Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Emulsão Scott® ou Drágeas de vitamina A: por qual optar?

A emulsão Scott é vendida em farmácias como um emulsionado com óleo de fígado de bacalhau, informando atender às necessidades diárias de vitaminas A e D. É classificada, segundo a legislação brasileira, como um suplemento vitamínico e, portanto, não podem ser apregoadas indicações terapêuticas. Já as drágeas de vitamina A (palmitato de retinol) são classificadas como medicamentos, com finalidade curativa e cuja venda é sob prescrição médica. Em contrapartida, sabe-se que a vitamina A também pode ser obtida a partir de alimentos de origem animal e vegetal (aqueles que contenham betacaroteno, o qual é convertido em vitamina A no organismo). Pelas definições fica fácil saber em quais situações devemos procurar outras fontes de vitamina A quando a alimentação não é suficiente ou quando se tem algo mais grave. Então, porque será que é tão difícil escolher?

A questão é a grande influência que a mídia, sites da internet e o próprio rótulo dos produtos exercem sobre os consumidores, muitas vezes estimulando uma utilização de forma equivocada e sem base científica, dificultando, assim, a escolha certa. Os produtos aqui comparados possuem classificações diferentes e usos em situações distintas, sendo importante sabermos distinguir quando é indicado utilizá-los.

Descrição

A emulsão Scott pode ser encontrada em farmácias e drogarias comerciais do rio de janeiro ao preço aproximado de R$6,70 o frasco com 200 mL. Ao olharmos a composição deste suplemento, observamos que a quantidade de óleo de fígado de bacalhau é muito pequena em comparação ao volume total da formulação, que inclusive, leva óleo de soja numa proporção cerca de 3,5 vezes maior que o próprio óleo de fígado de bacalhau. A posologia indicada no rótulo do produto recomenda para adultos uma colher de sopa (15 mL) 2 a 3 vezes por dia, levando ao consumo total dos 200 mL em 4 a 6 dias. Cada colher de sopa ingerida contem 3.795 UI de vitamina A, o que representa 1138,5 microgramas (mcg) de retinol equivalente e um total de 2.277 mcg a 3.415,5 mcg por dia.

Já as drágeas de vitamina A, como por exemplo o Arovit, também são vendidas em farmácias no rio de janeiro ao preço aproximado de R$ 6,20 a caixa com 30 drágeas. Cada drágea contem 50.000 UI correspondente a 15000 mcg de retinol equivalente, uma valor muito além do limite máximo dirário mas, sendo um medicamento, é destinado a prevenir e tratar a deficiência de vitamina A no organismo, de acordo com a avaliação e indicação médica.

Fundamentos Bromatológicos

As vitaminas são compostos orgânicos indispensáveis ao funcionamento do organismo, apresentando uma ampla variedade de estruturas químicas e atividade biológica, podendo funcionar tanto como cofatores de enzimas quanto como antioxidantes/oxidantes, e até mesmo como hormônios, regulando a expressão gênica. A ausência sistemática na dieta leva, quase sempre, ao crescimento e desenvolvimento deficientes e outras perturbações orgânicas, configurando-se um quadro sintomatológico característico de carência.

As vitaminas podem ser classificadas em lipossolúveis e hidrossolúveis, de acordo com sua solubilidade. A vitamina A é classificada como lipossolúvel e, como a grande maioria das vitaminas, não é sintetizada pelo nosso organismo. Dessa forma, sua obtenção deve ser a partir da dieta alimentar, sendo necessárias quantidades pequenas e em função da idade, sexo, estado fisiológico e atividade física do indivíduo. A vitamina A pode ser encontrada na forma química de éster de retinila (vitamina A pré-formada) em alimentos de origem animal, como leite integral, gema de ovo, fígado, carne e em alimentos vegetais, na forma de carotenoide (provitamina A), como vegetais e frutas de cor verde-escuro e amarelo-alaranjado.

