Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

domingo, 17 de junho de 2018

Cápsulas de café verde: o consumo desenfreado das novas queridinhas da dieta e seu paradoxo na saúde.


Conhecidas como “as novas queridinhas das dietas”, as cápsulas de café verde prometem vários benefícios para quem está na luta por uns quilinhos indesejados a menos. Encontradas facilmente em qualquer prateleira na farmácia, no supermercado e na internet, são cada vez mais consumidas principalmente pela população jovem que busca alternativas naturais para a perda de peso. Porém, seu uso desenfreado das ditas saudáveis vem gerando preocupações para diversos profissionais da saúde que questionam seu consumo indevido que pode até causar consequências para a saúde.





Descrição do produto: Café Verde em pó, estabilizantes: celulose microcristalina e amido; antiumectante dióxido de silício. Ingredientes da cápsula: Gelatina, corante inorgânico vermelho 40, dióxido de titânio e umectante água potável filtrada

Hipótese: O café é a segunda bebida mais consumida do mundo, perdendo apenas para a água. Nos últimos anos, uma nova apresentação de café tem ganhado espaço no mercado: as cápsulas de café verde (CCV). Práticas, são encontradas facilmente pelos consumidores e prometem não só auxiliar na perda de peso, como aumentar a disposição, ajudar no envelhecimento precoce, acabar com a celulite, secar a barriga e até combater a diabetes. Seus diversos benefícios são relacionados aos incríveis efeitos do café verde devido sua composição. Cada vez mais consumidas, principalmente pela população jovem que possui uma preocupação com a saúde e o corpo, as CCV destacam-se em um cenário atual em que há uma preferência pelo natural e saudável, sendo apontadas como “as novas queridinhas das dietas”. Contudo, seu consumo excessivo vem gerado preocupação para profissionais da saúde. Seria, então, a premissa verdadeira e CCV tão saudáveis? Ou seria seu consumo um paradoxo devido suas consequências para a saúde? Pesquisadores demonstraram que o consumo de café poderia aumentar o colesterol sérico em virtude da sua rica fração lipídica, trazendo consequências silenciosas  no colesterol de seus usuários que buscam por essa opção tida como saudável.

Legislação: O art. 41 da Lei nº 9.782, de 26/01/1999, define o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS) e cria a Anvisa, estabelece que o registro de alimentos poderá ser objeto de regulamentação pela Agência, com o intuito de desburocratizar e garantir maior agilidade dos procedimentos. Porém, há a condição de que isto não implique riscos à saúde da população ou à condição de fiscalização das atividades de produção e circulação. A Resolução RDC nº 27, de 06/08/2010, dispõe sobre as categorias de alimentos e embalagens isentos e com obrigatoriedade de registro sanitário. Segundo a RDC 27/2010, as CVV são classificadas como “alimentos e embalagens isentos da obrigatoriedade de registro sanitário”, conforme Anexo I da presente resolução. Por conseguinte, não apresentam contraindicação de uso, tampouco indicação padronizada de consumo entre as diversas marcas existentes.

