Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Superdosagem de vitamina C e seus impactos à saúde

A suplementação com vitamina C tem sido amplamente associada à maior promoção de saúde, mas será que só existe essa face da moeda?


DESCRIÇÃO 

            Vitamina C, também chamada de ácido ascórbico, é uma vitamina hidrossolúvel, termolábil e antioxidante. Essa vitamina tem seus benefícios comprovados à saúde, como efeitos benéficos contra câncer, doenças cardiovasculares, catarata, colesterol elevado, oxidação lipídica, hipertensão, envelhecimento e outros. Ela participa dos processos celulares de oxirredução, vindo daí sua propriedade antioxidante, além de também ser importante na biossíntese das catecolaminas (como norepinefrina), prevenir o escorbuto e ser importante na defesa do organismo contra infecções. Além disso, ela é conhecida por manter a integridade das paredes dos vasos sanguíneos e ser essencial para a formação das fibras colágenas existentes em quase todos os tecidos do corpo humano, tais como a derme, cartilagem e ossos. 
           Costuma ser muito vendida com a promessa de reforçar o sistema imune, além de amplamente disseminada na mídia e pelas pessoas por ter propriedades curativas para gripes e resfriados. Entretanto, apesar de muitos benefícios comprovados, é preciso se ater à outra face da moeda, visto que suas propriedades curativas em gripes e resfriados não são comprovadas pela comunidade científica, além de que haver malefícios associados à sua superdosagem que nunca são disseminados pela mídia. 

FUNDAMENTOS BROMATOLÓGICOS 

            As melhores fontes de vitamina C são frutas frescas, particularmente frutas cítricas (como laranja), tomate, pimentão verde, batata assada e verduras. Algumas frutas, como goiaba e groselha negra, entre outras, também são ricas em vitamina C, assim como algumas verduras como a couve e o brócolis. É comumente adicionada a diversos alimentos tanto para suplementação alimentar como devido ao seu poder antioxidante, evitando a oxidação dos alimentos, como enlatados e processados.
            Costuma ser vendida como suplemento alimentar sob a forma efervescente na dosagem de 1g. De acordo com a bula do suplemento da Bio-C, cada comprimido efervescente contém ácido ascórbico 1g e os excipientes bicarbonato de sódio, carbonato de sódio, macrogol, sorbitol, sucralose, ácido cítrico, aroma de laranja e corante amarelo crepúsculo.

 LEGISLAÇÃO 
   
            A RDC nº 269/2005 dispõe sobre a Ingestão Diária Recomendada (IDR) de proteína, vitaminas e minerais. A IDR é a quantidade de proteína, vitaminas e minerais que deve ser consumida diariamente para atender às necessidades nutricionais da maior parte dos indivíduos e grupos de pessoas de uma população sadia. Segundo essa resolução, a IDR de vitamina C para adultos é de 45 mg, para lactentes de 0-6 meses é de 25 mg, para lactentes de 7-11 meses e crianças de 1-6 anos é de 30 mg, para crianças de 7-10 anos é de 35 mg. Para gestantes e lactantes, que são uma população que tem uma necessidade maior da vitamina, os valores são 55 mg e 70 mg, respectivamente.
             Por sua vez, a portaria nº 32/1998 dispõe que suplementos vitamínicos e/ou de minerais são alimentos que servem para complementar a dieta diária de uma pessoa saudável, em casos onde sua ingestão, a partir da alimentação, seja insuficiente ou quando a dieta requerer suplementação. Devem conter um mínimo de 25% e no máximo até 100% da IDR de vitaminas e ou minerais, na porção diária indicada pelo fabricante, não podendo substituir os alimentos, nem serem considerados como dieta exclusiva. 

DISCUSSÃO

             Analisando o rótulo da vitamina C Bio-C (e de muitas outras marcas também) observa-se que o comprimido efervescente contém 1g de ácido ascórbico (vitamina C). Na Própria bula do suplemento podemos ver que isso compreende a 2222% da ingestão diária recomendada para adultos; 1818% da ingestão recomendada para gestantes e 1428% da ingestão diária recomendada para lactantes. Esses valores são muito além dos recomendados pela ANVISA e sabe-se que algumas pessoas ingerem mais de um comprimido por dia, sendo assim importante comentar sobre os possíveis efeitos negativos dessa superdosagem. 

