Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

sexta-feira, 15 de junho de 2018

Alfarroba: um substituto do chocolate benéfico para diabéticos?


Descobriu-se que a alfarroba tem um gosto similar ao do cacau, mas diferente deste, acredita-se que apresenta inúmeras propriedades benéficas, sendo considerado um substituto saudável do chocolate, sendo recomendado inclusive para os diabéticos. Porém será mesmo possível que um produto com sabor de chocolate seja saudável e ainda ajude a controlar a glicemia de indivíduos com diabetes? 

Apresentação: A alfarroba é uma vagem que provém da árvore alfarrobeira. Dessa vagem, são retiradas as sementes de alfarroba, que são torradas e moídas, gerando uma farinha que é naturalmente doce e tem um gosto bastante similar ao do cacau. Por conta dessa característica, esta vem sendo utilizada na indústria de alimentos na fabricação de doces, sendo considerada uma alternativa saudável ao chocolate. É chamada assim pois além de não necessitar da adição de açúcar ou adoçantes, acredita-se que apresenta diversos benefícios, inclusive para os diabéticos. Os indivíduos que têm diabetes precisam limitar seu consumo de doces, necessitando ter muito cuidado e controle ao consumi-los, mas será essa uma excessão? Será que os produtos que contém alfarroba são realmente eficazes no auxílio ao controle da glicemia?


Descrição do produto: O tablete de alfarroba com castanha de caju da marca Carob House é um produto vegano que possui certificado aprovado pela Sociedade Vegetariana Brasileira e apresenta os seguintes ingredientes: gordura vegetal fracionada equivalente à manteiga de cacau, castanha de caju, alfarroba em pó, farinha de arroz, polidextrose e maltodextrina DE 10, edulcorante maltitol, emulsificante lecitina de girassol e aromatizantes. É uma fonte de fibras que não contém açúcares, gluten, leite e soja. É indicado para pessoas que apresentam intolerância à lactose ou reações alérgicas às proteínas do leite e do ovo, pessoas que apresentam sensibilidade à soja, portadores de doença celíaca ou consumidores que não desejam consumir glúten, para os diabéticos e para os consumidores que não desejam consumir ingredientes de origem animal.

Fundamentos bromatológicos:


Um dos principais componentes do tablete de alfarroba com castanha de caju é a alfarroba que devido ao seu alto teor de fibras, é um produto que apresenta baixo índice glicêmico – representa a velocidade que um carboidrato leva para subir os níveis de açúcar no sangue. Esse alimento também apresenta baixa carga glicêmica que indica a quantidade e a qualidade dos carboidratos existentes em um alimento. Outra vantagem é que a alfarroba ajuda a metabolizar gordura, proteína e carboidrato pois é rica em vitaminas B1 e B2. Também é rica em vitamina A, ajudando na proteção da pele e visão, além de cálcio e magnésio, que juntamente com os minerais, melhoram a mobilidade dos músculos. Combate os radicais livres e envelhecimento pela presença de antioxidantes polifenóis, melhora a digestão, reduz o colesterol e é livre de glúten, lactose e cafeína. A alfarroba também apresenta vantagens em relação ao cacau, as principais são que esta não apresenta feniletilamina e compostos estimulantes. Tais vantagens serão mostradas na tabela a seguir fornecida pelo site da Carob House.




O outro componente principal do tablete da Carob House é a castanha de caju que apresenta baixo teor de gorduras, sendo estas monoinsaturadas na forma de ácido oleico e por conta disso auxilia também no controle da diabetes pois reduz o nível elevado de triglicerídeos. Além disso, é um alimento rico em zinco, ajudando a fortalecer o sistema imunológico e é uma ótima fonte de energia, podendo substituir o açúcar. Também é uma fonte de ômega-3, o que ajuda a combater problemas cardíacos e impedir arritmia cardíaca.  Por conta da alta concentração de cálcio e magnésio, fortalece os ossos e ajuda no controle da pressão arterial, sendo também capaz de reduzir o LDL e aumentar os níveis de HDL, prevenir cálculos renais e melhorar a digestão.


A farinha de arroz é um substituto da farinha de trigo que não contém glúten e é uma fonte de fibras, proteínas, vitaminas e minerais que ajuda no controle do colesterol e fortalece os ossos.

A polidextrose é uma fibra alimentar utilizada como adoçante que combate o colesterol, causa saciedade, melhora o funcionamento do intestino, aumenta a absorção de nutrientes e não altera o índice glicêmico. Já a maltodextrina, preserva os estoques naturais de glicose nos músculos.

O maltitol é um poliól utilizado como adoçante que é absorvido lentamente e não eleva os níveis de glicose ou de insulina no sangue, sendo útil em alimentos próprios para diabéticos.

Legislação: De acordo com a Resolução CNNPA no 12, de 1978, farinha é o produto obtido pela moagem da parte comestível de vegetais, podendo sofrer previamente processos tecnológicos adequados, sendo farinha de alfarroba, o produto obtido pela moagem do grão de alfarroba (Ceratonia siliqua,L.), previamente descorticada e a farinha de arroz, o produto obtido pela moagem do grão de arroz (Orysa sativa, L.), beneficiado. O alimento analisado neste trabalho é feito a partir da farinha de alfarroba e também apresenta a farinha de arroz em sua composição.

