Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Infant Fórmulas: Nutramigen Premium, uma substituição Premium ou incompleta?

O número de lactentes intolerantes à lactose cresce a cada dia. Com isso, faz-se necessário o uso de infant fórmulas, que são leites nutricionalmente formulados para tais. Um deles é o Nutramigen Premium que, como o próprio nome sugere, é um leite enriquecido com nutrientes (vitaminas e minerais), composto por proteína extensamente hidrolisada e com formulação baseada em soja. Mas, será que esta formulação possui todos os nutrientes e em quantidade necessária afim de mimetizar o leite materno?

Descrição

O Nutramigen Premium é uma Fórmula infantil de seguimento para lactentes destinada a necessidade dietoterápicas específicas com restrição à lactose composta por proteína extensamente hidrolisada. A fórmula é à base de soja com os níveis e proporções adequados de DHA e ARA de acordo com as recomendações da FAO/OMS. Porém, é recomendado apenas para lactentes que necessitam de dieta livre de lactose (intolerância) e não para aqueles que manifestam processos alérgicos devido às proteínas do leite. Enriquecido com nutrientes que não estão presentes no leite materno como vitaminas e alguns minerais e outros minerais que estão presentes no leite humano, se encontram em maior quantidade. Porém, é livre de hormônios, enzimas e anticorpos que auxiliam na formação do sistema imunológico do lactente.
Este produto somente deve ser usado na alimentação de crianças menores de 1 (um) ano de idade com indicação expressa de médico ou nutricionista. O aleitamento materno evita infecções e alergias e fortalece o vínculo mãe-filho. O ministério da saúde informa: o aleitamento materno evita infecções e alergias e é recomendado até os 2 ( dois) anos de idade ou mais.

Comparativo da composição do leite materno X composição do Nutramigen Premium
Nutrientes / 100ml
Leite humano
Nutramigen premium
Proteínas
1,1g
2,8g
Cálcio
0,030g
0,070g
Fósforo
0,014g
0,039g
Sódio
0,015g
0,035g
Potássio
0,055g
0,082g
Outros minerais
Vestígios de Fe e I
0,236g
Gorduras totais
4,2g
0,741g
Carboidratos
7,5g
7,7g
Hormônios, enzimas e anticorpos
presentes
-
Sais
presentes
-


Fundamentos Bromatológicos


O fabricante garante que o leite é ideal para infantes com intolerância a lactose, dessa forma presume-se que esse carboidrato esteja ausente na formulação, apesar de que esta classe de nutrientes apresenta-se no rótulo do produto de forma genérica (carboidratos).
Da mesma forma, as proteínas presentes não são descritas de forma explícita no rótulo, mas pela recomendação do fabricante encontrada no produto de que o mesmo não é indicado para casos de crianças alérgicas, podemos presumir que ele possua caseína, já que essa proteína é uma das grandes causadoras dos processos alérgicos ao leite humano.
Outro ponto importante para observação é a quantidade de gorduras totais presentes no Nutramigen Premium. As gorduras presentes no leite materno são fundamentais e suficientes para a nutrição do lactente, enquanto o produto em estudo apresenta apenas cerca de 17% da quantidade apresentada pelo leite humano.
A composição do leite materno em termos de nutrientes difere tanto qualitativa quanto quantitativamente das infant formulas. Vários fatores bioativos como insulina, esteróides adrenais, T3 e T4 estão entre os hormônios encontrados no leite materno, como também, a presença de leptina, a qual poderia desempenhar um papel regulador no metabolismo do lactente, visto que esse hormônio tem ação de inibir o apetite e as vias anabólicas, e estimular as vias catabólicas. Importante destacar as diferentes respostas endócrinas, no que diz respeito à liberação de hormônios pancreáticos e intestinais, entre recém-nascidos alimentados com leite materno e com a infant fórmula.