Fundamentos bromatológicos: O café é uma matriz quimicamente complexa que possui mais de 2000 componentes presentes no grão, incluindo  polissacarídeos  de  cadeia  média  e  longa,  melanoidinas,  compostos  voláteis  aromáticos  e  lipídios,  que  trazem  uma  série  de  consequências  positivas,  negativas  e  neutras  para  a  saúde e com propriedades farmacológicas que lhe conferem grande interesse atualmente.
A cafeína, seu composto mais renomado e relacionado às propriedades emagrecedores devido sua ação termogênica, encontra-se em um teor de 1 a 2,5 %.  O ácido clorogênico também ganha destaque por suas propriedades antioxidantes, por estimular neurotransmissores do emagrecimento e evitar a absorção de açúcar. Além disso, o poder emagrecedor do café verde é associado à maior quantidade de cafeína presente no grão cru do que no torrado, o que contribuiria para acelerar o metabolismo. São inúmeros os benefícios da suplementação com café verde como: 100% natural; auxilia no emagrecimento saudável; estimulante natural; aumenta a disposição atividades; acelera o metabolismo e faz com que a perda de calorias seja mais eficiente; impede que o organismo absorva a glicose dos alimentos, sendo indicado para o controle de açúcar no sangue (tratamento da diabetes); atua na redução da gordura localizada, pois usa a reserva de lipídios como fonte de energia; poderoso antioxidante, que auxilia no combate aos radicais livres que causam o envelhecimento da célula; melhora do sistema imunológico e saúde como um todo; efeito “detox” que ajuda na limpeza do corpo e melhora a capacidade de concentração devido às propriedades estimulantes.
Entretanto, uma meta-análise recente que avaliou o uso de cápsulas de café verde como suplemento para a perda de peso aponta que os resultados da literatura apesar de revelarem uma diferença expressiva no peso corporal com seu consumo, possuem um efeito com magnitude moderada e com significativa heterogeneidade entre os estudos disponíveis. Os autores concluem que as CCV podem ser promissoras, porém mais resultados ainda se mostram necessários para defini-las como uma ferramenta na perda de peso. (Onakpoya et al., 2017)
Por outro lado, bem menos comentada, a fração lipídica representa uma quantidade significativa no grão, compondo cerca de até 20% (p/p). Essa, por sua vez, é composta majoritariamente de triglicerídeos (75-85 %), seguido de ésteres de diterpenos (20%), esteróis (3,2%), álcoois de diterpenos (0,4%) e outrem. (Urgert et al., 1995; Moreira et al., 2000). Porém essa fica praticamente esquecida e apagada quando se trata dos incríveis efeitos do café verde.

Discussão e conclusão: Semelhantemente à cafeína, a  fração lipídica  também encontra-se em maior concentração no café verde, uma vez que sofre degradação no processo de torra. Essa fração, por sua vez, é associada ao aumento do colesterol sérico total e LDL, o que foi demonstrado em diferentes estudos da literatura. Pesquisadores evidenciaram que o consumo de mais de 4 xícaras da bebida de café aumenta o colesterol sérico, ocasionado pelos diterpenos do café, duas substâncias que são as responsáveis pelo aumento do colesterol total e dos níveis de LDL, a lipoproteína de baixa densidade, relacionada aos efeitos maléficos na formação da placa de ateroma. Dois compostos da fração lipídica são apontados como os responsáveis desse aumento, o cafestol e caveol, dois diterpenos específicos do café. Esses  terpenos  são  álcoois  diterpênicos  pentacíclicos  de  esqueleto  caurano  contendo  um  furano,  são  encontrados  em  nos principais tipos  de  café  Arábica  e  Robusta  e  compreendem  a  maior  parte  da  fração  lipídica  de  grãos  de  café  torrados,  cerca  de  10  à  20%  (Gross  et  al., 1997).
Dessa maneira, os efeitos benéficos das CVV são vinculadas à dois compostos do café presentes em menor concentração do que sua fração lipídica onde esses se contrapõem entre efeitos benéficos e maléficos, respectivamente. Conforme rótulo, as CCV possuem entre 500 até 800 mg de extrato de café verde em cada cápsula, sendo indicado o consumo de 1 a 4 cápsulas por dia, o que significaria um consumo total de até 4 g do extrato por dia. Deve-se ressaltar ainda que essa indicação varia extensivamente de marca para marca. Assim sendo, haveria um consumo superior em cerca de 8 vezes de lipídios, sendo esse de até 160 mg, enquanto que o máximo de cafeína a ser consumido seria de 20 mg. Dessa forma, o consumo desenfreado de CCV pela população que busca suas propriedades emagrecedoras, poderia desencadear uma consequência pouco conhecida e silenciosa: o aumento de colesterol (Sridevi et al., 2011; Silva et al., 2012; Zhang et al., 2012, Novaes et al; 2015).

