Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

domingo, 8 de novembro de 2020

Os riscos do consumo de Adoçante de Sucralose

Figura 1: Adoçante dietético líquido a base de Sucralose da marca Linea.

 

O consumo de adoçantes a base de sucralose pode provocar intoxicação por hidrocarbonetos policíclicos aromáticos clorados (HPAC’s)?

Descrição do Produto: O Linea Adoçante Líquido Sucralose é um edulcorante derivado da cana-de-açúcar que contém zero calorias. Segundo a marca, é um adoçante seguro que toda família pode consumir, sendo 100% eliminado pelo organismo não elevando o açúcar no sangue e mantendo seu poder adoçante em altas temperaturas.

A sucralose é um derivado da sacarose e hoje é o principal adoçante consumido no mundo. O açúcar comum possui átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio (C12H22O11). Na sucralose (C12H19Cl3O8) alguns átomos de oxigênio foram substituídos pelo átomo de cloro. Dentre outras características, isso confere a ela um poder de dulçor maior. Entretanto, foi observado que estes átomos de cloro aumentam não só o poder adoçante dela, mas a sua reatividade (de Oliveira, D.N., de Menezes, M. & Catharino, R.R.).

Pesquisas recentes apontaram os riscos do consumo da sucralose especificamente em alimentos quentes como café, chás, bolos e tortas. Os resultados obtidos mostraram que quando aquecida a sucralose tona-se quimicamente instável e libera compostos potencialmente tóxicos e cumulativos no organismo humano, os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos clorados (HPAC’s) (Oliveira, D.N., de Menezes, M. & Catharino, R.R.).

A ativação metabólica dos HPAC’s não acontece pelo contato direto com o material genético, eles entram no organismo e sofrem ativações enzimáticas através do citocromo P450, formando metabólitos com elevada natureza eletrofílica denominados carcinógenos efetivos. Os novos compostos podem interagir com o DNA e RNA, possibilitando o surgimento de tumores.

Fundamentos Bromatológicos:

O Linea Adoçante Líquido Sucralose, produto à base de sucralose escolhido para exemplificar este trabalho, possui como ingredientes água, edulcorantes artificiais como sucralose e acesulfame de potássio, espessante carboximetilcelulose, conservante benzoato de sódio e ácido cítrico como acidulante. Este produto, segundo a marca, não contém Glúten.

 

Tabela 1: Tabela nutricional para uma porção de 3 gostas do Linea Adoçante Líquido Sucralose 75mL.

 

A sucralose é um derivado dissacarídeo que consiste em unidades 4-cloro-4-desoxi-alfa-D-galactopiranose e 1,6-dicloro-1,6-didesoxi-beta-D-frutofuranose ligadas por uma ligação glicosídica. Dentre as suas funções é classificado como adoçante. É um derivado dissacarídeo e um composto organoclorado (PubChem).


Figura 2: Estrutura química em duas dimensões da molécula de Sucralose.


A sucralose é um derivado do açúcar que difere deste pela adição de átomos de cloro. Essa modificação química confere um poder de adoçamento de até 400 vezes maior que a sacarose. A sucralose possuí excelente solubilidade em água e é facilmente absorvida pelo organismo.

A sucralose foi planejada para atender o público de pessoa com diabetes, entretanto, por possuir praticamente nenhuma caloria, também tem alta adesão pelas pessoas que buscam uma alimentação menos calórica para emagrecer.

Legislação

Segundo a ANVISA, o adoçante líquido é classificado como edulcorante isento de registro sanitário (RDC nº 40/2018) e segundo a portaria n° 38, de 13 de janeiro de 1998, Alimentos para Fins Especiais como o adoçante, são definidos como: “São os alimentos especialmente formulados ou processados, nos quais se introduzem modificações no conteúdo de nutrientes, adequados à utilização em dietas, diferenciadas e ou opcionais, atendendo às necessidades de pessoas em condições metabólicas e fisiológicas específicas”. 

