O suco
de laranja é um dos mais consumidos no mundo. As toneladas de resíduos industriais
do suco (casca e bagaço) são, principalmente, descartadas, enquanto uma pequena
parcela é destinada à alimentação de ruminantes. O consumo de partes de frutas que diferem da polpa é prejudicado pela falta de conhecimento dos benefícios e pela dificuldade de realizar o consumo. Entretanto, as diversas substâncias, responsáveis pelas
propriedades funcionais oferecidas na laranja e em outras frutas, não estão
presentes, exclusivamente, nas polpas. Então, a farinha de laranja surge como uma
alternativa prática para a inserção das cascas na alimentação, sendo muito
interessante por ser um combo de fibras + antioxidantes.
A
casca da laranja, mais especificamente o albedo, é uma das principais fontes
alimentares de pectina na natureza. Consumir, regularmente, fibras alimentares
vai muito além de uma questão de perda de peso por estética ou melhora da
função intestinal. Fibras, como a pectina, estão associadas a redução de
processos inflamatórios e carcinogênicos no cólon, controle da glicemia e do
colesterol, se mostrando muito importantes na prevenção de doenças cardiovasculares,
diabetes, obesidade, e câncer de cólon.
As flavononas,
a vitamina C e os carotenoides presentes na casca atuam sequestrando radicais
livres diretamente ou indiretamente, via indução de vias bioquímicas
antioxidantes, presentes em diversas células, e assim, contribuem para o equilíbrio redox no ambiente celular. O estresse oxidativo é um importante fator associado
ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares e neurodegenerativas, além do
câncer. Dentre as vitaminas, a C é a mais sensível a sofrer degradação durante
processamento de alimentos. Embora esteja mais concentrada na casca de laranja
do que no suco, durante a secagem das cascas sob altas temperaturas, que é
necessário para evitar proliferação de microrganismos nas farinhas, uma parcela
da vitamina C sofre degradação, podendo os teores se tornarem equivalentes aos
do suco, entretanto, isso não descarta o fato das cascas continuarem sendo a
principal fornecedora de vitamina C na laranja. Devido a degradação térmica
parcial da vitamina C, as flavononas são as principais responsáveis pela propriedade
antioxidante da farinha de laranja. No 1° Simpósio Internacional de Compostos Bioativos
de Citrus e Benefícios a Saúde, realizado em 2018 na USP, as laranjas foram o
grande destaque, tanto pelos vastos benefícios, mas também por serem responsáveis
por 1/3 do consumo de flavononas pelos brasileiros.
Diversas pesquisas vêm sendo realizadas no
Brasil, o maior produtor de laranja do mundo, com o objetivo de fornecer uma
aplicabilidade à farinha produzida a partir dos resíduos industriais da laranja,
tornando claro que uma maior atenção, tanto da indústria como da população,
deveria ser destinada a casca e ao albedo, por terem um grande potencial para
melhorar o perfil alimentar dos brasileiros, o que ressalta as vantagens da
reciclagem alimentar. Uma forma muito prática de utilizar as farinhas de
laranja, adotada em alguns estudos científicos, é na produção de biscoitos,
pães e bolos, ou até mesmo sorvetes, com o objetivo de produzir alimentos com
menor teor de gorduras, maior teor de fibras e com ação antioxidante.
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