Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Berinjela contra o colesterol - Mitos e verdades


São denominadas Dislipidemias, as alterações dos níveis de lipídeos encontradas no sangue. O aumento do colesterol e dos triglicerídeos pode ser o ponto de partida para o surgimento de doenças vasculares, causando complicações como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC). No anseio de buscar alternativas não medicamentosas para o tratamento das dislipidemias, a berinjela apresentou-se como um potente alimento funcional no controle de altos níveis plasmáticos de colesterol. A partir destes achados, cápsulas do extrato seco da berinjela passaram a ser vendidas nas farmácias com o tentador slogan de “remédios naturais”, sendo alvo até de manchetes sensacionalistas de revistas femininas. Portanto, seria esta a solução para nossos problemas com a gordura?

A dislipidemia é causada quando se ingere uma dieta rica em colesterol e gorduras, ou por fatores genéticos que levam estas substâncias a serem produzidas constantemente em altos níveis. Pode ainda ser causada por outras doenças que interfiram no metabolismo como Diabetes Mellitus e hipotireoidismo, ou pelo uso de alguns medicamentos como corticóides. Independente da causa, a dislipidemia pode ser o fator para o aparecimento da aterosclerose. Esta doença é proveniente do acúmulo de LDL que pode ser oxidado e atacado por macrófagos nas paredes dos vasos sanguíneos levando à formação de uma placa de ateroma capaz de obstruir estes vasos. Esta obstrução altera o fluxo sanguíneo e, com a evolução deste quadro, possíveis desfechos como o infarto do miocárdio e o acidente vascular cerebral são passíveis de ocorrerem.

O colesterol é uma substância gordurosa encontrada na corrente sanguínea e em todas as células. É usado para formar membranas celulares, alguns hormônios e realizar outras funções no organismo. Os Triglicerídeos são as gorduras mais comuns. Provêm da alimentação e produção do próprio corpo. Ambas são substâncias que devem estar presentes, em níveis adequados, no organismo. Porém o aumento das suas quantidades leva ao acúmulo de LDL, fator chave para o início da aterosclerose e das doenças cardiovasculares. Sendo assim, a necessidade de utilizar métodos para a redução destes fatores vem sendo amplamente estudada.

Muitos tratamentos efetivos com fármacos foram desenvolvidos para combater a hipercolesterolemia. Entretanto, essas drogas hipocolesterolêmicas são de alto custo, com possíveis efeitos colaterais. Tratamentos não farmacológicos, coadjuvantes na prevenção primária como, dieta pobre em gorduras saturadas e colesterol e rica em fibras, exercícios físicos e o não tabagismo têm sido muito utilizado entre a população como um meio de minimizar os efeitos colaterais e os altos custos do tratamento medicamentoso. Neste contexto, a berinjela apresentou-se como alvo de estudos de uma forma de tratar a hipercolesterolemia e a oxidação a partir de um alimento presente normalmente nas dietas.

A berinjela (Solanum melongena L.) é uma planta da família das Solanaceae, originária da Índia e introduzida no Brasil no século XVI. É cultivada em maior escala nos Estados do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. Além de apresentar uma série de vitaminas, minerais e fibras, a berinjela também contém fitonutrientes incluindo compostos fenólicos, flavonóides e terpenos que são os responsáveis pelos efeitos antidislipidêmicos e antioxidantes do fruto.

Um estudo experimental realizado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) comprovou que o suco de berinjela é um ótimo remédio no combate ao colesterol LDL. Realizada em coelhos, a pesquisa demonstra que o uso do legume reduziu em quase 30% o colesterol no organismo dos animais, o que sugere benefícios também para humanos. O suco age também como um antioxidante. Esse efeito pode corrigir defeitos na parede das artérias provocados pelo colesterol alto, além de reduzir a absorção do colesterol no intestino. Inúmeros trabalhos científicos já constataram que o controle do colesterol reduz o número de infartos em até 42%.

No estudo de Ribeiro-Jorge et al. (1998) foi avaliado o efeito do suco da berinjela sobre os lipídeos plasmáticos, o colesterol tecidual e a peroxidação lipídica em coelhos hipercolesterolêmicos. Nos animais hipercolesterolêmicos alimentados com ração acrescentada de colesterol, gordura de babaçu e suco de berinjela observou-se redução significante do colesterol total plasmático em 19% quando comparado ao grupo hipercolesterolêmico que fez uso da mesma ração suprimindo-se o suco de berinjela. Os níveis de VLDL-CL e HDL-CL não apresentaram modificações significantes, o colesterol LDL reduziu-se em 29% e os triglicerídeos em 38%. Houve redução do peso corpóreo que foi interpretado como conseqüência do elevado teor de fibras encontrado na berinjela.

Outras pesquisas sobre berinjela tem se concentrado em um flavonóide encontrada na pele de berinjela chamado nasunina. Nasunina é um potente antioxidante capaz de proteger as membranas celulares contra danos de radicais livre. Além disso, o Serviço Agrícola dos EUA em Beltsville, Maryland, descobriu que berinjelas também são ricas fontes de compostos fenólicos que também funcionam como antioxidantes.
O composto fenólico predominante encontrado em todas as variedades testadas é o ácido clorogênico, que é um dos mais potentes varredores de radicais livres encontrados em tecidos vegetais. Benefícios atribuídos ao ácido clorogênico incluem antimutagênico (anti-câncer), antimicrobiana, atividades anti-LDL e antiviral. Assim, estas substâncias são capazes de impedir a oxidação do LDL que se acumula nas paredes dos vasos e artérias inibindo a série de reações que culminam na formação da placa de ateroma.