Algumas contraindicações encontradas em sites de busca relacionados ao café verde são gerais: como crianças, idosos, grávidas e lactantes. Para os idosos, a cafeína em alta quantidade é descrita como prejudicial e precisa ser evitada. Relata-se também um cuidado quanto ao uso concomitante com outros remédios, o que vale para todo e qualquer fitoterápico e suplemento alimentar. Cardíacos também são apontados como grupo de cautela em algumas referências, assim como insones, pessoas com distúrbios de ansiedade, distúrbios hemorrágicos, glaucoma, pressão alta e até diabetes – contrapondo, inclusive, um dos benefícios apontados por alguns fornecedores como possível tratamento de diabetes, dada sua ação no controle da glicose. Todavia, nada vêm relatado nos rótulos, tampouco há uma bula que oriente seu consumidores adequadamente, ao mesmo tempo que tais informações não foram corroboradas por artigos.
Por fim, devido aos efeitos supracitados, conclui-se que deveria haver um alerta no rótulo quanto às possíveis contraindicações e grupos de risco para consumirem as CCV. Dentre elas, o aumento de colesterol que já comprovado em diversas pesquisas científicas. Estima-se hoje que o Brasil possui quase 20 milhões de pessoas com colesterol elevado, com prevalência para mulheres – mesmo grupo populacional apontado anteriormente de consumo das cápsulas - sendo, então um agravante para tal anúncio. Ademais, as propriedades benéficas das CVV não devem ser descartadas, porém mais estudos são necessários para entendermos como atuam na perda de peso, de que forma devem ser consumidas e quais consequências podem trazer para saúde. Assim, as queridinhas da dieta poderiam deixar de ser paradoxais e seu consumo realmente auxiliar na perda de peso de forma consciente, havendo suas devidas contraindicações de uso.

  
Referências:
Butt,  M.  S.  &  Sultan,  M.  T.  Coffee  and  its  Consumption:  Benefits  and  Risks.   Critical  Reviews  in  Food  Science  and  Nutrition,  51  (2011)  363-373. 
Chartier,  A.,  Beaumesnil,  M.,  Oliveira,  A.  L.,  Elfakir,  C., Bostyn,  S.  Optimization  of  the  isolation  and  quantification  of  kahweol  and  cafestol  in  green  coffee  oil.  Talanta,  117  (2013)  102-111. 
Dias,  R.C.E.  ;  Faria,  A.F.;  Mercadante,  A.Z.;  Bragagnolo,  N.;  Benassi,  M.T.  Comparison  of  extraction  methods  for  kahweol  and  cafestol  analysis  in  roasted  coffee.  J.  Braz.  Chem.  Soc. 24  (2013)  492-499. 
Gross,  G.  ;  Jaccaud,  E.;  Huggett,  A.C.  Analysis    of    the   content    of    the    diterpenes  cafestol    and    kahweol in    coffee    brews. Food  Chem.  Toxicol. 35  (1997)  547-554. 
Huber,  W.  W.,  Teitel,  C.  H.,  Coles,  B.  F.,  King,  R.  S.,  Wiese,  F.  W.,  et  al.  Potential  chemoprotective  effects  of  the  coffee  components  kahweol  and  cafestol  palmitates  via  modification  of  hepatic  N-acetyltransferase  and  glutathione  S-transferase  activities.  Environmental  and  Molecular  Mutagenenesis,  44  (2004)  265-276. 
Kaufmann,  H.  P.,  &  Hamsagar,  R.  S.  Zur  Kenntnis  der  Lipoide   der  Kaffeebohne  I:  Über  Fettsäure-Ester  des  Cafestols.  Fette,  Seifen,  Anstrichmittel,  64  (1962)  206-213. 
Kölling-Speer,  I.;  Strohschneider,  S.;  Speer,  K.  Determination  of  Free  Diterpenes  in  Green  and  Roasted  Coffees.  Journal  of  High  Resolution  Chromatography,  22  (1999)  43-46.
Silva,  J.  A.;  Borges,  N.;  Santos,  A.;  Alves,  A.  Method  Validation  for  Cafestol  and  Kahweol  Quantification  in  Coffee  Brews  by  HPLC-DAD.  Food  Analytical  Methods,  5  (2012)  1404-1410. 
Speer,  K.;  Kölling-Speer,  I.  The  lipid  fraction  of  the  coffee  bean.  Brazilian  Journal  of  Plant  Physiology,18  (2006)  201-216. 
Urgert,  R.;  Van  der  Weg,  G.;  Kosmeijer-Schuil,  T.  G.;  Van  de  Bovenkamp,  P;  Hovenier,  R.;  Katan,  M.  B.  Level  of  the  Choleterol-Elevating  Diterpenes  Cafestol  and  Kahweol  in  Various  Coffee  Brews.  Journal  of  Agricultural  and  Food  Chemistry,  43  (1995)  2167-2172. 
BRASIL.  Associação  Brasileira  da  Indústria  do  Café.  Qualidade  do  café.  Rio  de  Janeiro:  Abic,  2015.  Disponível  em: http://www.abic.com.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=6.
Internacional  Coffee  Organization.  Total  production  by  all  exports.  Londres:  Oic, 2015.  Disponível  em:  http://www.ico.org/historical/1990%20onwards/PDF/1a-totalproduction.pdf.

