No primeiro supermercado, o responsável pelo setor de frios informou que tais produtos chegam ao estabelecimento em embalagens grandes a partir de 10kg, os quais são abertos e expostos em bandejas de plástico. No caso da azeitona, determinava-se o prazo de validade como sendo de 15 dias, a partir da data de exposição, considerando a temperatura de 10 ºC. Este prazo diminuiria, portanto, conforme o passar dos dias. Também foi informado que o produto uma vez exposto naquele dia, não era mais colocado à venda no próximo. Pode-se reparar que enquanto as perguntas eram feitas, uma senhora pedia por azeitonas recheadas, contudo a vendedora se confundiu e pesou azeitonas fatiadas. Ao perceber o engano, as azeitonas já pesadas e ensacadas foram deixadas de lado, não retornaram ao à bandeja de onde saíram. Apenas foi dado um nó na embalagem plástica e esta foi deixada de lado. Restam as perguntas: estas azeitonas foram descartadas? Ou devolvidas mais tarde à bandeja? E se devolvidas, o fato de retirar e repor as azeitonas, cada vez que houver um engano destes, não alteraria as características do produto, alterando o seu prazo de validade?
Outros fatores também podem contribuir para a manutenção da qualidade e das características do produto vendido a granel, contribuindo para o prazo de validade. Reparar nas condições de higiene dos utensílios, dos manipuladores de alimentos, das instalações, nas informações (qualidade, origem, procedência, validade,...), na presença de insetos (o que pode significar que ralos ou janelas não estão devidamente protegidos), na temperatura são fatores que auxiliam na compra de produtos de qualidade, o que pode garantir aquele prazo de validade estabelecido. A observação destas características também é de extrema importância para evitar a intoxicação alimentar por microorganismos que venham a se desenvolver no local.
Neste processo de desidratação osmótica, provocada pela salmoura, a transferência de massa que ocorre pode ser entendida à luz da segunda lei de Fick, pela qual se estimam os coeficientes de difusão de umidade e do ganho de soluto, o que explica o mecanismo de transporte. Segundo Fick, o fluxo de massa é proporcional ao gradiente de concentração dentro do sólido. Para algumas frutas, já foi visto que a transferência de massa ocorre nas duas primeiras horas, no que tange à perda de água, e durante os trinta primeiros minutos para o ganho de açúcar. A partir daí a velocidade de transferência se lentifica, até que não ocorra mais perda de água e o ganho de açúcar tende a aumentar até o equilíbrio. Contudo, esta transferência depende do tipo de matéria-prima a ser processada. O amolecimento também pode ocorrer devido à presença de fungos, leveduras ou Bacillus.
Entretanto o teor elevado de sal também pode permitir o desenvolvimento da aerobacter levando a formação de bolsas e bolhas de gás. Outro fator importante é a presença de bactérias produtoras de ácidos propiônicos. Estes microrganismos estão relacionados com o aparecimento do efeito designado por “zapatera”. Têm a capacidade de utilizar o ácido láctico no seu metabolismo produzindo ácido propiônico, ácido acético e CO2, podendo levar a um aumento de pH, o que favorece o crescimento de espécies de Clostridium. Este tipo de degradação caracteriza-se por um odor “amanteigado” desagradável e muito forte, pode ocorrer sobretudo quando o pH é superior a 4,5 e quando a concentração de NaCl é baixa. Este fenômeno é frequente, sobretudo em azeitonas colocadas diretamente em salmoura e fermentadas naturalmente, foi associado à presença de ácidos gordos de cadeia curta.
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), produto a granel é todo aquele material processado que se encontra em sua forma definitiva, e que só requeira ser acondicionado ou embalado antes de converter-se em produto terminado. Portanto, as azeitonas assim vendidas são conservadas em salmouras e possuem curto prazo de validade (em torno de 15 dias), ao passo que aquelas vendidas em vidro ou em embalagens de plástico possuem diversos aditivos, observados na tabela abaixo, e um longo prazo de validade sugerido: dois anos. Ainda assim, após abertura da embalagem a indicação e de se manter em geladeira e consumir em até 15 dias.
