do Actimel, em que o produto era apontado como responsável por auxiliar jovens a debelar diversas doenças. A“UK’s Advertising Standards Authority” decidiu banir tal propaganda por julgar que estas não tinham embasamento científico. Nos Estados Unidos, a Danone foi multada em 21 milhões de dólares pelas autoridades, pois elas consideraram que a publicidade realizada para a divulgação desses produtos era efetivamente enganosa. Estes fatos nos fazem pensar no que prova a funcionalidade extra desses produtos em relação ao iogurte comum e, se a retirada das propagandas tem algum fundamento.
Tais produtos são considerados alimentos funcionais, ou seja, além de fornecerem a nutrição básica, promovem benefícios adicionais a saúde através de mecanismos não presentes nos demais, sendo apresentados na forma de alimentos comuns. Com o aumento do acesso a informações, da preocupação com a saúde e a propaganda das empresas, os alimentos funcionais se encaixaram em um nicho de mercado no segmento alimentício de elevado potencial mercadológico. Uma pesquisa realizada pela AC Nielsen mostrou que o setor registrou um crescimento de mais de 50% entre 2002 e 2005 em todo o mundo. No caso da Danone as vendas daquele produto crescem cerca de 50% por ano e ele já contribui com 30% do resultado da organização.
Aqueles considerados probióticos contem microrganismos vivos que, administrados na concentração adequada, eventualmente conferem benefícios a saúde do hospedeiro e, por isto, ganharam destaque nesse mercado dos alimentos. Em 2004, a Danone lançou no Brasil o Activia, um leite fermentado contendo microrganismos normalmente encontrados de iogurte tradicional e um fermento especifico chamado Bifidobacterium Animallis, com nome comercial de DanRegularis, que seria responsável por regularizar o ritmo intestinal . A partir desse momento, embalados por tal sucesso, a Danone lançou ainda o Actimel. Segundo a descrição da própria empresa, o Actimel é um iogurte que contém os Lactobacillus casei DN-114 001 (com o nome comercial de L C defensis) além das colônias comumente encontradas em iogurtes. A empresa alegava que, teoricamente, esse produto ofereceria um “suporte” ao sistema imune humano.
Para serem comercializados no Brasil, tais alimentos necessitam de registro na categoria “Alimentos com alegações de propriedade funcional ou em saúde” junto a ANVISA. O requerimento desse registro deve ser realizado antes da comercialização do produto ( de acordo com o anexo II RDC nº 278/2005) embasado em provas cientificas segundo estabelece as resoluções 18/99 e 19/99 daquela agencia. Para tal, o fabricante deve apresentar estudos utilizando cobaias e ensaios clínicos que comprovem a sua eficácia. Entre eles cabe destacar laudo de análise do produto que comprove a quantidade mínima viável do microrganismo até o final do prazo de validade e teste de resistência da cultura utilizada no produto à acidez gástrica e aos sais biliares. No caso do Activia , a Danone apresentou um estudo comprovando que o metabolismo das Bifidobacterium Animallis produz uma grande quantidade de substancias antagonistas para a instalação de bactérias patogênicas. Além disso, esses microrganismos seriam capazes de sintetizar exopolissacarideos, um biopolimero que,presumivelmente, tem a capacidade de inibir a ação de alguns vírus e formação de tumores. No entanto, é fato que pouco se sabe sobre esses tipos de produtos e isto é refletido na escassez de informações a respeito do assunto. A bibliografia disponível em sua grande maioria é produzida pela própria indústria envolvida o que é eticamente questionável. Em estudo independente conduzido na Universidade de Vrije, de cinco ensaios clínicos quatro deles mostraram que tal produto promove o “encurtamento” do transito intestinal, no entanto não foi detectado nenhum efeito significativo do Activia que se correlacionasse com a frequência, consistência ou quantidade das fezes. Logo, a conclusão do estudo é que apesar de auxiliar no transito intestinal, o produto em questão não promove a defecação contradizendo as alegações feitas pela Danone. O estudo conclui que não há evidencias cientificas que suportem as afirmações da empresa. Além desta evidencia que confronta os estudos e apelos comerciais da organização, existem outras evidencias que confrontam claramente a lista de benefícios. O grupo de pesquisa do laboratório “Toxicology, Pathology and Genetics (TOX)”, acredita que as alegações feitas pela Danone em relação ao Actimel não tem fundamento cientifico. O médico Bruno Abarca, fez um estudo questionando métodos e resultados dos estudos relacionados ao Actimel. Em quatro dos cinco estudos analisados, os voluntários receberam uma dose duas vezes ou ate mesmo três vezes superior ao indicado pelos fabricantes, apenas dois dos experimentos apresentaram resultados mensuráveis objetivamente (referentes a prevenção de enfermidades, ou menor duração das mesmas, ou melhoria no estado de saúde) e não subjetivos. Ambos os resultados foram considerados pelo autor como pouco importantes ( menos de 20% em comparação com o grupo controle). E, mais uma vez, na opinião do autor, as afirmações da Danone não tem respaldo cientifico.
