A propaganda acima foi retirada de um encarte de uma rede de drogarias, onde se vê que o produto em questão anuncia propriedades emagrecedoras. Sabe-se que este suplemento vem sendo largamente utilizado por pessoas que querem diminuir seu percentual de gordura sem alterar seus hábitos alimentares e sem práticar atividades físicas, como se fosse um produto “milagroso”. Descubra se isso é possível e entenda os benefícios e riscos da suplementação com L- carnitina, assim como sua regulamentação perante a ANVISA.
L- carnitine já era um produto usado com freqüência por fisiculturistas e freqüentadores de academias. Acreditava-se que essa substância seria capaz de facilitar a redução de gordura
corporal para pessoas que aliassem sua ingestão à prática regular de exercícios.
Agora, contudo, atravessou os limites do universo da malhação para virar o
sonho de quem pensa em perder peso sem grandes esforços.
No entanto, a eficiência da
L-carnitina no que diz respeito ao emagrecimento já foi questionada por
pesquisas realizadas no Departamento de Histologia e Embriologia do Instituto
de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP). Verificou-se
que a ingestão de carnitina associada ao treinamento físico não promoveu redução
adicional de gordura corporal em relação ao treinamento físico isolado.
Portanto, o efeito do emagrecimento deve ser atribuído ao exercício e não à
suplementação.
Essa substância é considerada uma substância vitamim- like,
por apresentar uma estrutura química semelhante à das vitaminas do complexo B,
em particular a colina. Trata-se um aminoácido não essencial, sendo produzido pelo organismo através de Lisina e Metionina. Sua função fundamental é a
geração de energia pela célula, pois age nas reações transferidoras de ácidos
graxos livres do citosol para mitocôndrias, facilitando sua oxidação e geração
de adenosina trifosfato.
Apesar de ser sintetizada no
nosso organismo, apenas de 10 a 25% dos nossos requerimentos normais de
carnitina podem ser supridos através da síntese orgânica, devendo o restante
ser suprido através da alimentação. A carnitina é encontrada predominantemente
em carnes e produtos animais. Portanto, em se tratando de uma pessoa
vegetariana, o organismo apresentaria uma deficiência da substância e assim a
queima de gordura poderia ficar prejudicada. Porém, de acordo com Marcelo
Saldanha (pesquisador e docente do curso de Ciências da Atividade Física da
Universidade de São Paulo, especialista em suplementação nutricional), o
consumo elevado via suplementação também não garante que a queima de gordura
aumente, nem mesmo durante as atividades físicas. Ele afirma que a maioria
das pesquisas demonstra que a L-carnitina não é capaz de promover emagrecimento.
Apesar disto, já se é conhecido que a L- carnitina tem alguns benefícios. Este nutriente é utilizado por desportistas porque ajuda a
aumentar a resistência, a aliviar a fadiga física e mental, a promover o desenvolvimento
da massa muscular, mas isto ainda é bastante polêmico e ainda não há comprovação
científica. Sabe-se que a carnitina não é tóxica, não causa dependência, nem constitui
doping, e por isso os atletas profissionais recorrem a ela. Já a nível cardíaco, estudos mostram que a
L-carnitina ajuda a aumentar o rendimento cardíaco, a contração do miocárdio, a
produção de ATP e a resistência do coração ao exercício físico. Atua ainda a
nível dos triglicéridos, aumentando os níveis de HDL . E no que diz respeito à
saúde do cérebro, a L-carnitina pode ajudar a retardar o envelhecimento dos
células cerebrais. É útil também para promover a concentração, a memória e as
capacidades de aprendizagem.
Por
outro lado, sua utilização também pode trazer alguns riscos. A administração de doses elevadas (acima de 4 gramas diário) de
formas orais de L-carnitina durante períodos longos não é recomendada a
doentes com graves problemas renais, porque pode resultar na acumulação de metabólitos
potencialmente tóxicos, trimetilamina (TMA) e óxido de Ntrimetilamina (TMAO),
uma vez que estes metabólitos são normalmente excretados na urina.
A L- Carnitine é um produto conhecido
popularmente como suplemento alimentar. Estes suplementos podem ser enquadrados
em categorias de alimentos distintas, dependendo de sua composição e
finalidade. De
acordo com o Ministério da Saúde, em Portaria de n° 32, publicada no Diário
Oficial em 1998, suplementos são vitaminas e/ou minerais isolados ou combinados
entre si, desde que não ultrapassem 100% da IDR (Ingestão Diária Recomendada).
