A suplementação com peptídeos de colágeno é realmente eficaz contra perda de massa magra?
Descrição
O colágeno é uma proteína fibrosa de origem animal que compõe muitas
estruturas do nosso corpo: ossos, tendões, cartilagens, pele, músculos, dentre outras.
Tem como função dar integralidade, elasticidade e regeneração aos tecidos onde se
encontra.
Quando uma pessoa inicia a fase adulta é possível observar um decaimento
dos níveis de colágeno que, com o passar dos anos, pode atingir um ponto onde fase necessário a sua suplementação, tendo em vista tratar-se de uma proteína com
alta funcionalidade. Ainda, com o envelhecimento constata-se uma redução da
performance física e perda de massa magra nos indivíduos, conceito conhecido como
sarcopenia. Tendo em vista tais efeitos, diversas pesquisas vêm sendo conduzidas
objetivando a busca por tratamentos eficazes para esta e outras patologias
associadas ao envelhecimento. Dessa forma, despertou-se o interesse pela
suplementação do colágeno associado à outras terapias para o tratamento da
sarcopenia.
Fundamentos bromatológicos
O colágeno é a proteína mais abundante no organismo animal, constituindo
cerca de 25 a 35% de toda a proteína encontrada no corpo humano. Existem vários
tipos de colágeno nos vertebrados, sendo eles em sua maioria compostos por 35%
de glicina, 11% de alanina, 21% de prolina e 4-hidroxiprolina e pequenas quantidades
de aminoácidos polares e carregados. Além de ainda não apresentar triptofano em
sua composição, os aminoácidos nutricionalmente essenciais, presentes no colágeno,
estão em taxa praticamente insignificante, o que faz seu valor nutritivo decair. Porém,
com o envelhecimento, a síntese de aminoácidos não essenciais não ocorre com a
mesma efetividade que em uma pessoa jovem e portanto, a ingestão de colágeno se
traduz no fornecimento de matéria prima para a síntese de colágeno endógeno.
Pensando nisso, cada vez mais observamos nutracêuticos destinados à
suplementação de diversas proteínas. Atualmente, uma forma de consumir colágeno
é através da ingesta dos seus peptídeos. O colágeno pode ser obtido a partir de
diversas fontes de origem animal, como bovinos, suínos, peixes, etc. Na maioria das
vezes, ele é então submetido a um
processo de hidrólise enzimática onde
seu produto são os seus peptídeos. Tal
diminuição de tamanho facilita a
absorção e consequentemente o
aproveitamento no corpo,
considerando-se que proteínas
grandes podem não ser completamente
degradadas e serem então eliminadas.
Ainda, esse processo fornece altos
teores de leucina, glicina e prolina,
aminoácidos importantes para
estabilidade e regeneração das
cartilagens.
Tendo como exemplo o
produto CollagenSkin, observamos que
sua tabela nutricional contém, além de
diversas vitaminas, biotina e ácido
hialurônico, um aminograma (figura 1). Constatase que o produto oferece quase 2 g de
glicina e 1,1 g de prolina, dentre outros
peptídeos citados anteriormente. Vale
ressaltar que além dessas quantidades
de peptídeos, estudos ainda indicaram
que após 6 h, 90% dos peptídeos de
colágeno são absorvidos em
quantidades mensuráveis.
Figura 1. Tabela nutricional e ingredientes do produto Collagen Skin.
Fonte: Essential Nutrition.
Legislação
Os peptídeos de colágeno foram inseridos na lista de ingredientes na proposta
de Consulta Pública n° 457/2017. No entanto, não foram aceitos pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) sob a justificativa de não apresentação de
segurança do novo ingrediente e nem de embasamento técnico-científico que
possibilitem definir os limites de segurança do composto. Porém, determinados
produtores de peptídeos de colágeno utilizam do artigo 433 do Decreto n° 30.691, de
29 de março de 1952, revogado pelo Decreto n° 9.013, de 29 de março de 2017, para
produção, tendo em vista tratar-se de um produto derivado da hidrólise de tecidos
ricos em substâncias colagênicas.
Discussão
Logo, considerando-se a combinação do decaimento da produção de proteínas
importantes para o funcionamento do organismo e a redução da performance física
que acompanham o envelhecimento, pesquisas foram realizadas com a
suplementação dos peptídeos de colágenos associados a atividade física.
Comparativamente com grupo placebo, a união citada proporciona um aumento da
força, coordenação, controle postural e aumento de massa magra. Acredita-se que
grande parte desse resultado seja proveniente dos altos teores de leucina e glicina
adquiridos da suplementação.
A leucina é um aminoácido de cadeia ramificada que, assim como os demais
componentes do grupo, são essenciais para a manutenção das proteínas corporais e
na regulação de processos anabólicos envolvendo tanto a síntese quanto a
degradação de proteínas musculares. Tais aminoácidos são capazes de diminuir a
perda da massa magra durante a diminuição da massa corporal proporcionada pelos
exercícios físicos, além de melhorar o balanço proteico muscular em idosos.
Conclusão
Os efeitos benéficos do colágeno são conhecidos há muito tempo e sua
importância na funcionalidade do corpo é indiscutível. Muitos estudos foram e estão
sendo conduzidos objetivando estabelecer os benefícios do resultado da hidrólise
enzimática dos peptídeos de colágeno, mas é possível observar uma igual tendência
benéfica. Os resultados apontam para uma melhor biodisponibilidade e consequente
absorção de peptídeos importantíssimos para diversas funções no organismo. Sendo
assim, os peptídeos de colágeno apresentam grande potencial no tratamento de
diversas patologias com osteoartrite e sarcopenia. Ainda, faz-se essencial citar suas
ações benéficas sobre articulações, saúde óssea, pele, cabelos e, recentemente
estudada, ganho de massa magra.
Referências
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