Muitas vezes, as pesquisas realizadas pela indústria alimentícia não se preocupam com possíveis reações adversas optando por enfatizar e explorar os eventuais efeitos benéficos dos produtos. Há estudos que indicam que pessoas com deficiência de interleucina 10 apresentam duodenite e colite ao ingerir o Activia. A extremamente exígua a bibliografia sobre o assunto qu engloba analise de risco que consideravelmente negligenciada.
Mas e o iogurte natural, é um produto funcional? Segundo a ANVISA foram retirados da lista dos alimentos funcionais pois as espécies neles presentes o Lactobacillus delbrueckii (subespécie bulgaricus) e Streptococcus salivarius (subespécie thermophillus) porque não possuem efeito probiótico cientificamente comprovado. No entanto, existem alguns poucos estudos científicos mostrando que o consumo de iogurte natural, em determinada região da Bulgária, parece estar associado a longevidade da população.
Todos os alimentos são capazes de contribuir de alguma maneira para a nossa saúde e não somente aqueles considerados “funcionais”. Se deixarmos de consumir produtos que contenham iodo , como o sal e o peixe, podemos desenvolver hipotireoidismo.as estes alimentos não se encaixam na definição de alimento funcional, apesar deles contribuírem para o manutenção de nossa saúde.
É possível concluir que
a) A qualificação “alimento funcional” não esta sendo empregada corretamente. Isto facilita a manipulação de conclusões por parte dos fabricantes de alimentos.
b) é possível questionarmos a ética dos trabalhos apresentados pois como mencionamos os estudos revelam evidente conflito de interesse já que a investigação é patrocinada e conduzida diretamente pela própria Danone.
c) o Activia e o Actimel podem trazer benefícios a saúde mas a forma com que esses benefícios são apresentados são altamente questionáveis
Bibliografia:
Site da ANVISA.
Site do El diário 24.Disponivel em :http://www.eldiario24.com/nota.php?id=211472.
Site do New York Times .Disponível em: http://www.nytimes.com/2011/05/15/business/15food.html?pagewanted=all;
Site da Danone sobre probióticos. Disponível em:http://www.probioticsinpractice.co.uk/probiotics-and-the-body%27s-defences.aspx
Site do BBC News .Disponivel em: http://news.bbc.co.uk/2/hi/8622017.stm
Site do Jornal O globo. Disponivel em :http://oglobo.globo.com/saude/ue-rejeita-alegacoes-da-industria-de-que-iogurtes-beneficiam-saude-2937050
Folha Online . Disponivel em:http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u416847.shtml
Immunomodulation by probiotics: efficacy and safetyevaluationJ. Ezendam, A. Opperhuizen, H. van Loveren.
The probiotic yogurt Activia shortens intestinal transit, but has not been shown to promote defecation. Katan MB.
Effect of the ingestion of a symbiotic yogurt on the bowel habits of women with functional constipation. Juan Andrés De Paula,1 Esteban Carmuega,2 Ricardo Weill 3.