A proporção da quantidade de vitamina ingerida que sofre absorção intestinal e que pode ser utilizada pelo corpo é a definição de biodisponibilidade aplicada a vitaminas em alimentos.
Alguns trabalhos tem indicado uma eficiência da absorção de vitamina A pré-formada de 70% a 90% comparada com 20% a 50% da provitamina A após a ingestão de alimentos ricos nesses compostos. As possíveis explicações para isso podem estar no fato dos carotenoides sofrerem absorção passiva e serem lentamente convertidos em vitamina A, no intestino, além do tipo de ligação desses compostos à matriz do alimento. Sabe-se que a absorção da vitamina A é alta, mesmo quando a quantidade ingerida está acima das necessidades fisiológicas, e é favorecida na presença de vitamina E, proteínas e gorduras, o que significa que a absorção do retinol é apreciavelmente reduzida com a ausência ou redução destes compostos na dieta.

Existem pelo menos 3 diferentes funções fisiológicas que são dependentes de uma nutrição apropriada de vitamina A: a função somática ou função sistêmica, a reprodução e os processos visuais. A função somática engloba o crescimento e diferenciação de estruturas epiteliais e osso. As formas de vitamina A capazes de dar suporte a essa função incluem o retinol, ésteres de retinila, retinal e ácido retinóico. Com relação à reprodução, a vitamina A é essencial para a espermatogênese, oogênese, desenvolvimento placentário, crescimento fetal e embrionário. Enquanto retinol, ésteres de retinila e retinal são ativos para estas funções, o ácido retinóico não é capaz de suportar todos os aspectos da reprodução de mamíferos. Para os processos visuais é firmemente estabelecido que a vitamina A é necessária para a visão no escuro, possivelmente, também para a percepção da cor. A forma ativa da vitamina A para esta função é o aldeído, retinal, derivados de ésteres de retinila e retinol, sendo o ácido retinóico inativo.

A deficiência prolongada de vitamina A pode causar uma grave doença carencial, a hipovitaminose A, que, se não tratada a tempo, pode levar a uma síndrome ocular, a xeroftalmia, podendo, posteriormente, seguir-se um quadro de cegueira irreversível. Embora possa ser prevenida, a hipovitaminose A ainda é um problema de saúde pública em vários países em desenvolvimento, ocorrendo principalmente entre os grupos de baixo nível socioeconômico que se alimentam mal e vivem em condições sanitárias precárias.

Entretanto, o consumo em excesso, ou seja, a hipervitaminose A, pode ser tóxico ao organismo. Os sintomas da hipervitaminose A podem ocorrer na pele, no sistema nervoso, no sistema musculoesquelético, na circulação (por exemplo, proteínas plasmáticas) e em órgãos internos. A toxicidade varia com a dose e massa corporal, idade, sexo, doença condições, administração concomitante de medicamentos ou exposição química ambiental.

É importante diferenciar a intoxicação aguda de vitamina A, causada em curto prazo, pela ingestão de quantidades excessivas de retinol e a hipervitaminose A crônica, causada em longo prazo, pela ingestão de quantidades de retinol acima da moderada. Alguns sintomas da hipervitaminose A aguda são perda de apetite, náuseas, vómitos, dor abdominal, descamação da pele, queilite, perda de cabelo, hemorragias e sangramento do nariz. Alguns sintomas da hipervitaminose A crônica são descamação da pele, eritema, prurido, distúrbios do crescimento do cabelo, dor e sensibilidade dos ossos, com movimentação restrita, detecções radiológicas de alterações ósseas e hepatomegalia, às vezes com esplenomegalia.

Legislação

Segundo a portaria nº 32/1998 (vigente), suplementos vitamínicos e ou de minerais são alimentos que servem para complementar a dieta diária de uma pessoa saudável, em casos onde sua ingestão, a partir da alimentação, seja insuficiente ou quando a dieta requerer suplementação. Devem conter um mínimo de 25% e no máximo até 100% da Ingestão Diária Recomendada (IDR) de vitaminas e ou minerais, na porção diária indicada pelo fabricante, não podendo substituir os alimentos, nem serem considerados como dieta exclusiva. São classificados como suplementos as vitaminas isoladas ou associadas entre si, minerais isolados ou associados entre si, associações de vitaminas com minerais e produtos fontes naturais de vitaminas e ou minerais, legalmente regulamentados por Padrão de Identidade e Qualidade (PIQ) de conformidade com a legislação pertinente.

