DESCRIÇÃO
A preocupação com a
saúde e a facilidade de aquisição de suplementos vitamínicos, aliadas ao forte
apelo publicitário, têm estimulado a população a suplementar a dieta cada vez
mais. Bio-C é um suplemento
vitamínico em comprimido efervescente produzido pela União Química, a qual o
descreve como um suplemento de vitamina C que auxilia o sistema imune e a
formação do colágeno. O produto analisado possui 3 tubos, cada um com 10
comprimidos efervescentes de 1g sabor laranja. Cada comprimido
efervescente contém ácido ascórbico (vitamina C) 1000mg
e os seguintes excipientes: ácido cítrico, bicarbonato de sódio, carbonato de sódio,
sorbitol, polietilenoglicol, aroma de laranja, aspartame, sucralose e corante
amarelo crepúsculo.
Bio-C possui em sua composição o corante amarelo crepúsculo, o qual é um corante artificial do grupo azo, um derivado nitroso reconhecido como uma substância capaz de causar reações alérgicas como asma e urticária, e tem sido alvo de estudos de mutagênese e carcinogênese por produzir amina aromática, e ácido sulfanílico após ser metabolizado pela microflora intestinal. Além do amarelo crepúsculo, um outro integrante do grupo azo é o corante tartrazina, já reconhecido por ocasionar efeitos adversos, principalmente reações alérgicas graves. Poderia o corante amarelo crepúsculo presente em comprimidos efervescentes de Bio-C causar malefícios à saúde assim como a tartrazina?
FUNDAMENTOS
BROMATOLÓGICOS
Os corantes artificiais mais utilizados
na indústria alimentícia, farmacêutica e de cosméticos são a tartrazina (INS
102) e o amarelo crepúsculo (INS 110), ambos do grupo azo. Dessa forma, estamos
expostos à esses corantes todos os dias, pois os mesmos estão presentes em
diferentes produtos.
O corante amarelo tartrazina é originado através da tinta do alcatrão de carvão e possui cor amarelo-limão. Apresenta excelente estabilidade à luz, calor e ácido, descolorindo em presença de ácido ascórbico e SO2. Sua estrutura química se assemelha aos benzoatos, salicilatos e indometacina, havendo a possibilidade de reações alérgicas cruzadas entre os mesmos. De acordo com Antilo e Bernadino, citados por POLÔNIO e PERES (2009), a hipersensibilidade à tartrazina ocorre em 0,6% a 2,9% da população, com incidência maior nos indivíduos atópicos ou com intolerância aos salicilatos. As manifestações clínicas mais comuns são urticária, broncoespasmo, rinite e angioedema.
O corante amarelo crepúsculo é encontrado em inúmeros produtos, inclusive no
suplemento vitamínico Bio-C. É um corante sintetizado a partir da tinta
do alcatrão de carvão e tintas azóicas e possui cor alaranjada. Possui
boa estabilidade na presença de luz, calor e ácido, apresentando descoloração
na presença de ácido ascórbico e SO2. Também
pode provocar reações anafilactóides causando angioedema, choque anafilático,
vasculite e púrpura. Pode ocorrer reação cruzada entre o amarelo crepúsculo,
paracetamol, ácido acetilsalisílico (AAS) e benzoato de sódio.
LEGISLAÇÃO
Os corantes são uma classe de aditivos
alimentares. Segundo o Item 1.2 da
Portaria Nº 540/1997, aditivo alimentar é qualquer ingrediente adicionado, sem
propósito de nutrir, com o objetivo de modificar suas características (físicas,
químicas, biológicas ou sensoriais) durante fabricação até transporte e
armazenagem. O item 3.5 define corante como uma substância que confere,
intensifica ou restaura a cor de um alimento. Segundo a Resolução CNNPA Nº
44/77 corante artificial é a substância obtida por processo de síntese com
composição química definida.
O Anexo II da RDC 24/2005 estabelece
quais aditivos alimentares, dentre eles os corantes, inclusive os artificiais,
podem ser utilizados em suplementos vitamínicos e ou de minerais sólidos bem
como seu limite máximo permitido. Quanto à rotulagem dos aditivos, a RDC
259/2002, determina que os aditivos alimentares devem ser declarados com o seu
nome completo ou seu número de INS (Sistema Internacional de Numeração, Codex
Alimentarius FAO/OMS) ou ambos, com exceção do corante tartrazina, que deve
obrigatoriamente ter seu nome declarado por extenso no produto, de acordo com a
RDC 340/2002, devido ao seu potencial de causar reações adversas,
principalmente alérgicas.
O corante amarelo crepúsculo tem seu
emprego permitido em alimentos nos Estados Unidos, Japão e países da União
Européia, entretanto o Canadá permite seu emprego em alguns produtos
específicos e em concentração máxima de 300ppm. Foi banido na Finlândia e
Noruega. A tartrazina é um dos corantes mais empregados em alimentos e é permitido
em muitos países, como Canadá, Estados Unidos e também na União Européia. É
proibido na Áustria, Finlândia e Noruega.
DISCUSSÃO
Os corantes não possuem valor nutritivo,
e com isso, são utilizados com o único objetivo de conferir cor para assim
tornar os produtos mais atrativos. Por esse motivo, os corantes poderiam não
ser empregados, visto que seu uso é puramente comercial. Mesmo assim, os
corantes têm sido amplamente utilizados, pois promovem o aumento da aceitação dos
produtos.
