Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Prazo de Validade de Leite Fermentado



Uma das grandes observações dos consumidores na hora da escolha por um produto é o seu prazo de validade. Muito provavelmente você já se viu procurando a tão famosa data em algum lugar da embalagem, sendo esta sua única preocupação na compra. Será que só aqueles números importam? Já reparou se os tais tão poderosos prazos de um produto e outro são parecidos ou não? Para uma observação mais minuciosa do que está por trás das geladeiras nos supermecados......


Um assunto ainda alvo de grandes discussões é o prazo de validade de produtos alimentícios. Muitas vezes sendo o único diferencial na hora da escolha entre um produto e outro, o prazo de validade cega o consumidor para outras informações tão ou mais importantes e que auxiliam na compra de um produto de melhor qualidade.

Definições:
Prazo de validade: Tempo durante o qual o produto poderá ser usado, caracterizado como período de vida útil e fundamentada nos estudos de estabilidade específicos.
Data de fabricação: Data em que foi fabricado o produto em questão.
Leite fermentado: Produtos adicionados ou não de outras substâncias alimentícias, obtidos por coagulação e diminuição do pH do leite, ou leite reconstituído, adicionado ou não de outros produtos lácteos, por fermentação láctea mediante ação de cultivos de microorganismos específicos. Estes microorganismos devem ser viáveis, ativos e abundantes no produto final durante seu prazo de validade.
Embalagem primária: embalagem em contato direto com o produto.
Embalagem secundária: Embalagem em torno da primária; usada também para embalar mais de uma unidade.

A determinação do prazo de validade é feita, teoricamente, mediante testes de estabilidade do produto, com avaliação do seu processo de degradação e estipulação de uma data limite para o consumo. Entretanto, a data de validade, por si só, não é o elemento determinante da qualidade do produto sendo, também importante, as condições de conservação e comercialização dos produtos. A legislação prevê, para o leite fermentado, que os produtos devem ser conservados e comercializados em refrigeradores mantidos à temperatura não superior a 10°C.
Visando uma discussão acerca da importância do prazo de validade de produtos alimentícios, com ênfase em leite fermentado, este trabalho tem como objetivos a coleta de dados de leites fermentados disponíveis em supermercados e posterior análise e discussão dos dados observados.


MATERIAIS ANALISADOS

Foram coletadas informações acerca do prazo de validade, data de fabricação, aspecto macroscópico do produto e qualidade da embalagem dos rótulos e embalagens de leites fermentados disponíveis em uma grande rede de supermercados. Todos os produtos encontravam-se estocados nas mesmas condições, em refrigeradores abertos e na ausência de termômetros.
Os nomes das seis marcas encontradas foram aqui poupados a fim de preservar a imagem das mesmas. A identificação das marcas foi feita com as letras A, B, C, D, E e F.

Marca A
Embalagem com 6 unidades
Data de Fabricação: 31/10/11
Validade: 01/12/11
Lote: 160
Observações: -Informação de “Manter resfriado de 1° a 10°C”.
-As informações apresentadas estavam na embalagem secundária do produto que, por ser colorida, dificultava a visualização dos dados na embalagem primária (individual). Mesmo assim, foi possível detectar uma discrepância dos lotes da embalagem primária e secundária.

Marca B
Embalagem com 6 unidades
Data de Fabricação: 31/10/11
Validade: 05/12/11
Lote: 1304132315
Observações: - Informações de “Manter resfriado de 1° a 10°C” e “Depois de aberto, consumo imediato”.
- As informações apresentadas estavam na embalagem secundária do produto, mas era possível visualizar as mesmas informações nas embalagens primárias individuais.

Marca C
Embalagem com 6 unidades
Data de Fabricação: 21/10/11
Validade: 26/11/11
Lote: 63
Observações: - Informações de “Manter resfriado de 1° a 10°C” e “Depois de aberto, consumo imediato”.
- As informações apresentadas estavam na embalagem primária de uma das unidades. Não foi possível visualizar os dados das 6 unidades visto que a embalagem secundária colorida impossibilitava o acesso.
- Na embalagem secundária não havia qualquer informação sobre data de fabricação ou validade.

Marca D
Embalagem com 6 unidades
Data de Fabricação: 24/10/11
Validade: 02/01/12
Lote: M1/16:26
Observações: - Informações de “Manter resfriado de 1° a 10°C” e “Depois de aberto, consumo imediato”.
- Não constavam informações na embalagem secundária.
- As informações apresentadas estavam na embalagem primária indivi-dual do produto visível graças à embalagem secundária totalmente transparente.

Marca E
Embalagem com 6 unidades
Data de Fabricação: 14/09/11
Validade: 23/11/11
Lote: M2/00:17
Observações: - Informações de “Manter resfriado de 1° a 10°C” e “Depois de aberto, consumo imediato”.
- Não constavam informações na embalagem secundária.
- As informações apresentadas estavam na embalagem primária indivi-dual do produto visível graças à embalagem secundária totalmente transparente.

