Diet, Light... E Fitness?

Existe alimento fitness? Você sabe o que é? 

Descrição do produto

A Pesquisa Nacional de Saúde, realizada pelo Ministério da Saúde e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que cerca de 60% dos alimentos com maior teor de gordura fazem parte da alimentação diária da população brasileira. No entanto, a pesquisa aponta que, no geral, a população brasileira está procurando ter hábitos de vida mais saudáveis.

A palavra Fitness, de origem inglesa, é formada a partir da junção de "fit" que significa boa forma e "ness", um sufixo para substantivar um adjetivo que se refere a uma condição. Dessa forma, esse termo está amplamente associado a um estilo de vida de boa forma, a um bom condicionamento físico ou bem estar físico.

As pessoas que estão à procura de uma alimentação saudável e emagrecimento buscam alimentos mais saudáveis e menos calóricos fazendo substituições do seu cardápio original: as famosas dietas. Dessa forma, aumenta-se a procura de alimentos que substituam os lanches mais gordurosos, antes consumidos, por alimentos que sejam menos calóricos e que cumpram o papel de saudável sem perder o sabor agradável.

Nesse cenário, ao se empregar a palavra “fitness” ou “fit” em um produto alimentar, tem-se a associação do consumidor com um produto que contenha todas as características necessárias para quem deseja uma boa forma, sugerindo ser uma escolha mais saudável e menos calórica que os demais alimentos da prateleira.

No entanto, será que a utilização dos termos “fitness” ou “fit” no rótulo de um produto está necessariamente relacionado a sua composição nutricional ou que o alimento é menos calórico? Vamos analisar a tabela nutricional da marca Nesfit, uma linha da marca Nestlé, que possui o termo “fit” em seu nome.

Fundamentos Bromatológicos

https://www.nestle.com.br/marcas/nesfit/biscoito-nesfit-banana-aveia-e-canela

Figura 1: Tabela de informação nutricional do biscoito NESFIT® Banana, Aveia & Canela 160g.

 

Legislação

Dentre as nomenclaturas nos rótulos que indicam alterações na sua composição nutricional têm-se os termos diet e light. Eles podem, opcionalmente, ser utilizados nas embalagens de alimentos. No entanto apresentam diferenças quanto a sua utilização.

A Portaria nº 29/1998 estabelece alimentos em que o termo diet poderia ser empregado: somente em algumas categorias de mantimentos para fins especiais - para dietas com restrição de nutrientes, para controle de peso e/ou para ingestão controlada de açúcares.

O termo Light é utilizado como informação nutricional complementar (INC) de um alimento de forma opcional. Tem como objetivo descrever e ressaltar o conteúdo absoluto ou relativo de determinados nutrientes ou valor energético em alimentos embalados de modo geral.  Assim, para ele ser usado no rótulo de algum alimento, sua composição deve atender aos requisitos estabelecidos na Resolução RDC n. 54/2012 para uso da INC comparativa “reduzida” em determinado nutriente.

A Portaria SVS/MS 30/1998 diz respeito a alimentos para controle de peso. A lei define a identidade e as características mínimas de qualidade que devem obedecer aos alimentos para Controle de Peso exceto os: alimentos adicionados de nutrientes essenciais; produtos que contenham substâncias medicamentosas ou indicações terapêuticas; alimentos para praticantes de atividade física. A rotulagem de alimentos para Controle de Peso deve atender às normas de rotulagem em geral e também às normas de rotulagem dos Alimentos para Fins Especiais. Dessa forma a RDC Nº 259, de 20 de setembro de 2002, que define a rotulagem de todo alimento que seja comercializado, de qualquer origem, embalado e oferecido ao consumidor.

Discussão

Diferentemente dos termos “Light” e “Diet”, as palavras “Fitness” ou “Fit” não apresentam legislação vigente para seu uso em rótulos ou que esses indiquem alguma alteração nutricional nos alimentos. Da mesma forma, os termos não estão em conformidade com os alimentos destinados ao Controle de Peso e à sua rotulagem.

