Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Óleo de coco: É possível emagrecer sem esforços?

Perda de peso sem esforço realmente é o que todos querem, mas podemos dizer que causar agressões diárias ao seu estômago é não fazer esforço algum? Náuseas e vômitos parecem ser comuns entre aqueles que tomam várias colheres diárias de óleo de coco. Curioso é que apenas uma colher de sopa de óleo de coco tem mais de 13 gramas de gordura, de modo que quatro colheres somam praticamente a ingestão diária máxima recomendada. Além disso, este óleo tem o teor de gordura saturada mais alto que todos os outros óleos - 10 vezes a gordura saturada do óleo de oliva, por exemplo. Não me parece surpreendente que não existam estudos clínicos documentando a relação entre o óleo de coco e a perda de peso. É importante ressaltar que as indicações de uso vêm sempre acompanhadas da frase “resultados satisfatórios são obtidos quando em associação com exercícios físicos e uma alimentação saudável...”.


Descrição

Nos últimos anos, o óleo de coco vem sendo veiculado na internet e em programas de televisão como um aliado da saúde, com alegações de prevenção às doenças cardíacas, câncer e fibromialgia, controle do diabetes, melhora do sistema imunológico, aumento do metabolismo e da função tireoidiana, perda de peso, entre outras. Infeli
zmente, não existem evidências científicas comprovando qualquer uma destas propriedades em humanos.

Ao contrário, ao analisar a composição nutricional do óleo de coco é impossível afirmar que este seja um alimento saudável para o coração. O produto tem mais gordura saturada que a manteiga, a banha ou o bacon. Estudos em humanos demonstraram que este óleo eleva os níveis de LDL no sangue, que por sua vez, aumenta o risco do desenvolvimento de aterosclerose e suas complicações, como as doenças cardiovasculares (infarto agudo do miocárdio) e cerebrovasculares (derrame cerebral).
Ironicamente, apesar do alto teor calórico e conteúdo de gordura saturada no óleo de coco, algumas pessoas o utilizam para perder peso e diminuir o colesterol. Para isso, se baseiam no fato de que aparentemente o ácido mirístico tem a capacidade de elevar, além do colesterol total e do LDL, também o HDL. No entanto, esta elevação não é proporcional, ou seja, não é suficiente para compensar os efeitos prejudiciais do LDL. Aí está o principal problema desse consumo desenfreado do óleo de coco que vem sendo estimulado pela mídia.

Fundamentos bromatológicos

Os frutos de coco são constituídos de epicarpo, mesocarpo, endocarpo e amêndoas. As amêndoas encontram-se inseridas no interior do endocarpo e constituem aproximadamente 6% do coco. Mais de 60% da amêndoa é óleo, que é rico em ácido láurico, com concentração acima de 40%. As gorduras láuricas são muito importantes na indústria por serem resistentes à oxidação não enzimática e, ao contrário de outras gorduras saturadas, elas têm temperatura de fusão baixa e bem definida.
O óleo de coco é constituído principalmente de gorduras, sendo as quantidades de carboidratos, proteínas e fibras, praticamente nulas.
Ele contém uma alta proporção de três ácidos graxos saturados (45% de ácido láurico C12:O; 17% de ácido mirístico, C14:0, e 8% de ácido palmítico, C16:O) que, comprovadamente, estão associados com o aumento dos níveis de colesterol total e colesterol LDL.
O ácido láurico, principal constituinte do óleo de coco, é um componente importante do leite materno humano, relacionado com o fortalecimento imunológico do bebê. Pesquisas cientificas demonstram que o ácido láurico possui a capacidade de ativar o sistema imunológico pela ativação da liberação de uma substância chamada interleucina 2, que faz a medula óssea fabricar mais células brancas de defesa. Além disso, os óleos láuricos agem como antiinflamatórios pela inibição da síntese local de prostaglandinas (PGE2) e interleucina 6 que são substâncias pró-inflamatórias.