Segundo a RDC nº 149/2017 os limites permitidos nos adoçantes de mesa são a quantum satis, ou seja, uma quantidade suficiente para adoçar.

Discussão e Conclusão

Em seu sítio eletrônico a marca Linea alega que “toda família pode consumir”, “é um doçante seguro, 100% eliminado pelo nosso organismo” e que “mantém seu poder adoçante em altas temperaturas”. De acordo com as informações expostas neste texto, a utilização do adoçante em temperaturas elevadas pode fazer com que haja a formação de HPAC’s que sim, ao contrário do que afirma a marca, estudos apontam que estes são absorvidos pelo organismo provocando, inclusive, alterações no material genético de quem o está consumindo.

A legislação vigente, lamentavelmente, até a data de publicação deste texto, não obriga que produtos como este tenham dizeres em seu rótulo que contraindiquem a utilização em alimentos quentes. Somado a isso, os fabricantes desse tipo de alimento recomendam e fazem fortes campanhas para que também sejam utilizados em produtos como bolos e biscoitos que precisam ir ao forno, logo, podendo chegar a temperaturas superiores a 100 ºC.

Sendo assim, é preciso que o órgão responsável por regular essa classe de alimentos reveja suas diretrizes e atente-se aos riscos que o consumo indiscriminado e indevido do mesmo pode causar, sempre buscando informar de forma clara e objetiva a população. 

Referências Bibliográficas

*de Oliveira, D.N., de Menezes, M. & Catharino, R.R. Thermal degradation of sucralose: a combination of analytical methods to determine stability and chlorinated byproducts. Sci. Rep. 5, 9598; DOI:10.1038/srep09598 (2015).

*Douglas L. Bernardo*, Karina A. Barros, Renato C. Silva e Antonio C. Pavão Departamento de Química Fundamental, Universidade Federal de Pernambuco, 50740-540 Recife – PE, Brasil CARCINOGENICIDADE DE HIDROCARBONETOS POLICÍCLICOS AROMÁTICOS Quim. Nova, Vol. 39, No. 7, 789-794, 2016

*Linea Adoçante Líquido Sucralose 75mL : https://www.lineaalimentos.com.br/410010021-linea-adocante-liquido-sucralose-75ml/p. Acessado em 21/09/2020.

*Informações acerca da estrutura química da sucralose: https://pubchem.ncbi.nlm.nih.gov/compound/71485#section=BioAssay-Results. Acessado em 01/10/2020.

Por: Naiara Ferreira - DRE 116170822

6 comentários:

  1. Rafaela Pietroluongo27 de março de 2021 às 15:43

    Muito elucidativo, mais um exeplo da manipulação da indústria para venda de um produto alimentício. A legislação precisa ser atualizada com as informações dos malefícios quando utilizado esse produto em temperaturas altas, principalmente hoje em dia que a alimentação e dietas low carbs ou de baixo consumo de açúcar se tornam cada vez mais comuns.

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  2. Muito relevante a publicação feita e poucas pessoas sabem sobre isso, adorei a idéia de se escrever um texto a respeito dessa particularidade da sucralose.
    Eu queria aproveitar e complementar nessa publicação pois eu li o mesmo artigo que foi citado ao longo do texto que mostra o risco de se aquecer o adoçante sucralose. Esse estudo mostrou que ao aquecer a sucralose em banho-maria por 2 minutos em média, foi identificado a liberação de compostos organoclorados tanto no gás da fervura como na própria fase sólida (que é o caramelo formado após a sua fusão). Isso é algo extremamente importante e que deveria haver um controle mais rígido quanto a sua comercialização, visto que o seu uso é liberado sem restrições pelos orgãos de segurança alimentar do mundo inteiro, tanto pelo FDA, JECFA, FAO e pela ANVISA.
    Essa classe de compostos, chamados de organoclorados é altamente tóxica e prejudicial por apresentarem efeitos cumulativos no organismo, podendo causar lesões renais, no fígado, no cérebro, no coração, na medula óssea, no córtex da supra-renal e até mesmo no DNA.

