Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

RedubíoⓇ - Quitosana: Sua utilização auxilia efetivamente no emagrecimento?


         Imagem 1 : Embalagem Redubío – Quitosana.

Suplementos alimentares e suas premissas: podemos confiar no que lemos no rótulo?

                                                         DESCRIÇÃO

      Devido a padrões alimentares atuais ricos em alimentos hipercalóricos associados ao ritmo de trabalho acelerado, é crescente a procura da população por alternativas mais saudáveis e métodos de redução de peso. Muitos optam apenas pela mudança de hábitos alimentares e a inserção de exercícios físicos na rotina, enquanto outros consomem produtos que ajudem no processo de maneira mais rápida. Dessa forma, tem-se uma gama cada vez maior de produtos alimentares que prometem ser um facilitador de perda de peso. O produto RedubioÒ Quitosana da CIMED apresenta essa premissa. Na embalagem, a substância é apresentada para o consumidor da seguinte forma: “A quitosana auxilia na redução da absorção de gordura e colesterol”, além disso é descrita pelo fabricante como contribuidora para a redução de peso.  É um suplemento alimentar, o que segundo a ANVISA, é um produto para ingestão oral, apresentado em formas farmacêuticas, destinado a suplementar a alimentação de indivíduos saudáveis com nutrientes, substâncias bioativas, enzimas ou probióticos, isolados ou combinados.

ASPECTOS BROMATOLÓGICOS

       A Quitosana é um polissacarídeo encontrado na parede de algumas espécies de fungos e obtido através da desacetilação da quitina. Apresenta aplicações industriais, como agentes texturizantes, estabilizantes e até mesmo aromatizantes. Além disso, também apresenta ação antimicrobiana e é capaz de estimular o sistema imune. A utilização desse componente como suplemento alimentar é baseado nos seus efeitos gastrointestinais, principalmente visando seu potencial efeito hipocolesterolêmico. 

LEGISLAÇÃO

      A Quitosana é regulamentada pela ANVISA para a utilização em suplementos alimentares como consta na Instrução Normativa IN Nº 28, de 28 de Julho 2018.  Em relação ao valor mínimo dessa substância que deve conter nos suplementos alimentares para que se produza o efeito desejado, o produto em questão está conforme a legislação vigente e assegura que o produto desencadeará o efeito que propõe, contendo 3,0g de Quitosana. Nesse contexto, nota-se, que o produto atende parta das exigências da RDC Nº 243, de 26 de Julho de 2018, que se destina à regulação da rotulagem de suplementos alimentares. Indica a recomendação de uso, especificando a quantidade e frequência de consumo, entretanto sem especificar o grupo populacional a que se destina, apenas restringe seu uso para gestantes e crianças. Fornece, também, instruções de conservação e a porção declarada na informação nutricional e a quantidade diária recomendada de uso pelo fabricante.  Não apresenta as advertências em destaque e negrito "Este produto não é um medicamento”, "Não exceder a recomendação diária de consumo indicada na embalagem"; "Mantenha fora do alcance de crianças”. Também conta a lista de ingredientes, com todos os constituintes usados na formulação (Quitosana e celulose microcristalina) e declaração da presença de alergênicos e a indicação de não conter glúten.

Imagem 2 : Embalagem porção inferior RedubioÒ – Quitosana. Em destaque em amarelo: Informação nutricional em conformidade, apresentando a quantidade mínima em gramas de Quitosana estabelecida pela ANVISA. 

