O vinho tinto é uma bebida alcóolica e é uma das diversas fontes de resveratrol. As uvas e o suco de uva também são alguns meios de encontrar as maiores concentrações de resveratrol. O resveratrol é uma fitoalexina produzida por diversas plantas e também está presente nas uvas (Vitis vinifera e Vitis labrusca). Na uva, esta fitoalexina é sintetizada na casca como resposta ao estresse causado por ataque fúngico, dano mecânico ou por irradiação de luz ultravioleta. O resveratrol é sintetizado naturalmente na planta sob duas formas isômeras: trans-resveratrol e cis-resveratrol. O isômero trans-resveratrol é convertido para cis-resveratrol em presença da luz visível, pois esta forma é mais estável.
Após a descoberta dessa substância pertencente a classe dos polifenóis, o resveratrol tem sido alvo de estudos para prevenção e diminuição na progressão de várias doenças, incluindo as doenças cardiovasculares, neurodegenerativas, metabólicas, cancerígenas e aumento da longevidade, por possuir atividade antioxidante, ser inibidor da agregação plaquetária, combater o colesterol (LDL), capaz de melhorar a flexibilidade de vasos sanguíneos e atuar como cardioprotetor. Além dessas propriedades, o resveratrol também auxilia na perda de peso.
Fundamentos Bromatológicos
Um estudo realizado com vinhos tintos no Brasil demonstrou que cerca de 0,82 a 5,75mg/L de trans-resveratrol (isômero responsável pelos efeitos benéficos do resveratrol) foram encontrados nos vinhos. O vinho tinto comparado com o vinho branco possui uma quantidade maior de polifenóis, com uma concentração até seis vezes maior de resveratrol, chegando a 14,3mg/L. Nessa mesma pesquisa também foi realizada a determinação da concentração do resveratrol em sucos de quatro diferentes tipos, e teve o seguinte resultado:
Tabela 1. Teor médio de trans-resveratrol nos sucos analisados:
Fonte: Determinação de resveratrol em sucos de uva no Brasil (adaptado).
Portanto, a concentração de trans-resveratrol nos sucos de uva elaborados no Brasil variou de 0,19 a 0,90mg/L de suco de uva.
Outro estudo que comparou a quantidade média de resveratrol em três diferentes tipos de suco de uva, obteve o seguinte resultado:
Tabela 2. Teor médio de trans-resveratrol nos sucos analisados:
Fonte: Teor de resveratrol e polifenóis totais em suco de uva integral, reconstituído e néctar comercializados no sul do Brasil (adaptado).
No caso das uvas, estima-se que contenham entre 0,16 e 3,54μg/g de resveratrol, e que somente as cascas secas contenham cerca de 24μg/g. Outra alternativa para obter o resveratrol é através de cápsulas, que contém diversas concentrações diferentes.
Legislação
A Lei nº 7.678, de 08 de novembro de
1988, dispõe sobre a produção, circulação e comercialização do vinho e
derivados da uva e do vinho. Ademais, na Portaria nº 229, de 25 de outubro de
1988, do Ministério da Agricultura, é mencionado os padrões de qualidade dos
vinhos, porém não é especificado a quantidade ou concentração de polifenóis
como o resveratrol em ambos os documentos, assim como a presença de descrição
destes e de outros ingredientes no rótulo.
Outras maneiras de adquirir os benefícios do resveratrol são através de suplementos alimentares em cápsulas que geralmente são identificados no rótulo, como: “resveratrol (ou trans-resveratrol) em cápsulas”, “óleo de semente de uva em cápsulas” ou “semente de uva (ou semente de uva em pó) em cápsulas”. Ademais, pode ser encontrado em farmácias de manipulação. Segundo o Guia para Comprovação da Segurança de Alimentos e Ingredientes (Anvisa) emitido em 2013, a categoria de “novos alimentos e novos ingredientes” se enquadra para alguns casos, dentre eles o do resveratrol sintético ou extraído da uva, que corresponde a um ingrediente obtido por síntese ou a partir de fontes alimentares, cuja adição em alimentos resulte em aumento do seu consumo. De acordo com RDC nº 27/2010, no anexo II essa categoria enquadra-se como alimentos e embalagens com obrigatoriedade de registro sanitário.
