O uso de Cápsulas de Faseolamina tanto para o emagrecimento quanto para indivíduos diabéticos pode trazer riscos à saúde?
Descrição do produto
As cápsulas de faseolamina possuem a premissa de coadjuvante nas dietas, principalmente como suplemento alimentar em casos de obesidade. A proteína faseolamina é conhecida por inibir a enzima alfa-amilase. Essa enzima tem destaque no metabolismo de carboidratos em animais, em plantas e em outros organismos. Nesse sentido, diversos produtos se encontram disponíveis no mercado servindo como “bloqueadores de carboidratos” e os debates cresceram acerca do uso desses derivados de feijão branco e o seu impacto direto sobre a saúde.
Fundamentos Bromatológicos
É comumente encontrado nas farmácias a venda de 60 cápsulas de 500mg de faseolamina, além de também ser possível encontrá-la em associação com outras substâncias como a cassiolamina e o glucomanan. Outra possibilidade, também, é a sua venda na forma de farinha de feijão branco.
A Faseolamina é extraída da planta Phaseolus vulgaris (feijão comum ou feijão branco), é uma glicoproteína que age como um inibidor da enzima alfa-amilase, com efeitos na inibição da digestão e na absorção do amido. Diferente de produtos para perda de peso, que continham cafeína ou anfetamina e produziam efeitos colaterais indesejáveis, a faseolamina atua de outra forma, ligando-se à enzima alfa-amilase, inibindo a digestão do amido (que contribui aproximadamente com um terço do total de calorias ingeridas), que acaba por não ser absorvido, deixando de adicionar calorias à dieta.
Legislação
A RDC n° 243 de 26 de Julho de 2018 dispõe sobre os requisitos para composição, qualidade, segurança e rotulagem dos suplementos alimentares e para atualização das respectivas listas de constituintes, limites de uso, alegações e rotulagem complementar desses produtos.
A Resolução n° 145, de 18 de Janeiro de 2010 enquadra a Faseolamina como “Novos alimentos e novos ingredientes”.
Discussão
Por que o debate sobre o uso desse produto cresceu nos últimos tempos tratando-se do seu impacto na saúde?
A utilização de produtos de Faseolamina na dieta, visando a inibição da absorção de carboidratos, é uma prática antiga. Nos EUA, por exemplo, em 1980, existia um consumo exacerbado desses bloqueadores de carboidratos e em 1982, ocorreu a proibição da distribuição de todos os inibidores de amilase até que existissem estudos comprobatórios de segurança sobre seus riscos e benefícios, quando estimava-se que em junho desse mesmo ano foram consumidas cerca de 10 milhões de cápsulas por semana neste país.
Segundo estudos, a ingestão diária e de maneira prolongada da faseolamina poderia estar associada ao risco no desenvolvimento de alterações morfológicas e metabólicas no pâncreas. Foi observado, também, a presença de atividade regulatória sobre a tripsina (importante enzima que participa da proteólise de proteínas e peptídios, produzindo aminoácidos), e pela inexistência de níveis seguros de consumo estabelecidos para o ser humano, a ingestão destes denominados “bloqueadores de carboidratos” deveria ser melhor controlada. Nesse sentido, diversas pesquisas atentaram para a possibilidade desses produtos de elevar o risco de aumento na produção da tripsina e, consequentemente, alteração do órgão (surgimento de hiperplasia e/ou hipertrofia dos órgãos) como o observado para os animais avaliados nos estudos.
Nessa perspectiva, embora se saiba que consumo rotineiro destes grãos seja em sua maioria na forma cozida, há alguns fatores preocupantes, como a crescente inclusão destes “reguladores” de absorção de carboidratos, preparados com farinhas de feijões cujo processamento térmico não poderia ser intenso, de maneira a preservar a atividade de inibidores de amilase. Com isso, a atenção fica voltada na eficácia e segurança com o comércio de produtos em cápsula ou ditos como “farinha de feijão branco”.
Conclusão
Ao avaliar a relação da atividade da tripsina nos produtos comercializados de Faseolamina nos mais diversos estudos, seu resultado coloca em dúvida a qualidade, eficiência e segurança desses produtos. Com isso, deve-se ter em mente que até então não existem pesquisas muito conclusivas que estabeleçam níveis seguros de consumo dessa substância, e existindo relatos da associação da ingestão prolongada de inibidores de proteases com alterações na atividade pancreática, deveria existir, com maior rigor, uma fiscalização por parte dos órgãos competentes e uma maior consciência no consumo por parte dos indivíduos.
Referências
COLAÇO, Priscila Caon; DEGÁSPARI, Cláudia Helena. BENEFÍCIOS DA FASEOLAMINA (Phaseolus vulgaris L.): Uma revisão. Faseolamina, [S. l.], p. 1-12, 5 jan. 2014.
MARSHALL, J.J.; LAUDA, C.M. Purification and properties of phaseolamin, an inhibitor of α amylase, from the kidney bean (Phaseolus vulgaris). Journal of Biological Chemistry, Stanford, v.250, n.20, p.8030-8037, 1975.
ANVISA. Resolução da Diretoria Colegiada n°48 de 2004, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Disponível em: . Acessado em: abr. 2013.
FINARDI, F.F. Parâmetros estruturais do inibidor de α-amilase de feijão (Phaseolus vulgaris). [Dissertação] São Paulo: Universidade de São Paulo - Faculdade de Ciências Farmacêuticas, 1983.
Murra, Mariana & Pessato, Tassia & Tavano, Olga. (2013). Presença de inibidores de proteases em amostras comerciais de “faseolaminas” utilizadas como bloqueadores de carboidratos e os riscos à saúde. Occurrence of proteases inhibitors in commercial samples of “phaseolamins” used as carbohydrate blockers and the health risks. Revista do Instituto Adolfo Lutz. 72. 218-225. 10.18241/0073-98552013721564.
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