Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Farinha Desengordurada de Gergelim, dietoterapia eficaz para Diabetes?


         O gergelim é  uma das plantas mais antigas cultivadas pelo homem. Processado a partir de grãos selecionados, a farinha desengordurada de gergelim é de alto valor nutritivo na suplementação alimentar possuindo elevado teor protéico e valor energético.
         As sementes, que há séculos são consumidas no Oriente, vem ganhando status de alimento pra lá de saudável por aqui, comercializado como farinha desengordurada, este demonstrará uma combinação eficiente: funcionalidade e nutrição, características que o colocam como um poderoso aliado do corpo, tanto para quem quer manter a forma física quanto para as que desejam um cardápio equilibrado. Como toda semente, possui uma alta concentração de fibras, o que auxilia também no bom funcionamento do intestino. 
         Por conta destas famosas indicações, as sementes de gergelim estão sendo alvo de muitos estudos. O principal deles é a respeito da farinha de gergelim ser recomendada para pacientes diabéticos, em virtude de sua ação hipoglicêmica. Entretanto, pode-se dizer realmente que esta farinha é eficaz para diebetes? Somente o uso da mesma vai conseguir combater a doença?  E a quantidade a ser ingerida, pode ser no esquema de quanto mais ingestão, melhor?

         O gergelim (Sesamum indicum, L.) é a nona oleaginosa mais plantada no mundo, é um alimento de grande valor nutritivo. No Brasil apresentam-se como opção extremamente importante como fonte de proteína, vitaminas e minerais. A sua semente é rica em constituintes minerais, como: cálcio, ferro, fósforo, potássio, magnésio, zinco e selênio, apresentam teores consideráveis de fibra alimentar, de vitaminas e de antioxidantes, com destaque para o conteúdo de compostos fenólicos, lignanas e tocoferóis. Alguns estudos afirmam que seu potencial antioxidante é maior que outros grãos como linhaça e sorgo.
Há algumas variações do gergelim e sabe-se que o gergelim preto apresenta teor superior de fibra alimentar total, e aproximadamente três vezes superior de fibra alimentar insolúvel em comparação ao gergelim creme. Além disso, as sementes pretas possuem teor mais elevado de cálcio e um potencial antioxidante aumentado em comparação ao gergelim creme.
Os benefícios proporcionados pelo consumo do gergelim tem sido reportados por diversos autores e incluem a melhora da função reprodutiva, em decorrência de seus efeitos antioxidantes e do aumento nos níveis de testosterona; a redução do colesterol sérico; perda de peso e mais recentemente estudos demonstram a redução do controle glicêmico.
Ultimamente, considerável interesse tem sido mostrado na utilização de alimentos à base de Sesamum indicum, para suplementação de dietas humanas. Embora Sesamum indicum esteja inscrito na primeira e quarta edição da Farmacopéia Brasileira, para sua utilização como medicamento ou nutracêutico, é necessário o avanço de novos estudos.

 