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  4. Nota-se que a indústria alimentícia rotula seus produtos de maneira que induz o consumidor a pensar que alimentos intitulados "dietéticos" são mais saudáveis. Quando na realidade, quando paramos para analisar seus componentes, muitas vezes, nos deparamos com casos como este. A legislação de fato está mal escrita, e abre diversas brechas para que os fabricantes insiram seus produtos no mercado, sem alertar sobre seus riscos na embalagem. Não bastasse os perigos de se aquecer a sucralose, a marca ainda sugere que seu público faça isso. Além disso, a marca alega que toda família pode consumir, fato que também não pode ser garantido, uma vez que conta com acessulfame de potássio em sua composição, edulcorante artificial que não é aconselhado para quem precisa limitar a ingestão de potássio devido a alterações renais. No fim, com rótulos tão confusos, tem se tornado cada vez mais difícil, entendermos com clareza o que estamos consumindo e como podemos ou não manusear os alimentos.

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  5. Os adoçantes são muito utilizados por pessoas que não querem consumir o açúcar. Por isso são também indicados para diabéticos. Mas será que essa substituição é saudável? O post fala sobre o uso de Sucralose como base de adoçantes.

    A sucralose é um edulcorante não-calórico, descoberto em 1976 por pesquisadores britânicos, e é aprovado globalmente para uso em alimentos e bebidas. É derivado da sacarose pela substituição seletiva de três grupos hidroxilo por átomos de cloro. A sucralose tem uma potência de doçura de cerca de 600 vezes maior que a sacarose, assim a adição de quantidades muito pequenas de sucralose pode ser usada para adoçar alimentos e bebidas. Ao contrário da sacarose, a sucralose não é digerida ou metabolizada em energia, portanto, não há calorias obtidas a partir da sucralose, também não afetando os níveis de glicose no sangue (TORLONI et al, 2007).

    A sucralose pode ser usada como adoçante de mesa, em formulações secas (como refrescos e sobremesas instantâneas), em aromatizantes, conservantes, temperos, molhos prontos, compotas, etc. (TORLONI et al, 2007). Estudos recentes demonstram que a sucralose submetida a temperaturas maiores que 98ºC é decomposta em subprodutos extremamente tóxicos e com possível potencial cancerígeno (OLIVEIRA; MENEZES; CATHARINO, 2015). Estudos de caso identificaram a sucralose como um agente causador no desencadeamento de enxaquecas. Em um estudo, sugeriu-se que a sucralose seja o possível agente causador do aumento da incidência de doença inflamatória intestinal entre os canadenses devido à sua ação inibidora sobre bactérias intestinais (QIN, 2011).

    A sucralose é um adoçante não nutritivo, e esses podem estar ligados a doenças como o Alzheimer, a depressão, a obesidade e o diabetes Mellitus tipo 2. De acordo com estudos realizados pela Faculdade de Medicina da Universidade de Boston (Estados Unidos), os edulcorantes artificiais não nutritivos podem aumentar o risco de AVC e demência, caso sejam ingeridos diariamente. Diante do exposto, chega-se a conclusão de que o consumo de adoçantes a base de sucralose pode levar a outras doenças, não sendo uma alternativa benéfica para a substituição do açúcar na dieta diariamente.
    De acordo com a RDC de número 27, de 6 de agosto de 2010, os adoçantes dietéticos e de mesa são isentos de registro sanitário. O adoçante de mesa necessita ter os edulcorantes e veículos previstos nos Regulamentos Técnicos específicos.

    Referências:
    1 - GOMES, Guilherme Garcia Marinho. Sacarina e sucralose no potencial de desenvolvimento de doenças. 2017. 17 f. Artigo (Graduação em Nutrição) – Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2017.
    2 - RDC, nº 27 de 6 de agosto de 2010.

