Por Ana Clara Newlands e Luiza Iandra
Introdução:
Nutrientes e fármacos partilham
diversas características, como por exemplo, mecanismos de absorção no
intestino, possibilidade de provocar toxidez em doses elevadas e também podem
alterar processos fisiológicos.
Quando pensamos em interação desses
dois compostos, podemos incluir o que ocorre “in vivo” (no organismo) e “in
vitro” (durante o processamento dos medicamentos/alimentos), e isso pode afetar
tanto a disponibilidade quanto a estabilidade desses componentes.
Vamos focar o trabalho nas interações
in vivo, que ocorrem no trato gastrointestinal, sendo quase insignificante na
boca, garganta e esôfago, tendo maior importância no estômago e uma importância
fundamental durante a passagem pelo intestino.
Fundamentos bromatológicos:
Dependendo das características do
fármaco, natureza do nutriente, velocidade de esvaziamento gástrico e dos
mecanismos de absorção do intestino. Diversos tipos de interação podem ocorrer,
podem ser formados quelatos entre cátions e fármacos, pode-se precipitar os
nutrientes e os fármacos podem adsorver os nutrientes.
Quanto a interações metabólicas,
nutrientes tem a capacidade de alterar o metabolismo de fármacos, do mesmo modo
que os fármacos podem também alterar o metabolismo de nutrientes. Essas, podem
provocar uma diminuição da eficácia do fármaco, em casos mais graves, pode
causar até total bloqueio da ação do medicamento. O potencial para indução de
interações entre fármacos e nutrientes aumenta quando:
- utiliza-se grande quantidade de
suplementos
- há alterações bruscas na composição
da dieta
- há ganho ou perda de peso em um
pequeno intervalo de tempo
- faz-se uso de medicamentos durante as
refeições
- utiliza-se meios que alteram o pH do
trato gastrointestinal
Um componente que pode alterar o
comportamento normal do pH do trato gastrointestinal é a utilização de
antiácidos. Antiácidos são agentes neutralizadores que atuam rapidamente,
apesar de não neutralizarem completamente o pH extremamente ácido do estômago,
podem elevá-lo de 2 para valores entre 3 e 4.
Figura 1: Exemplo de antiácido comumente utilizado.
Esse aumento de pH afeta a
desintegração das cápsulas, drágeas ou comprimidos e consequentemente a
absorção do princípio ativo. Podendo impedir a absorção de fármacos colinérgico
e fenotiazidicos e diminuindo a excreção de quinidina.
O ferro presente em grande parte dos
alimentos na forma férrica (Fe+3), sendo absorvida na forma ferrosa
(Fe+2) tem como requisito para absorção a acidez gástrica, uma vez
que ela é essencial para a solubilização e conversão para a forma que pode ser
absorvida.
Figura 2: Exemplo de medicamento utilizado para reposição de ferro
Figura 3: Exemplo de alimento rico em ferro
O fósforo desempenha papel importante
no metabolismo do cálcio e nas reações do equilíbrio ácido-base. Se almejamos
um balanço positivo de fósforo devemos manter os níveis de Vit. D normais, pois
esta vitamina aumenta a absorção intestinal de fósforo, aumenta a reabsorção
tubular proximal de fósforo e faz o fósforo migrar do fluido extracelular para
o fluido intracelular.
Acontece o balanço negativo do
fósforo por várias razões: hipocloridria, alterações da dieta, disbiose e uso
de antiácidos, pois estes quelam o fósforo impedindo sua absorção.
Discussão:
A interação medicamento alimento é
uma questão muito importante tanto para a eficácia terapêutica quanto para
garantir a ingestão de nutrientes em quantidades suficientes. O que se pode
perceber é que o uso de medicamentos que são utilizados para modificar o pH estomacal visando tratamento
de gastrites ou até mesmo de úlceras gástricas podem interferir na absorção de
nutrientes fundamentais como cálcio e ferro. Quando utilizado produtos como o
leite de magnésia o tratamento fica mais facilitado porque pode-se espaçar os
horários de administração do medicamento e do alimento, porém quando utilizados
medicamentos como ranitidina ou omeprazol, deve-se pensar muito bem a dieta das
pessoas que precisem fazer uso desses medicamentos.
Legislação:
Não existe legislação acerca de
interações de medicamento com alimentos, a utilização destes é parte da atuação
clínica dos profissionais da saúde.
Conclusão:
Os profissionais de saúde devem
considerar as alterações que os antiácidos podem provocar no trato
gastrintestinal para preveni-las ou tratá-las. E, ainda, devem estabelecer uma
conduta dietoterápica adequada devido à absorção prejudicada de alguns
nutrientes.
Os pacientes que realmente necessitem
fazer uso desses medicamentos devem ser aconselhados a dar um intervalo de pelo
menos duas horas entre a utilização de um antiácido e um suplemento.
STOCKLEY, I. – Drug interaction. Oxford, Blackwell, 1991.
BRANCO, C. C. Carlos – Interação fármaco nutriente. Revista
RECCS Fortaleza, n°9. P. 30-34. 1997
MOURA, R. L. Mirian; REYES, R. G.
