Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

quinta-feira, 14 de junho de 2018

ZEROSODIO: Salgante alimentar sem sódio funciona?


ZEROSODIO (Fig. 1) é um salgante alimentar a base de cloreto de potássio que promete ser útil nas dietas com restrição de sódio, mas será que funciona? 


Figura 1 – Produto salgante Neo Zerosodio.


APRESENTAÇÃO: No final de 2014, a ANVISA regulamentou e liberou a comercialização do salgante alimentar a base de cloreto de potássio e 0% sódio. O marketing desse produto é voltado principalmente para pessoas que não podem consumir sal, como pacientes hipertensos. Com a promessa de substituir o sal de cozinha tradicional, será que o ZEROSODIO é a alternativa mais eficiente e segura para a diminuição do consumo de sódio? De acordo com a Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH), existem atualmente cerca de 17 milhões de hipertensos no Brasil [1]. Pensando neste tipo de consumidor, a indústria criou o salgante alimentar a base de cloreto de potássio, que possui como principal vantagem salgar os alimentos sem os malefícios do consumo de sódio. Mas será que o salgante “0% sal” é a alternativa mais eficiente e segura para uma dieta com restrição de sódio?

DESCRIÇÃO DO PRODUTO: O produto ZEROSODIO salgante alimentar é comercializado em farmácias, drogarias, no próprio site e em lojas de conveniência, em caixas contendo 60 unidades de saches com peso de 1 g, em embalagens do tipo zip lock com peso de 150 g, prometendo servir até duas pessoas por um período de 30 dias e em frascos de vidro contendo 300 g, prometendo servir até 4 pessoas por um período de 30 dias.
De acordo com a tabela nutricional (Fig. 2) disponibilizada no site do fabricante, a quantidade por porção (1g) contem cerca de 430 mg de potássio, 24 mg de iodo e 0 mg de sódio.

Figura 2 – Tabela nutricional do produto Zerosodio.

LEGISLAÇÃO E FUNDAMENTO BROMATOLÓGICO: O produto ZEROSODIO é um alimento salgante que tem o propósito de substituir total ou parcialmente o sal de cozinha adicionado, elaborado para consumidores que necessitam reduzir a ingesta de sódio em função de enfermidades cardiovasculares devido ao potencial aumento da pressão arterial. Além disso, o produto é indicado para pessoas que buscam uma melhor qualidade de vida. A Anvisa registrou o produto ZEROSODIO na categoria de “novos alimentos e novos ingredientes”, pois sua formulação era inédita no Brasil, e recebeu o registro do Ministério da Saúde sob o número 6.2575.0085.001-0. Não foi submetido qualquer tipo de alegação de propriedade funcional ou de saúde para o produto em questão, pois a empresa não realizou estudos clínicos comprobatórios comparando-o com o sal de cozinha comum. Portanto, o produto não pode ser promovido como alimento funcional [2].

DISCUSSÃO: De acordo com o RENAME [3] os diuréticos poupadores de potássio como a Espirolactona e os inibidores da ECA como o Captopril e o Enalapril são frequentemente utilizados no tratamento da hipertensão, esses fármacos possuem como ação adicional a reabsorção de potássio importante na manutenção da pressão arterial. A reabsorção de potássio, característica de algumas dessas classes de anti-hipertensivos associada à ingestão de alimentos ricos em potássio como a banana, tomate e cenoura mais a suplementação adicional com o salgante alimentar a base de cloreto de potássio, podem aumentar as reservas de potássio no sangue causando quadro de hipercalemia, condição que pode gerar efeitos drásticos a saúde do paciente como aumento dos batimentos cardíacos, tremores e tontura. Além disto, a Digoxina, um digitálico utilizado no tratamento da insuficiência cardíaca, perde sua ação quando o paciente se encontra no quadro de hipercalemia [4]. Porém, a ANVISA classifica o salgante alimentar a base de cloreto de potássio como um produto para fins alimentícios, sendo isento de informações como estas, anteriormente citadas, no rótulo.

CONCLUSÃO: É necessário que haja mais informações sobre os benefícios e malefícios do produto, assim como informações de quais consumidores podem fazer o uso e quais são restritos, além de ser fundamental a orientação do consumo do produto por um médico e nutricionista.

REFERÊNCIAS:
[1] Portal da Sociedade Brasileira de Hipertensão. Disponível em: <http://www.sbh.org.br/geral/oque-e-hipertensao.asp>. Acesso em: 14-06-2018.
[2] Nasser Filho, Antonio Sabre. Proposta de valor e modelo de negócios: o caso do salgante. 2016. Dissertação (Mestrado em Empreendedorismo) - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12142/tde-15122016-114556/>. Acesso em: 14-06-2018.
[3] Ministério da Saúde. Relação Nacional de Medicamentos Essenciais. 2017. Disponível em: < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/relacao_nacional_medicamentos_rename_2017.pdf>. Acesso em: 14-06-2018.
[4] Figueiredo, Estêvão Lanna; Machado, Fabrício Pelucci. 2010. Os papéis da digoxina em pacientes com insuficiência cardíaca. Uma revisão geral. Insuf Card. 5 (2):72-78.

2 comentários:

  1. Como foi mencionado no trabalho, o produto zerosodio devido a sua formulação inédita no Brasil foi registrado na Anvisa na categoria de “novos alimentos e novos ingredientes”. Ele tem o propósito de substituir total ou parcialmente o sal de cozinha e foi pensado para consumidores que necessitam reduzir a ingesta de sódio em função de doenças cardiovasculares, por exemplo, pois apresenta potássio e iodo na composição. Porém, como ressaltado no estudo, o rótulo do produto não apresenta informações importantes sobre benefícios e malefícios da utilização deste tipo de alimento, pois a suplementação adicional com salgante alimentar a base de cloreto de potássio pode desencadear quadros de hipercalemia no usuário quando associado a ingestão de alimentos ricos em potássio e consumo em excesso. Dessa forma, as informações a respeito deste tipo de possível consequência deveria estar presente no rótulo, assim como os consumidores que podem ou não realizar o consumo deste tipo de produto, e também deveriam estar presentes no rótulo possíveis consequências do uso em excesso, pois o produto apesar de ser uma alternativa para os consumidores hipertensos, pode se tornar prejudicial se ingerido além da conta. Recomenda-se assim que consulte sempre um médico ou nutricionista e estes estejam cientes da utilização deste tipo de produto pelo paciente.

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  2. Apesar do cloreto de potássio ter propriedade salgante e portanto ser eficiente em substituição ao cloreto de sódio deve-se tomar cuidado com pacientes que fazem uso de diuréticos poupadores de potássio ou que apresentem problemas renais pois se o excesso de potássio não for eliminado o paciente desenvolve um quadro de hipercalemia que vai levar a um amento de arritmias cardíacas.
    Portanto a rotulagem é o ponto crítico desse tipo de produto, porém como informado no texto a ANVISA por classificar como um produto para fins alimentícios e isentar esse tipo de informações no rótulo pode prejudicar ainda mais os pacientes hipertensos.

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