8 comentários:

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  2. O Café Verde, apesar de ser natural, tem suas contra indicações e efeitos colaterais. Ele não é indicado para pessoas hipertensas, com gastrite crônica, pessoas que sofrem com hipertiroidismo, problemas hepáticos e com doenças coronárias. Também não é recomendado para portadores de hemofilia, pois aumenta a tendência ao sangramento. Pessoas que são sensíveis à cafeína e mulheres grávidas ou que estejam amamentando também não devem fazer o uso do produto. O ideal é consultar um nutricionista ou endocrinologista entes de utilizar as cápsulas de café verde, pois ele irá indicar qual a dosagem ideal de consumo. O seu consumo exagerado pode causar ansiedade, aceleração dos batimentos cardíacos e nervosismo.

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  3. Um artigo publicado no site GNT da globo comenta sobre o uso do café verde e médicos ressaltam que seu uso é benéfico, mas necessita muitos cuidados e acompanhamento: "embora tomar as cápsulas de café verde seja eficaz, requer cuidados. "Para consumir a nova promessa emagrecedora é preciso estar saudável. O produto segue uma série de recomendações contra o uso do café verde em pessoas ansiosas, nervosas, hipertensas, que possuam hipertireoidismo ou sejam magras, além de ser contraindicado em crianças, idosos e gestantes", diz Paula. Outros casos ainda devem ser observados, como os de pessoas com depressão, gastrite crônica ou úlcera duodenal e problemas estomacais. "Em pacientes com doenças neurológicas, o acompanhamento deve ser feito por um psicólogo"

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  5. Além dos benefícios para o colesterol e perda de gordura corporal, há estudos que mostram que pode auxiliar em casos de Depressão, mas não há nada realmente confirmado ainda.
    O que vale lembrar é que, como a própria nutricionista Roseli Rossi, da clínica Equilíbrio Nutricional, respondeu em uma entrevista para o Grupo da Editora Abril: Apesar de se tratar de um recurso eficaz, é preciso lembrar que as cápsulas não fazem milagre sozinhas. Elas podem potencializar a dieta, acelerando os resultados, mas só fazem sentido como coadjuvante de uma rotina saudável que inclua exercícios e alimentação balanceada. E embora seja natural e não necessite de recomendação médica, o consumo contínuo pode agravar casos de hipertensão, úlcera, gastrite e insônia – então, melhor checar com seu médico ou nutricionista a indicação de uso.

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  7. Pode-se observar as vantagens de se tomar as cápsulas de café verde para o auxílio do emagrecimento,tendo em vista que ela possui concentrações de cafeína e ácido glicogênio maior que no grão torrado ,porém deve-se atentar ao fato de que as cápsulas de café verde pode trazer os efeitos adversos do excesso de café,Além de malefícios como o aumento do colesterol serico total como o próprio texto diz.
    Segundo a Autoridade Europeia de Segurança Alimentícia, uma dose entre 75 mg e 300 mg de cafeína ao dia pode ajudar a melhorar o rendimento de atividades físicas e intelectuais.
    Caso as pessoas ultrapassem a dosagem ideal com o intuito de emagrecer pode resultar em uma super dosagem trazendo os efeitos adversos exacerbados do café.

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