Chocobeauty: Gato por lebre?
Ele pode ser calórico e provocar espinhas, mas
encontrar alguém que diga não a um chocolate sem demonstrar tristeza é coisa
rara. Tentando fugir dos problemas que o doce traz para as pessoas que querem
manter seus pesos mas não abrem mão de um chocolate no fim do dia, muitos
consumidores procuram por produtos milagrosos, que prometem trazer todos os
benefícios desejados sem por isso acarretar qualquer problema. Dentre eles, o
Chocobeauty. Mas até onde podemos confiar na prateleira do supermercado?
Introdução:
A primeira produção de
cacau que se tem registrada vem do México, onde era cultivado pelos Astecas e
os Maias. O pé de Cacau (Cacaueiro) era considerado sagrado. Suas sementes eram
tão valiosas que chegavam até a ser usadas como moeda.
Mais tarde, em território
europeu, foi aprimorado o processo original do chocolate. Para a realização do
chocolate, primeiramente as sementes eram retiradas da fruta de cacau, sendo
esta a base principal para o produto. Com o aperfeiçoamento de diversas
técnicas chegou-se ao licor, criando-se um chocolate em pó de boa qualidade, o
que tornou possível a criação do primeiro chocolate em barra.
Os consumidores atualmente
procuram por produtos cada vez mais saudáveis e inovadores, que sejam seguros e
práticos em sua utilização. Nesse sentido, a tendência mundial é o crescimento
de produtos denominados diet, light e com adição de componentes específicos,
indicados pela indústria para quem está preocupado com a estética e em manter
hábitos alimentares saudáveis. Esses produtos, então, estão se tornando
indispensáveis na prateleira do consumidor brasileiro.
Seguindo esta tendência, a
empresa brasileira Beauty’in lançou, recentemente, o chocolate Chocobeauty.
Endossado por uma apresentadora conhecida pelo público, o produto promete ser a
solução para a mulher que deseja comer chocolate sem engordar, regulando o
trânsito gastrointestinal e, ainda, com benefícios antiidade para a pele. Para
atingir essas expectativas, Chocobeauty é rotulado e vendido como “0%
açúcares”, “Rico em fibras” e “Com colágeno”, respectivamente.
Legislação:
Ao analisar a legislação
pertinente à rotulagem de produtos com necessidade de informação nutricional
complementar (RDC Nº 54 de 2012), observa-se as seguintes regras na utilização
de determinadas afirmações na rotulagem:
- “Sem adição de açúcar”:o
alimento não pode conter açúcares adicionados; ingredientes que contenham
açúcares adicionados; e ingredientes que contenham naturalmente açúcares e que
sejam adicionados aos alimentos como substitutos dos açúcares para fornecer
sabor doce;
- “0% açúcar”: o alimento
deve conter um máximo de 0,5 g de açúcares por porção;
- “Rico em fibras”: o
alimento deve conter um mínimo de 5g de fibras alimentares por porção;
- “Com colágeno”: o
alimento deve conter um mínimo de 6g da proteína por porção.
Além disso, há uma
tentativa de diferenciação do chocolate com relação a outros chocolates diet.
Desta forma, indiretamente o consumidor pode deduzir que se trata também de um
produto com propriedades dietéticas.
Com relação a isso, é possível perceber que a legislação específica para
informação nutricional complementar permite que sejam vendidos produtos que
utilizam sua dubiedade para ludibriar o consumidor, que geralmente interpreta
os termos “light” e “diet” como referentes a produtos que podem ser utilizados
em dietas de emagrecimento e irão ser mais saudáveis do que produtos
convencionais.
Análise
bromatológica:
Produtos
alimentícios com alegações de características nutricionais especiais devem ser
atentamente analisados para que se possa garantir que o consumidor não está
“comprando gato por lebre”.
