Os
sorvetes são alimentos que segundo a RDC 266/2005 podem ser enquadrados na
categoria de gelados comestíveis, sendo obtidos a partir de
uma emulsão de gorduras e proteínas; ou de uma mistura de água e açúcar(es), na
qual podem ser adicionados outro(s) ingrediente(s) desde que não descaracterize(m)
o produto. Basicamente, é uma sobremesa gelada
à base de lacticínios, como leite ou nata, à qual são
adicionadas frutas dentre outros ingredientes. A maior parte dos sorvetes
contém açúcar, embora alguns possam ser feitos com adoçantes, como
por exemplo, os sorvetes dietéticos. Em alguns casos, são
acrescentados corantes ou aromatizantes como complemento ou em substituição
dos ingredientes naturais, como acontece nos sorvetes de massa
industrializados. Em relação ao
seu valor calórico, isto dependerá da sua composição,
ou seja, das matérias-primas utilizadas para sua fabricação.
Além de muito saborosos, os sorvetes podem
contribuir como fonte de proteínas e
carboidratos, desde que façam parte de uma dieta
equilibrada, sem
exageros. É bastante comum esse alimento ser utilizado em
hospitais, especialmente por crianças submetidas à quimioterapia, as
quais têm dificuldade de se alimentar. Além do valor
nutritivo, por ser
gelado, o sorvete é um ótimo analgésico e
ajuda a evitar as náuseas causadas pelo tratamento nas crianças.
Nas cirurgias na
região da garganta, ele
também costuma ser indicado. Do ponto de vista nutricional, o sorvete é também
um excelente complemento alimentar e
possui alto valor nutritivo. A razão para isso é que ele contém proteínas, açúcares, gordura
com vitaminas A, B1, B2, B6, C, D,
K, cálcio, fósforo e
outros minerais essenciais numa nutrição balanceada.
Por ter alto teor calórico e proteico, ele igualmente contribui na síntese de
proteínas e ainda age como fonte de energia.
Apesar de serem popularmente aceitos como o
mesmo tipo de sorvete, existe ainda uma grande confusão acerca das diferenças
entre sorvete de creme e sorvete de baunilha. Na realidade o sorvete de
creme e o sorvete de baunilha possuem formulações diferentes:
O sorvete de creme é
produzido com manteiga de leite e aromatizantes (inclusive o de baunilha). Já o sorvete
de baunilha, não possui a manteiga de leite,
e leva extrato de baunilha em uma dose significativamente maior, possuindo, por
essa razão, um sabor mais característico. Vale frisar que a essência de
baunilha é artificial, obtida a partir da síntese química, com odor e sabor
sintético, semelhante ao de balas. Já o extrato de baunilha foi obtido da fava
de baunilha natural, que foi deixada em infusão em meio alcoólico, sendo dotada
de sabor intenso e bastante aromática.
Devido a essa
diferença em seu preparo, nota-se inclusive uma diferença visual entre os dois
tipos de sorvetes. Comparativamente, o sorvete de creme costuma ser mais
amarelo ou amarelado, enquanto o de baunilha costuma ser branco. No entanto,
como a receita dos dois tipos de sorvete não é fixa, nem sempre se observa essa
diferença de coloração, podendo um sorvete de creme ser branco, ou inclusive um
sorvete de baunilha resultar amarelado.
Tendo em vista a
crescente produção de sorvetes no Brasil e seu aumento de consumo nos últimos
anos, iremos exemplificar as principais diferenças, assim como alertar sobre a
qualidade dos produtos presentes atualmente no mercado. Este estudo decidiu
analisar 3 sorvetes de marcas diferentes: sorvete artesanal caseiro de baunilha, sorvete de baunilha
(Vanilla) Haagen Dazs e sorvete Kibon
Momentos Vanilla – Linha Premium.
1) Sorvete
artesanal caseiro de baunilha:
O
Sorvete de Baunilha Caseiro, por ser uma produção artesanal, leva na sua
composição apenas 5 ingredientes: Creme de Leite, Leite, Açúcar, Gema de Ovo e
Baunilha Natural (fava de Baunilha). A gema de ovo
atua como um emulsificante natural, não sendo necessário a adição de espessantes
ou ou adjuvantes sintéticos, nem qualquer corante.
2) Sorvete Haagen Dazs Importado sabor
Baunilha:
Para o sorvete da Haagen Dazs,
que é importado, é possível visualizar em sua lista de ingredientes, que a
composição é basicamente a mesma do sorvete artesanal, diferindo apenas por
usar o extrato de Baunilha na concentração de 1%. Também não apresenta corantes
ou quaisquer adjuvantes.
3)
Sorvete Kibon Momentos Baunilha:
Para
este sorvete, que diz ser uma linha “Premium”, ao visualizar sua lista de
ingredientes, é possível imediatamente notar que sua “receita” apresenta muito
mais que 5 componentes (ao todo são 26). E ainda, um olhar mais atento, permite
constatar que não há presença de Baunilha, mas sim de aromatizantes artificiais.
Ou seja, há somente a essência de baunilha sintética. Considerando que a RDC
259/2002 preconiza que a lista de ingredientes deve trazer seus componentes de
forma decrescente na rotulagem, isto é, daquele presente em maior quantidade
para aquele em menor, é possível concluir que pelo fato do aromatizante estar
no final da lista, é um dos ingredientes com menor quantidade no produto. Para
finalizar, ainda há 4 corantes (urucum, cúrcuma, caramelo II e Bordeaux)
presentes nesta relação, além dos conservantes. Quanto mais aditivos, maior sua
vida de prateleira, e consequentemente, seu prazo de validade.
