Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Cerveja low-carb: uma opção em dietas de baixa caloria?




 Para muitos, o consumo de cerveja é tido como um vilão em dietas de baixa caloria. Para resolver isso, a cervejaria Bruder lançou a linha low-carb buscando associar o consumo da cerveja por atletas e pessoas em dietas de restrição calórica. Porém será a redução dos níveis de carboidratos suficiente para descreve-la como uma bebida de baixa caloria?  

Descrição do produto

A linha de Cervejas Bruder Low-carb que inclui as cervejas “Alma Cevada” e “Baixa Gastronomia” foi lançada recentemente pela cervejaria Bruder em embalagens de vidro de 600 mL. Ambas, afirmam ser zero carboidrato e zero açúcar em seus rótulos. Adicionalmente, segundo publicidade, as cervejas dessa linha são de “baixíssimas calorias” o que segundo eles aparentemente justificaria o uso por adeptos de dietas e atletas.

Segundo o próprio fabricante, tanto a Alma Cevada quanto a Baixa Gastronomia, são cervejas puro malte leve, ou seja, ela apresenta o extrato primitivo (exclusivamente de malte) igual ou superior a 5% e inferior a 10,5%, em peso.


Figura 1 – Publicidade em uma rede social da Alma Cevada

Desde o lançamento, o marketing tem como foco a divulgação dos benefícios do consumo dessa cerveja por atletas e pessoas em dietas com restrição calórica. Considerando que, se tratando de bebida alcoólica, a redução em carboidratos não necessariamente reflete em uma diminuição do seu valor energético, convém avaliar se as cervejas podem ser consideradas bebidas de baixa caloria e se o consumo pode ser um aliado em dietas de restrição calórica e durante atividades físicas. 

Fundamentos bromatológicos


Segundo o Artigo 36, do Decreto nº 6.871 de 2009, que estabelece os padrões de identidade e qualidade para os produtos de cervejaria, cerveja é:

 “A bebida resultante da fermentação, a partir da levedura cervejeira, do mosto de cevada malteada ou de extrato de malte, submetido previamente a um processo de cocção adicionado de lúpulo ou extrato de lúpulo”.

A indústria consegue reduzir a quantidade de carboidratos através de diversos métodos. Em cervejarias, utiliza-se principalmente processos enzimáticos que aumentam a concentração de açucares disponíveis no meio para a posterior metabolização pelas leveduras, resultando em uma diminuição das dextrinas residuais.

Apesar da aparente complexidade do processo de fabricação, o valor energético das duas cervejas é de apenas 64 kcal/200 mL. Grande parte das calorias vem do álcool contido, que é de 4,8% para ambas, ou cerca de 3,8g/100 mL. Nesse sentido a Cervejaria aparentemente cumpre com a promessa de oferecer um produto “Low-Carb”.

 


Figura 2 – Rótulo Cerveja Alma Cevada.

 


Figura 3 – Rótulo Cerveja Baixa Gastronomia.

 

Legislação


A cerveja de hoje não é a mesma de antes, assim como a legislação brasileira. A bebida de baixa caloria até 20 anos atrás era considerada aquela com até 20kcal/100 mL. Hoje, com a RDC Nº 54, DE 12 DE NOVEMBRO DE 2012, esse valor passou a ser de 40kcal/100 mL. De modo que a cerveja Bruder 0% com 32kcal/100mL atende a legislação.

Segundo a mesma Resolução, o uso do atributo “Não contém” no rótulo é permitido desde que haja até 0,5 g de açúcares a cada 100 mL da bebida. A determinação também vale para gorduras totais.

Discussão 


Apesar da linha ser zero carboidrato, a premissa que ela é aliada em dietas parece ser um tanto tendenciosa pois sabe-se que se tratando de bebidas alcoólicas, grande parte da caloria ingerida vem da quantidade de álcool ali presente, cerca de 7,1 kcal/g. Esse valor supera o que é encontrado em fontes energéticas como carboidratos e proteínas (4 kcal/g), de modo que uma redução do teor de carboidratos, por exemplo, não necessariamente significa que o produto é “de baixa caloria”.

A linha low-carb não apresenta uma diferença significativa no teor alcoólico quando comparada a outra cerveja comercializada pelo mesmo fabricante (Cerveja Pilsen – 4,5%) Ainda assim, somente a redução do carboidrato consegue diminuir o valor energético de forma que as cervejas podem ser consideradas de fato de baixa caloria.

Por outro lado, alguns estudos têm demonstrado que quantidades mesmo que pequenas de álcool prejudicam o desempenho em atividades físicas durante e após a ingestão. Se por um lado a cerveja “ajuda” em dietas de restrição calórica, por outro, piora o desempenho durante atividades aeróbicas, tão necessárias para a redução de peso.

 

Conclusão

As cervejas da linha Bruder 0% carboidrato atendem ao que é disposto na legislação de alimentos no que tange bebidas dietéticas. Porém ao associar o consumo da bebida com práticas de atividade físicas e ingesta de alimentos calóricos, a fabricante cria e promove publicidade capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa a sua saúde.

 

Referências:

Uso de álcool em esportes. https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-86921997000300008#:~:text=de%200%2C15.-,1.,rea%C3%A7%C3%B5es%20r%C3%A1pidas%20a%20est%C3%ADmulos%20variados.

Resolução da diretoria colegiada – rdc nº 54, de 12 de novembro de 2012: http://portal.anvisa.gov.br/documents/%2033880/2568070/rdc0054_12_11_2012.pdf/c5ac23fd-974e-4f2c-9fbc-48f7e0a31864

Portaria nº 27, de 13 de janeiro de 1998
http://portal.anvisa.gov.br/documents/33916/394219/PORTARIA_27_1998.pdf/72db7422-ee47-4527-9071-859f1f7a5f29

Gurr, M. - Alcohol, health issues related to alcohol consumpt. 2a. ed. Bruxelas: International Life Sciences Institute (ILSE), 1996


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