Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

DHA: isso faz o Ogestan Plus® diferente?



Durante a gravidez, muitas mulheres fazem uso de suplementos alimentares. Mas quais critérios são importantes na escolha do produto?

Descrição do produto:

As gorduras e óleos são reconhecidos por serem nutrientes essenciais na alimentação humana e proporcionam a fonte mais concentrada de energia que se conhece. O DHA em conjunto com o ácidos eicosapentaenoico (EPA) e alfa-linolênico (ALA) formam o conhecido ômega-3. Alimentos como peixes gordos (anchova, salmão, atum) e óleo de algas são ricos em DHA.

Ogestan Plus® é indicado como um complemento nutricional durante a gestação e atua oferecendo uma série de benefícios para o feto durante a sua formação. Sua fórmula contém vitaminas e minerais, como ferro, iodo, vitamina C, vitamina D3, zinco, manganês, além de ácido fólico. A composição destaca-se, todavia, pela presença de DHA concentrado. Será que esse destaque faz esse produto ser diferenciado no mercado? Há outras possíveis opções?

Fundamentos Bromatológicos:


O DHA encontra-se em concentrações muito altas nos fotorreceptores das células da retina e é o ácido graxo mais comum nas membranas das células cerebrais. Portanto, tanto o feto, através da passagem placentária, como o recém-nascido, através do leite materno, dependem do suprimento materno deste elemento para adquirir esse nutriente e para que suas funções neurológica e visual sejam normais.

Conforme os benefícios para a saúde do ácido graxo ômega 3 foram sendo descobertos e foram divulgados na mídia, como a prevenção de enfermidades cardiovasculares, câncer de cólon, doenças imunológicas, que favorece o desenvolvimento cerebral e da retina, a indústria dos complementos alimentares viu nesta substância uma ótima fonte para obtenção de novas receitas.





Legislação:

Segundo a ANVISA, suplementos alimentares "não são medicamentos e, por isso, não servem para tratar, prevenir ou curar doenças. Os suplementos são destinados a pessoas saudáveis. Sua finalidade é fornecer nutrientes, substâncias bioativas, enzimas ou probióticos em complemento à alimentação”.

Tais produtos são, de acordo com a RDC Nº 240/2018, “isentos de registro sanitário”, pois não são autorizados a conter enzimas ou probióticos. Porém existe a Instrução Normativa Nº 28/2018 que estipula as listas de constituintes, de limites de uso, de alegações e de rotulagem complementar dos suplementos alimentares. Lá é descrito tudo o que pode ou não conter nesse tipo de formulação e também em seu rótulo, juntamente com a RDC Nº 243/2018 que traz definições e os requisitos sanitários dos suplementos.

O Codex Alimentarius, um programa conjunto da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e da Organização Mundial da Saúde (OMS), com o objetivo de estabelecer normas internacionais na área de alimentos, criado em 1963, também possui alguns guidelines que orientam como esses produtos devem ser rotulados e fabricados, a saber: CAC/GL 1-1979, CXS 180-1991 e CXG 55-2005 todos disponíveis na integra no site da organização.

Discussão:

A maioria das gestantes não consome a quantidade necessária de DHA, pois não faz parte da cultura ocidental o hábito de ingerir peixes com regularidade. Por outro lado, essa ingesta deve ser feita com cautela pois muitos pescados são contaminados por metais pesados, como o mercúrio, e este por sua vez consegue ultrapassar a barreira placentária. Portanto, o consumo de cápsulas é uma boa alternativa.

A ingesta de DHA possui faixas predeterminadas. De acordo com parâmetros estabelecidos na IN Nº 28/2018, para gestante, o mínimo é que se possua 45 mg e no máximo 2.000 mg na recomendação diária de consumo de DHA, o referente a uma cápsula, e o produto em questão se encontra dentro deste limite. É importante que essas formulações também contenham Vitamina E para evitar a oxidação do produto, o que acorre também nos critérios estabelecidos pela norma.

Porém, há duas alternativas: o uso de suplementos vitamínicos que já contenham a substância ou o uso de DHA em cápsulas a parte. Isso significa que por mais que o Ogestan Plus® seja uma boa opção, ele não é o único e nem tão excepcional. Numa busca em diferentes farmácias foi constatado que, uma caixa com 30 cápsulas, custa em média R$ 69 e o fator financeiro sempre é decisivo também no momento da compra, portanto, é importante que a consumidora tenha o conhecimento suficiente para compreender o que realmente está em jogo na escolha de seu suplemento.

Conclusão:

A gravidez é uma fase em que a alimentação da gestante contribui em 100% para o desenvolvimento do feto. Suplementos alimentares podem ser bons aliados nesse processo se utilizados com indicação médica. Além de elementos como ácido fólico, ferro, cálcio, zinco, cobre e tantas outras vitaminais e minerais, o DHA possui um importante papel nesse conjunto de nutrientes. Todavia, especialmente por se tratar da gravidez, a busca do suplemento ideal deve ser orientada em acordo com o médico que acompanha a mulher, considerando a importância fisiológica e limite de cada constituinte por uso diário.

Bibliografia:

Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Instrução Normativa - IN N° 28, de 26 de Julho de 2018. Disponível em: <https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/34380639/do1-2018-07-27-instrucao-normativa-in-n-28-de-26-de-julho-de-2018-34380550> . Acesso em: 29 set. 2020.

Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC Nº 240, de 26 de Julho de 2018. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/documents/10181/3898888/%281%29RDC_240_2018_COMP.pdf/779c2f17-de8c-41ae-9752-62cfbf6b1077 > . Acesso em: 29 set. 2020.

Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC Nº 243, de 26 de Julho de 2018. Disponível em: < http://portal.anvisa.gov.br/documents/10181/3898888/RDC_243_2018_.pdf/0e39ed31-1da2-4456-8f4a-afb7a6340c15 > . Acesso em: 29 set. 2020.

Codex Alimentarius. CODEX GENERAL GUIDELINES ON CLAIMS, CAC/GL 1-1979. Disponível em: < http://www.fao.org/3/y2770e/y2770e05.htm#fn16 > . Acesso em: 29 set. 2020.

Codex Alimentarius. DIRECTRICES PARA COMPLEMENTOS ALIMENTARIOS DE VITAMINAS Y/O MINERALES, CAC/GL 55 - 2005. Disponível em: < http://www.fao.org/fao-who-codexalimentarius/sh-proxy/es/lnk=1&url=https%253A%252F%252Fworkspace.fao.org%252Fsites%252Fcodex%252FStandards%252FCXG%2B55-2005%252Fcxg_055s.pdf > . Acesso em: 29 set. 2020.

Codex Alimentarius. NORMA PARA EL ETIQUETADO Y LA DECLARACION DE PROPIEDADES DE LOS ALIMENTOS PARA FINES MEDICINALES ESPECIALES, CXS 180-1991. Disponível em:<http://www.fao.org/faowhocodexalimentarius/shproxy/es/lnk=1&url=https%253A%252F%252Fworkspace.fao.org%252Fsites%252codex%252FStandars%252FCXS%2B180-1991%252FCXS_180s.pdf > . Acesso em: 29 set. 2020.

Helland I, Saugstad O, Smith L, Saarem K, Solvoll K, Ganes T, et al. Similar effects on infants of n-3 and n-6 fatty acids supplementation to pregnant and lactating women. Pediatrics. 2001; 108(5):82.
Makrides M, Gibson R. The role of fats in the lifestyle stages: pregnancy and the first year of life. MJA. 2002; 176:111-12.

Williamson C. Nutrition in Pregnancy. London: British Nutrition Foundation; 2006. 28-59.


3 comentários:

  1. Tendo em vista que o Ogestan Plus®, um suplemento vitamínico, não é considerado um medicamento, não sendo indicado então para tratar, curar ou prevenir doenças, até que ponto seu uso é indicado ou traz benefícios reais? A função desta categoria de produtos é complementar a obtenção de nutrientes pela dieta, o que nem sempre se faz necessário, considerando o uso por um indivíduo saudável e com bons hábitos alimentares. Um outro fator relevante é que o público alvo é formado por gestantes, tornando a utilização do suplemento ainda mais delicada, já que também pode impactar diretamente no desenvolvimento do feto. Apesar do importante papel desempenhado pelo DHA no organismo, seu desempenho será o mesmo independentemente da obtenção ser através de suplementos ou alimentação? A biodisponibilidade será igual ou superior ao DHA encontrado em alimentos? É preciso que a decisão de usar ou não o suplemento seja pautada em segurança e risco benefício. Se a gestante apresenta bom quadro nutricional e boa alimentação ele ainda seria vantajoso, se tratando de um produto com custo relativamente elevado? Ou seria melhor investir numa alimentação balanceada e de qualidade, que ofereça não só o DHA, mas diversos outros nutrientes, muitas vezes com melhor perfil de absorção? Todas essas questões, nem sempre claras ao consumidor, precisam ser consideradas, caso a caso. Então, sim, a presença do DHA no Ogestan Plus® é um diferencial atrativo, mas não necessariamente uma vantagem que implique na necessidade de sua utilização.
    Adrielle R da Silva.

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  2. Levando em conta que não é habitual o consumo de pescado em nossa cultura, pode ser sim interessante a suplementação desse ácido graxo essencial em alguns casos, mas o ideal, antes de realizar tal indicação, seria coletar informações sobre os hábitos alimentares da gestante, afinal, trata-se de um suplemento alimentar e sua função é justamente COMPLEMENTAR a dieta. E da mesma maneira que a falta de um nutriente é prejudicial a saúde, o seu excesso também é. Outro ponto importante a se pensar, é o custo benefício deste tipo de produto... é realmente necessário ?o estímulo de uma dieta individualizada para a gestante não seria mais interessante? e àquelas gestantes que não possuem condições de uma suplementação mais robusta como esta, e utilizam apenas a suplementação de vitaminas do complexo B(principalmente ácido fólico) e ferro (sufato ferroso) fornecidos pelo sus, qual a diferença em sua saúde durante a gestação e no desenvolvimento do feto? o quão importante é omega 3 nesse período? acredito que há muitas perguntas a serem feitas e respondidas antes da indicação de um produto como o Ogestan Plus.
    Julia Victória Azevedo Costa.

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  3. A indicação do produto Ogestan Plus é opcional, cabendo a gestante decidir sua ingesta ou não. Assumindo que o complemento deve-se, justamente, a concentração alta de substâncias tóxicas em sua fonte in natura e que a prescrição está aliada a um acompanhamento pré natal dessa gestante, através de exames periódicos, acredito que a indicação para esse grupo, em específico, apresenta mais benefícios do que malefícios.
    Sabemos que a biodisponibilidade desses nutrientes muitas vezes são mais vantajosos encapsulados, já que há o manejo da concentração para cada grupo em específico, com o objetivo de fornecer à mãe e ao feto uma melhor qualidade de vida e desenvolvimento, respectivamente.
    Caroline Assunção Corrêa
    DRE: 116142104

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