Outro
critério para auxiliar na avaliação da qualidade do sorvete é medir a
quantidade de ar que o mesmo apresenta. O “overrun” ou aumento do volume pela incorporação de ar é uma das
etapas mais importantes da fabricação de sorvetes, já que influencia
diretamente na qualidade e rendimento da mistura. Todo sorvete de massa, apresenta
ar. Porém, os de melhor qualidade, tem menos ar. Para esta análise, basta apenas
pesar a massa ocupada por uma quantidade de sorvete em um recipiente de volume
conhecido. Ao preenchê-lo de sorvete, pesa-se e compara-se as massas
encontradas. Os sorvetes industrializados, atualmente são os que possuem maior
quantidade de ar, quando comparados com os artesanais ou caseiros. Tal fato
pode ser comprovado durante a observação em seu derretimento: é como se o
sorvete “murchasse”, sendo possível identificar que há menos sorvete naquele
produto que há maior quantidade de ar.
Ao analisar os
valores de cada produto, tem-se o seguinte (média de preço):
Sorvete Artesanal:
R$ 25,00 pote de 500 ml
Sorvete Importado
Haagen Dazs: R$ 24,90 pote de 473 ml
Sorvete Kibon
Momentos – Linha Premium: R$ 15,90 pote de 460 ml
Discussão:
Sorvetes
mais populares costumam ser mais baratos em termos de preço, além de serem
vendidos em maiores quantidades, causando a falsa ilusão que rendem mais. Porém
apresentam maior teor de conservantes e aromatizantes que os sorvetes
artesanais ou caseiros. Além disso, há uma alta concentração de aditivos e
adjuvantes, que é uma técnica utilizada pela indústria para gerar o sabor
desejado, reduzindo os custos. Antigamente, havia a Portaria nº 379, de 26 de abril de 1999, que delimitava as
quantidades mínimas de frutos ou polpa de frutas que deveriam estar presentes
nos gelados comestíveis. Todavia, esta Portaria foi revogada, sendo substituída
pela RDC 266/2005, que não faz qualquer ponderação a respeito dessas quantias.
Dessa forma, os sorvetes industriais são produzidos de modo artificial e
sintético, não havendo a presença do fruto natural, no caso a fava da baunilha.
Estes ingredientes sintéticos são desconhecidos pela maior parcela da
população, bem como seu modo de obtenção e ademais são comumente causadores de
reações alérgicas. Por exemplo, o corante Bordeaux é produzido através da tinta
do alcatrão de carvão, já foi banido em diversos países em virtude da sua
toxicidade comprovada em testes in vivo e deve ser evitado por pessoas
alérgicas à aspirina. Outrossim, é crível o percentual de ar
contido nos sorvetes industriais, possibilitando assim que o consumidor adquira
um produto com menor quantidade (massa), iludido pelo volume presente no
recipiente. Já os sorvetes que são produzidos de forma artesanal, com
ingredientes naturais, sem adição de conservantes e corantes, são mais caros e rendem
menos, fazendo com que o consumidor dê preferência aos industrializados pela
quantidade.
Conclusão:
Considerando
a qualidade e a quantidade oferecidas pelos produtos disponíveis atualmente no
mercado, assim como seu custo benefício, faz se importante uma análise crítica do
consumidor no ato da compra, sobre qual sorvete ele deve adquirir para oferecer
à sua família. Principalmente nos casos em que existem pessoas com dietas
especiais ou que apresentam intolerância alimentar, haja vista que os mais
populares não possuem ingredientes naturais, as legislações presentes no país
são permissivas e os fabricantes trazem poucas informações a cerca das suas
etapas de produção.
Referências Bibliográficas:
BRASIL, Ministério da Saúde. Agência Nacional
de Vigilância Sanitária. Resolução RDC n.2, de 07 de janeiro de 2002.
Disponível em:
BRASIL, Ministério da Saúde. Agência Nacional
de Vigilância Sanitária. Resolução RDC n.266, de 22 de setembro de 2005. Disponível em:
BRASIL, Ministério da Saúde. Agência Nacional
de Vigilância Sanitária. Portaria n.379, de 26 de abril de 1999 (revogada). Disponível em:
BRASIL.
Resolução RDC n. 259 de 2002 – Regulamento Técnico para Rotulagem de Alimentos
Embalados.
Dossiê Corantes.
Food Ingredients Brasil nº 9, 2009.
SAÚDE, Revista
Viva. DESFRUTE DO DELICIOSO SORVETE. 2013. Disponível em:
<http://revistavivasaude.uol.com.br/nutricao/desfrute-do-delicioso-sorvete/542/>.
Acesso em: 09 maio 2014.
SILVA K,
BOLINI HMA, ANTUNES AJ. Soro de leite bovino em sorvete. Alim. Nutr.,
Araraquara, v. 15, n. 2, p. 187-196, 2004.
SOUZA J, et al. Sorvete: composição, processamento
e viabilidade da adição de probiótico. Alim. Nutr., Araraquara, v.21, n.1, p.
155-165, 2010.
A leitura deste artigo colabora enormemente para que se possa exigir o consumo de produtos alimentícios sem que exista total lesão àquele que os compra. Restrições que impeçam esta rotulagem como o sorvete de baunilha que não apresenta absolutamente nenhum miligrama da mesma são ultrajantes, beneficiando somente os produtores enquanto os consumidores sofrem não somente pela ingesta de alimentos "falsos", visto que apenas contêm corantes e aromatizantes artificiais, como também graças às inúmeras reações adversas que tais substâncias podem provocar, entre elas alergias e outros distúrbios devido a sua possível toxicidade.
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