Tabela 1: Porcentagem da Ingestão Diária Recomendada (IDR) na posologia de 1 comprimido retirada da bula do suplemento.


            Primeiramente importante mencionar sobre a possibilidade de geração de cálculos renais, visto que o ácido ascórbico se liga ao cálcio e forma oxalato de cálcio, provocando o aparecimento de pedras nos rins se usado de forma crônica em doses altas. Da mesma forma, pode haver escorbuto de rebote nos filhos das mães que ingerem altas doses. Além disso, como o ácido ascórbico auxilia na absorção do Ferro, um excesso de vitamina C pode levar a um acúmulo de Ferro. Esse acúmulo de Ferro pode causar dor nas articulações, cansaço, perda de peso, queda de cabelo, danos a órgãos, entre muitos outros sintomas.
             O uso de medicamentos associado à alta ingestão de vitamina C também pode trazer riscos. Estudos demonstraram que a vitamina C aumenta os níveis plasmáticos da Aspirina e de outras drogas da mesma classe, o que, por consequência, favoreceria uma possível intoxicação. Além disso, pesquisas identificaram que o consumo de ácido ascórbico inibe a ação do anticoagulante Varfarina, aumentando os riscos do surgimento de trombos nos vasos sanguíneos.
             O ácido ascórbico que é o princípio ativo do suplemento é um ácido que, apesar de fraco, pode provocar desbalanços no corpo humano. Em excesso esse ácido pode acidificar a urina, podendo causar desconfortos na bexiga. O desbalanço na acidez também pode provocar perturbações digestivas, como desconforto estomacal, azia, diarreia, enjoos e vômito. Importante destacar que pessoas que tem gastrite ou úlcera já possuem problemas com esse tipo de sintomas e com a acidez estomacal, ao passo que há uma ação sinérgica que pode piorar o quadro da pessoa e, em contrapartida, a algumas delas são recomendadas a própria vitamina C para tratar a enfermidade. O agravamento que pode ser provocado pela superdosagem à longo prazo é pouco disseminado pelos médicos e pela mídia, estando tampouco presente na bula do suplemento.

 CONCLUSÃO

             Conclui-se que qualquer efeito preventivo que poderia ser derivado parece pequeno quando comparado ao custo e aos riscos das megadoses. A ingestão de vitamina C dentro do recomendado não tem efeito tóxico em adultos saudáveis e na ausência de diagnóstico de deficiência vitamínica, uma dieta balanceada contendo ampla variedade de alimentos de vários grupos nos dá todos os nutrientes necessários. 
            Portanto, há a necessidade de reflexão sobre até que ponto a vitamina C pode ser recomendada em alta dosagem (mais do que a IDR para a maior parte da população) e sem restrições nenhuma. Torna-se importante falar sobre seus efeitos negativos para alertar a população para a ingestão segura do suplemento, mas, infelizmente, tais produtos são utilizados como estratégias de marketing para os interesses comerciais, sobrepondo-se às reais necessidades da população. 

 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BULA DO BIO C COMPRIMIDO. Disponível em <https://consultaremedios.com.br/bio-ccomprimido/bula>  Acessado em 02/10/2020.
BRASIL. Resolução – RDC n° 269, de 22 de setembro de 2005. Disponível em <http://www.crd.defesacivil.rj.gov.br/documentos/IDR.pdf> Acessado em 22/09/2020.
 BRASIL. Portaria nº 32, de 13 de janeiro de 1998. Disponível em <http://www.anvisa.gov.br/legis/portarias/32_98.htm> Acessado em 22/09/2020. 
EXCESSO DE VITAMINAS Disponível em <https://drauziovarella.uol.com.br/entrevistas2/excesso-de-vitaminas-entrevista/> Acessado em 02/10/2020. 
DA SILVA, M. Farmacologia e toxicologia do ácido ascórbico: uma revisão. Rcv. Ciência c Natura, Santa Maria, 22, 103 - 128, 2000
AZULAY, M. et al. Vitamina C. anais brasileiros de dermatologia, 78.3, 265-272, 2003. 
FIORUCCI, A. et al. A importância da vitamina C na sociedade através dos tempos. Química Nova na Escola, 17, 3-7, 2003.

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