Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Consumo de café no dia-a-dia

 Estariam as empresas que comercializam pó de café sendo desonestas para com seus consumidores?

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Descrição

        A cafeína é hoje considerada como a substância psicoativa mais consumida em todo o mundo, por pessoas de todas as idades, independente do sexo e da localização geográfica. Através de suas fontes comuns na dieta, que são chá, café, produtos de chocolate e refrigerantes, o consumo mundial de cafeína é estimado em mais de 120.000 toneladas por ano [5]. Entre os alimentos que contém este alcaloide, o café é o que mais contribui para a sua ingestão.

        Em pesquisa anual realizada desde 2003 pela InterSciense sobre consumo de café no Brasil mostra que se manteve em 2006 a tendência de crescimento em todas as classes sociais e faixas etárias, com certa estabilidade apenas no segmento mais jovem (15 a 19 anos). Constatou-se também que as pessoas estão tomando mais xícaras de café por dia e que aumentou em 4% o consumo fora do lar, ou que está relacionado com a melhor qualidade e o aumento do segmento de cafeterias, um exemplo das redes estrangeiras que estão entrando no mercado [6]

        A relação entre o consumo de cafeína e o possível desenvolvimento de algumas doenças tem despertado há muito tempo o interesse de cientistas [4]. Apesar de não existirem evidências de que a ingestão de cafeína em doses moderadas (~300 mg/dia) sejam prejudiciais à saúde de um indivíduo normal, esta substância vem sendo continuamente estudada pois ainda persistem muitas dúvidas e controvérsias quanto aos seus efeitos adversos na saúde [3]

A quantidade de cafeína em café é dependente de uma série de fatores como a variedade da planta, método de cultivo, condições de crescimento, além de aspectos genéticos e sazonais [2, 5]. No caso da bebida, por exemplo, além da quantidade de pó, influenciam também o tipo do produto (torrado ou instantâneo, descafeinado ou regular) e o processo utilizado no seu preparo [2]. Os valores determinados por CAMARGO e TOLEDO (1998), situaram-se na faixa de 0,43 a 0,85 mg/ml para as bebidas preparadas com cafés em pó.

Através do estudo de NOGUEIRA, L.S. (2019) foi possível observar que existe um grande número de embalagens que possuem alguma inconformidade com os itens obrigatórios proposto pela legislação vigente, seja pela falta de informação ou apresentação incompleta desta. Essas informações podem interferir diretamente na escolha do produto e na indução de erros por parte do consumidor

Fundamentos bromatológicos

        A composição química do grão verde de café é bastante complexa. Durante o processo de torrefacção ocorrem, ainda, diversas reações gerais, através das quais se degradam e / ou formam inúmeros compostos. Estima-se que o grão de café torrado possua mais de 2000 compostos químicos alguns destes com atividades biológicas (adversas e / ou benéficas). Deste modo, os efeitos do consumo de café irão depender da qualidade e quantidade dos compostos químicos ingeridos, alimentação o consumo moderado normalmente descrito como a ingestão de 3 a 5 doses diárias de café (aproximadamente 150-300 mg de cafeína / dia)

        No entanto, a composição química da bebida é bastante variável e depende muito das espécies de café utilizadas, sendo as mais comuns o Coffea arabica (cerca de 70% da produção mundial) e o Coffea canephora var. robusto (mais de 25%). Quimicamente, essas espécies diferem por seu conteúdo em vários componentes: cafeína (duas vezes mais no café robusta), minerais, compostos fenólicos, trigonelina, aminoácidos, aminas, biogênicos, diterpenos, ácidos graxos, esteróis, β-carbolinas, entre muitos outros.

        A frequência de ingestão, os hábitos alimentares, o estilo de vida (consumo de álcool e / ou tabaco) e uma predisposição genética individual para o desenvolvimento de doenças causadas pelo mesmo modo que os efeitos do café na saúde do consumidor

Legislação

        Tomando como exemplo o Café Pilão Torrado e Moído Extra Forte Vácuo 250g, o produto apresenta em sua embalagem 250g de pó de café, estando de acordo com a Portaria Inmetro nº 153 de 19 de maio de 2008 que dispõe sobre quantidades permitidas para comercialização de café em embalagens. A classificação do tipo de café está de acordo com a Instrução Normativa nº 16 de 24 de maio de 2010.

        De acordo com a RDC nº 259 — Regulamento Técnico sobre Rotulagem de Alimentos Embalados, publicada no Diário Oficial no dia 20 de setembro de 2002, as embalagens de café estão isentas da obrigatoriedade de fornecimento de tabela de rotulagem nutricional e lista de ingredientes. Adicionalmente, o produto Café Pilão Torrado e Moído Extra Forte Vácuo 250g possui a seguinte citação em sua embalagem “Para informação nutricional, favor ligar para o SAC”.