O uso do gergelim, de baixo custo, compatível com o nível de renda da maioria da população, a facilidade e variedade no preparo das suas sementes, poderia constituir uma alternativa na prevenção e tratamento do Diabetes Mellitus tipo II na nossa região. Estudos em animais demonstraram efeito hipoglicemiante do Sesamun indicum utilizando tanto o extrato hidrólico de semente desengorduradas, como o óleo em ratos diabéticos (Rameshi et al., 2005).
          Uma possibilidade de explicação para o efeito obtido seria a fibra contida neste alimento, o que resultaria na redução do índice glicêmico e uma menor glicemia pós prandial. Os mecanismos pelo qual a fibra do cereal afeta a sensibilidade à insulina são desconhecidos. O que se sabe é que melhoram a sensibilidade à insulina e são inversamente associadas com a probabilidade de resistência podendo então, desta maneira prevenir o D Diabetes Mellitus do tipo II. Porém foi sugerido que a fibra junto com os fitoquímicos, entre eles as vitaminas, minerais, compostos fenólicos e fitoestrógenos, abundantes na farinha dos grãos, seria mais benéfico para a saúde do que as fibras isoladamente.
A Diabetes Mellitus (DM) constitui um dos mais sérios problemas de saúde pública da atualidade. Nas últimas décadas tem se observado um rápido aumento na incidência dessa morbidade em todo o mundo. Dos 171 milhões de pessoas acometidas pela doença em 2000, projeções indicam que alcançará 366 milhões em 2030, o que é corroborado com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), onde a prevalência global estimada de DM de 2,8% em 2000, será de 4,4% em 2030. 
Após a análise de tais variáveis e dos estudos apresentados, pode-se dizer que a farinha desengordurada de gergelim pode sim auxiliar na prevenção da Diabetes Mellitus do tipo II ou até mesmo no tratamento da mesma, porém esta não é a opção milagrosa que todos os pacientes portadores desta patologia esperam. Ainda são necessários diversos estudos mais específicos para serem considerados medicamentos que promovam de fato o fim dos sintomas da Diabetes. Portanto, não se deve acreditar que somente o uso deste alimento pode tratar de vez a patologia.
Sobre a quantidade adequada para o consumo, não há estudos suficientes para ter certeza da quantidade diária exata que deve-se ingerir, porém alguns estudos mostram que a ingestão de 30g/dia já nos traz benefícios, como a redução do risco de diabetes e obesidade por exemplo. Portanto, a quantidade adequada para atuar nesses quadros é definida baseando-se em uma série de características que devem ser avaliadas pelo médico.
No que diz respeito à legislação, os produtos compostos apenas por uma mistura de cereais, amidos, farinhas e farelos devem atender à Resolução ANVISA RDC n. 263, de 22 de setembro de 2005, que estabelece as características mínimas de qualidade a que devem obedecer tais produtos.
A necessidade de registro de um produto alimentício depende de sua categoria de enquadramento. As categorias de alimentos com obrigatoriedade e isentas de registro estão dispostas na Resolução ANVISA RDC n. 27, de 6 de agosto de 2010.
Produtos que atendem à Resolução ANVISA RDC n. 263/2005 e à Resolução ANVISA RDC n. 273/2005 estão isentos de registro, conforme disposto na Resolução ANVISA RDC n. 278/2005. Para estes produtos, a empresa deve protocolar o “Comunicado de Início de Fabricação” no órgão de vigilância sanitária local, conforme dispõe a Resolução ANVISA n. 23, de 15 de março de 2000.


         Alegações de propriedades terapêuticas e ou medicamentosas não são permitidas para alimentos, de acordo com o artigo 56 do Decreto lei n. 986/1969 e com o item 3.1 da Resolução ANVISA RDC n. 259/2002. Declarações deste tipo tem sido verificadas em rótulos de produtos comercializados como “Ração Humana” e estão em desacordo com a legislação, tais como: “excelente regulador intestinal”; “controla o colesterol e os triglicerídeos”; “estabiliza os níveis de açúcar no sangue”; “auxilia no combate do diabetes e da obesidade”; “combate anemia, fadiga e reumatismo”; “ajuda na desintoxicação do organismo”.
A categoria a ser enquadrado o produto depende de suas características de identidade, qualidade e finalidade de uso. É de responsabilidade da empresa o correto enquadramento do produto, de acordo com a legislação vigente.
Dessa maneira, a farinha desengordurada de gergelim, se adequa em produtos compostos apenas por uma mistura de cereais, isentos de registro e sem permissão de alegação de propriedade terapêutica.
        Portanto, podemos concluir que de acordo com os princípios de uma alimentação saudável, conforme Guia Alimentar da População Brasileira (BRASIL, 2006), todos os grupos de alimentos devem compor a dieta diária. A diversidade dietética que fundamenta o conceito de alimentação saudável pressupõe que nenhum alimento específico – ou grupo deles isoladamente – é suficiente para fornecer todos os nutrientes necessários a uma boa nutrição e consequente manutenção da saúde ou curar uma patologia. Alimentos com perfil nutricional adequado devem ser valorizados e entrarão naturalmente na dieta adotada, sem que se precise mistificar uma ou mais de suas características, tendência esta muito explorada pela propaganda e publicidade de alimentos e complementos nutricionais.


Referências Bibliográficas

ANVISA. www.anvisa.gov.br.

Liu S, Willett WC, Manson JE, Hu FB, Rosner B, Colditz G 2003. Relation between changes in intakes of dietary fiber and grain products and changes in weight and development of obesity among middle-aged women.

Figueiredo, A. S.; Filho, J. M. Efeito do uso da farinha desengordurada do Sesamum indicum L nos níveis glicêmicos em diabéticas tipo 2. Laboratório de Tecnologia Farmacêutica, Universidade Federal da Paraíba, 58051-970, João Pessoa-PB, Brasil.


Ramesh B, Saravanan R, Pugalendi KV 2005. Infl uence of sesame oil on blood glucose, lipid peroxidation, and antioxidant status in streptozotocin diabetic rats. J Med Food 8: 377-381. 

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