Legislação

Segundo a OMS as fórmulas infantis ou Infant Fórmulas são preparadas de acordo com os padrões Codex Alimentarius (coletânea de padrões reconhecidos internacionalmente contendo códigos de conduta, orientações e outras recomendações relativas a alimentos, produção de alimentos e segurança alimentar) e que são alimentos complementares seguros e substitutos adequados do leite materno
No Brasil, as fórmulas lácteas modificadas para lactentes e fórmulas infantis, devem seguir as especificações nutricionais descritas na Portaria MS, nº 977 de 05 de dezembro de 1998 (nela fixam-se a identidade e as características mínimas de qualidade a que devem obedecer as fórmulas infantis para lactentes), e a regulamentação da promoção comercial e as orientações de uso apropriado dos alimentos para lactentes e crianças de primeira infância é ditada pela Resolução RDC, nº 222 de 05 de agosto de 2002.
Segundo a Portaria 31 de 1998 do Ministério da Saúde, um nutriente adicionado a um alimento enriquecido deve estar presente em concentrações não excessivas ou insignificantes. No entanto podemos observar que algumas vitaminas presentes no produto ultrapassam e muito 15% da IDR por porção de 100g. Além da baixa quantidade de gorduras totais estabelecida pela RDC 43 de 2011 ANVISA.
Existem ainda diversas outros tipos de legislação para regulamentar rotulagem, manipulação, armazenamento e diversos outros parâmetros pertinentes a este tipo de preparação que o consumidor não tem acesso. Todas as normas brasileiras são baseadas em recomendações internacionais do CODEX, FAO e OMS, é importante perceber a grande dificuldade existente para o consumidor avaliar o produto que está adquirindo.

Discussão e Conclusão

Cada espécie de mamíferos apresenta uma diferente composição do leite de acordo com a necessidade dos lactentes. As formulações infantis têm o objetivo de mimetizarem o leite materno, afim de suprir as necessidades nutricionais dos lactentes. Porém, existem diversas composições diferentes de infant fórmulas, cada uma prometendo um diferencial em sua composição, seja pela adição de substâncias ou menor quantidade de substâncias específicas.
O leite humano contém enzimas funcionais, fatores de crescimento, fatores de proteção gastrointestinal, células funcionais imunes, bem como fontes de nitrogênio não-protéico. O leite da vaca não substitui o leite humano, pois este representa a fórmula perfeita para suprir as necessidades nutricionais do lactente ao longo do ciclo de lactação. Crianças amamentadas contam com uma fonte de alimentação segura e protegida, não ficam expostas a bactérias e parasitas causadoras de doenças e que podem ter contaminado a água. Além disso, recebem anticorpos e outros fatores que protegem contra as doenças, ajudando na sua prevenção.
O Nutramigen Premium é de fato uma formulação bastante enriquecida nutricionalmente, porém não tem componentes importantes do leite materno como anticorpos que formam o arcabouço do sistema imunológico do lactente, sendo necessário a introdução de prébióticos.
Em situações específicas de amamentação se faz necessário o uso de fórmulas infantis, porém quando não existe essa necessidade, o fundamental seria o aleitamento materno, onde o bebê irá adquirir todas as fontes nutricionais que precisa e na quantidade ideal. Dessa forma, os nutrientes em excesso são de fato necessários e de acordo com as normas? Não basta nutrir, é necessário otimizar a nutrição.

Referências

  1. Codex Alimentarius Commission. Joint FAO/WHO Food Standards Program. Codex Standard for Processed Cereal-based Foods for Infants and Children (Codex Stan 74-1991). In: Codex Alimentarius,  v.4, Ed 2. Rome, 1994.
  2. Codex Alimentarius Commission. Joint FAO/WHO Food Standards Program. Codex Standard for Infant Food (Codex Stan 74-1991). In: Codex Alimentarius  v. 4, Ed 2. Rome, 1994.
  3. Disponível em: http://www.araujo.com.br/leite-nutramigen-premium-em-po/p
  4. Disponível em:http://drpaulomaciel.com.br/alergia-ao-leite-de-vaca/
  5. Disponível em:http://actapediatrica.spp.pt/article/viewFile/3076/2481
  6. Disponível em:http://drpaulomaciel.com.br/alergia-ao-leite-de-vaca/
  7. Disponível em:http://www.nhs.uk/conditions/pregnancy-and-baby/pages/types-of-infant-formula.aspx#close
  8. Disponível em:http://www.mead-johnson.com.mx/home/productos/formulas-especiales/nutramigen-premium/ingredientes-y-tabla-nutrimental.aspx
  9. Disponível em:http://www.nutriservice.com.br/leite-infantil/nutramigen-premium-454gr-especiais
  10. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%B3rmula_infa

