Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

terça-feira, 27 de outubro de 2020

Levedura Probene: nova forma de suplementação que vale a pena?


Suplementação inadequada de levedo de cerveja podem trazer malefícios? 


Descrição

    O levedo de cerveja é uma forma de comercialização da levedura como complemento nutritivo. Este produto se constitui de células inteiras e secas de Saccharomyces cerevisiae definidas como “leveduras nutricionais”, nas quais são cultivadas de forma pura, enriquecidas com melaço de cana ou de beterraba, em condições controladas, para uso específico como suplemento nutricional e desta forma não são subprodutos do processo de fabricação da bebida como a levedura secundária (Bekatorou et al, 2006).

            É uma fonte de vitaminas do complexo B e, nas farmácias, estão disponíveis produtos com características diferenciadas e, com isso, é possível se encontrar uma grande variação nutricional, dependendo da natureza do substrato, dos minerais incluídos, da espécie de levedura e do método de secagem adotado pelo fabricante. No caso da marca Probene, a qual se diz respeito essa publicação, é enriquecida com fósforo e ácido fólico, garantindo uma suplementação maior para o consumidor.

            Muitas funcionalidades vem sendo atribuídas popularmente para o consumo desse produto diariamente como para emagrecimento e para melhorar processos inflamatórios, mas o que se tem publicado atualmente é que o extrato da levedura promove o desenvolvimento e o bom funcionamento intestinal, além do fato de que, por possuir níveis elevados de nucleotídeos livres, pode auxiliar na divisão e crescimento celular. Além disso, é uma grande fonte de vitaminas do complexo B, as quais são de grande importância para a saúde mental, do trato gastrointestinal, uma vez que possibilita uma melhor absorção de nutrientes pelo corpo e, ajuda na produção dos glóbulos vermelhos, sendo então importante para melhorar o sistema imunológico.

            No entanto, dentro desse contexto, o que não vem sendo mostrado muito é se essa suplementação pode causar algum malefício para o consumidor, visto que a Levedura de Cerveja é vendida comercialmente sem prescrição e é exposta nas prateleiras de farmácias, dando um livre acesso ao consumidor e sem uma orientação adequada de farmacêuticos.

Fundamentos Bromatológicos

No mercado existem vários tipos de leveduras sendo comercializadas, porém o que as diferencia é o enriquecimento com minerais. Quando analisamos a informação nutricional do produto é possível verificar que a maior quantidade de mineral contido em 6g de porção é referente ao fósforo, seguido pelo cálcio, sódio, vitamina PP, ácido pantotênico, vitamina B2, vitamina B1 e ácido fólico.


Fig.1 – Informação Nutricional da Levedura de Cerveja Probene.

            O fósforo, assim como o cálcio, apresenta uma função importante para a manutenção da estrutura óssea, estando presente na maioria dos alimentos que consumimos, como leites e derivados, nas carnes no geral, nos grãos, entre outros. Vitaminas do complexo B, como a vitamina PP (niacina ou B3), ácido pantotênico (B5), vitamina B2 e vitamina B1, juntas trazem muitos benefícios para a saúde como, por exemplo, diminuir os efeitos da artrite reumatoide e, o que se tem visto com estudos recentes é uma diminuição dos níveis dessa vitamina na população moderna.

            O ácido fólico é um componente de extrema importância para a manutenção da saúde cardiovascular e do sistema nervoso, e sua suplementação muitas vezes é necessária em casos de anemia ou em mulheres grávidas.

            O sódio se apresenta em altas taxas também nesse suplemento, o que pode ser um problema, principalmente para pacientes que apresentem insuficiência renal.        

Legislação

        Conforme a Portaria da ANVISA nº 19/1995, o levedo de cerveja deve conter, no mínimo, 40% de proteínas, e em cada grama o equivalente de, no mínimo 0,12mg de cloridrato de tiamina (vitamina B1), 0,04mg de riboflavina (B2) e 0,25mg de niacina (B3). O produto em questão cumpre os requisitos e, no caso da vitamina B2, bem maior do que o estipulado, porém não causa malefícios a saúde de modo geral.

            Além disso, o rótulo do produto se encontra dentro das normas estipuladas pela RDC nº 259/2002 a qual apresenta um regulamento técnico para a rotulagem de alimentos embalados.

Discussão

Para que o indivíduo possua uma vida saudável é de suma importância que a sua alimentação seja equilibrada, de forma a fornecer todos os micro e macronutrientes necessários. Porém, como a vida hoje em dia está cada vez mais corrida e complicada, é possível perceber uma crescente busca por alimentos ultraprocessados. Com isso, a industrialização e a redução da diversidade na dieta ocidental, ou dieta fast-food gerou uma série de problemas à saúde para as populações envolvidas (POLLAN, 2008).

Um dos problemas relacionados à alimentação incorreta é uma deficiência de nutrientes que são ideais para o organismo humano, por isso que a cada dia mais suplementos alimentares tem sido prescritos por médicos. Ainda assim, o que se tem visto também é uma autosuplementação sem nenhum embasamento clínico. Isso pode gerar problemas de diferentes gravidades dependendo do tipo de suplemento que venha sendo ingerido.

