Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Emagrecimento com L- Carnitine: isso é possível?


        A propaganda acima foi retirada de um encarte de uma rede de drogarias, onde se vê que o produto em questão anuncia propriedades emagrecedoras. Sabe-se que este suplemento vem sendo largamente utilizado por pessoas que querem diminuir seu percentual de gordura sem alterar seus hábitos alimentares e sem práticar atividades físicas, como se fosse um produto “milagroso”. Descubra se isso é possível e entenda os benefícios e riscos da suplementação com L- carnitina, assim como sua regulamentação perante a ANVISA.
               
      L- carnitine já era um produto usado com freqüência por fisiculturistas e  freqüentadores de academias. Acreditava-se que essa substância seria capaz de facilitar a redução de gordura corporal para pessoas que aliassem sua ingestão à prática regular de exercícios. Agora, contudo, atravessou os limites do universo da malhação para virar o sonho de quem pensa em perder peso sem grandes esforços.
       No entanto, a eficiência da L-carnitina no que diz respeito ao emagrecimento já foi questionada por pesquisas realizadas no Departamento de Histologia e Embriologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP). Verificou-se que a ingestão de carnitina associada ao treinamento físico não promoveu redução adicional de gordura corporal em relação ao treinamento físico isolado. Portanto, o efeito do emagrecimento deve ser atribuído ao exercício e não à suplementação. 
     Essa substância é considerada uma substância vitamim- like, por apresentar uma estrutura química semelhante à das vitaminas do complexo B, em particular a colina. Trata-se um aminoácido não essencial, sendo produzido pelo organismo através de Lisina e Metionina. Sua função fundamental é a geração de energia pela célula, pois age nas reações transferidoras de ácidos graxos livres do citosol para mitocôndrias, facilitando sua oxidação e geração de adenosina trifosfato.
       Apesar de ser sintetizada no nosso organismo, apenas de 10 a 25% dos nossos requerimentos normais de carnitina podem ser supridos através da síntese orgânica, devendo o restante ser suprido através da alimentação. A carnitina é encontrada predominantemente em carnes e produtos animais. Portanto, em se tratando de uma pessoa vegetariana, o organismo apresentaria uma deficiência da substância e assim a queima de gordura poderia ficar prejudicada. Porém, de acordo com Marcelo Saldanha (pesquisador e docente do curso de Ciências da Atividade Física da Universidade de São Paulo, especialista em suplementação nutricional), o consumo elevado via suplementação também não garante que a queima de gordura aumente, nem mesmo durante as atividades físicas. Ele afirma que a maioria das pesquisas demonstra que a L-carnitina não é capaz de promover emagrecimento.
       Apesar disto, já se é conhecido que a L- carnitina tem alguns benefícios. Este nutriente é utilizado por desportistas porque ajuda a aumentar a resistência, a aliviar a fadiga física e mental, a promover o desenvolvimento da massa muscular, mas isto ainda é bastante polêmico e ainda não há comprovação científica. Sabe-se que a carnitina não é tóxica, não causa dependência, nem constitui doping, e por isso os atletas profissionais recorrem a ela. Já a nível cardíaco, estudos mostram que a L-carnitina ajuda a aumentar o rendimento cardíaco, a contração do miocárdio, a produção de ATP e a resistência do coração ao exercício físico. Atua ainda a nível dos triglicéridos, aumentando os níveis de HDL . E no que diz respeito à saúde do cérebro, a L-carnitina pode ajudar a retardar o envelhecimento dos células cerebrais. É útil também para promover a concentração, a memória e as capacidades de aprendizagem.
    Por outro lado, sua utilização também pode trazer alguns riscos. A administração de doses elevadas (acima de 4 gramas diário) de formas orais de L-carnitina durante períodos longos não é recomendada a doentes com graves problemas renais, porque pode resultar na acumulação de metabólitos potencialmente tóxicos, trimetilamina (TMA) e óxido de Ntrimetilamina (TMAO), uma vez que estes metabólitos são normalmente excretados na urina.
    A L- Carnitine é um produto conhecido popularmente como suplemento alimentar. Estes suplementos podem ser enquadrados em categorias de alimentos distintas, dependendo de sua composição e finalidade. De acordo com o Ministério da Saúde, em Portaria de n° 32, publicada no Diário Oficial em 1998, suplementos são vitaminas e/ou minerais isolados ou combinados entre si, desde que não ultrapassem 100% da IDR (Ingestão Diária Recomendada). Acima dessas dosagens são considerados como medicamentos. Já produtos como albumina, aminoácidos, hipercalóricos, bebidas isotônicas e produtos à base de carboidratos são considerados, de acordo com Resolução nº 18, publicada pela ANVISA em 2010, uma categoria de produtos com finalidade e público específicos – Alimentos para Atletas- como é o caso da L carnitina.
   Sabe-se que a  Anvisa negara a licença de importação desses suplementos, alegando que a comercialização das substâncias não estava regulamentada pelo Ministério da Saúde. A venda de carnitina foi suspensa no Brasil a partir da publicação das Resoluções 22 e 23 da Anvisa, ambas de 2000, que criaram a exigência de registro desses suplementos. Aqui, o consumo dessas substâncias só era permitido via manipulação com apresentação de receita médica. Só foi liberada a venda desses produtos no Brasil no início de 2012.
      A dose diária recomendada de carnitina varia de acordo com a idade e o peso corporal. Para adultos a ingestão varia de 2 a 4 gramas de acordo com a gravidade  e a opnião do médico. Vale lembrar, que uma dosagem maior que essa é ineficiente e pode gerar sobrecarga no funcionamento de fígado e rins e também provocar sintomas como náuseas, diarréia e vômito.  Além disso, sabe-se que a Carnitina interage com coenzima Q10, ácido pantoténico e ainda com a colina, reduzindo assim sua excreção urinária e aumentando seus níveis intracelulares.
    Em função do importante papel da carnitina em diversas áreas da medicina, pode-se observar na literatura que há possíveis benefícios com a suplementação de carnitina em condições clínicas específicas, tais como nas cardiopatias e neuropatias , por exemplo. Além disso, a Carnitina parece aumentar a utilização de gorduras como fonte energética durante a atividade física, poupando o glicogênio muscular e atrasando a fadiga muscular em exercícios prolongados. No entanto, a sua utilidade não está comprovada, pois não há evidência de que suplementos de carnitina aumentem os seus níveis no músculo.
      Portanto, viu-se que apesar de muito utilizada a alguns anos em outros países, a L-carnitina foi liberada pela Anvisa para venda no Brasil somente no início de 2012. Logo, é importante consumir apenas os produtos de L-carnitina comercializados com registro na Anvisa (comprovadamente sem outros componentes esteróides que possam causar maiores danos ao organismo). 
     É notório que ainda há controvérsias em relação ao uso de carnitina devido à falta de consistência nos resultados dos estudos em relação às respostas metabólicas. No entanto, a maioria das pesquisas revela que o uso da carnitina não é útil para o emagrecimento. Além disso, existe uma variabilidade de soluções e dosagens utilizadas, protocolos e técnicas de análise. Assim sendo, mais pesquisas são necessárias no sentido de confirmar seus reais efeitos como agente ergogênico em situações clínicas específicas. 