Autores: Leonardo Bittencourt dos Santos 

               Sthefany Maria Libonati Cury



4 comentários:

  1. A reflexão apresentada pelos autores da postagem é relevante e pertinente. O problema identificado e delimitado por eles refere-se à discrepância entre a composição do produto e a do leite materno, o qual o produto diz-se equivalente. Diante do problema, a hipótese de que o produto não é equivalente ao leite materno e, logo, não o substitui foi confirmada. Pois, apresentaram quais grupos substâncias estão em falta ou em excesso, bem como alguns dos impactos na saúde do lactente privado do leite materno. Também apresentam a inadequação do produto em relação a quantidade de alguns nutrientes, os quais ultrapassam o máximo de 17% da ingestão diária recomendada (IDR) definido pela Portaria nº 31 de 1998. Segundo a RDC 360 de 2003, o valor da IDR correspondente de cada micro ou macronutriente da dieta de lactentes deveria estar descriminado no rótulo, o que não é observado.
    A ignorância ou negligência por parte das mães favorece o consumo inadequado de micronutriente, bem como o desenvolvimento de doenças relacionadas a hipervitaminose ou processos infecciosos.

    RESOLUÇÃO, R. D. C. nº 360, de 23 de dezembro de 2003. Aprova o regulamento técnico sobre informação nutricional. Diário Oficial da União, v. 23, 2003.
    NETO, G. et al. PORTARIA N º 31, DE 13 DE JANEIRO DE 1998.
    CAETANO, M. et al. Complementary feeding: inappropriate practices in infants. Jornal de pediatria, v. 86, n. 3, p. 196-201, 2010.

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  2. Interessante a discussão levantada. Com base em uma legislação que já é bem aberta e abrangente, o fabricante ainda conseguir descumprir as exigências é no mínimo um desrespeito a vida, partindo do pressuposto de com essa falta de controle nutricional pode interferir no crescimento saudável dos lactentes. Faz falta no texto uma recomendação, talvez para as mães que procuram um produto ideal para os filhos que são intolerantes a lactose, já que o Nutramigen não foi indicado. A parte de fundamentos bromatologicos está bem embasada e com boas discriminações a respeito do que é necessário ter no substituinte do leite materno.

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  3. Muitos fatores influenciam para que produtos como esses estejam a venda e sem muitos impedimentos. Além de uma legislação bastante imprecisa sobre os termos que definem essas substâncias, medidas de caráter fiscal quanto o que é informado nos rótulos passam desapercebidos. A falta de uma especificidade sobre qual tipo de carboidrato é utilizado na formulação deveria levar ao consumidor se questionar se de fato o produto é sem lactose como ele propõe. De fato, informações bromatológicas, como o desenvolvido aqui são urgentes para o cultivo de consumidores mais conscientes e com maior poder para exigir seus direitos.

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  4. Muito bom o texto de vocês, Sthefany e Leonardo.
    Gostaria de suscitar o seguinte questionamento: se a fórmula infantil foi criada para mimetizar o leite materno, por que então há variação nas quantidades dos componentes da fórmula?
    Isso pode estar associado ao fato de que as empresas não estejam sendo eficientemente cobradas. Muitas mães, por exemplo, acreditam que o leite materno é insuficiente para alimentar seus filhos, o que é uma inverdade. A falta de informação que é dada aos consumidores de fórmulas infantis, somada a essa falta de padronização na composição das fórmulas e outras práticas das empresas fabricantes, podem estar contribuindo para possíveis disfunções nos organismos dos bebês que as estejam ingerindo.

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