O produto
analisado, o chocolate Chocobeauty, traz em seu rótulo e em sua propaganda
diversas alegações de características especiais que soam muito atraentes para
consumidores que desejam obter a satisfação ao se alimentar com chocolate mas
de forma saudável e ainda trazendo benefícios para sua saúde. No rótulo do
chocolate ao leite, encontramos as seguintes características:
“0% açúcar”: O
produto afirma conter 0% de açúcar. Para cumprir esse requisito, conforme
analisado no item anterior, deveria conter no máximo 0,5g de açúcar por porção.
A tabela nutricional informa a presença de 2,7g de açúcar por porção.
“Rico em
fibras”: O produto afirma ser rico em fibras. Para cumprir esse requisito, de
acordo com a legislação, deveria conter ao menos 5,0g de fibra alimentar por
porção. Em sua tabela nutricional, informa-se que o mesmo contém 3,2g de fibras
alimentares.
“Com colágeno”:
O chocolate afirma conter colágeno. Segundo a RDC nº54/2012, para isso deveria
conter 6g de proteína por porção. No rótulo, lê-se 2,0g.
Percebe-se,
portanto, que o rótulo do produto em questão apresenta-se completamente fora do
determinado em legislação e com o objetivo único de convencer o consumidor
desavisado.
Com relação ao
colágeno, é importante ainda que se faça uma análise crítica da administração
por via oral de proteínas. O colágeno, assim como qualquer outra proteína, é
composto por aminoácidos e tem a particularidade de compor a matriz
extracelular do tecido conjuntivo. Por isso, atualmente, usa-se essa substância
como apelo para a manutenção da beleza da pele e o efeito antiidade de muitos
produtos. Porém, quando pensamos sobre o processo digestivo, é importante
lembrar que as proteínas são digeridas no nosso trato gastrointestinal, sendo
desconstruídas de sua estrutura e divididas em aminoácidos isolados, que não
representam nenhuma proteína específica.
Dessa forma, mesmo que um produto seja
realmente adicionado de colágeno, por maior que seja a quantidade, nenhum
colágeno, íntegro, será absorvido no intestino do consumidor. Isso configura
mais uma jogada estratégica que os produtos usam para convencer o consumidor a
comprá-los.
Cabe ainda uma
análise crítica da propaganda do produto, que se vende como saudável e se
compara a produtos diet, apesar de não afirmar sê-lo. Uma simples análise do
rótulodo produto, comparado a chocolates comuns na prateleira do consumidor, sem
características nutricionais especiais, nos leva a questionar a saúde que o
produto vende.
De
acordo com os rotúlos acima, é possível perceber por exemplo que no caso do
chocolate ao leite “Batom”, o valor energético em Kcal corresponde a 4% de VD,
enquanto o chocobeaty supera em em 2% o valor energético deste. Além disso, o
mesmo é observado para caboidratos, gorduras totais, saturadas e trans.
Portanto, conforme mencionado anteriomente é notório que o produto abordado não
apresenta-se como a opção mais saudável e menos calórica para o consumidor.
Destacando-se a importância do maior
esclarecimento por parte dos consumidores aliado a necessidade de uma
regulamentação mais rígida destes produtos e suas propagandas.
Referências bibliográficas:
www.beautyin.net.br
http://www.portaleducacao.com.br/culinaria/artigos/48619/historia-do-chocolate-no-brasil-e-no-mundo#ixzz32gLgZFSU
RDC 54/2012
Dupla: Fábio Sanches e Gabrielle Neves
Gostaria de agradecer por esse post. Primeiro por estar totalmente esclarecedor e desmitificando a realidade por trás das propagandas modernas, em que tudo hoje em dia parece ser mais saudável. Vemos aqui que claramente trata-se de uma estrategia de marketing.
ResponderExcluirMuitas vezes somos enganados a pensar que um produto é mais saudavel e benéfico para saúde apenas pela propagando que vem em seus rotulos, mas se formos analisar friamente suas informações nutricionais, vemos que estão sendo feitos de palhaços.
Esse chocolate por exemplo, muitas vezes já consumi enganada, e para ser sincera o gosto é extremamente ruim.
Mais uma vez obrigada pelo esclarecimento do blog.
Marcella Chaves Flores
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