Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

domingo, 1 de novembro de 2020

Kabrita: a “infant formula” ideal?




Será que existe alguma diferença entre fórmulas infantis à base de leite de cabra e aquelas à base de leite de vaca? Seria a “Kabrita” a melhor escolha? Leia mais...


DESCRIÇÃO

O produto a ser estudado é uma fórmula infantil para lactentes, ou seja, para bebês de 0 a 6 meses, à base de leite de cabra. O fabricante considera como os principais benefícios do leite de cabra: a rápida e fácil digestão, devido ao perfil diferenciado de caseína; alto valor nutritivo, por conter diversas vitaminas e minerais além de nucleotídeos; e o sabor suave, característica intrínseca desse leite. O leite de cabra contém 6 vezes menos caseína que o leite de vaca, o que favorece não só o processo digestivo, como também pode diminuir as chances de se ter alguma sensibilidade ao leite, já que a caseína é uma das principais responsáveis pela alergia ao leite de vaca nos lactentes.


FUNDAMENTOS BROMATOLÓGICOS



Percebe-se a partir do rótulo a presença de lactose, o principal, mas não único carboidrato presente no leite materno. Além disso, o soro de leite de cabra é uma fração proteica que apresenta as proteínas lactoalbumina e lactoglobulina, principais proteínas do leite materno. A caseína que é muito frequente em leites à base de vaca, não está em altas concentrações nesse produto, o que já garante maior similaridade ao leite materno, provendo benefícios ao lactente. Além disso, encontramos compostos como o ARA (ácido araquidônico) e DHA (ácido docosahexaenóico) também conhecidos como ômega 6 e 3, respectivamente. Esses são lipídeos importantes tanto durante a gestação, quanto durante a primeira infância, sendo cruciais para o crescimento cognitivo e o desenvolvimento da visão e do sistema imunológico. Observa-se que são declarados na parte frontal do rótulo, obrigatório pela legislação.


LEGISLAÇÃO

No Brasil, a ANVISA é o órgão que regulamenta a legislação sobre as infant formulas juntamente com a Codex alimentarius, Código Internacional. Com relação à normativa brasileira,  de acordo com a Resolução RDC n. 43/2011, fórmula infantil para lactentes é o produto, em forma líquida ou em pó, utilizado sob prescrição, especialmente fabricado para satisfazer, por si só, as necessidades nutricionais dos lactentes sadios durante os primeiros seis meses de vida (5 meses e 29 dias). O produto Kabrita 1 é uma infant formula destinada para lactentes de 0-6 meses. A partir das RDCs, conseguimos avaliar se o produto está de acordo ou não com as normas estabelecidas pela ANVISA. A RDC n. 42/2011 é Regulamento Técnico de compostos de nutrientes para alimentos destinados a lactentes e a crianças de primeira infância em que percebemos que o produto se adequa. No caso do produto, como foram adicionados os nutrientes opcionais DHA e ARA suas quantidades também devem ser declaradas e presentes no rótulo. Devem ser atendidos todos os requisitos de rotulagem e de promoção comercial definidos na Lei n. 11.265/2006 para fórmulas infantis para lactentes (artigos 4º e 10).  Essa lei, por exemplo, trata sobre a obrigação de a parte frontal do rótulo apresentar a seguinte frase: “AVISO IMPORTANTE: Este produto não deve ser usado para alimentar crianças menores de 1 (um) ano de idade. O aleitamento materno evita infecções e alergias e é recomendado até os 2 (dois) anos de idade ou mais”. Dessa forma, o rótulo do produto apresenta-se adequado considerando as legislações vigentes da ANVISA e Codex alimentarius.

 

DISCUSSÃO

Considerando os aspectos bromatológicos, pode-se citar à similaridade desse produto com o leite materno, quando comparado às formulações infantis à base de leite de vaca. A baixa concentração de caseína pode diminuir possíveis reações alérgicas que viriam acontecer ao consumir o leite da vaca, além de possíveis desconfortos devido ao coalho gástrico formado pela ingestão de tal proteína. Percebe-se que o produto se adequa às legislações vigentes a respeito das formulações infantis. A presença de ARA e DHA é um dos pontos positivos dessa fórmula devido à importância desses componentes na dieta dos lactentes. Além disso, o perfil de vitaminas também está adequado para esses indivíduos nessa faixa etária.


CONCLUSÃO

A partir das questões discutidas nessa análise, percebe-se que a formulação infantil à base de leite de cabra poderia ser uma melhor escolha quando comparada com formulações baseadas no leite de vaca devido à fatores como sua composição ser mais próxima do leite materno e menor probabilidade de desencadear alergias. Entretanto, deve-se lembrar da importância da amamentação, já que essas formulações infantis não conseguem mimetizar por completo o leite materno. Deve-se obter orientações e recomendações de um profissional especializado na área antes de, por conta própria, utilizar tais produtos. 


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SILVA, Roberta Claro da et al . Composição centesimal do leite humano e caracterização das propriedades físico-químicas de sua gordura. Quím. Nova,  São Paulo ,  v. 30, n. 7, p. 1535-1538, 2007

https://www.ausnutria.com.br/

Resolução RDC n° 43. Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 2011

Resolução RDC n° 42. Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 2011

BRASIL. Lei 11265, de 03 de Janeiro de 2006. Regulamento da comercialização de alimentos para lactentes e crianças de primeira infância e também a de produtos de puericultura correlatos.

Codex Alimentarius Commission. Joint FAO/WHO Food Standards Program. Codex Standard for Infant Food (Codex Stan 72-1981). In: Codex Alimentarius

https://www.dsm.com/markets/human-nutrition/pt-br/talking-nutrition/ara-dha-early-life-nutrition.html


Um comentário:

  1. [Beatriz Gonçalves da Luz] Produtos destinados a bebês na faixa etária de 0 a 6 meses requerem grande atenção, uma vez que nessa idade o leite materno deveria ser a única fonte de alimentação. Inserir uma infant formula na dieta do bebê exige pesquisa e cautela, a fim de escolher um produto que se assemelhe ao leite materno e que possa suprir possíveis carências nutricionais, mas ao mesmo tempo, que não seja alergênico ou com excesso de componentes, como carboidratos. Em geral, há uma superestimação das infant formula, de forma que são comercializadas como produtos superiores ao leite materno, induzindo a errada conclusão de que o mesmo não é suficiente. No entanto, “Kabrita” aparenta ser um produto que foi desenvolvido visando a similaridade com o leite materno e que não seja prejudicial à saúde dos bebês, além de relembrar na própria embalagem a importância da amamentação, se destacando no mercado de infant formula.

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