Um primeiro ponto a ser destacado é que, mesmo que se tratem de produtos que não necessariamente precisem de prescrição para serem vendidos, não significa que suplementos alimentares não devam ter orientações para os consumidores. Nesse ponto, destaca-se uma orientação farmacêutica adequada pois, mesmo que o produto seja, em sua maioria, vendida em prateleiras expostas nas farmácias é importante que haja esclarecimentos devido aos malefícios que os mesmos podem causar, como uma hipervitaminose, por exemplo.

A levedura de cerveja vem sendo vendida como um suplemento alimentar enriquecida com fósforo, vitaminas do complexo B e ácido fólico e tem sido disseminado entre as pessoas como um potente auxiliador de processos inflamatórios e do emagrecimento, o que pode-se verificar com pesquisas científicas que não é bem assim que funciona. Todos os componentes da fórmula são essenciais para o organismo e, se tomado de forma correta podem fazer com que os níveis diários de cada mineral sejam repostos naqueles que precisam. Pesquisadores canadenses publicaram no Jounal of the American Medical Association (JAMA) um estudo alertando sobre os riscos da suplementação com vitaminas do complexo B e, como resultado teve uma piora da função renal e um aumento do risco de doenças vasculares. Ademais, altos níveis de fósforo podem causar uma hipercalcemia grave e, de cálcio podem levar a acúmulos nos rins, vasos sanguíneos, pulmões e coração, causando dano e insuficiência renal. Essa insuficiência renal pode ser piorada com os altos níveis de sódio, o qual pode ser aumentado com a alimentação diária, visto que a população brasileira já consome muito acima do estipulado (5g/dia).


Fig. 2 – Rótulo da Levedura de Cerveja Probene mostrando a sugestão de uso e a advertência do Ministério da Saúde.

Quando se observa a embalagem do produto, pode-se perceber que a sugestão de uso é de 4 comprimidos, 3 vezes ao dia. Não obstante, é possível ver pelo aspecto do comprimido que ele não é fabricado da forma mais adequada, visto que, quando você pega o mesmo na mão ele já se esfarela um pouco, ou seja, há uma grande perda de produtos antes de ser consumido, o que pode além de reduzir a quantidade em mg por comprimido, reduzir a quantidade de minerais presentes nele, o que não garante ao consumidor uma suplementação adequada no final das contas. Além disso, é importante ressaltar que, por ele ter essa característica, significa que ele não segue as Boas Práticas de Fabricação (RDC 301/2019).

Com tudo o que foi dito acima, pode-se pensar em algumas questões: sabendo-se que a quantidade que está no rótulo do comprimido (500mg) não é a mesma que está sendo ingerida, visto que o comprimido foi fabricado de forma inadequada, será que o consumidor está ingerindo menos do que o indicado pelo rótulo e dessa forma não seria mais racional tomar um suplemento específico? Essa dose indicada no rótulo é realmente necessária para ingestão diária, mesmo se for tomado por uma pessoa que não tenha indicação para essa suplementação?

Conclusão

        Em virtude dos fatos mencionados e das perguntas feitas, é possível verificar que, a Levedura de Cerveja da marca Probene não causa malefícios em si para a saúde da pessoa que está consumindo, pois os níveis de minerais contidos nela se adequam a quantidade estipulada por lei, porém ela também não é o produto mais adequado para quem precisa de uma suplementação alimentar, visto que ela abrange vários minerais e pode, em sua maioria, não servir para um tratamento específico. Vale salientar que, mesmo que não cause malefícios o mesmo precisa de uma orientação farmacêutica quando for vendido, pois, como dito anteriormente, muitas vezes as pessoas transmitem informações falsas de que o produto é milagroso para emagrecimento e para a melhora do sistema imunológico, porém não existem pesquisas que afirmem o mesmo.

Referências Bibliográficas

DE MARIA, C.A.B. e MOREIRA, R.F.A. A intrigante Bioquímica da Niacina – Uma revisão crítica. Química Nova, Rio de Janeiro, Vol. 34, nº 10, p.1739-1752 - 2001.

FERNANDES, J.I. et al. Suplementação dietética de levedura de cerveja e de minerais orgânicos sobre o desempenho e resposta imune em frangos de corte desafiados com a vacina de coccidiose. Ciência Rural, Santa Maria, v.43, nº 8, p. 1496-1502, ago. 2013.

GIAEVER, G., M. CHU, A. et al. Functional profiling of the Saccharomyces cerevisiae genome. Nature, 25 de julho de 2002. Disponível em: <https://www.nature.com/articles/nature00935> Acessado em 24/10/2020.

GAENSLY, F. et al. Iron enriched Saccharomyces cerevisiae maintaisn its fermenting power and bakery properties. Ciência e Tecnologia Alimentar, Campinas, vol. 31, nº 4 – outubro//dezembro de 2001.

PINTO, L. C. et al. Determinação do Valor Nutritivo de Derivados de Levedura de Cervejaria (Saccharomyces spp.) Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v. 15, nº 1, p. 7-17, 2013.

Universidade Federal de Santa Catarina. Alimentos funcionais. Jornal Eletrônico nº 5, jun, 2008.


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