Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Kombucha industrializado: Seriam necessárias advertências obrigatórias no rótulo?

 


Apesar da crescente popularidade do kombucha, seria completamente seguro seu consumo? Se tratando de uma bebida com poucos estudos conclusivos quanto à sua toxicidade, seriam necessárias advertências em seu rótulo, principalmente quanto à dose diária máxima?

Descrição

Kombucha é uma bebida fermentada obtida através da fermentação pela cultura simbiótica de bactérias e leveduras microbiologicamente ativas, chamada SCOBY, do chá verde ou chá preto adoçado. Esta bebida tem ganhado popularidade como uma bebida “funcional”, como um substituto saudável de refrigerantes e, principalmente, pelas alegações de benefícios a saúde associadas ao seu consumo. Inclusive, nos Estados Unidos, é a indústria de bebidas funcionais que mais tem crescido nos últimos anos.

Fundamentos bromatológicos

O kombucha é um coquetel de componentes químicos como: ácidos orgânicos, principalmente o ácido acético, ácido glicônico e ácido glicurônico. Em menores quantidades, possui ácido cítrico, L-láctico, ácido málico, ácido tartárico, ácido malônico, ácido oxálico, ácido succínico, ácido pirúvico e ácido úsnico. Também contém açúcares como sacarose, glicose e frutose, vitaminas (B1, B2, B6, B12 e C), 14 aminoácidos, aminas biogênicas, purinas, pigmentos, lipídios, proteínas, algumas enzimas hidrolíticas, polifenóis derivados do chá, minerais (manganês, ferro, cobre, níquel, zinco, cobalto, crômio, cadmio), etanol, dióxido de carbono, ânions, D-saccharic acid-1,4-lactone (DSL) e produtos de metabolismo de bactérias e fungos desconhecidos.

Existem diversas alegações de benefícios à saúde a partir destes compostos separadamente, como atividades antioxidantes, hepatoprotetoras, desintoxicantes e até com atividade de inibir o crescimento de células cancerígenas. Entretanto, há pouquíssimos estudos comprovando estes benefícios em modelo humano. Inclusive, há diversos estudos de caso relacionando efeitos adversos ao consumo de kombucha, porém ainda não é possível comprar causalidade.

Legislação

De acordo com a instrução normativa nº 41 de 17 de setembro de 2019 da ANVISA é proibido o uso de alegações funcionais e de saúde em seu rótulo. Além disso, é proibido o uso de palavras como: artesanal, caseira, familiar, bebida viva, bebida probiótica, bebida milenar, elixir, elixir da vida, energizante, revigorante, especial, premium, dentre outras que atribuam características de qualidades superlativas e propriedades funcionais não aprovadas em legislação específica. Entretanto não se observa nenhum tipo de advertência obrigatória, a não ser a respeito de conteúdo alcoólico para produtos de teor alcoólico maior que 0,5% v/v.

De acordo com o FDA, o kombucha se encaixa na sessão de processos especiais, que dita regras rígidas sobre sua produção e segurança microbiológica. Entretanto, apesar do FDA possuir documentos que ditam de forma clara e rígida sobre alegações de saúde em rótulos de produtos, também não possui nenhum tipo de advertência obrigatória em sua rotulagem.

Discussão

Não há dúvidas que o kombucha possui diversos componentes com potencial de gerar benefícios a saúde, porém o fato de haver pouquíssimos testes em modelo humano para avaliar tanto seus benefícios, quanto sua segurança em diferentes doses deveria ser um alerta para entidades regulatórias. Diversos estudos de caso publicados indicam para uma possível toxicidade em circunstâncias específicas. Foram observados sintomas como: hiponatremia, acidose lática, falência renal aguda, alergias, náuseas, hepatotoxicidade, entre outros. Em muitos relatos, os pacientes já sofriam de condições pré-existentes, ou consumiram além da dose diária máxima recomendada de 300 mL, de acordo com a CDC. Sendo assim, devido à insuficiência de estudos, o kombucha poderia possuir em sua legislação regulatória a obrigatoriedade de uma advertência indicando para o consumidor, pelo menos, a dose diária máxima recomendada, podendo evitar complicações relacionadas ao consumo indevido de kombucha.

Conclusão

Apesar de não constituir perigo na maioria dos casos, ainda há pouquíssima evidência científica em relação aos seus benefícios e sua segurança para o consumidor. Como forma de orientação, em seu rótulo poderia conter uma advertência quanto à quantidade máxima de consumo diário, evitando possíveis efeitos adversos relacionados ao seu consumo.

Fontes

Kapp, JM. Sumner, W. Kombucha: a systematic review of the empirical evidence of human health benefit, Annals of Epidemiology, Volume 30, 2019,Pages 66-70

Leal, JM. Suárez, LV. Jayabalan, R. Oros, JH. Escalante-Aburto, A . A review on health benefits of kombucha nutritional compounds and metabolites, CyTA - Journal of Food, 2018, 16:1, 390-399

Instrução Normativa nº 41 e 17 de setembro e 2019 – ANVISA

FDA – Food Labeling Guide

Watawana,MI. Jayawardena, N. Gunawardhana, CB. Waisundara, VY. Health, Wellness, and Safety Aspects of the Consumption of Kombucha. Journal of chemistry, 2015

https://www.luminer.com/articles/crazy-for-kombucha-labeling-and-compliance-regulations-for-fermented-tea/#:~:text=The%20FDA%20also%20requires%20kombucha,Common%20name%2Fstatement%20of%20identity&text=Amount%20of%20product%2Fnet%20quality%20statement

3 comentários:

  1. Tendo em vista o exposto na postagem o Kombuchá, tem sido uma bebida muito buscada e que potencialmente utilizada, considerando seus benefícios e por ser uma bebida de fontes naturais.
    Entretanto, por ser uma bebida relativamente nova, seu consumo abusivo e os efeitos colaterais que podem decorrer do uso ainda não foram totalmente expostos, com isso, tendo em vista o olhar farmacêutico sobre os alimentos, fica clara a necessidade de uma reavaliação das informações obrigatórias no rótulo nutricional, fornecendo maior transparência e orientação para o consumidor, além da realização de maiores estudos que comprovem a causalidade de consumo e efeitos adversos.

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  2. O Kombucha é um chá fermentado que ainda é muito novo no mercado, porém está se popularizando muito rápido. Até então, sabemos que essa bebida tem benefícios como: fonte de antioxidantes e vitaminas do complexo B, além de fortalecer o sistema imunológico e ter ação probiótica. Porém, o consumo excessivo de Kombucha pode causar inchaço e distúrbios digestivos pois é uma bebida carbonatada e que contém muitos carboidratos. E também, é comum que as pessoas preparem o Kombucha em casa, e deve ser tomado os cuidados necessários pois durante o preparo, se o chá mofar e for contaminado por bactérias ou fungos não desejados, irá fazer mal à quem consumiu, causando assim possíveis infecções. Então, creio que os fabricantes devam colocar em seus produtos todos os riscos de seu consumo, para que o consumidos seja alertado sobre esses riscos à saúde.

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