Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

sábado, 31 de outubro de 2020

Leite Ninho sem estabilizantes X Leite Ninho com estabilizantes

 



Se leite de qualidade superior não precisa de estabilizantes, porque insistir na formulação com eles? 

Introdução

O leite é um alimento muito consumido mundialmente, de modo que estar atento ao que é ofertado nas prateleiras de supermercados é fundamental para o conhecimento do que se está consumindo, muitas vezes, diariamente. Tendo isso em vista, tratar da adição de estabilizantes no leite UHT é um ponto importante, visto que o mesmo também se encontra em uma formulação sem estabilizante. 

Descrição dos produtos

Segundo a Nestle® a linha Forti + do Ninho® foi formulada baseada nas necessidades nutricionais das crianças brasileiras, sendo rica em nutrientes que contribuem para o desenvolvimento delas.  

Pode-se observar, na figura 1, que o mesmo produto, da mesma linha, marca e fabricante foi desenvolvido com formulações diferentes, sendo uma com estabilizantes e a outra sem. Os estabilizantes utilizados são: citrato de sódio, trifosfato de sódio, monofosfato de sódio e difosfato de sódio. Há ainda, a adição da vitamina E (acetato de DL-alfa-tocoferila) à formulação com os aditivos.

Fundamentos bromatológicos

A vitamina E está sob sua forma sintética no produto, embora a forma natural (α-tocoferol) seja mais potente. Ela evita que o processo oxidativo venha a ocorrer no produto. Vale ressaltar que não apenas os componentes do leite, mas também, componentes externos, como luz, temperatura e tempo de estocagem podem interferir na qualidade do produto. Assim, sua adição confere maior qualidade e durabilidade ao alimento. Além disso, é positivo fortificar o alimento com este nutriente, pois ele atua auxiliando na diminuição da formação de radicais livres em nosso organismo.

Ao analisar a figura 2, conclui-se que o sódio e o cálcio estão em maiores quantidades no leite com estabilizantes. O primeiro encontra-se em maior concentração justamente por conta da adição dos aditivos que são sais de sódio, já o cálcio é devido à nova formulação do produto constatado no rótulo como “mais nutritivo”.

Legislação

No Brasil, temos a Resolução do MERCOSUL No. 135/96 que aprova a inclusão do aditivo Citrato de sódio como estabilizante no Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade do Leite U.H.T. (U.A.T). A necessidade da utilização deste aditivo também é reconhecida pelo CODEX COMMITTEE ON FOOD ADDITIVES - “PROPOSED DRAFT REVISION OF FOOD CATEGORY 01.1 ‘MILK AND DAIRY-BASED DRINKS’ AND ITS SUB-CATEGORIES”.

Outra importante Portaria nacional é No. 370/97 do Ministério da Agricultura e do Abastecimento que aceita o uso do Citrato de sódio, Monofosfato de sódio, Difosfato de sódio e Trifosfato de sódio, como estabilizantes para o leite UHT. Eles podem estar separados ou em combinação, em uma quantidade não superior a 0,1 g/100 ml expressos em P2O5. Como observado anteriormente nos ingredientes do Leite Ninho Forti + UHT Integral com estabilizantes, nota-se que são justamente estes 4 aditivos.

Discussão e Conclusão

Segundo o Decreto-lei nº 986 de 21 de outubro de 1969, os aditivos intencionais devem abranger finalidade do seu emprego e o limite de adição para terem aprovação de padrão de identidade e qualidade. Dito isto, a partir do momento que a empresa consegue produzir um alimento sem o incremento do aditivo, mantendo suas características, qualidades e segurança, o mesmo não se faz mais necessário naquela formulação.  

Ao longo das refeições já fazemos consumo de diversos aditivos, adicionados em variados produtos, logo reduzir a quantidade de consumo dos mesmos é muito relevante e necessário. No caso do Leite Ninho Forti + UHT Integral com estabilizantes ainda há o aumento de sódio (analisado na figura 2) devido à adição dos estabilizantes. Este micronutriente é amplamente encontrado nos alimentos industrializados em concentrações significativas, na qual o seu excesso pode levar ao risco de distúrbios cardiovasculares, sendo assim mais um motivo pela substituição do produto com estabilizantes pelo sem.

Outra questão contraditória é a própria propaganda que a marca rotula “leite de qualidade superior não precisa de estabilizantes”, se a empresa garante qualidade do produto não seria interessante suspender a comercialização do produto com o aditivo?

Pode-se concluir, portanto, que o Ninho® está em conformidade com a legislação vigente sobre o uso dos aditivos, embora se a marca estivesse de fato preocupada com o cliente, ela tiraria de circulação a formulação contendo os estabilizantes. Não obstante, vale salientar que a linha Forti + é, de fato, bastante nutritiva.

Referências Bibliográficas

Rótulos de Embalagens - Leitura Facilitada. “Leite Nestlé NINHO - 1L". Disponível em: http://rotulodasembalagens.blogspot.com/2018/10/leite-nestle-ninho-1l.html. Acesso em: 28 de setembro de 2020.

Nestlé. “NINHO Forti+ UHT Integral”. Disponível em: https://www.nestle.com.br/marcas/ninho-forti/ninho-forti-uht-integral. Acesso em: 28 de setembro de 2020.

Nestlé. “Ninho Forti +”. Disponível em: https://www.nestle.com.br/marcas/ninho-forti. Acesso em 28 de setembro de 2020.

Nestlé. “Leite UHT NINHO® Forti+ Integral 1 Litro”. Disponível em: https://www.ninho.com.br/produtos/ninho-forti/leite-uht-integral. Acesso em: 28 de setembro de 2020.

BATISTA, Ellencristina da Silva; COSTA, André Gustavo Vasconcelos e PINHEIRO-SANT'ANA, Helena Maria Pinheiro. "Adição da vitamina E aos alimentos: implicação para os alimentos e para a saúde humana". Revista de Nutrição. VOL. 20. NO. 5. Campinas. 2007. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-52732007000500008. Acesso em 28 de setembro de 2020.

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