Acima dessas dosagens são considerados como medicamentos. Já produtos como
albumina, aminoácidos, hipercalóricos, bebidas isotônicas e produtos à base de
carboidratos são considerados, de acordo com Resolução nº 18, publicada pela
ANVISA em 2010, uma categoria de produtos com finalidade e público específicos –
Alimentos para Atletas- como é o caso da L carnitina.
Sabe-se
que a Anvisa negara a licença de
importação desses suplementos, alegando que a comercialização das substâncias
não estava regulamentada pelo Ministério da Saúde. A venda de carnitina foi
suspensa no Brasil a partir da publicação das Resoluções 22 e 23 da Anvisa,
ambas de 2000, que criaram a exigência de registro desses suplementos. Aqui, o
consumo dessas substâncias só era permitido via manipulação com apresentação de
receita médica. Só foi liberada a venda desses produtos no Brasil no início de
2012.
A dose diária recomendada de
carnitina varia de acordo com a idade e o peso corporal. Para adultos a
ingestão varia de 2 a 4 gramas de acordo com a gravidade e a opnião do médico. Vale
lembrar, que uma dosagem maior que essa é ineficiente e pode gerar sobrecarga
no funcionamento de fígado e rins e também provocar sintomas como náuseas,
diarréia e vômito. Além disso, sabe-se
que a Carnitina interage com coenzima Q10, ácido pantoténico e
ainda com a colina, reduzindo assim sua excreção urinária e aumentando
seus níveis intracelulares.
Em
função do importante papel da carnitina em diversas áreas da medicina, pode-se
observar na literatura que há possíveis benefícios com a suplementação de
carnitina em condições clínicas específicas, tais como nas cardiopatias e
neuropatias , por exemplo. Além disso, a Carnitina parece aumentar a utilização
de gorduras como fonte energética durante a atividade física, poupando o
glicogênio muscular e atrasando a fadiga muscular em exercícios prolongados. No
entanto, a sua utilidade não está comprovada, pois não há evidência de que
suplementos de carnitina aumentem os seus níveis no músculo.
Portanto, viu-se que apesar de muito utilizada a
alguns anos em outros países, a L-carnitina foi liberada pela Anvisa para venda
no Brasil somente no início de 2012. Logo, é importante consumir apenas os
produtos de L-carnitina comercializados com registro na Anvisa (comprovadamente
sem outros componentes esteróides que possam causar maiores danos ao
organismo).
É notório que a
inda há controvérsias em relação ao uso de carnitina
devido à falta de consistência nos resultados dos estudos em relação às
respostas metabólicas. No entanto, a maioria das pesquisas revela que o uso da carnitina
não é útil para o emagrecimento. Além disso, existe uma variabilidade de
soluções e dosagens utilizadas, protocolos e técnicas de análise. Assim sendo,
mais pesquisas são necessárias no sentido de confirmar seus reais efeitos como
agente ergogênico em situações clínicas específicas.
- AOKI, M. S, et al. Carnitine Suplementation fails to maximize fat mass loss enduced by endurance training in rats. Annals of
Nutriticion and Metabolism, vol 48, 2003.
- COELHO, C. F, et al. Aplicações clínicas na suplementação por L- carnitna. Revista de
nutrição, volume 18, 2005.
- ALVES, L.A. Recursos
ergogênicos nutricionais. R.
Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 10, n. 1, p. 23 - 50, 2002.
- ANVISA. Disponível em:
<http://portal.anvisa.gov.br/wps/content/Anvisa+Portal/Anvisa/Inicio/Alimentos>.
Acesso em: 24/06/2012.
Estas informações não estão batendo! Se apenas 10 a 25% são metabolizadas pelo organismo, a única forma de atender a maiores necessidades é com complementação através da ingestão do produto industrializado, pois que a síntese orgânicas de dá através de uma alimentação balanceada e com alimentos que contenham quantidades significativas da substância.
ResponderExcluirSegundo a Anvisa, não se deve utilizar mais do que 2g diários de L -carnitina, pois acima dessas doses ela pode provocar sintomas como náusea, diarréia e vomito. E é válido lembrar que altas doses de aminoácidos podem gerar sobrecarga no funcionamento do fígado e dos rins.
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