Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

"Golden Rice": o uso de arroz transgênico no combate a infecções e envelhecimento e na manutenção de uma boa visão.

O "Golden Rice", ou "Arroz Dourado", é um arroz geneticamente modificado com o objetivo de produzir grandes quantidades de betacaroteno, substância que é precursora da vitamina A.

Desenvolvido em 1990 por pesquisadores alemães e suíços a partir da inserção de genes presentes na planta Narciso (Narcissus pseudonarcissus) e na bactéria Erwinia (Erwinia uredovora) em seu DNA, o arroz da variedade Oryza sativa promete atuar no fortalecimento do sistema imunológico, ajudando no controle de infecções; no combate aos radicais livres que aceleram o envelhecimento, já que o betacaroteno funciona como um antioxidante; e na prevenção da nictalopia, doença mais conhecida como cegueira noturna, que atinge particularmente populações de países subdesenvolvidos em que a dieta pobre resulta na deficiência de vitamina A (entre outros nutrientes), que é sabidamente uma das causas do problema na visão.

Mas até que ponto pode ser segura a ingestão do carotenóide? Seria a quantidade presente no arroz suficiente para solucionar todos esses males? Quais as implicações decorrentes da modificação genética? 

O arroz é alimento básico de cerca de 60% da população mundial e, dentre todos os grãos comestíveis, é o que possui o código genético mais curto, o que facilita o seu estudo e a sua manipulação. Ainda é capaz de sintetizar uma substância percursora do betacaroteno, a geranil-geranil difosfato que, com a ajuda de três enzimas, pode ser transformada em betacaroteno. A partir disso, foram identificados os genes responsáveis pela produção das enzimas necessárias para a transformação do geranil-geranil difosfato em betacaroteno, na planta Narciso e na bactéria Erwinia, isolando-os por meio de enzimas de restrição e inserindo-os no DNA do arroz comum através de plasmídeos presentes em agrobactérias conhecidas como Agrobacterium tumefasciens, que são usadas como meio de transporte de sequências nucleotídicas para células vegetais nos processos de engenharia genética. 

Muito controversas são as questões que envolvem organismos geneticamente modificados (GMO’s), e com o Golden Rice não é diferente. Inicialmente, análises de seu potencial nutricional revelaram que a quantidade de betacaroteno presente no grão não eliminaria os problemas resultantes da deficiência de vitamina A. Foi desenvolvido então o Golden Rice 2, que produzia 23 vezes mais betacaroteno do que o Golden Rice original e, desde então, outras variedades foram desenvolvidas, contendo quantidades grandes o suficiente do carotenóide para suprir toda a necessidade nutricional dessa vitamina com um consumo de apenas 75g de Golden Rice por dia. Mas ainda existem dúvidas quanto à degradação do betacaroteno após a colheita do arroz, ou mesmo de sua viabilidade após o cozimento do mesmo. Não obstante, carotenóides são hidrofóbicos, o que significa que precisam de uma dieta rica em gordura também para que sejam absorvidos. Ou seja, a deficiência de vitamina A, e de vitaminas em geral, nunca é um fator isolado. 

Em 2009, resultados de um estudo realizado nos Estados Unidos revelaram que o betacaroteno presente no Arroz Dourado é convertido em vitamina A eficientemente. E um programa de pesquisa de reações alérgicas a alimentos da Universidade de Nebraska comprovou em 2006 que as proteínas provenientes dos novos genes presentes no Golden Rice não apresentavam nenhuma propriedade alérgica, apesar de isso ser uma questão que costuma ter grande variabilidade de indivíduo para indivíduo. Por outro lado, há ainda o fator de se desconhecer os efeitos que o Golden Rice teria no ambiente, como interferências no ciclo de crescimento de outras variedades de arroz, já que o Arroz Dourado é submetido ao cruzamento com as variedades locais, visando o aumento da produtividade, além do custo que tudo isso teria no repasse do preço para a população mais pobre. 

Esforços iniciais com o Golden Rice têm-se concentrado na Índia, mas a tecnologia deverá se estender a outros países da Ásia, África e América do Sul, não se tendo notícias de comercialização do produto por enquanto.

No Brasil, a ANVISA obriga as empresas de alimentos a informarem no rótulo de seus produtos se estes foram fabricados com mais de 1% de ingredientes oriundos de transgênicos. O país ultrapassou em 2009 a Argentina e se tornou o segundo país que mais usa produtos agrícolas geneticamente modificados no mundo (com uma variedade de alimentos que vai desde grãos como a soja, até frutas e verduras como mamão e alface), atrás apenas dos Estados Unidos, segundo a ISAAA, órgão internacional que acompanha a adoção de produtos transgênicos. 



Referências Bibliográficas:

  • 1.       Dawe, D.; Robertson, R.; Unnevehr, L. (2002). "Golden rice: what role could it play in alleviation of vitamin A deficiency?". Food Policy 27 (5–6): 541–560.
  • 4.       Costa, NMB (2004). “Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento”.  biotecnologia.com.br
 

4 comentários:

  1. Basta saber se tantas melhorias nao interferem no paladar.

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  2. Bem, muitas variáveis são implantadas quando se fala em alimentos e absorção destes pelo organismo, com os transgênicos esse fato não é diferente, pelo contrário, as variáveis só aumentam. Uma pergunta que não quer calar é se como são alimentos modificados geneticamente, será que a longo prazo não poderia ser prejudicial para o organismo? Afinal o arroz é consumido em grande escala pela população no dia a dia, sendo assim fica difícil saber qual o limite do benefício que esse alimento traz à saúde.

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  3. concordo com a Renata, além disso, se a ideia é consumir betacaroteno é só incluir na alimentação diária: damasco, cenoura, abóbora, beterraba, mamão, manga e a batata-doce e até vegetais folhosos como couve, repolho, espinafre, agrião e brócolis. Então para quê alterar o arroz?

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    1. É preciso alterar o arroz porque é um alimento que o pobre tem acesso! Essa variedade fui desenvolvida justamente para populações pobres que não podem pagar por frutas e vegetais e comem basicamente arroz puro. sem o goldem rice, 500.000 mil crianças morrem por ano por falta de vitamina A e milhões de outras ficariam cegas.

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