A LEI Nº 10.674, DE 16 DE MAIO DE 2003 da ANVISA preconiza que ‘todos os alimentos industrializados deverão conter em seu rótulo e bula, obrigatoriamente, as inscrições "contém Glúten" ou "não contém Glúten", conforme o caso’. No caso do tablete de alfarroba com castanha de caju, pode-se ler “sem glúten” na embalagem do produto.

De acordo com o subitem 8.2.6 da PORTARIA Nº 29, DE 13 DE JANEIRO DE 1998 da ANVISA, no rótulo deve contar a informação "Este produto pode ter efeito laxativo", para os alimentos cuja previsão razoável de consumo resulte na ingestão diária superior a 20g de manitol, 50g de sorbitl, 90g de pelidextrose ou de outros polióis que possam ter efeito laxativo. Essa informação está presente na embalagem do tablete da Carob House.

No subitem 4.2.4 do item características de composição e qualidade da PORTARIA Nº 29, DE 13 DE JANEIRO DE 1998 da ANVISA, consta que alimentos para dietas de ingestão controlada de açúcares são alimentos especialmente formulados para atender às necessidades de pessoas que apresentem distúrbios do metabolismo de açúcares, não devendo ser adicionados de açúcares. É permitida a presença dos açúcares naturalmente existentes nas matérias utilizadas. O produto analisado informa em seu rótulo que não há adição de açúcares e que contém açúcares próprios dos ingredientes utilizados.

Discussão e conclusão: O tablete de alfarroba com castanha de caju da Carob House, assim como outros produtos feitos com alfarroba apresentam diversos benefícios já citados acima. Um estudo recente feito pelo Departamento de Nutrição da Universidade Federal do Paraná (UFPR) comprovou que a alfarroba ajuda a controlar os níveis da açúcar no sangue e o produto em questão foi analisado confirmando seu baixo índice glicêmico, assim como sua baixa carga glicêmica, sendo então, recomendado para diabéticos.

A maltodextrina é um dos ingredientes utilizados na composição do tablete de alfarroba com castanha de caju. Ela é um carboidrato complexo de absorção lenta que libera a glicose de forma gradativa no sangue. É utilizada como suplemento para atividades físicas pois por conter polímeros de dextrose que são metabolizados lentamente, fornece a energia necessária para tais atividades. Porém, por conta dessas características, eleva o nível de insulina no sangue, o que não é indicado para indivíduos que têm diabetes. Entretanto, como comprovou-se que o produto analisado realmente auxilia no controle da diabetes, é possível que a quantidade de maltodextrina no alimento não seja significativa para que aconteça esse efeito e altere o nível de insulina no sangue do consumidor.

Como qualquer outro produto, não é ideal que produtos que apresentam alfarroba sejam consumidos em excesso, pois por ser fonte de polifenóis, pode reduzir a digestibilidade de proteínas, carboidratos e minerais, diminuir a atividade de enzimas digestivas e causar danos à mucosa do sistema digestivo ou exercer efeitos tóxicos sistêmicos. Porém, não há nenhuma prova científica de que a alfarroba cause prejuízos no organismo.

Portanto, pode-se concluir que produtos que contêm alfarroba são uma ótima opção para os diabéticos, já que além de serem saborosos, apresentam diversos benefícios e entre eles, o auxílio no controle da glicemia, como foi comprovado no estudo feito pela UFPR. A alfarroba ainda não é muito conhecida pela população e ainda não existem muitos estudos sobre ela atualmente, sendo assim, é necessário que sejam feitas mais pesquisas para que se comprove todos os benefícios do alimento e para que se descubra se existem malefícios relacionados ao seu consumo. 

Referências bibliográficas:
ANVISA, AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Comissão Nacional de Normas e Padrões para Alimentos- Resolução CNNPA, nº 12 de 1978. Disponível em <http://www.anvisa.gov.br/anvisalegis/resol/12_78.pdf>

ANVISA, AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Lei nº 10.674, de 16 de maio de 2013. Disponível em <http://portal.anvisa.gov.br/documents/33916/393963/lei_10674.pdf/eb3ab49c-5d38-4633-8c15-2031101ae27e>

ANVISA, AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Portaria nº 29, de 13 de janeiro de 1998. Disponível em <http://portal.anvisa.gov.br/documents/33864/284972/portaria_29.pdf/6caf1f67-2bdb-4d87-8ef1-977829c6c820>

ARRUDA, Wania M. Sabe aquele chocolate gostoso de alfarroba...Circuito Mato Grosso. Mato Grosso, 24 setembro 2015. Nutritiva.

SANTOS, Luciana M. et cols. Glycemic response to Carob (Ceratonia siliqua,L.) in healthy subjects and with the in vitro hydrolysis index. Nutrición hospitalaria. Espanha, v.31, n. 1, p. 482-287, 2015.

