Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

É possível substituir o leite materno por um produto industrializado ? Uma análise farmacêutica sobre o produto Nestle Prebio 1+.


O mercado de produtos alternativos ao leite materno oferece cada vez mais opções ao consumidor. Todavia, do ponto de vista da bromatologia em saúde e do padrão de identidade e qualidade destes produtos, estes podem substituir o leite materno ?

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Buscando responder esta pergunta, analisamos criticamente algumas destas alternativas, a apresentação: Nestle Ninho Prebio 1+.



Descrição do produto:
O Ninho Prebio 1+ é uma fórmula infantil para necessidades dietéticas especiais cujo seu público alvo são lactantes com idade a partir de 1 ano. Seu principal diferencial frente a outros infant formulas é a presença de prébióticos que segundo o fabricante, Nestle, contribui para o equilibrio da flora intenstial, “onde está a maioria das células de defesa”. Implicitamente na descrição do produto, entende-se que esta fórmula não só seria um complemento ou substituo ao leite materno, mas também melhoraria o sistema imunológico da criança.




Fundamentos Bromatológicos:
O leite materno é o mais completo alimento para crianças, principalmente, até os seis primeiros anos de vida, dessa forma, nele existem todos os nutrientes necessários ao crescimento saudável do bebê, dispensando qualquer outra fonte alimentar.
Dentre os componentes do leite materno, podem-se citar, proteínas, minerais, como cálcio e ferro , carboidratos, como a lactose, que fornece fonte energética para o bebê, sendo um dos constituintes mais importantes do leite materno, depois da água.
Além disso, o alimento materno também é constituído de fibras solúveis e fermantáveis, não-digeríveis, que auxiliam no funcionamento intestinal adequado de lactentes, são os chamados prebioticos. Com a finalidade de mimetizar, até certo grau, o leite materno, o Nestlé ninho prebio 1+ é acrescido de oligossacarídeos, geralmente contendo cadeias de frutose com uma glicose terminal.
Acredita-se que essas substâncias, como inulina, fruto-oligossacarídeos, glico-oligossacarídeos, favorecem o crescimento de bifidobactérias, que possuem extrema importância para o desenvolvimento imunológico intestinal e protege o intestino dos lactentes do desenvolvimento de bactérias patogênicas, o que constitui uma grande diferença entre o leite materno e as infant formula comuns, que favorecem a flatulência e o desconforto gastrintentinais, além de não possuírem a garantia da proteção intestinal adequada conferida pelos prebióticos contidos no leite materno.

Legislação:
A Anvisa, autarquia que regulamenta produtos que apresentam risco sanitário, como suplementos alimentares e alimentos para dietas especiais, define em sua RDC n. 44/2011, o Regulamento Técnico para fórmulas infantis de seguimento para lactentes e crianças de primeira infância. “De acordo com o inciso I do artigo 6º desta Resolução, fórmula infantil de seguimento para lactentes e crianças de primeira infância é o produto, em forma líquida ou em pó, utilizado quando indicado, para lactentes sadios a partir do sexto mês de vida até doze meses de idade incompletos (11 meses e 29 dias) e para crianças de primeira infância sadias (crianças de doze meses até três anos de idade, ou seja, até os 36 meses), constituindo-se o principal elemento líquido de uma dieta progressivamente diversificada..” Entendemos que o Ninho Prebio 1+ se enquadra nesta classificação e por isso está sujeito a esta norma.
Na Resolução RDC n. 42/2011, o Regulamento Técnico de compostos de nutrientes para alimentos destinados a lactentes e a crianças de primeira infância é estabelecido pela Anvisa. Este define “a lista de compostos de nutrientes que podem ser usados em alimentos para fins especiais destinados a lactentes e a crianças de primeira infância, incluindo as fórmulas infantis. Conforme análise da formulação do Ninho Prebio 1+”. Conforme verificamos, todos os nutrientes indicados no rótulo estão de acordo com a legislação vigente.

Discussão:
Apesar do diferencial de apresentar prebióticos, a fim de serem ingeridos por crianças a partir de um ano, o prebio 1+ não representa todos esses componentes em sua totalidade, ao contrário do leite materno, por isso, há um risco quando há uma substituição. Assim, é importante salientar que esses compostos adicionados possuem propriedades imunomoduladoras intestinais semelhantes aos prebióticos constituintes do leite materno,o que não significa constituir toda a complementariedade do que vem a ser um prebiótico oferecido pelo alimento materno, além disso, o mesmo contém uma vasta variedade de oligossacarídeos, o que garante riqueza nutricional , não fornecida pelos aditivos das infant formulas.

Conclusão:
Portanto, por mais que as infant formulas possuem aditivos de substâncias que possam proporcionar efeitos biológicos importantes semelhantes ao leite materno, o mesmo não deve ser completamente substituído, visto que nessas preparações, há uma quantidade limitada de acréscimo dos compostos de interesse, determinada pela legislação vigente, além da  qualidade nutricional dessas substâncias , que divergem daquelas oferecidas naturalmente pela mãe.

Referências Bibliográficas:
Thomas, W.D; Greer, F. R;  and Commitee on Nutrition . Clinical Report – Probiotics and Prebiotics in Pediatrics. American Academic of Pediatrics, 2010, 1217-1227.

Perguntas e respostas sobre fórmulas infantis. <http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/1b72ce0043163045ac68bde6ad24d25c/Perguntas+e+Respostas+sobre+F%C3%B3rmulas+Infantis_3a+vers%C3%A3o_fev+2014.pdf?MOD=AJPERES> Acesso em: 21/11/2014

Alunos: Richard Norman e Joyce Ferreira

3 comentários:

  1. A substituição da alimentação através do leite materno do recém nascido por fórmulas infantis, por exemplo o prebio 1+, deveria ser revista por mães, cuja causa dessa substituição fosse simplesmente o atrativo da propaganda desses produtos no que diz respeito a "promessas de desenvolvimento" para o bebê. Pois de fato, é correto dizer que a adição de certos compostos ao alimento infantil trará benefícios à criança, porém o que não fica dito nessas propagandas é que nenhum alimento industrializado consegue se igualar ao leite materno no tocante aos beneficios nutricionais para o bebê. Logo, o mais honesto dessas propagandas seria: "se não há possibilidade de amamentar o seu bebê, utilize esse produto para beneficio da criança, porém, se for possível a amamentação, nenhum produto é indicado para substituição da alimentação do seu filho".

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  3. Todos os rótulos de fórmulas infantis informam sobre a importância da amamentação e, ainda, ressaltam que a fórmula só deve ser administrada à criança sob orientação médica. No entanto, observa-se hoje em dia a banalização da amamentação, justamente pela facilidade oferecida pelos leites em pó. Diversos estudos mostram que crianças amamentadas no seio materno tendem a ser mais inteligentes. O leite materno possui temperatura adequada, carboidratos, proteínas, anticorpos e água em quantidades perfeitas para o bebê. As fórmulas infantis são extremamente calóricas e, dessa forma, bebês alimentados com elas tendem a ser obesos, além de sentirem muita sede e tenderem a ter as fezes ressecadas, e isto pode prejudicar o desenvolvimento motor da criança. Ou seja, o leite materno não resseca as fezes do bebê (facilitando a defecação), possui quantidade ideal de água e nutrientes e, ainda, o ato de amamentar contribui para o estabelecimento de uma relação entre mãe e filho, contribuindo assim com a saúde psicológica tanto da mãe quanto da criança. Sendo assim, o aleitamento materno deve ser muito incentivado, e substituído apenas em casos especiais determinados pelo pediatra.

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