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  6. A sucralose é um edulcorante, um adoçante não-nutritivo e é um composto quimiossensorial, com a capacidade de produzir um sabor intensamente doce com poucas ou nenhuma caloria. Eles são frequentemente usados ​​em concentrações muito inferiores às dos adoçantes calóricos. Logo, são utilizados de forma recorrente no mercado global de alimentos e bebidas.[1][2]
    Contudo, como exposto no próprio texto da Naiara e complementado pelo Diogo, a sucralose está associada a diversos tipos de doenças. Um exemplo, é o estudo realizado por Pepino[3], no qual foi visto efeitos deletérios aumentando as concentrações de glicose após uma exposição aguda e de 7 dias à sucralose. Também relatou uma diminuição na sensibilidade à insulina, juntamente com o aumento das concentrações de insulina e peptídeo C, o que definitivamente não é bom quando se trata de um produto disponibilizado e aprovado pela ANVISA e associação de diabetes.
    Além disso, um estudo sobre o efeito da sucralose no metabolismo da glicose e hormônios intestinais[6], relatou que a sucralose é capaz de estimular os receptores do sabor doce na língua e até mesmo no intestino. Desse modo, transmite sinais para o cérebro e estimula a liberação de insulina no plasma, que pode resultar em resistência à insulina, a longo prazo, e, por conseguinte, a diabetes. Outro ponto desse mesmo estudo, é que a sucralose pode estar envolvida na alteração da quantidade e dos tipos de bactérias consideradas benéficas e, também, as “maléficas”, que pode resultar no processo de disbiose, levando à sintomas como diarreia, gases e intolerância à lactose. E, ainda, devido a essa alteração na flora, pode enviar sinais ao cérebro, culminando no desequilíbrio da liberação dos hormônios associados ao controle da fome e, dessa forma, levando à obesidade.
    Portanto, nota-se que embora a embalagem e propaganda dissertem sobre os “benefícios” que a sucralose pode fornecer aos seus consumidores e, principalmente, àqueles que possuem diabetes, os estudos supracitados apresentam um panorama totalmente distinto. E é neste ponto que entra a regulamentação da ANVISA. Sobre os edulcorantes, estamos realmente seguros? A RDC nº 27, de 6 de agosto de 2010, que dispõe sobre as categorias de alimentos e embalagens isentos e com obrigatoriedade de registro sanitário, salienta que adoçantes dietéticos e mesa são isentos de registro sanitário, cujos os edulcorantes e veículos estejam previstos em Regulamentos Técnicos específicos; enquanto a RDC n° 149, de 29 de março de 2017, que autoriza o uso de aditivos alimentares e coadjuvantes de tecnologia em diversas categorias de alimentos e dá outras disposições, dispõe que os limites permitidos nos adoçantes de mesa são a quantum satis, ou seja, uma quantidade suficiente para adoçar. No entanto, a sensação de doçura é subjetiva, então a quantidade que para mim seria suficiente para adoçar algo, pode não ser para outrem e se não há um limite específico de restrição, como garantir a segurança do consumidor, seja ele com comorbidade ou não? É extremamente necessária a atualização dessa regulamentação conforme aparecem estudos técnicos-científicos com os tipos de problemas que não só a sucralose, mas outros edulcorantes podem causar.

    REFERÊNCIAS:
    Gardner C, et al. Nonnutritive sweeteners: current use and health perspectives: a scientific statement from the American Heart Association and the American Diabetes Association. Diabetes Care. 2012;35:1798–1808.
    Mattes RD, Popkin BM. Nonnutritive sweetener consumption in humans: effects on appetite and food intake and their putative mechanisms. Am J Clin Nutr. 2009;89:1–14.
    Pepino MY, et al. Sucralose affects glycemic and hormonal responses to an oral glucose load. Diabetes care. 2013;36(9):12-2221
    Suez J, Korem T, et al. Artificial sweeteners induce glucose intolerance by altering the gut microbiota. Nature. 2014;514(7521):181–6.
    Samar Y Ahmad, James K Friel, Dylan S Mackay, Efeito da sucralose e do aspartame no metabolismo da glicose e hormônios intestinais. Nutrition Reviews. V78(9):725–746. 2020

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