Segundo a Resolução RDC Nº 360, de 23 de dezembro de 2003,  que define os valores diários de referência de nutrientes, temos os seguintes valores: Valor energético (2000kcal), Carboidratos (300g); Proteínas (75g); Gorduras totais (55g); Fibra alimentar (25 g); Sódio (2400mg).

Comparando os valores preconizados pela ANVISA à tabela nutricional na embalagem do biscoito Nesfit de banana, aveia e canela, a princípio, não há números alarmantes para o consumidor e nem o percentual de valores diários (%VD) é alto. No entanto, as informações contidas no rótulo são calculadas considerando uma porção de 30g que equivale a 6 biscoitos. Quando analisamos as quantidades para um pacote inteiro temos esses valores representados na Tabela 1.

 

Tabela 1: Comparação da tabela nutricional do biscoito NESFIT com a porção diária indicada no rótulo, sua quantidade total do pacote e os valores diários recomendados da ANVISA na Resolução RDC Nº 360, de 23 de dezembro de 2003.

Gramas de alimento	Porção 30g (6 biscoitos)	%VD (*) 30g	160g (pacote)	%VD (*) 160g	ANVISA
Valor energético	132 Kcal	7%	704Kcal	37%	2000kcal
Carboidratos	19g	6%	101g	34%	300g
Açucares:	6,8 g	**	36,3g	**	-
Proteínas	2,4g	3%	12,8g	17	75g
Gorduras totais:	5,2g	9%	27,7g	50%	55g
Fibra	2,5g	10%	13,3g	53%	25g
Sódio	59mg	2%	314,66mg	13%	2400mg

(*) % Valores Diários de referência com base em uma dieta de 2.000 kcal ou 8.400 kJ. Seus valores diários podem ser maiores ou menores dependendo de suas necessidades energéticas; **VD não estabelecido.

Quando se calcula a quantidade de macro e micronutrientes para um pacote inteiro de biscoito é observado um resultado de %VD significativo, se comparado aos valores de ingestão diária preconizada pela ANVISA.

 

Conclusão

O uso destas palavras “fitness” e “fit” em produtos alimentares podem induzir os consumidores a associar o alimento a um que possua níveis menores de calorias ou então de ser mais saudável nutricionalmente. No entanto, não existe nenhuma legislação que assegure isso. Portanto somente o uso da palavra ou do prefixo podem sugerir propaganda enganosa...

Dessa forma, a pessoa que opta por consumir esses alimentos em suas dietas deve se atentar à quantidade ingerida por dia, uma vez que os rótulos apontam os valores nutricionais para a porção. O consumo exagerado desses alimentos acaba tendo impactos não tão desejados quando é considerado como uma opção para aqueles que buscam emagrecer ou então serem “fitness” no sentindo literal da palavra.

É indicado que toda pessoa que possua o objetivo de emagrecer e “entrar” no corpo e físico sugeridos pela palavra “fitness” procure ajuda de um profissional especializado para, de fato, conseguir uma alteração de estilo de vida.

Dessa forma, ao se empregar a palavra fitness/ “X-FIT”, a indústria aponta para um estilo de vida, mas, não, necessariamente a um alimento. Ele, por si só, não possui a capacidade de ser inteiramente fitness, saudável e, portanto, milagroso. Uma boa nutrição requer uma variação tanto na qualidade dos alimentos quanto nas quantidades ingeridas.

Dentro de uma sociedade que busca prazer, paladar, diversidade e preço, através de uma alimentação preconizada como saudável e que apontaria tanto para uma melhor saúde quanto para uma melhor forma física, a indústria alimentícia, que sabe muito sobre o desejo de seus consumidores, ousa introduzir esta palavra em inglês, tão na moda, para poder implementar um maior quantidade de vendas em seus produtos.

Caberia uma possível legislação do emprego do sufixo fit para além das existentes diet e light, que traga lisura ao que a palavra pretende e também defina parâmetros condizentes ao valor etimológico deste prefixo fit? Numa época e numa sociedade nas quais as fakenews tornam-se mitos verdadeiros, precisamos fazer da ciência nossa bandeira de ética, rigor e seriedade para defender uma população calejada de sucessivas enganações...

 

Referências Bibliográficas

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