     -  AOKI, M. S, et al. Carnitine Suplementation fails to maximize fat mass loss enduced by  endurance training in rats. Annals of Nutriticion and  Metabolism, vol 48, 2003.  

      -  COELHO, C. F, et al. Aplicações clínicas na suplementação por L- carnitna. Revista de nutrição, volume 18, 2005.

      -   ALVES, L.A. Recursos ergogênicos nutricionais. R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 10, n. 1, p. 23 - 50, 2002.

        -   ANVISA. Disponível em:
<http://portal.anvisa.gov.br/wps/content/Anvisa+Portal/Anvisa/Inicio/Alimentos>.
           Acesso em: 24/06/2012.














2 comentários:

  1. Estas informações não estão batendo! Se apenas 10 a 25% são metabolizadas pelo organismo, a única forma de atender a maiores necessidades é com complementação através da ingestão do produto industrializado, pois que a síntese orgânicas de dá através de uma alimentação balanceada e com alimentos que contenham quantidades significativas da substância.

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  2. Amanda Rocha da Silva5 de junho de 2014 às 19:48

    Segundo a Anvisa, não se deve utilizar mais do que 2g diários de L -carnitina, pois acima dessas doses ela pode provocar sintomas como náusea, diarréia e vomito. E é válido lembrar que altas doses de aminoácidos podem gerar sobrecarga no funcionamento do fígado e dos rins.

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