fig 1. Embalagem de farinha de trigo
Os defeitos do tubo neural afetam em média 0,1% das gestações estabelecidas em todo o mundo, e é um dos defeitos congênitos mais comuns.
Em 1965 foi feita a primeira associação entre níveis baixos de folato em mulheres e bebês nascendo com anencefalia e espinha bífida. Posteriormente vários estudos mostraram que ingerir ácido fólico antes e durante as primeiras semanas de gravidez ajudou a diminuir a chance de defeitos do tubo neural. Em 1998 a Food and Drug Administration (FDA) exigiu que os fabricantes adicionassem ácido fólico aos produtos de grãos de cereais para reduzir a chance de ocorrência de defeitos do tubo neural, esta fortificação é obrigatória.
No Brasil a fortificação tornou-se obrigatória a partir de 2002 com a publicação da RDC n. 344, que determinou que as farinhas de trigo e de milho deveriam conter 150µg de ácido fólico para cada 100g de farinha. Em 2017 a Anvisa publicou Resolução RDC n° 150, esse regulamento baseia-se nas diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e prevê quantidades mínimas de ferro e ácido fólico para cada uma das farinhas. Pelas novas regras, os fabricantes estão obrigados a enriquecer as farinhas de trigo e de milho com 140 a 220 µg de ácido fólico para cada 100g de farinha.
Folato ou vitamina B9 é naturalmente encontrado em vegetais verdes escuros, legumes, frutas e vísceras.O folato é uma vitamina solúvel em água e, portanto, é facilmente perdido durante o cozimento, já ácido fólico tem baixa solubilidade em água, não sofre degradação em temperaturas inferiores a 180 °C , e é resistente a oxidação. Essas características são dadas pois o ácido fólico é um composto totalmente oxidado.
O ácido fólico é sintético e precisa ser metabolizado, após a absorção, em metabólitos de folato biologicamente ativos. O folato e seus metabólitos, atuam como uma co-enzima, para a síntese de purina e pirimidina. O folato está envolvido na multiplicação celular, regulação da atividade genética, produção de células vermelhas e brancas, renovação da pele e do revestimento intestinal, bem como na síntese de produtos químicos que modulam a função cerebral.
A multiplicação celular tem um papel importante no fechamento do tubo neural, logo a ingestão do ácido fólico é fundamental na prevenção de defeitos do tubo neural.
Embora a fortificação voluntária de ácido fólico esteja disponível em grande parte da Europa, os países europeus relutam em introduzir a fortificação obrigatória. A relutância ocorre por medo de efeitos adversos, isso porque existe à possibilidade de uma associação entre ácido fólico e câncer colorretal e de mama, além da possibilidade de níveis mais elevados de folato no sangue mascararem a deficiência de vitamina B12 .
Estudos recentes não confirmaram qualquer conexão entre a suplementação de ácido fólico e o risco de câncer colorretal,câncer de mama ou risco de mascarar uma deficiência de vitamina B12 em uma população jovem e saudável de gestantes. Mas a fortificação pode ser preocupante em idosos. Além disso, um risco ligeiramente aumentado de infecção respiratória e asma infantil foi descrito com altas doses de ácido fólico 5 mg por dia.
Alcançar os níveis ideais de ácido fólico através de dieta balanceada é difícil, uma vez que a
ingestão desta vitamina, através de alimentos, fornece aproximadamente 0,25mg/dia. Dados mostram que a fortificação de alimentos com ácido fólico é uma medida inquestionável na prevenção primária dos defeitos do tubo neural, principalmente porque o tubo neural humano começa a fechar entre 17 e 18 dias após a fertilização, como em países subdesenvolvidos é comum o não planejamento da gravidez, é importante a fortificação de farináceos.
Além de estar envolvido na gênese dos defeitos do tubo neural,a deficiência de folato aumenta o risco de prematuridade, baixo peso ao nascer e pré-eclâmpsia. A suplementação de ácido fólico materno parece estar significativamente associada a um risco reduzido de atresia esofágica,defeito cardíaco conotruncal, fissura palatina,malformações urinárias e omphaloceles.
Há indícios que níveis de folato também podem ter um impacto no desenvolvimento psicoafetivo da criança. Alguns estudos têm demonstrado que os níveis de folato materno podem promover o desenvolvimento da criança e reduzir o risco de hiperatividade
Referência
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