Imagem 1 : Embalagem Redubío – Quitosana.
Suplementos alimentares e suas premissas: podemos confiar no que lemos no rótulo?
Devido a padrões alimentares atuais ricos em alimentos hipercalóricos
associados ao ritmo de trabalho acelerado, é crescente a procura da população
por alternativas mais saudáveis e métodos de redução de peso. Muitos optam
apenas pela mudança de hábitos alimentares e a inserção de exercícios físicos
na rotina, enquanto outros consomem produtos que ajudem no processo de maneira
mais rápida. Dessa forma, tem-se uma gama cada vez maior de produtos
alimentares que prometem ser um facilitador de perda de peso. O produto RedubioÒ Quitosana da CIMED
apresenta essa premissa. Na embalagem, a substância é apresentada para o
consumidor da seguinte forma: “A
quitosana auxilia na redução da absorção de gordura e colesterol”, além
disso é descrita pelo fabricante como contribuidora para a redução de peso. É um suplemento alimentar, o que segundo a
ANVISA, é um produto para ingestão oral, apresentado em formas farmacêuticas,
destinado a suplementar a alimentação de indivíduos saudáveis com nutrientes,
substâncias bioativas, enzimas ou probióticos, isolados ou combinados.
ASPECTOS
BROMATOLÓGICOS
A
Quitosana é um polissacarídeo encontrado na parede de algumas espécies de
fungos e obtido através da desacetilação da quitina. Apresenta aplicações industriais, como agentes
texturizantes, estabilizantes e até mesmo aromatizantes. Além disso, também
apresenta ação antimicrobiana e é capaz de estimular o sistema imune. A
utilização desse componente como suplemento alimentar é baseado nos seus
efeitos gastrointestinais, principalmente visando seu potencial efeito
hipocolesterolêmico.
LEGISLAÇÃO
A Quitosana é regulamentada pela ANVISA para a utilização em suplementos
alimentares como consta na Instrução Normativa IN Nº 28, de 28 de Julho 2018. Em relação ao valor mínimo dessa substância
que deve conter nos suplementos alimentares para que se produza o efeito
desejado, o produto em questão está conforme a legislação vigente e assegura
que o produto desencadeará o efeito que propõe, contendo 3,0g de Quitosana.
Nesse contexto, nota-se, que o produto atende parta das exigências da RDC Nº 243, de 26 de Julho de 2018, que
se destina à regulação da rotulagem de suplementos alimentares. Indica a recomendação de
uso, especificando a quantidade e frequência de consumo, entretanto sem
especificar o grupo populacional a que se destina, apenas restringe seu uso
para gestantes e crianças. Fornece, também, instruções de conservação e a
porção declarada na informação nutricional e a quantidade diária recomendada de
uso pelo fabricante. Não apresenta as advertências em destaque e negrito
"Este produto não é um medicamento”,
"Não exceder a recomendação diária
de consumo indicada na embalagem";
"Mantenha fora do alcance de
crianças”. Também conta a lista de ingredientes, com todos os constituintes
usados na formulação (Quitosana e celulose microcristalina) e declaração da
presença de alergênicos e a indicação de não conter glúten.
Imagem 2 : Embalagem porção inferior RedubioÒ – Quitosana. Em destaque em amarelo: Informação nutricional em conformidade, apresentando a quantidade mínima em gramas de Quitosana estabelecida pela ANVISA.
DISCUSSÃO
O mecanismo de ação da substância não é
bem esclarecido e apresenta diversas hipóteses, como a possível redução no
esvaziamento gástrico e a interferência no movimento peristáltico do intestino.
O que é bem estabelecido é que a Quitosana é capaz de ligar-se aos lipídios
provenientes da dieta e com isso, interfere na sua absorção promovendo a maior
excreção de gordura antes de esta ser metabolizada pelo organismo. Uma das
hipóteses principais é que o polímero interage com os sais biliares, uma vez
que apresentam cargas opostas. Com isso, a Quitosana influencia a formação de
micelas e consequentemente, na emulsificação de gorduras. Sem esse processo, os
lipídeos não poderão ser quebrados e devidamente absorvidos, provocando sua
eliminação juntamente com ácidos biliares.