Após anos de comercialização no mercado, o ‘leite fermentado’ tem sofrido modificações, como popularização do consumo e multiplicação de tipos, sabores, marcas e fabricantes. É muito fequente a modificação do iogurte convencional com a inserção de aditivos para torná-lo mais apreciável, agradável e até vistoso, fazendo uso indiscriminado de claims como “natural”. Uma manipulação que induz o consumidor ao erro. Se observarmos cerca de 20 rótulos diferentes poderemos notar rapidamente que no mínimo em 35% dos produtos encontraremos aditivos como "estabilizante ou espessante" e dentre esses 70% na categoria de "iogurte". ”. O que acreditava ser um iogurte – leite fermentado com bactérias Streptococcus thermophilus e Lactobacillus bulgaricus - passou atualmente a ser um misto de leite e aditivos com o propósito de aumentar sua consistência - ou seja, um simulacro do iogurte convencional. . Os fabricantes fazem também uso indevido do termo “natural”, notificação feita em um terço dos produtos com o claim “iogurte”, sendo essa denominação permitida pela legislação somente para aquele em cuja elaboração tenham sido utilizados exclusivamente ingredientes lácteos. Portanto posso concluir que a legislação consultada do Ministério da Agricultura é obsoleta frente às modernas práticas da bromatologia e do marketing, induzindo o consumidor a compra de um produto ‘simulacro’. Produtos como “novo iogurte” surgem no mercado com formulações diferentes das convencionais, passam a receber espessantes e edulcorantes e utilizam-se da falta de conhecimento do consumidor para ganharem posição nas prateleiras e se caracterizarem como uma alternativa alimentar e nutricional. Diante disso, faz-se necessário o aperfeiçoamento da legislação e fiscalização para assegurar ao consumidor informações corretas e claras em seus rótulos.
ResponderExcluirQuero comprar como que eu faco
ResponderExcluirDevo dizer que concordo com as sanções aplicadas à Danone nesses países. Vamos lá, o trato gastro intestinal, mais precisamente o intestino é um órgão colonizado por bactérias que exercem efeitos benéficos para o nosso organismo como produção de citocinas, vitaminas, e ácidos graxos de cadeia curta, controlam o metabolismo e absorção de gorduras, tudo isso auxilia na modulação da absorção e armazenamento de nutrientes e se chama microbiota intestinal. Visto que essas funções são se extrema importância para o bem estar e a saúde das pessoas, não se deve alterar o equilíbrio da mesma, e iogurtes como o Actimel e o Actívia que geram um “encurtamento do trânsito intestinal”, quando ingeridos por pessoas que não possuem problemas nem de imunidade e nem de prisão de ventre pode gerar um desequilíbrio dessas funções mesmo que não havendo evidência científica que comprove seus benefícios assim como reduzir devida absorção de nutrientes ou até agredir a parede do intestino (como no caso de pessoas com deficiência de IL-10). Assim, deve-se ficar atento e sinalizar o público-alvo em suas propagandas, já que por serem apelativas as pessoas compram e ingerem sem ter a real necessidade e sim porque a propaganda disse que fazia bem.
ResponderExcluirA proibição a cerca dos produtos da Danone nos países regulamentados pela European Food Safety Authority (EFSA) foi corretíssima. Até hoje, as únicas fontes científicas do funcionamento de ambas as Marcas foram providenciadas pela própria Danone, tornando-se um evidente conflito de interesses. Tanto Activia quanto Actimel não possuem evidências concretas e científicas sobre o que elas alegam em pessoas saudáveis, o que é evidenciado em alguns artigos científicos recentes (2016 e 2018) que avaliaram as evidências científicas apoiadas nas alegações de publicidade feitas para produtos com Lactobacillus casei (Actimel) e Bifidobacterium lactis (Activia). O resultado foi que não houve suficientes para apoiar as alegações de saúde feitas para esses produtos. Assim como em outro estudo que detalhou todos os componentes presentes em ambos, amparados pela legislação europeia de alimentos, e chegou a mesma conclusão. Desse modo, há de se ter um cuidado em relação a essas marcas e o que elas alegam, permitindo que consumidores não sejam enganados.
ResponderExcluirFontes: 1. MELÉNDEZ-ILLANES, Lorena et al. Does the scientific evidence support the advertising claims made for products containing Lactobacillus casei and Bifidobacterium lactis? A systematic review. Journal of Public Health, v. 38, n. 3, p. e375-e383, 2016.
2. RIERA AGUILAR, Mireia. Las declaraciones de propiedades saludables en los alimentos confunden al consumidor medio. Activia, Actimel y Puleva Omega 3 a la vista del Reglamento 1924/2006. Revista de bioética y derecho, n. 42, p. 235-268, 2018.