Dentre os corantes mais utilizados, a tartrazina tem despertado uma maior atenção dos toxicologistas, alergistas e da mídia, sendo apontada como a responsável por várias reações adversas, causando desde urticária até asma em consumidores de produtos que a contém, tanto que foi banida em alguns países e regulamentada de forma diferente no Brasil quando comparada aos outros corantes. Entretanto, há um outro corante que também merece ser tratado com cautela. Tal corante é o amarelo crepúsculo, o qual é capaz de causar diferentes reações adversas assim como a tartrazina.
Tabela 1: Reações adversas relacionadas aos corantes Tartrazina (INS 102) e Amarelo crepúsculo (INS 110).
CORANTE |
REAÇÕES ADVERSAS |
Tartrazina (INS 102) |
Urticária, reação não imunológica
(anafilactóide), angioedema, asma, dermatite de contato, rinite, hipercinesia
em pacientes hiperativos, eosinofilia, púrpura, reação cruzada com AAS,
benzoato de sódio e indometacina. |
Amarelo crepúsculo (INS 110) |
Urticária, angioedema, congestão
nasal, broncoespasmo, reação não imunológica (anafilactóide), vasculite,
vômitos, dor abdominal, náuseas, eructações, indigestão, púrpura,
eosinofilia, reação cruzada com AAS, paracetamol e benzoato de sódio. |
Analisando as reações adversas (vide
Tabela 1) causadas pelo amarelo crepúsculo, percebe-se que esse corante não é
só capaz de causar reações alérgicas graves bem como reações cruzadas com
medicamentos assim como a tartrazina, possuindo, inclusive, certas semelhanças.
Tais reações adversas fizeram com que ambos os corantes fossem proibidos em
diversos países devido ao reconhecimento de seus malefícios. Então, surge o
primeiro questionamento: por que esses corantes também não foram proibidos no
Brasil? Por mais que, segundo a ANVISA, as reações adversas advindas do consumo
de alimentos contendo o corante tartrazina, não tenham sido cientificamente
comprovadas dentro de uma relação de causa e efeito, mesmo assim, foi levado em
consideração o potencial alergênico da tartrazina e a mesma foi regulamentada
de forma diferente. Todavia, sabendo e comparando os efeitos adversos causados
por esses dois corantes, por que só há obrigatoriedade de informar por extenso
que no produto há o corante tartrazina, visto que o corante amarelo crepúsculo
também é capaz de provocar reações adversas graves, razão pela qual a RDC
340/2002 entrou em vigor?
É perceptível que o corante amarelo
crepúsculo é tão perigoso quanto à tartrazina. E
tendo o amarelo crepúsculo a capacidade de provocar malefícios à saúde, deve
haver maior preocupação quanto aos riscos toxicológicos provocados pela
ingestão do mesmo, principalmente quando está presente em produtos de consumo
diário como no suplemento vitamínico Bio-C, para assim prevenir a
população de riscos associados ao seu consumo.
Por mais que o objeto de estudo desse trabalho seja o amarelo crepúsculo presente em Bio-C, é importante ressaltar que esse corante também está presente em diferentes alimentos como, por exemplo, cereais, balas, caramelos, coberturas, laticínios, gomas de mascar, entre outros. Se o consumo de produtos contendo amarelo crepúsculo for elevado, as crianças, por exemplo, podem facilmente exceder a Ingestão Diária Aceitável (IDA) de no máximo 2,5mg/kg de peso corporal desse corante, fato que já foi evidenciado em alguns trabalhos. Dessa forma, como as crianças são consumidores em potencial dessas guloseimas e as mais vulneráveis às reações adversas, é imprescindível uma maior vigilância e fiscalização sobre esses produtos.
CONCLUSÃO
Portanto, avaliando
todos os prejuízos que o corante amarelo crepúsculo pode causar à saúde,
sugere-se uma avaliação do risco/benefício de seu emprego bem como uma revisão
da regulamentação brasileira acerca desse corante para que assim como a
tartrazina, a presença do amarelo crepúsculo também seja informada por extenso
no rótulo dos produtos de modo obrigatório.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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De Souza Ferreira, Fabrícia. Aditivos alimentares e suas reações adversas no consumo infantil. Revista da Universidade Vale do Rio Verde, v. 13, n. 1, p. 397-407, 2015.
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Portaria n°540/1997. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília, DF.
Resolução nº 44/1977. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília, DF.
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Stefani, Germana P. et al. Presença de corantes e lactose em medicamentos: avaliação de 181 produtos. Rev Bras Alerg Imunopatol, v. 32, n. 1, p. 18-26, 2009.
É totalmente desleal vende um produto alegando benesses a saúde e acrescentar um corante que pode causar reações adversas tão relevantes como o amarelo crepúsculo. Não teria problema usar o corante, desde que seja dentro do limite máximo permito, para atrair os consumidores pelas características organolépticas do produto. No entanto, o produto é um vitamina, que é considerado um fármaco. Qual é a necessidade de se atrair consumidores para utilizar uma vitamina, uma vez que ela só deveria ser utilizada em caso de deficiência da vitamina. Parece muito mais que o fabricante que vender uma fanta laranja sem açúcar que um produto pra saúde.
ResponderExcluirAcredito que a própria Anvisa tem interesse em manter a população doente, assim eles não param de enriquecer.
ResponderExcluirTaca corante no povo.
Deus não existe,eles acreditam.