Discussão
O
resveratrol está presente em alimentos, bebida alcóolica e em cápsulas como
suplemento (ou nutracêutico). Apesar dos benefícios serem bastante estudados, ainda
é inconclusivo no que se refere à dose diária necessária, que dificilmente é
atingida só com a alimentação. Segundo alguns estudos, uma dose diária de
8mg/dia durante um ano seria o suficiente para reduzir significativamente o
risco cardiovascular. A dose diária recomendada sofre variações na literatura e
é encontrada na faixa de 5 a 50mg, 15 a 20mg e algumas chegam a considerar no
máximo 120mg/dia. Não é recomendado ultrapassar o consumo de 5g/dia, nessa dose
há maior chance de causar efeitos adversos.
Ao
comparar os meios de consumo do resveratrol, é necessário destacar que o vinho
tinto não é uma fonte recomendada por ser uma bebida alcóolica e
consequentemente seu uso traz malefícios à saúde, além de não poder ser
consumido por menores de 18 anos e por pacientes com câncer. O consumo
excessivo de álcool prejudica o metabolismo de glicose, aumenta o acúmulo de
gordura no abdômen, além de elevar a pressão arterial e os triglicerídeos. O
consumo de bebidas alcóolicas por pacientes que fazem quimioterapia também
atrapalha na metabolização dos quimioterápicos, que também são metabolizados pelo
fígado, portanto pode haver interação e causar toxicidade. Logo, pacientes com
algumas doenças crônicas ou oncológicos devem procurar meios mais saudáveis
para consumir o resveratrol. As alternativas são o suco integral, a fruta e o
resveratrol em cápsula. Todas as fontes têm vantagens e desvantagens. O suco integral
é o mais rico em resveratrol e é mais saudável que os outros tipos de suco,
pois não tem adição de açúcar e corantes, porém, seu consumo deve ser moderado
pois é bastante calórico. Para evitar exageros, pode ser substituído pela fruta
sem desprezar a casca e a semente.
A alternativa mais diferenciada é a administração de resveratrol em cápsulas como suplemento. No Brasil a denominação nutracêutico ainda não entrou em vigor, o resveratrol se encaixaria nessa classificação, mas no momento no Brasil está na categoria de “novos alimentos e novos ingredientes”. Existem diferentes concentrações à venda deste produto e também pode ser produzido em farmácias de manipulação. Ao fazer uso de resveratrol em cápsulas é recomendado que o nutricionista ou o médico faça acompanhamento do paciente pois o resveratrol interage com alguns medicamentos e pode aumentar o risco de hemorragias. Portanto, é necessário fazer uma revisão na literatura ou em alguma base de dados antes de ser indicado ou prescrito, para buscar se há uma alguma interação com algum medicamento que o paciente faça uso.
Conclusão
Cada fonte de consumo do resveratrol
tem vantagens e desvantagens, a fonte que apresenta mais desvantagens e atinge
um menor público é o vinho tinto. Outro fator que é necessário levar em
consideração ao escolher o meio mais adequado é o fator financeiro, o resveratrol
em cápsulas na maioria das vezes é mais caro que o vinho, que a fruta e o suco.
Portanto, é necessário que o profissional de saúde analise as condições
fisiológicas do paciente e confira os medicamentos que o paciente faz uso antes
de indicar a melhor forma de adquirir os benefícios do resveratrol.
Referências
Bibliográficas
Decreto nº 8.198, de 20 de fevereiro de 2014. Regulamenta a
Lei no 7.678, de 8 de novembro de 1988, que dispõe sobre a produção, circulação
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