DISCUSSÃO

     O mecanismo de ação da substância não é bem esclarecido e apresenta diversas hipóteses, como a possível redução no esvaziamento gástrico e a interferência no movimento peristáltico do intestino. O que é bem estabelecido é que a Quitosana é capaz de ligar-se aos lipídios provenientes da dieta e com isso, interfere na sua absorção promovendo a maior excreção de gordura antes de esta ser metabolizada pelo organismo. Uma das hipóteses principais é que o polímero interage com os sais biliares, uma vez que apresentam cargas opostas. Com isso, a Quitosana influencia a formação de micelas e consequentemente, na emulsificação de gorduras. Sem esse processo, os lipídeos não poderão ser quebrados e devidamente absorvidos, provocando sua eliminação juntamente com ácidos biliares.   Esse desbalanço promoverá a maior mobilização e oxidação de colesterol, a fim de manter os níveis de ácidos biliares equilibrados e consequentemente, os níveis de colesterol sérico decairão.

        A espécie humana não apresenta enzimas responsáveis pela degradação total de Quitosana no organismo e isso é um fato que possivelmente colabora para o seu efeito. O polímero consegue ficar solúvel no estomago devido ao pH do meio e ao chegar no intestino, precipita. Dessa forma, o composto inicia sua ação pela emulsificação de gorduras no estômago e tem na precipitação a não absorção do complexo quitosana-lipídeo, formando uma barreira-física e facilitando a eliminação de gordura.

         Alguns aspetos em relação ao composto devem ser levados em consideração, como grau de pureza do polímero e sua viscosidade. Quanto mais puro, maior o efeito obtido. Além disso, a viscosidade muito baixa não demonstra eficácia na redução do colesterol.

        Apesar de ser considerada segura e atóxica ao consumidor, não é recomendado seu uso por longos períodos de tempo uma vez que pode trazer malefícios, pois há um desdobramento indesejado na absorção de vitaminas lipossolúveis, como as vitaminas A, K, D e E, e de Cálcio, podendo levar ao desenvolvimento de doenças como osteoporose e hipovitaminoses.

CONCLUSÃO

      Evidencia-se, portanto, que a utilização do suplemento alimentar contendo Quitosana pode atuar na diminuição da absorção de gordura e consequentemente, na redução do colesterol, conforme a premissa do produto citado. Além disso, a utilização em associação com uma mudança de hábitos alimentares promove um efeito mais rápido e saudável para o consumidor, tornando a sua utilização mais eficiente. Entretanto, o grau de pureza e a viscosidade presente no polímero podem interferir na sua eficiência, sendo necessário que haja um controle de qualidade na obtenção do polímero para garantir que o produto apresente resultados eficazes e seguros.  O consumo de suplementos alimentares deve ser devidamente orientado por um profissional da área da saúde, mesmo que a substância não seja considerada um medicamento, devido ao potencial de interferir na absorção de nutrientes e gerar agravantes à saúde. É fundamental que a administração seja feita de forma consciente e racional, principalmente por se tratar de um produto de livre comércio em estabelecimentos de saúde, como farmácias e drogarias.

 

REFERÊNCIAS:

ANVISA. AGENCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Resolução da diretoria colegiada- RDC nº 243, de 26 de Julho de 2018. 

ANVISA. AGENCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Instrução Normativa - IN nº 28, de 28 de Julho de 2018.

CHEREM, Adriana da Rosa; BRAMOSRKI, Adriana. Excreção de gordura fecal de ratos (Rattus norvegicus, Wistar), submetidos a dietas hiperlipídicas e hipercolesterolêmicas suplementadas com quitosana. Rev. Bras. Cienc. Farm.,  São Paulo ,  v. 44, n. 4, p. 701-706,  Dec.  2008 

DAMIAN, C.; BEIRÃO, L. H.; DE FRANCISCO, A.; ESPÍRITO SANTO, M. L. P.; TEIXEIRA, E., Chitosan: an amino polysaccharide with functional characteristics. Alim. Nutr., Araraquara, v. 16, n. 2, p. 195-205, abr./jun. 2005

SILVA, Hélio S. R. Costa; SANTOS, Kátia S. C. R. dos  and  FERREIRA, Elizabeth I.. Quitosana: derivados hidrossolúveis, aplicações farmacêuticas e avanços. Quím. Nova [online]. 2006, vol.29, n.4 [cited  2020-09-27], pp.776-785.

 

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