Desta forma, estes achados foram a fonte para o ínico da produção e venda de cápsulas do extrato seco da berinjela promovendo seu uso com as mesmas propriedades da berinjela in natura. Hoje em dia, estes produtos podem ser encontrados em inúmeras drogarias vendidos sem a menor necessidade de prescrição médica, sendo alvo até de manchetes de revistas femininas de ampla circulação, com títulos de capa sensacionalistas como "Sequei incríveis 40 kg com as cápsulas de berinjela” e “As cápsulas salvaram minha dieta”

Contudo, Botelho et al. (2004) avaliaram o efeito do extrato de berinjela no metabolismo de colesterol em ratos alimentados com uma dieta aterogênica, durante 12 semanas. Ao grupo controle foi administrado água e aos demais, extrato de berinjela. Fígado, soro, lipídios fecais e lipoproteínas foram analisados. Foi avaliada também a tensão oxidativa. Foi observado que o extrato de berinjela não diminuiu o colesterol nem afetou as lipoproteínas nos animais com aterosclerose. Surpreendentemente, a berinjela aumentou a oxidação, que representou um fator de risco para a doença. Com estes resultados os autores concluíram que o extrato de berinjela não deve ser considerado um agente hipolipemiante.

No mesmo ano de 2004, Silva et al. estudando o extrato de berinjela, em cápsula, comercializado no Brasil, em pacientes com dislipidemia, através de um estudo duplo cego randomizado, onde 41 pacientes, sendo 21 experimentos e 20 placebos, receberam cápsulas contendo 450 mg de extrato de berinjela, para ser utilizado duas vezes ao dia durante três meses. Observaram que não houve diferença significativa entre o grupo experimental e o placebo, não obtendo resposta quanto à diminuição das taxas de colesterol e suas frações, assim como nas taxas de triglicerídeos. Concluíram então que, a cápsula de berinjela comercializada no Brasil, não tem efeito hipolipemiante

Dessa forma, podemos dizer que a berinjela possui sim propriedades antioxidantes e antidislipidêmicas, contudo a forma como ela deve ser preparada antes da ingestão é talvez o fator chave para que suas substâncias funcionais possam agir contra as doenças cardiovasculares. Enquanto estes estudos não são totalmente finalizados e as melhores formas de utilização do fruto não são elucidadas, cabe aos órgãos reguladores vistoriar a produção e venda das cápsulas e, dessa forma, a boa e velha receita da vovó do “suquinho” de berinjela com laranja segue valendo para combater o excesso de gordura no organismo.

Referências Bibliográficas

1) B.CEPPA. COMPOSIÇÃO QUÍMICA DA BERINJELA (Solanum melongena L.) Curitiba, v. 20, n. 2, p. 247 – 256, jul./dez. 2002

2) GONCALVES, Maria da Conceição R. et al. Berinjela (Solanum melongena L.): mito ou realidade no combate as dislipidemias?. Rev. bras. farmacogn. [online]. 2006, vol.16, n.2, pp. 252-257. ISSN 0102-695X.

3) http://mdemulher.abril.com.br/dieta/reportagem/casos-de-sucesso/dieta-emagrece-ajuda-capsulas-berinjela-645418.shtml - Acessado em 03 de dezembro de 2011

4) http://www.whfoods.com/genpage.php?tname=foodspice&dbid=22 - Acessado em 03 de dezembro de 2011

5) GONCALVES, Maria da Conceição R.; DINIZ, Margareth F.F. Melo; DANTAS, Alexandre Henriques G. and BORBA, José Damião C.. Modesto efeito hipolipemiante do extrato seco de Berinjela (Solanum melongena L.) em mulheres com dislipidemias, sob controle nutricional. Rev. bras. farmacogn. [online]. 2006, vol.16, suppl., pp. 656-663. ISSN 0102-695X

6) BRASIL E. C. L. et al.. NUTRACÊUTICOS, ALIMENTOS FUNCIONAIS E FITOTERÁPICOS: O USO DAS PLANTAS NA PROMOÇÃO, PREVENÇÃO E RESTAURAÇÃO DA SAÚDE. XI Encontro de Iniciação à Docência

3 comentários:

  1. Segundo a OMS 17 milhoes de pessoas morrem de doenças cardiovasculares todos os anos e um dos motivos são dietas não saudáveis que podem levar a aterosclerose. A elevação de colesterol LDL e VLDL leva a imediata prescrição de medicamentos que podem produzir nao apenas efeitos adversos como interações medicamentosas de diferentes intensidades.
    Daí a descoberta de que um alimento já presente na dieta comum tem efeito hipolipemiante e, além disso, apresentar, antioxidantes torna-se uma façanha comumente aproveitada por empresas do modo que podem. Ou seja, procuram uma tecnologia industrial de modo a obter uma cápsula que diz ter o mesmo efeito que um simples suco da berinjela, utilizando o marketing que puder ser utilizados, tal como "redução de peso" e solução mágica para dieta para quem não consome a berinjela. Porém, como o proprio autor diz, cabe a orgaos reguladores e profissionais de saude a fiscalização e desmitificação de tais propagandas de modo sempre a prevenir leitores desavisados que troquem seus medicamentos usuais por capsulas que nao possuem os mesmos efeitos da berijela e de seu suco fresco.

    ResponderExcluir
  2. Sou Farmacêutica formada na USP-SP e estou interessada no tratamento da dislipidemia com o suco de berinjela. Já li sobre várias recomendações contraditórias como retirar a casca/manter a casca, apenas macerar ou triturar, entre outras. Sempre com a conotação proibitiva/de advertência de um ou outro método. Qual seria a forma mais adequada de preparar o suco?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olha, eu cortava meia berinjela (com casca) e deixava de molho em 1l de água da noite pro dia e tomava ao acordar, minha mãe também tomou e sempre teve hipercolesterolemia, em 10 dias normalizou os níveis de colesterol dela!

      Excluir