Felix. Interação fármaco-nutriente: uma
revisão. Rev. Nutr. [online]. maio/ago. 2002, vol.15, n°2 P.223-238.
Este tema é de grande valia não so para eu que sou estudante de farmácia mas como qualquer outra pessoa. É muito grande o número de pessoas que tomam medicamentos e não pensam em como a alimentação esta relacionada com a eficiência do fármaco, ou em como nossa absorção de nutrientes pode se tornar deficiente pelo uso do mesmo. Outro caso que pode ser correlacionado é como o suco de alguma futas cítricas podem inibir enzimas microssomais assim diminuindo a metabolização de determinados medicamentos.
ResponderExcluirEste é um tema ainda pouco conhecido pela sociedade e pouco explicado pelos profissionais de saúde aos pacientes. Os alimentos são essenciais para manutenção da saúde, mas também são capazes de interagir com fármacos, sendo um problema na prática clínica, podendo causar alterações no início de ação de ação, nos efeitos farmacológicos ou na biotransformação do fármaco e este, por sua vez, pode modificar a utilização do nutriente, interferindo tanto na eficácia terapêutica como na manutenção do estado nutricional. O fenômeno de interação fármaco-nutriente pode surgir antes ou durante a absorção gastrintestinal, durante a distribuição e armazenamento nos tecidos, no processo de biotransformação ou mesmo durante a excreção. Essas interações podem alterar a disponibilidade, a ação ou a toxicidade de um fármaco, elevando o risco de possíveis efeitos adversos e aumento indevido da dose por má utilização do medicamento. Este fenômeno pode ocorrer em todas as faixas etárias, porém o excessivo número de medicamentos aliado à idade são os principais fatores que tornam os idosos vítimas potenciais da interação medicamento-alimento.
ResponderExcluirE, hoje há inúmeras publicações sobre este assunto, onde são relatadas interações de certos fármacos de uso rotineiro, como omeprazol, AINES, ácido acetil salicílico, com alimentos, onde foi observada irritação na mucosa e redução da eficácia. Estes estudos reforçam o papel do profissional de saúde em informar o uso correto de um medicamento e a importância de sempre se manter atualizado.
Esse trabalho é de grande valia pelo alerta que ele realiza. Infelizmente, a população de um modo geral não associa nem a dieta nem o uso de medicamentos à alteração na absorção de outros fármacos. E ainda como não existe legislação e o leite de magnésia (por exemplo) é de venda livre, a utilização dele por meio da automedicação pode provocar danos à saúde de um paciente que realize uso crônico de um fármaco. Isso evidencia à necessidade de aconselhamento por parte da equipe de saúde, não somente o médico, de orientar e prestar assistência à pacientes e à população em geral.
ResponderExcluirÉ exatamente esse tipo de informação que deveria chegar à população. A interação entre medicamentos já é assunto mais trabalhado e que, mesmo assim, ainda têm pouco impacto sobre a população brasileira. A interação fármaco-alimento é menos conhecida ainda. É fundamental ter conhecimento sobre a interação entre alimentos e fármacos pois essa é a forma mais comum de interação, se não houver um certo controle da alimentação um tratamento inteiro pode não ser efeito devido a dieta durante o período.
ResponderExcluirEssa ignorância na questão da interação entre alimentos e medicamentos pode ser ainda mais grave quando associado com os riscos da auto-medicação. O aumento de toxicidade de um medicamento devido à dieta pode trazer um perigo muito grande à saúde.
O governo precisa trazer mais programas de conscientização tanto sobre os riscos da auto-medicação, quanto sobre a necessidade de ser orientado por um profissional da saúde inclusive sobre a alimentação necessária durante o uso de um medicamento.
Artigo muito interessante e importante para a população. A interação de fármacos com alimentos é um dos maiores entraves nas terapias medicamentosas crônicas, principalmente em idosos. O caso dos antiácidos é clássico e sempre mencionado neste tópico. A interação fármaco-alimento é maléfica em ambos sentidos: o fármaco não é absorvido pelo organismo causando uma interrupção no tratamento, assim como o alimento causando um desfalque nutricional. É importante comentar, também, pacientes que usam medicamentos que devem ser ingeridos em jejum e a manutenção do mesmo por tempo pré-determinado em bula. Nesse caso, cito a levotiroxina para reposição hormonal em hipotiroidismo. Muitos pacientes que usam esse fármaco não esperam o tempo necessário para sua absorção, ingerindo alimentos logo após a ingestão do comprimido. Esse tema deve ser levado em consideração na atenção farmacêutica na dispensação de medicamentos e na consulta médica como orientação.
ResponderExcluirA população associa a ideia de medicamento, assim como alimentos, à uma melhora na saúde. Acredito ser de grande importância alertá-los quando o excesso de um ou outro causa mais prejuízos do que benefícios. O trabalho é, portanto, importante pois foca justamente nisso. Os antiácidos são medicamentos vendidos livremente, o que passa uma noção de não terem riscos graves. Porém, como foi dito, pode levar à uma anemia ferropriva mesmo que a pessoa tenha uma alimentação rica em ferro. Cabe aos profissionais de saúde alertar o paciente sobre as recomendações exatas para utilização destes medicamentos, incluindo os melhores horarios, doses máximas, etc.
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