        A tabela abaixo demonstra que o produto em questão cumpre com todas as exigências previstas em legislação, incluindo ainda um selo de certificação de qualidade.

OBRIGATÓRIO

Identificação de origem

A

Conteúdo líquido

A

Validade

A

Modo de conservação

A

Lote

A

Modo de preparo

A

Torra

A

FACULTATIVO

Tabela nutricional

NA

Lista de ingredientes

NA

Certificação de qualidade

A

A = Apresenta; NA = Não Apresenta.

Discussão e conclusão

        Sabe-se que a quantidade de cafeína na bebida depende da quantidade de pó utilizada, do tipo de café e forma de preparo dos mesmos. As empresas não alertam sobre os malefícios do consumo excessivo de café, porém nem a legislação preconiza esse cuidado. Caberia às agências reguladoras determinar um consumo máximo recomendado de café e estipular que o mesmo fosse indicado nos rótulos de pó de café afim de proteger a população destes riscos.

        Não há evidência de que o consumo moderado de café (3 a 5 chávenas diárias), por saudável, seja prejudicial. Existem, no entanto, alguns subgrupos da população que são mais relacionados aos efeitos da cafeína, pelo que, casos, o consumo desta bebida cafeinada será de evitar

 

Referências

1. CAMARGO, M.C.R. & TOLEDO M.C.F. Teor de Cafeína em Cafés Bresileiros. Ciênc. Tecnol. Aliment. vol. 18 n. 4 Campinas Oct./Dec. 1998

2. BARONE, J.J. & ROBERTS, H. Human consumption of caffeine. In: DEWS, P.B. Caffeine: Perspectives from recent research. Berlin: Springer- Verlag, 1984. seção II, cap. 4, p. 59-73.

3. IFIC-review. Caffeine and health : clarifying the controversies, April, 1998

4. IFT. Evaluation of caffeine safety. Food Technology, Chicago, v. 40, n.3, p. 106-115, March, 1988.

5. JAMES, J. E. Caffeine and Health. London : Academic Press, 1991. 432 p. 

6.  MACHADO, R. A. AVALIAÇÃO BROMATOLÓGICA DE DIFERENTES MARCAS DE CAFÉS TORRADO E MOÍDO COMERCIALIZADOS NO MUNICÍPIO DE MUZAMBINHO - MINAS GERAIS. Disponível em http://www.sbicafe.ufv.br/bitstream/handle/123456789/2192/179995_Art235f.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em 15 mar. 2007


Um comentário:

  1. Sabe-se que diferentes espécies de cafeeiros possuem quantidades diferentes de cafeína, então a princípio não se deveria estabelecer uma única quantidade de xícaras de café que podem ser tomadas por dia, sendo assim considerada uma quantidade saudável. Aliás, uma dose saudável é uma informação relativa, uma vez que as pessoas possuem sensibilidades diferentes à cafeína, ou seja, algumas delas têm predisposição genética a desenvolver alguns distúrbios mentais provocados pela estimulação do SNC causada pela cafeína que é conhecidamente uma substância psicoativa e que é comercializada legalmente devido a questões culturais. Uma informação importante que devia ser apresentada na embalagem de café é a lista de ingredientes, uma vez que o café possui milhares de compostos químicos e o balanço destes no fim das contas, além da cafeína, pode ser prejudicial ou benéfico à saúde e estudos mais detalhadas devem ser providenciados, uma vez que transtornos como ansiedade e depressão estão tendo seu número aumentado ao redor do mundo e a cafeína pode ser um fator a investigar, visto que em muitos países, incluindo o Brasil, é comum o hábito de ter um horário para tomar café e também onde essa incidência tem aumentado. Além disso, sabe-se que o café vicia por provocar uma certa sensação de prazer relacionada ao aumento de dopamina em algumas áreas cerebrais e ele ainda é vendido normalmente, provavelmente devido a alta pressão da indústria que é muito forte em vários países e isso acaba dificultando o processo investigatório acerca dos malefícios provocados pela cafeína. Outro ponto é que realmente devia ser estabelecido um limite de consumo diário e inclusive conter na embalagem um alerta sobre a questão do horário que o café deve ser tomado, pois pessoas que sentem fortemente o efeito do café podem ter muita dificuldade para dormir. Portanto, assim como outras drogas psicoativas de origem natural são proibidas, o café deve ser, no mínimo, estudado mais a fundo para que medidas legislativas mais duras possam ser tomadas.

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