Marca F
Embalagem com 6 unidades
Data de Fabricação: 16/10/11
Validade: 20/11/11
Lote: Sem informações
Observações: - Informações de “Manter resfriado de 1° a 10°C” e “Depois de aberto, consumo imediato”.
-As informações apresentadas estavam na embalagem secundária do produto que, por ser colorida, dificultava a visualização dos dados na embalagem primária (individual).


DISCUSSÃO

Prazos de validade por marcas:
Marca A = 31 dias Marca D = 70 dias
Marca B = 35 dias Marca E = 70 dias
Marca C = 36 dias Marca F = 35 dias

Na avaliação do acondicionamento do produto nas câmaras frigoríficas, cuja recomendação é entre 1° e 10°C, não é possível ter certeza que o produto encontra-se armazenado de forma adequada devido à falta de termômetros visíveis para o consumidor. E também porque os produtos são muitas vezes retirados dos refrigeradores e devolvidos muito tempo depois ficando sem refrigeração, não sendo possível saber se isso afetou a qualidade do produto.
Não menos importante é a embalagem do produto, principalmente a primária, que deve conter todas as informações visíveis para o consumidor, independentemente da existência de uma embalagem secundária. No caso abordado verificou-se que às vezes a embalagem secundária não permite a visualização e leitura das informações diminutas contidas na embalagem primária, o que leva o consumidor a cometer erros de avaliação.
Deve-se registrar que na maioria das embalagens falta clareza na informação “Após aberto consumir imediatamente”. Pergunta-se o que é consumir imediatamente? Meia hora, um dia?
Vale ressaltar ainda que outro ponto de suma importância é o número de dias para consumo do produto a partir da data de fabricação que não obedece um padrão, visto que existem grandes variações, de mais de 100% (de 31 para 70 dias), entre os produtos. Isso dificulta o consumidor na decisão de qual produto comprar, haja visto que, aparentemente os produtos apresentam composição diferenciada e não há um padrão de prazo de validade.


CONCLUSÃO

Fica claro que, diante das diferenças encontradas nos produtos de mesma categoria, a indústria produtora não segue um padrão de fabricação e apresentação do produto nos estabelecimentos comerciais, gerando muita dificuldade para o consumidor final.
Conclui-se que o prazo de validade não deve por si só ser um parâmetro na hora de escolha de um determinado produto visto que trata-se de um limite estabelecido pela própria indústria no seu interesse.
Resta a nós, pobres mortais, aceitar o que nos é imposto, procurando sempre adquirir produtos com data de fabricação mais próxima e rejeitando sempre aqueles produtos com embalagens e acondicionamento inadequados e aspecto duvidoso. Tais ações contribuem para a aquisição de produtos de melhor qualidade.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
• Decreto nº 3.961, de 10 de outubro de 2001. Disponível em http://www.anvisa.gov.br/legis/decretos/3961_01.htm.
• Anexo Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de bebida Láctea. Disponível em http://www.cquali.gov.br
• Instrução Normativa n° 46, de 23 de outubro de 2007. Disponível em http://www.cidasc.sc.gov.br/html/servico_animal/Inspecao%20Animal/ORIENTA%C7%D5ES%20SOBRE%20ROTULAGEM/LEITE%20E%20DERIVADOS/IN%2046_07_RTIQ%20leites%20fermentados.pdf

2 comentários:

  1. Acerca do trabalho apresentado, levanto certas questões e posicionamentos: Acredito que prazo de validade é uma questão polêmica no âmbito de alimentos, uma vez que os produtos são isentos legalmente de apresentar a data de fabricação em sua embalagem. Logo, devem apresentar apenas o prazo de validade. Sei que não é o caso do trabalho em questão, porém vale o pensar sobre o assunto, pois sem a data de fabricação não é possível para o consumidor calcular o tempo que determinado produto está na prateleira do estabelecimento, disponível para compra/consumo. Como ressaltado pelo trabalho, os prazos de validade variam em até 100% de uma marca para outra, fato que nos leva a questionar a funcionalidade dos ingredientes: por que produtos semelhantes e facilmente confundidos pelo consumidor apresentam prazos tão diferentes? Pelo menos, com a data da fabricação, podemos optar por aquele produto que seja "mais novo" ou esteja a menos tempo susceptível ás condições do mercado.
    Certa vez presenciei, inclusive, um leite fermentado (assim intitulado) estufado na prateleira do mercado. Encontrava-se dentro do tal "prazo de validade", porém não se sabe nas condições adequadas de armazenamento.
    Trata-se, portanto, de confiar nas condições de armazenamento do estabelecimento - que, por vez, lembro-me de uma reportagem sobre mercados que desligavam suas geladeiras (aquelas enormes que armazenam esses produtos, como leites fermentados) durante o período noturno afim de reduzir gastos com energia elétrica.
    Devemos, por fim, sermos consumidores atentos, além de questionarmos sobre a obsolescência da legislação vigente na área de alimentos.

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