Esse desbalanço promoverá a maior mobilização e oxidação de colesterol,
a fim de manter os níveis de ácidos biliares equilibrados e consequentemente,
os níveis de colesterol sérico decairão.
A espécie humana não apresenta enzimas responsáveis pela degradação
total de Quitosana no organismo e isso é um fato que possivelmente colabora
para o seu efeito. O polímero consegue ficar solúvel no estomago devido ao pH
do meio e ao chegar no intestino, precipita. Dessa forma, o composto inicia sua
ação pela emulsificação de gorduras no estômago e tem na precipitação a não
absorção do complexo quitosana-lipídeo, formando uma barreira-física e
facilitando a eliminação de gordura.
Alguns
aspetos em relação ao composto devem ser levados em consideração, como grau de
pureza do polímero e sua viscosidade. Quanto mais puro, maior o efeito obtido.
Além disso, a viscosidade muito baixa não demonstra eficácia na redução do
colesterol.
Apesar de ser considerada segura
e atóxica ao consumidor, não é recomendado seu uso por longos períodos de tempo
uma vez que pode trazer malefícios, pois há um desdobramento indesejado na
absorção de vitaminas lipossolúveis, como as vitaminas A, K, D e E, e de
Cálcio, podendo levar ao desenvolvimento de doenças como osteoporose e
hipovitaminoses.
CONCLUSÃO
Evidencia-se, portanto, que a utilização do
suplemento alimentar contendo Quitosana pode atuar na diminuição da absorção de
gordura e consequentemente, na redução do colesterol, conforme a premissa do
produto citado. Além disso, a utilização em associação com uma mudança de
hábitos alimentares promove um efeito mais rápido e saudável para o consumidor,
tornando a sua utilização mais eficiente. Entretanto, o grau de pureza e a
viscosidade presente no polímero podem interferir na sua eficiência, sendo
necessário que haja um controle de qualidade na obtenção do polímero para garantir
que o produto apresente resultados eficazes e seguros. O consumo de suplementos alimentares deve ser
devidamente orientado por um profissional da área da saúde, mesmo que a
substância não seja considerada um medicamento, devido ao potencial de
interferir na absorção de nutrientes e gerar agravantes à saúde. É fundamental
que a administração seja feita de forma consciente e racional, principalmente
por se tratar de um produto de livre comércio em estabelecimentos de saúde,
como farmácias e drogarias.
REFERÊNCIAS:
ANVISA. AGENCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA
SANITÁRIA. Resolução da diretoria colegiada- RDC nº 243, de 26 de Julho de
2018.
ANVISA. AGENCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA
SANITÁRIA. Instrução Normativa - IN nº 28, de 28 de Julho de 2018.
CHEREM,
Adriana da Rosa; BRAMOSRKI, Adriana. Excreção de gordura fecal de ratos (Rattus
norvegicus, Wistar), submetidos a dietas hiperlipídicas e hipercolesterolêmicas
suplementadas com quitosana. Rev. Bras. Cienc. Farm., São
Paulo , v. 44, n. 4, p. 701-706, Dec. 2008
DAMIAN, C.; BEIRÃO, L. H.; DE FRANCISCO, A.;
ESPÍRITO SANTO, M. L. P.; TEIXEIRA, E., Chitosan: an amino polysaccharide with
functional characteristics. Alim. Nutr., Araraquara, v. 16, n. 2, p. 195-205,
abr./jun. 2005
SILVA,
Hélio S. R. Costa; SANTOS, Kátia S. C. R. dos and FERREIRA,
Elizabeth I.. Quitosana: derivados hidrossolúveis, aplicações
farmacêuticas e avanços. Quím.
Nova [online]. 2006, vol.29, n.4 [cited 2020-09-27],
pp.776-785.
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