As dosagens de vitaminas e minerais nos Suplementos devem ser calculadas com base na IDR estabelecida pela legislação específica. Segundo a RDC nº 269/2005, IDR é a quantidade de proteína, vitaminas e minerais que deve ser consumida diariamente para atender às necessidades nutricionais da maior parte dos indivíduos e grupos de pessoas de uma população sadia. Essa resolução regulamenta que a IDR de vitamina A para adultos é de 600 mcg retinol (RE), para lactentes de 0-6 meses, 375 mcg RE, para lactentes de 7-11 meses e crianças de 1-3 anos, 400 mcg RE, para crianças de 4-6 anos, 450 mcg RE, para crianças de 7-10 anos, 500 mcg RE, para gestantes, 800 msg RE e para lactantes, 850 mcg RE.

Já um medicamento é definido, segundo a lei nº 5.991/1973, como produto farmacêutico, tecnicamente obtido ou elaborado, com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnósticos. É uma forma farmacêutica terminada que contém o fármaco, geralmente em associação com adjuvantes farmacotécnicos. Os medicamentos podem ser tarjados, cujo uso requer a prescrição do médico ou do dentista, devendo apresentar, em sua embalagem, uma tarja (preta ou vermelha) indicativa desta necessidade. Ou o medicamento pode ser de venda livre, cuja dispensação não requer autorização, ou seja, receita expedida por profissional. No caso do arovit, temos um exemplo de medicamento de tarja vermelha, cuja venda deveria ser sob prescrição médica, sem retenção de receita, mas, que na prática, não acontece, pois os vemos sendo vendidos livremente pelas farmácias e drogarias.

Conclusão

Como é crescente a preocupação da população em relação à dieta e saúde, sabe-se que cada vez mais são ofertados produtos que complementam a alimentação, desde alimentos enriquecidos aos suplementos vitamínicos e/ou minerais. Mas, infelizmente, tais produtos também são utilizados como estratégias de marketing para os interesses comerciais, sobrepondo-se às reais necessidades da população.

Com base no exposto, fica mais fácil analisar em quais situações devemos lançar mão de um suplemento vitamínico ou um medicamento e ter consciência dos riscos que a falta ou excesso da vitamina A pode trazer ao organismo.

Nesse contexto, é importante salientar que algumas vezes podemos encontrar informações errôneas na internet e no próprio rótulo dos produtos e, portanto, devemos sempre buscar por informações de fontes confiáveis. Lembrando que nunca é demais pedir orientações ao seu médico ou farmacêutico em caso de dúvidas a respeito da utilização de produtos no âmbito da saúde, seja um alimento ou um medicamento.

Bibliografia:

BRASIL. Resolução – RDC n° 269, de 22 de setembro de 2005. Disponível em: http://www.crd.defesacivil.rj.gov.br/documentos/IDR.pdf

BRASIL. Portaria n° 3916, de 30 de outubro de 1998. Disponível em:
http://www.anvisa.gov.br/legis/consolidada/portaria_3916_98.pdf


BRASIL. Lei n° 5.991, de 19 de dezembro de 1973. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/legis/leis/5991_73.htm

BRASIL. Portaria nº 32, de 13 de janeiro de 1998. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/legis/portarias/32_98.htm

BRASIL. Portaria nº 3.916/MS/GM, de 30 de outubro de 1998. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/legis/consolidada/portaria_3916_98.pdf

Silva, C.R. M.; Naves, M.M.V. Suplementação de vitaminas na prevenção do câncer. Rev. Nutr. vol.14 nº.2 Campinas, 2001. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-52732001000200007&script=sci_arttext

Paixão, J. A.; Stamford, T.L.M. Vitaminas lipossolúveis em alimentos – uma abordagem analítica. Quim. Nova, Vol. 27, No. 1, 96-105, 2004. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/qn/v27n1/18818.pdf

Mourão, D. M.; et al. Biodisponibilidade de vitaminas lipossolúveis. Rev. Nutr. vol.18 no.4 Campinas, 2005.

