Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Peptídeos de colágeno contra perda de massa magra


A suplementação com peptídeos de colágeno é realmente eficaz contra perda de massa magra?


Descrição

        O colágeno é uma proteína fibrosa de origem animal que compõe muitas estruturas do nosso corpo: ossos, tendões, cartilagens, pele, músculos, dentre outras. Tem como função dar integralidade, elasticidade e regeneração aos tecidos onde se encontra.
        Quando uma pessoa inicia a fase adulta é possível observar um decaimento dos níveis de colágeno que, com o passar dos anos, pode atingir um ponto onde fase necessário a sua suplementação, tendo em vista tratar-se de uma proteína com alta funcionalidade. Ainda, com o envelhecimento constata-se uma redução da performance física e perda de massa magra nos indivíduos, conceito conhecido como sarcopenia. Tendo em vista tais efeitos, diversas pesquisas vêm sendo conduzidas objetivando a busca por tratamentos eficazes para esta e outras patologias associadas ao envelhecimento. Dessa forma, despertou-se o interesse pela suplementação do colágeno associado à outras terapias para o tratamento da sarcopenia.

Fundamentos bromatológicos

        O colágeno é a proteína mais abundante no organismo animal, constituindo cerca de 25 a 35% de toda a proteína encontrada no corpo humano. Existem vários tipos de colágeno nos vertebrados, sendo eles em sua maioria compostos por 35% de glicina, 11% de alanina, 21% de prolina e 4-hidroxiprolina e pequenas quantidades de aminoácidos polares e carregados. Além de ainda não apresentar triptofano em sua composição, os aminoácidos nutricionalmente essenciais, presentes no colágeno, estão em taxa praticamente insignificante, o que faz seu valor nutritivo decair. Porém, com o envelhecimento, a síntese de aminoácidos não essenciais não ocorre com a mesma efetividade que em uma pessoa jovem e portanto, a ingestão de colágeno se traduz no fornecimento de matéria prima para a síntese de colágeno endógeno.
        Pensando nisso, cada vez mais observamos nutracêuticos destinados à suplementação de diversas proteínas. Atualmente, uma forma de consumir colágeno é através da ingesta dos seus peptídeos. O colágeno pode ser obtido a partir de diversas fontes de origem animal, como bovinos, suínos, peixes, etc. Na maioria das vezes, ele é então submetido a um processo de hidrólise enzimática onde seu produto são os seus peptídeos. Tal diminuição de tamanho facilita a absorção e consequentemente o aproveitamento no corpo, considerando-se que proteínas grandes podem não ser completamente degradadas e serem então eliminadas. Ainda, esse processo fornece altos teores de leucina, glicina e prolina, aminoácidos importantes para estabilidade e regeneração das cartilagens.
        Tendo como exemplo o produto CollagenSkin, observamos que sua tabela nutricional contém, além de diversas vitaminas, biotina e ácido hialurônico, um aminograma (figura 1). Constatase que o produto oferece quase 2 g de glicina e 1,1 g de prolina, dentre outros peptídeos citados anteriormente. Vale ressaltar que além dessas quantidades de peptídeos, estudos ainda indicaram que após 6 h, 90% dos peptídeos de colágeno são absorvidos em quantidades mensuráveis. 
Figura 1. Tabela nutricional e ingredientes do produto Collagen Skin. Fonte: Essential Nutrition.

Legislação

      Os peptídeos de colágeno foram inseridos na lista de ingredientes na proposta de Consulta Pública n° 457/2017. No entanto, não foram aceitos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) sob a justificativa de não apresentação de segurança do novo ingrediente e nem de embasamento técnico-científico que possibilitem definir os limites de segurança do composto. Porém, determinados produtores de peptídeos de colágeno utilizam do artigo 433 do Decreto n° 30.691, de 29 de março de 1952, revogado pelo Decreto n° 9.013, de 29 de março de 2017, para produção, tendo em vista tratar-se de um produto derivado da hidrólise de tecidos ricos em substâncias colagênicas.

Discussão

            Logo, considerando-se a combinação do decaimento da produção de proteínas importantes para o funcionamento do organismo e a redução da performance física que acompanham o envelhecimento, pesquisas foram realizadas com a suplementação dos peptídeos de colágenos associados a atividade física. Comparativamente com grupo placebo, a união citada proporciona um aumento da força, coordenação, controle postural e aumento de massa magra. Acredita-se que grande parte desse resultado seja proveniente dos altos teores de leucina e glicina adquiridos da suplementação. 
     A leucina é um aminoácido de cadeia ramificada que, assim como os demais componentes do grupo, são essenciais para a manutenção das proteínas corporais e na regulação de processos anabólicos envolvendo tanto a síntese quanto a degradação de proteínas musculares. Tais aminoácidos são capazes de diminuir a perda da massa magra durante a diminuição da massa corporal proporcionada pelos exercícios físicos, além de melhorar o balanço proteico muscular em idosos.

Conclusão

          Os efeitos benéficos do colágeno são conhecidos há muito tempo e sua importância na funcionalidade do corpo é indiscutível. Muitos estudos foram e estão sendo conduzidos objetivando estabelecer os benefícios do resultado da hidrólise enzimática dos peptídeos de colágeno, mas é possível observar uma igual tendência benéfica. Os resultados apontam para uma melhor biodisponibilidade e consequente absorção de peptídeos importantíssimos para diversas funções no organismo. Sendo assim, os peptídeos de colágeno apresentam grande potencial no tratamento de diversas patologias com osteoartrite e sarcopenia. Ainda, faz-se essencial citar suas ações benéficas sobre articulações, saúde óssea, pele, cabelos e, recentemente estudada, ganho de massa magra.

Referências

1. BRASIL. Decreto Nº 9.013, de 29 de março de 2017. Regulamenta a Lei nº 1.283, de 18 de dezembro de 1950, e a Lei nº 7.889, de 23 de novembro de 1989, que dispõem sobre a inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal. Brasília, 2017.

2. Collagen Skin Cranberry. Essentia Pharma, 2020. Disponível em: < https://www.essentialnutrition.com.br/collagen-skincranberry?gclid=Cj0KCQjwuL_8BRCXARIsAGiC51DN8jt07ujNtEyLFAyDS2v6Mw9dvmRs6xifZ2mouNK36bkBUcHbaIIaAudCEALw_wcB#tabela01>. Acesso em: 15 Outubro 2020.

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8. ROGERO, M. M.; TIRAPEGUI, J. Aspectos atuais sobre aminoácidos de cadeia ramificada e exercício físico. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, v. 44, n. 4, p. 563-575, 2008.

9. SILVA, T. F.; PENNA, A. L. B. Colágeno: Características químicas e propriedades funcionais. Revista do Instituto Adolfo Lutz, p. 530-539, 2012.

10. WANG, C.; BAI, L. Sarcopenia in the elderly: basic and clinical issues. Geriatr Gerontol Int., 2012; 12:388- 396.

11. ZDZIEBLIK, D. et al. Collagen peptide supplementation in combination with resistance training improves body composition and increases muscle strength in elderly sarcopenic men: a randomised controlled trial. British Journal of Nutrition, v. 114, n. 8, p. 1237-1245, 2015.

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