Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

terça-feira, 27 de outubro de 2020

Adição do estabilizante goma xantana ao del Valle néctar sabor uva

 

A adição do estabilizante goma xantana ao del Valle néctar sabor uva pode trazer algum malefício ao consumidor? 

Descrição

          A goma xantana atua como espessante, estabilizante e, em associação com outras gomas, proporciona textura lisa e cremosa a alimentos líquidos, com qualidade superior à das demais gomas e carboximetilcelulose. Mesmo a baixas concentrações apresenta alta viscosidade, a qual não é afetada pela temperatura. As soluções de goma xantana são pseudoplásticas. Esta característica é importante para liberação do sabor, sensação bucal e estética do produto.

          Uma bebida de fruta é chamada de néctar quando possui entre 10% e 50% de suco ou polpa. Essa porcentagem da quantidade de suco ou polpa da fruta dentro da embalagem é estabelecida pelo Ministério da Agricultura, da Pecuária e do Abastecimento (MAPA), que fiscaliza bebidas alcoólicas e não alcoólicas.

Fundamentos bromatológicos

          A goma xantana é um polissacarídeo produzido naturalmente pela fermentação da bactéria Xanthomonas campestris. Quando o açúcar é fermentado, ele cria um caldo semelhante a uma goma, que é solidificada com a adição de um álcool e transformada em pó. Quando o pó é acrescentado a um líquido, ele se dispersa e cria uma solução viscosa e estável. Isso a torna um ótimo agente de espessamento, suspensão e estabilização para muitos produtos. Por isso, ela é muito utilizada na indústria farmacêutica e na gastronomia, adicionada como espessante ou estabilizador.

          Esse aditivo alimentar é um biopolímero e possui estrutura primária formada por unidades repetidas de pentassacarídeos. A cadeia linear é formada por duas unidades de glicose, e o trissacarídeo das ramificações por duas unidades de manose e uma unidade de ácido glucurônico.

          A goma xantana é, como muitas outras gomas (exceto produtos de amido), não digerível em humanos e serve para diminuir o conteúdo calórico dos alimentos e melhorar sua passagem pelo trato gastrointestinal.

Legislação

          A Portaria n° 540, de 27 de outubro de 1997, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, define como aditivo alimentar qualquer ingrediente adicionado intencionalmente aos alimentos, sem propósito de nutrir, mas sim, com o objetivo de modificar suas características físicas, químicas, biológicas ou sensoriais. Essa portaria define, ainda, estabilizante como substância que torna possível a manutenção de uma dispersão uniforme de duas ou mais substâncias imiscíveis em um alimento.

          Em 1969, a goma xantana foi aprovada pela Food and Drug Administration (FDA) para uso como estabilizante, emulsificante e espessante em alimentos. A aceitabilidade de ingestão diária da goma xantana (ADI) foi anunciada pelo Comitê de Peritos das Organizações das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura/Organização Mundial da Saúde (FAO/WHO) em 1990.

           A goma xantana está listada como aditivo alimentar autorizado para uso segundo as Boas Práticas de Fabricação (BPF), na Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) n° 45, de 03 de novembro de 2010.

           De acordo com a RDC n° 259, de 20 de setembro de 2002, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, os aditivos alimentares que desempenham uma função tecnológica no produto acabado, como é o caso do estabilizante goma xantana no del Valle néctar sabor uva, precisam fazer parte da lista de ingredientes que deve constar no rótulo do produto. Na declaração do aditivo alimentar deve constar sua função, seu nome completo ou seu número INS (Sistema Internacional de Numeração, Codex Alimentarius FAO/OMS), ou ambos. Além disso, os aditivos alimentares devem ser declarados depois dos ingredientes.

Discussão

          As gomas são carboidratos complexos produzidos por uma grande quantidade de plantas e utilizados comercialmente nos mais diversos setores industriais, com grandes aplicações no ramo alimentício, onde são amplamente utilizados pelas suas propriedades espessantes e gelificantes. Incluem-se em um amplo grupo de polissacarídeos solúveis em água, procedentes de animais terrestres, marítimos ou de origem microbiana.

          O uso das gomas na indústria de alimentos baseia-se principalmente no aproveitamento de suas propriedades funcionais, que estão relacionadas à capacidade de prevenir ou retardar uma série de fenômenos físicos, desempenhando papel importante na estabilidade de muitos alimentos industrializados.

          Estudos mostram que a goma xantana não é tóxica e não causa efeitos dietéticos e fisiológicos adversos nos consumidores, além de todos os parâmetros enzimáticos e indicadores sensíveis de efeitos toxicológicos adversos permanecerem inalterados. Mostram, também, que comer alimentos que contêm goma xantana tem se mostrado seguro, pois ela representa apenas cerca de 0,05% a 0,3% de um produto alimentar. 

Conclusão

            Diante do exposto, é possível observar que a goma xantana é um aditivo alimentar muito utilizado no setor industrial por suas propriedades espessantes e estabilizantes, uma vez que possui papel importante na manutenção dos alimentos e bebidas, nos quais é adicionada, proporcionando estabilidade aos produtos.

            Além disso, estudos mostram que a goma xantana tem se mostrado segura, sendo intencionalmente adicionada aos produtos apenas com o objetivo de modificar suas características físicas e sensoriais.

Referências

Portaria Nº 540 de 27 de outubro de 1997 - Ministério da Saúde.

Resolução da Diretoria Colegiada – RDC n° 45, de 03 de novembro de 2010. ANVISA.

Resolução da Diretoria Colegiada – RDC n° 259, de 20 de setembro de 2002. ANVISA.

MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Nery, T. B. R.; Brandão, L. V.; Esperidião, M. C. A.; Druzian, J. I. Biossíntese de goma xantana a partir da fermentação de soro de leite: rendimento e viscosidade. Química Nova, 31(8), 1937-1941. 2008.

Katzbauer, B. Properties and applications of xanthan gum. Polymer degradation and Stability, 59(1-3), 81-84. 1998.

Food and agriculture organization of the United Nations (FAO/WHO), 1990.

de Souza Silva, G.; Schmidt, C. A. Prospecção tecnológica da produção de goma xantana ao longo dos anos. Cadernos de Prospecção, 8(1), 93. 2015.

Nussinovitch, A. Xanthan gum. In Hydrocolloid applications (pp. 154-168). Springer, Boston, MA. 1997.

Eastwood, M. A.; Brydon, W. G.; Anderson, D. M. W. The dietary effects of xanthan gum in man. Food Additives & Contaminants, 4(1), 17-26. 1987.

Osilesi, O.; Trout, D. L.; Glover, E. E.; Harper, S. M.; Koh, E. T.; Behall, K. M.; Dorisio T.M.O’; Tartt, J. Use of xanthan gum in dietary management of diabetes mellitus. The American journal of clinical nutrition, 42(4), 597-603. 1995.

 


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