Legislação

Segundo a Resolução nº 482, de 23 de setembro de 1999 da ANVISA, o óleo ou gordura de coco é o óleo comestível obtido do fruto de Cocos nucifera (coco) através de processos tecnológicos adequados. Este pode ser obtido pelos processos de extração e refino (óleo ou gordura de coco) ou obtido pelo processo de extração (óleo ou gordura de coco bruto). Para o consumo humano, este último deve ser submetido ao processo de refino.
Como requisitos, o óleo ou gordura de coco deve ser límpido e isento de impurezas a 40 ºC, possuindo cor, odor e sabor característicos.
As características físicas e químicas, bem como a composição de ácidos graxos, encontram-se descritas nas tabelas abaixo:


Não existe, no Brasil, uma legislação adequada que se refira ao óleo de coco e suas aplicações. Dessa forma, buscaram-se referências internacionais para tratar deste assunto.
Segundo a American Heart Association (AHA), o óleo de coco é rico em gorduras saturadas, que são a principal causa para a elevação dos níveis de colesterol. Em um artigo online de Julho de 2010, a AHA afirmou que um alto nível de LDL é um importante fator de risco para doenças coronarianas. O artigo cita, ainda, uma recomendação do Comitê de Nutrição da AHA de que a ingestão destas gorduras seja limitada a 7 % do total de calorias diárias para minimizar o risco de doença cardíaca.
Representantes da AHA afirmam que o efeito do óleo de coco sobre o metabolismo, se houver, é modesto quando comparado com o potencial de aumentar o colesterol total e LDL colesterol.
A FDA emitiu diversas cartas intimando proprietários de sites que divulgavam o óleo de coco e associavam seu uso aos benefícios para a saúde a retirarem tais informações. A organização afirma que o óleo de coco é um alimento, e não um medicamento e, como tal, não pode ter o seu uso associado a efeitos “farmacológicos”. Para que isso fosse permitido, o óleo de coco deveria passar por estudos clínicos.
É importante ressaltar, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) ainda não reconhece o óleo de coco como um alimento funcional, e portanto, não estabeleceu a recomendação do consumo do produto e de seus componentes.
Ainda assim, defensores da utilização do óleo de coco indicam 4 colheres de sopa diárias para se obter os benefícios do produto. No entanto, apenas uma colher de sopa contém aproximadamente 11 gramas de gordura saturada – mais da metade do limite diário recomendado para um indivíduo adulto (que é de 16 g diárias). Dessa forma, seguindo as indicações de utilização do produto, seus usuários devem ingerir 44 g de gordura saturada por dia, sem contar com as quantidades provenientes de outras fontes, como, por exemplo, os queijos. As quantidades citadas podem ser observadas, por exemplo, no rótulo do produto “Óleo Orgânico de Coco FINOCOCO”:

Discussão

Existem poucos estudos referentes aos efeitos do óleo de coco sobre o coração humano. Um deles, feito por pesquisadores brasileiros, relatou que mulheres que usaram o óleo de coco apresentaram maiores níveis de HDL do que as que usaram óleo de soja.
Outro estudo, realizado por pesquisadores britânicos com hamsters com artérias obstruídas, observou que aqueles alimentados com óleo de oliva apresentavam artérias mais limpas do que os alimentados com óleo de coco.
Finalmente, pesquisadores da Nova Zelândia trabalharam com voluntários com hipercolesterolemia fornecendo-lhes três dietas distintas: a primeira rica em manteiga, a segunda em óleo de coco e a terceira em óleo de cártamo. Eles descobriram que os níveis de LDL foram menores em pessoas alimentadas com óleo de cártamo, moderado naquelas alimentadas com óleo de coco, e mais altos naquelas alimentadas com manteiga.
Em resumo, esses dados fornecem evidências de que o óleo de coco, rico em ácido láurico, tem um efeito menor sobre o colesterol total e o LDL do que manteiga, que é rica em ácido palmítico, em homens e mulheres hipercolesterolêmicos. No entanto, ainda assim, foi possível observar um aumento nos níveis de LDL.
As descobertas sugerem que, em certas circunstâncias, o óleo de coco pode ser uma alternativa útil para a manteiga e gorduras hidrogenadas vegetais. No entanto, em indivíduos e populações com tendência à obesidade, todas as fontes de gordura devem ser restritas.
Atualmente alguns segmentos da indústria alimentícia estão testando o óleo de coco como substituto da gordura vegetal hidrogenada, que contém as temidas gorduras trans. Ambos elevam o LDL. Porém, enquanto a última diminui o HDL, o óleo de coco tende a aumentá-lo, mas não o suficiente para compensar os seus efeitos prejudiciais no LDL.
Dessa forma, mesmo que o óleo de coco tenha um efeito menor sobre o LDL que a manteiga, ou que tenha maior capacidade de aumentar o HDL do que a gordura vegetal hidrogenada, ainda assim, sua ingestão gera um aumento nos níveis de colesterol e, dessa forma, no risco de doenças cardiovasculares. Ou seja, não adianta consumir o óleo de coco como uma terapia adicional, sem realizar nenhuma alteração na dieta e, também, na rotina de exercícios físicos. Este produto pode até ser melhor que outros já utilizados, mas nunca deve ser adicionado a uma normal, e sim entrar como um substituto.