Ziles, M. H.; Cullum, M. E. The Function of Vitamin A: Current Concepts. PROCEEDINGS OF THE SOCIETY FOR EXPERIMENTAL BIOLOGY AND MEDICINE 172, 139-152 (1983)

Souza, W. A.; Boas, O. M. G. C. V. A deficiência de vitamina A no Brasil: um panorama. Rev Panam Salud Publica/Pan Am J Public Health 12(3), 2002

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http://folk.uio.no/runeb/pdf%20filer/Vitamin%20A%20toxicity.PDF

http://www.centro-nutricao-fula.pt/saiba-mais/vitaminas-minerais/tipos-vitaminas/ - acessado em 19/12/2011

http://www.bulas.med.br/bula/1963/arovit.htm - acessado em 19/12/2011

5 comentários:

  1. O problema da composição da Emulsão Scott é, sem dúvida, o óleo de soja, altamente prejudicial ao nosso organismo.

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  2. O óleo de fígado de bacalhau é um óleo que é usado a muito tempo por apresentar esses efeitos benéficos como ser rico em vitamina A,D e ômega 3. Este produto é uma boa fonte de vitamina D que é essencial para D promove a absorção e transferência de cálcio através das membranas celulares, ela também influencia na absorção de magnésio e zinco e Níveis adequados de cálcio, magnésio e zinco no cérebro são fundamentais para a neurotransmissão, entre outros benefícios. Mas sua ingestão em excesso pode causar sintomas como perda do apetite, náuseas e vômitos, seguidos por sede excessiva, aumento da emissão de urina, fraqueza, nervosismo e hipertensão arterial. Tendo que ter cuidado ao ingerir essa Emulsão Scott pois já consumimos muitos alimentos que são fortificados em vitamina D. Então, ao procurar fazer o uso deste produto é aconselhável um acompanhamento médico para avaliar não só apenas se o paciente está com níveis baixos de vitamina A mas de vitamina D também uma vez que se os níveis destas estiverem elevados já e tomar a emulsão pode trazer riscos para a saúde do paciente.

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  3. Soja não deixa o pênis desenvolver porque tem hormônio feminino, e na menina causa baixa estatura por causa da menstruação precoce. Não consuma nada com soja, o Emulsão Scott é uma vitamina muito boa mas tem óleo soja.

    Veja esse vídeo sobre a soja: https://www.youtube.com/watch?v=8lyctaKRKjY
    Tem sites tbm que dizem isso: http://www.institutomor.com.br/artigos1,a-influencia-negativa-da-soja-na-fertilidade-masculina.html

    Tô postando isso pro seu bem, pra não atrapalhar no crescimento do pênis e no crescimento de estatura nas meninas.

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  4. O óleo de fígado de bacalhau contém ômega-3, que possui papel antiinflamatório e antioxidante comprovado, com repercussões positivas sobre o humor, dor e o bom funcionamento do cérebro.
    Porém, o ômega-3 é extremamente delicado e facilmente oxidável, e uma vez oxidado, perde seus benefícios, passando a agredir nosso organismo com radicais livres e aumento de processos inflamatórios, acelerando o envelhecimento e propiciando a doenças degenerativas.
    O que faz o ômega-3 oxidar? Luz e calor, principalmente. Para que o óleo de fígado de bacalhau seja, realmente, um superalimento, precisamos nos certificar de que ele tenha sido manuseado e armazenado com cuidado. Os países nórdicos têm temperaturas baixas e pouca luz por natureza, o que ajuda a conservar o puro óleo de fígado de bacalhau em bom estado. Mas durante o transporte para países quentes como o Brasil, é preciso que tenham sido tomados cuidados de armazenamento – temperaturas baixas e nada de exposição à luz.
    Portanto, não é bom comprar óleo de fígado de bacalhau armazenado em garrafas ou embalagens transparentes, mas sim em garrafas ou embalagens o quanto mais opacas, que protegem da entrada de luz.
    Também os plásticos podem liberar quantidades vestigiais, porém biologicamente ativas, de compostos petroquímicos capazes de perturbar nosso delicado equilíbrio hormonal.

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