Acidulantes Ácido cítrico, Ácido lático
Referências bibliográficas
Fundação Procon-SP orienta: Compra de alimentos em conserva exige cuidados [Internet]. São Paulo : ProconSP; 09 Jan 2003 [acesso em 01 Nov 2011]. Disponível em: http://www.procon.sp.gov.br/texto.asp?id=1467
Carmo MA. Produção industrial de azeitona verde no Algarve: parâmetros físico-químicos e microbiológicos [dissertação de mestrado]. Faro. 2010 [acesso em 01 Nov 2011]. Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/70688531/7/Condicoes-de-armazenamentoJuliana Gonçalves. Fora da validade, alimentos trazem danos à saúde [Internet]. Londrina : Jornal de Londrina; 12 Jan 2009 [acesso em 01 Nov 2011]. Disponível em: http://www.jornaldelondrina.com.br/online/conteudo.phtml?tl=1&id=846228&tit=Fora-da-validade-alimentos-trazem-danos-a-saude
Falta de segurança alimentar [Internet]. Deco Proteste; Maio 2007 [ acesso em 01 Nov 2011]. Disponível em: http://www.deco.proteste.pt/seguranca-alimentar/falta-de-seguranca-alimentar-s486361.htm
Joana Gontijo. Compra a granel exige cuidados especiais [Internet]. Estado de Minas : Uai Economia; 01 Set 2008 [acesso em 01 Nov 2011]. Disponível em: http://wwo.uai.com.br/UAI/html/sessao_4/2008/09/01/em_noticia_interna,id_sessao=4&id_noticia=77659/em_noticia_interna.shtml
Muito interessante o trabalho, ainda mais porque quase não se encontra muitos dados a respeito disso na literatura, como já foi dito. Não sei se por descaso ou se as pessoas realmente não param para pensar nesses aspectos. Acho que mesmo se a legislação fosse rigorosa a respeito dos produtos a granel, a fiscalização deveria ser intensa para fazer valer as normas.
ResponderExcluirComo foi bem observado no trabalho, esse tipo de produto que o consumidor compra fora da embalagem original está sujeito a uma série de variações, desde contaminação microbiológica até mudanças no sabor e na textura. Mesmo que o fabricante especifique as condições de armazenamento após a retirada do produto da embalagem original, nada garante que o estabelecimento em que ele é vendido siga tudo a risca. Aí voltamos mais uma vez a fiscalização, que está longe da ideal. Acho que mesmo que as condições de temperatura, pH e a salmoura estejam de acordo com o recomendado, ainda há chances de ocorrer alterações, devido ao fato dos produtos a granel estarem sendo vendidos em ambientes com grande circulação de pessoas e bastante expostos.
Concordo com a Gabriella e a Laís quando dizem que no fim vale mesmo o discernimento do consumidor, optando pela embalagem que é comprada como veio de fábrica, a industrializada, mesmo sabendo da quantidade de conservantes ali presentes; ou então escolhendo o produto a granel, que pode ser comprado na quantidade desejada, com uma conservação menos artificial, mas que corre o risco de uma maior contaminação, devendo ser observada as condições do produto e em como ele está sendo armazenado.
Como já foi observado em outros comentários no blog: é uma questão de bom senso do consumidor. Acho que informar a data de fabricação ou o prazo de validade é útil para leigos, porque nem todos tem o conhecimento para defini-lo. Mas o consumidor deve ficar atento, não é porque um produto está supostamente dentro da validade que está em condições próprias para consumo, já que o modo como ele é conservado também faz parte da equação. Isso vale para o produto no supermercado ou em na sua geladeira. A validade está ok, mas o produto está com uma cor esquisita, quem é que vai querer comer?
Gostaria de parabenizar as autoras pela pesquisa realizada e reforçar que os produtos vendidos a granel, embora sejam vantajosos por possibilitarem a compra da quantidade exata do produto desejado, sempre representam um risco maior, pois ficam mais expostos e suscetíveis a contaminação microbiológica e alterações físico-químicas. Além disso, corremos o risco de sermos enganados pelo estabelecimento e comprarmos algo que já esteja fora do prazo de validade, como muitas vezes é anunciado em noticiários como resultado de fiscalizações sanitárias. Em pesquisa realizada pela Pro Teste, em 10 amostras de azeitonas de mesa a granel, todas apresentaram problemas de higiene e/ou conservação. Por isso é importante frisar que devemos ser atentos para a questão da higiene do local, dos manipuladores, das condições de armazenamento, se o estabelecimento possui o alvará da vigilância sanitária (que deve estar afixado em local visível) e exigir informações como fornecedor, data de fabricação e prazo de validade do produto. Lembrando que, segundo Marcelo Barbosa, coordenador do Procon da Assembléia, os problemas com produtos a granel são enquadrados pelo Código de Defesa do Consumidor nos itens que tratam de crimes nas relações de consumo, já que o fornecedor pode até responder a inquérito policial se não cumprir as normas sanitárias e se houver danos à saúde.
ResponderExcluirDécio Fonseca - 23 de Abril de 2014 - Geralmente compro azeitonas no Mercado Municipal aqui em São Paulo. Que tem grande rotatividade, mas compro somente o que iremos usar durante 1 semana mais ou menos.
ResponderExcluirSou nutricionista de um supermercado e gostaria de saber qual a concentração ideal de NaCl para utilizar nas conservas de azeitona. Quanto de sal é necessário utilizar para quanto de água e quanto de azeitona? Obrigada
ResponderExcluirEnfim, comprar azeitonas é delicado, seja onde for, pois higiene e boas práticas são raridades do cotiado alimentício.
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