Bibliografia

Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Disponível em . Acesso em 12 de Dezembro de 2011.

ASSUNÇÃO, M.L. Alterações dos fatores de risco cardiovascular segundo o consumo de óleo de coco. Disponível em . Acesso em: 11 de Dezembro de 2011.

Effects of coconut oil, butter, and safflower oil on lipids and lipoproteins in persons with moderately elevated cholesterol levels. Disponível em . Acesso em: 11 de Dezembro de 2011.

ENIG, M. G. Health and Nutritional Benefits from Coconut Oil: An Important Functional Food for the 21st Century. Presented at the AVOC Lauric Oils Symposium, Ho Chi Min City, Vietnam, 25 April 1996

MACHADO, G.C.; CHAVES, J.B.P.; ANTONIASSI, R. Composição em ácidos graxos e caracterização física e química de óleos hidrogenados de coco babaçu. Revista Ceres,53(308):463-470, 2006 .

SOCERGS - Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio Grande do Sul. Disponível em . Acesso em 11 de Dezembro de 2011.

2 comentários:

  1. O óleo de coco (Cocos nucifera) ainda é muito utilizado, principalmente pela população brasileira que sofre muita influência pela mídia. Com base em alguns estudos científicos mais recentes, foi apontado que o principal constituinte do óleo de coco, os óleos láuricos não aumentam os níveis de colesterol e sim nivelam os níveis do bom colesterol no sangue (Enig, M. & Hostmark et al & Kaunitz e Dayrit & Awad). Esse constituinte, reduz a oxidação do LDL no sangue e assim, previne doenças cardiovasculares.
    O óleo de coco está associado às várias propriedades funcionais devido ao óleo láurico presente, visto que este, é um potente antioxidante. Por conta disto, é muito disseminado e usado para prevenção e tratamento de doenças cardiovasculares já citadas, retardo no envelhecimento, e função estimulante do sistema imunológico, por isso, sendo usado também no processo de emagrecimento.
    Segundo um estudo publicado na American Society for Microbiology, revelou que ao ingerir o óleo láurico, este se transforma em uma substância com diversas ações, como: antibacteriana, antifúngica, antiprotozoária e antiviral, além de um importante imunomodulador; podendo assim, ser utilizado em paralelo no tratamento de Candidíase, por exemplo.
    Dessa forma, este é um alimento classificado como funcional pela ANVISA, pois são alimentos ou ingredientes com propriedades funcionais que além de ter suas funções nutricionais básicas, podem produzir efeitos metabólicos, fisiológicos e/ou benéficos à saúde. Orienta-se ainda, antes de começar a utilizar não só o óleo de coco mas também óleo de linhaça, girassol, entre outros um acompanhamento de médico e nutricionista para a correta dosagem a ser administrada e os riscos do uso em excesso.


    Por Michelle Barcellar.

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  2. Os benefícios do óleo de coco ainda são controversos entre a comunidade médica e especialistas. É um óleo rico em gorduras saturadas, os triglicérides de cadeia média, que seriam os responsáveis pelos seus efeitos benéficos e emagrecimento. A fama de que o óleo de coco ajuda na perda de peso se deve ao fato de que as pessoas que consomem esse óleo apresentam maior oxidação de gorduras, processo que causa sua quebra e faz com que seja usada em forma de energia, porém esse mecanismo ainda não foi descoberto. Além disso, ajudam na saciedade (aliada da perda de peso) através da ativação de hormônios ligados à sensação de saciedade. Ele também traz outros benefícios como melhorar a imunidade e evitar prisão de ventre.
    A contra-indicação desse óleo se deve a alta concentração de gordura saturada, pois quando consumido em grande quantidade, pode aumentar a quantidade de colesterol LDL, que é o colesterol considerado ruim.

    Por Júlia Senna

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