Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

As farinhas de trigo e milho, no Brasil, são fortificadas com Ácido fólico. Essa medida é eficaz para diminuir os problemas de defeitos do tubo neural ?

 

fig 1. Embalagem de farinha de trigo


Os defeitos do tubo neural afetam em média 0,1% das gestações estabelecidas em todo o mundo, e é um dos defeitos congênitos mais comuns. 

Em 1965 foi feita a primeira associação entre níveis baixos de folato em mulheres e bebês nascendo com anencefalia e espinha bífida. Posteriormente vários estudos mostraram que ingerir ácido fólico antes e durante as primeiras semanas de gravidez ajudou a diminuir a chance de defeitos do tubo neural. Em 1998 a Food and Drug Administration (FDA) exigiu que os fabricantes adicionassem ácido fólico aos produtos de grãos de cereais para reduzir a chance de ocorrência de defeitos do tubo neural, esta fortificação é obrigatória. 

No Brasil a fortificação tornou-se obrigatória a partir de 2002 com a publicação da RDC n. 344, que determinou que as farinhas de trigo e de milho deveriam conter 150µg de ácido fólico para cada 100g de farinha. Em 2017 a Anvisa publicou Resolução RDC n° 150, esse regulamento baseia-se nas diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e prevê quantidades mínimas de ferro e ácido fólico para cada uma das farinhas. Pelas novas regras, os fabricantes estão obrigados a enriquecer as farinhas de trigo e de milho com 140 a 220 µg de ácido fólico para cada 100g de farinha. 

Folato ou vitamina B9 é naturalmente encontrado em vegetais verdes escuros, legumes, frutas e vísceras.O folato é uma vitamina solúvel em água e, portanto, é facilmente perdido durante o cozimento, já ácido fólico tem baixa solubilidade em água, não sofre degradação em temperaturas inferiores a 180 °C , e é resistente a oxidação. Essas características são dadas pois o ácido fólico é um composto totalmente oxidado. 

O ácido fólico é sintético e precisa ser metabolizado, após a absorção, em metabólitos de folato biologicamente ativos. O folato e seus metabólitos, atuam como uma co-enzima, para a síntese de purina e pirimidina. O folato está envolvido na multiplicação celular, regulação da atividade genética, produção de células vermelhas e brancas, renovação da pele e do revestimento intestinal, bem como na síntese de produtos químicos que modulam a função cerebral. 

A multiplicação celular tem um papel importante no fechamento do tubo neural, logo a ingestão do ácido fólico é fundamental na prevenção de defeitos do tubo neural. 

Embora a fortificação voluntária de ácido fólico esteja disponível em grande parte da Europa, os países europeus relutam em introduzir a fortificação obrigatória. A relutância ocorre por medo de efeitos adversos, isso porque existe à possibilidade de uma associação entre ácido fólico e câncer colorretal e de mama, além da possibilidade de níveis mais elevados de folato no sangue mascararem a deficiência de vitamina B12 . 

Estudos recentes não confirmaram qualquer conexão entre a suplementação de ácido fólico e o risco de câncer colorretal,câncer de mama ou risco de mascarar uma deficiência de vitamina B12 em uma população jovem e saudável de gestantes. Mas a fortificação pode ser preocupante em idosos. Além disso, um risco ligeiramente aumentado de infecção respiratória e asma infantil foi descrito com altas doses de ácido fólico 5 mg por dia. 

Alcançar os níveis ideais de ácido fólico através de dieta balanceada é difícil, uma vez que a

ingestão desta vitamina, através de alimentos, fornece aproximadamente 0,25mg/dia. Dados mostram que a fortificação de alimentos com ácido fólico é uma medida inquestionável na prevenção primária dos defeitos do tubo neural, principalmente porque o tubo neural humano começa a fechar entre 17 e 18 dias após a fertilização, como em países subdesenvolvidos é comum o não planejamento da gravidez, é importante a fortificação de farináceos. 

Além de estar envolvido na gênese dos defeitos do tubo neural,a deficiência de folato aumenta o risco de prematuridade, baixo peso ao nascer e pré-eclâmpsia. A suplementação de ácido fólico materno parece estar significativamente associada a um risco reduzido de atresia esofágica,defeito cardíaco conotruncal, fissura palatina,malformações urinárias e omphaloceles. 

Há indícios que níveis de folato também podem ter um impacto no desenvolvimento psicoafetivo da criança. Alguns estudos têm demonstrado que os níveis de folato materno podem promover o desenvolvimento da criança e reduzir o risco de hiperatividade 

Referência 

SCHWITTERS, B.; ACHANTA, G; VAN DER VLIES, D.; MORISSET, H; BAST. A; HANEKAMP, J. C. The European regulation of food supplements and food fortification. Intendes normal use- the ultimate tool in organizing level playing field markets and regulations, or how to break the fairy ring around ‘other substances’. EU Regulation of food supplements and food fortification. 2007. 

CRIDER, Krista S.; BAILEY, Lynn B.; BERRY, Robert J. Folic acid food fortification—its history, effect, concerns, and future directions. Nutrients, v. 3, n. 3, p. 370-384, 2011. Brasil. Ministério da Saúde. 

Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 150 de 13 DE ABRIL DE 2017. Dispõe sobre o enriquecimento das farinhas de trigo e milho com ferro e ácido fólico. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília (DF); 217

TINKER, Sarah C. et al. Estimate of the potential impact of folic acid fortification of corn masa flour on the prevention of neural tube defects. Birth Defects Research Part A: Clinical and Molecular Teratology, v.97, n. 10, p. 649-657, 2013

WILSON, R. Douglas et al. Pre-conception folic acid and multivitamin supplementation for the primary and secondary prevention of neural tube defects and other folic acid-sensitive congenital anomalies. Journal of Obstetrics and Gynaecology Canada, v. 37, n. 6, p. 534-549, 2015.

OBEID, Rima; HOLZGREVE, Wolfgang; PIETRZIK, Klaus. Is 5-methyltetrahydrofolate an alternative to folic acid for the prevention of neural tube defects?. Journal of perinatal medicine, v. 41, n. 5, p.469-483, 2013


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