PIMENTEL, Juliano. Polifenóis (Taninos) e o Efeito Adverso na Digestibilidade. Pimed. Disponível em <http://www.pimed.com.br/artigo/polifenois-taninos-e-o-efeito-adverso-na-digestibilidade> Acesso em 6 de junho de 2018.

Webrun, O consumo de maltodextrina pode desenvolver diabetes? Disponível em <http://www.webrun.com.br/o-consumo-de-maltodextrina-pode-desenvolver-diabetes/> Acesso em 6 de junho de 2018.

Carob House, somos alfarroba. Disponível em <http://carobhouse.com/> Acesso em 6 de junho de 2018.



Ana Carolina Almeida e Silva
DRE: 114064368


2 comentários:

  1. Os produtos a base de alfarroba chegam ao mercado com a função de serem os substitutos ideais para o chocolate (cacau). Porém, algumas características deste produto devem ser destacadas, principalmente quando consideramos seu valor calórico. A substituição do chocolate pela alfarroba mostra-se uma oportunidade perfeita e saborosa para pessoas que apresentem intolerância à lactose, alergias ao cacau ou seus componentes ou alergia ao glúten, mas não é ideal para pessoas que estão a procura de um alimento de baixo valor calórico.
    Usando os próprios dados apresentados no post, observamos que apesar da alfarroba em pó apresentar menores quantidades percentuais de gorduras e sódio, esta possui de 48 a 56% de carboidratos, enquanto que o cacau em pó possui apenas 16,50%. Sem desqualificar o produto, entende-se que este é realmente muito positivo para pacientes que anteriormente não consumiam chocolate devido a características fisiológicas, mas não deve ser promovido como um produto com baixas calorias.
    Caso a finalidade do consumidor que visualiza alfarroba no mercado seja o emagrecimento, uma dieta com baixas quantidades calóricas, talvez a melhor opção seja o retorno ao chocolate (cacau), com observação de ter o teor de cacau acima de 80%, que além de baixos teores de gorduras e carboidratos, vai te fornecer os benefícios antioxidantes do cacau.

    Aluna: Camila Reis Gama
    DRE: 113058796

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  2. Segundo um artigo publicado na Revista de Nutrição e Vigilância em saúde (Nutrivisa) [1], a alfarroba não possui qualquer agente alergênico ou estimulante, como a teobromina. Essa mesma afirmação é enfatizada em uma publicação no Jornal de Ciência e Tecnologia de Alimentos [2], que diz que os compostos estimulantes como a cafeína e teobromina, considerados por diversos autores como fatores antinutricionais responsáveis por efeitos fisiológicos adversos, não estão presentes no alfarroba. Por outro lado, em uma Publicação do Site Mundo Boa forma [3], esse nutriente (teobromina), conhecido como um alcalóide da família das metilxantinas, trás diversos benefícios para a saúde, sem contar que ela não afeta o sistema nervoso central. Os benefícios da teobromina, segundo esse mesmo site, que possui informações baseadas em estudos científicos, inclui: diminuição da pressão arterial, devido ao fato da substância poder dilatar os vasos sanguíneos, e o relaxamento dos brônquios nos pulmões. Além disso, ela também apresenta um efeito diurético, que é útil para reduzir os níveis de água no corpo, perder peso e diminuir o inchaço. Em um estudo citado nesse mesmo site, a teobromina ainda promove um efeito de crescimento do HDL. Dessa maneira, caso o indivíduo não seja alérgico à algum tipo de estimulante, seja ele da família das metilxantinas ou não, não seja diabético, nem vegano, talvez não valesse tanto a pena trocar seu gostoso cacau pelo alfarroba. Sem contar o fato que, segundo a tabela de informações nutricionais mencionada neste post, a porcentagem de carboidratos de cacau em pó é significantemente inferior ao da alfarroba em pó, então para aqueles que procuram alternativas ao cacau que tenham uma menor porcentagem de carboidratos, alfarroba não seria opção.
    Aluna: Jeany Ribeiro da Silva Melo
    DRE: 114167043

    Referências:
    [1] MARTINS, Aline. Alfarroba: uma opção saudável de substituição ao cacau. Nutrivisa – Revista de Nutrição e Vigilância em Saúde. São Paulo, v. 2, n. 3, Fev. 2016. Disponível em: < http://www.revistanutrivisa.com.br/wp-content/uploads/2016/03/nutrivisa-vol-2-num-3-h.pdf> Acesso em: 21 jun. 2018.
    [2] MEDEIROS, Magda; LANNES, Suzana. Avaliação química de substitutos de cacau e estudo sensorial de achocolatados formulados. Jornal de Ciência e Tecnologia de Alimentos. Campinas, v. 29, n. 2, p. 247-253, abr-jun. 2009. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/cta/v29n2/02.pdf > Acesso em: 21 jun. 2018.
    [3] LEITE, Patrícia. Mundo Boa Forma. Disponível em: < http://www.mundoboaforma.com.br/teobromina-o-que-e-para-que-serve-efeitos-e-alimentos-ricos/ > Acesso em: 21 jun. 2018.

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