Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Chocobeauty


Chocobeauty: Gato por lebre?
 

Ele pode ser calórico e provocar espinhas, mas encontrar alguém que diga não a um chocolate sem demonstrar tristeza é coisa rara. Tentando fugir dos problemas que o doce traz para as pessoas que querem manter seus pesos mas não abrem mão de um chocolate no fim do dia, muitos consumidores procuram por produtos milagrosos, que prometem trazer todos os benefícios desejados sem por isso acarretar qualquer problema. Dentre eles, o Chocobeauty. Mas até onde podemos confiar na prateleira do supermercado? 


Introdução:

A primeira produção de cacau que se tem registrada vem do México, onde era cultivado pelos Astecas e os Maias. O pé de Cacau (Cacaueiro) era considerado sagrado. Suas sementes eram tão valiosas que chegavam até a ser usadas como moeda.
Mais tarde, em território europeu, foi aprimorado o processo original do chocolate. Para a realização do chocolate, primeiramente as sementes eram retiradas da fruta de cacau, sendo esta a base principal para o produto. Com o aperfeiçoamento de diversas técnicas chegou-se ao licor, criando-se um chocolate em pó de boa qualidade, o que tornou possível a criação do primeiro chocolate em barra.
Os consumidores atualmente procuram por produtos cada vez mais saudáveis e inovadores, que sejam seguros e práticos em sua utilização. Nesse sentido, a tendência mundial é o crescimento de produtos denominados diet, light e com adição de componentes específicos, indicados pela indústria para quem está preocupado com a estética e em manter hábitos alimentares saudáveis. Esses produtos, então, estão se tornando indispensáveis na prateleira do consumidor brasileiro.
Seguindo esta tendência, a empresa brasileira Beauty’in lançou, recentemente, o chocolate Chocobeauty. Endossado por uma apresentadora conhecida pelo público, o produto promete ser a solução para a mulher que deseja comer chocolate sem engordar, regulando o trânsito gastrointestinal e, ainda, com benefícios antiidade para a pele. Para atingir essas expectativas, Chocobeauty é rotulado e vendido como “0% açúcares”, “Rico em fibras” e “Com colágeno”, respectivamente.

Legislação:

Ao analisar a legislação pertinente à rotulagem de produtos com necessidade de informação nutricional complementar (RDC Nº 54 de 2012), observa-se as seguintes regras na utilização de determinadas afirmações na rotulagem:
- “Sem adição de açúcar”:o alimento não pode conter açúcares adicionados; ingredientes que contenham açúcares adicionados; e ingredientes que contenham naturalmente açúcares e que sejam adicionados aos alimentos como substitutos dos açúcares para fornecer sabor doce;
- “0% açúcar”: o alimento deve conter um máximo de 0,5 g de açúcares por porção;
- “Rico em fibras”: o alimento deve conter um mínimo de 5g de fibras alimentares por porção;
- “Com colágeno”: o alimento deve conter um mínimo de 6g da proteína por porção.
Além disso, há uma tentativa de diferenciação do chocolate com relação a outros chocolates diet. Desta forma, indiretamente o consumidor pode deduzir que se trata também de um produto com propriedades dietéticas.
Com relação a isso, é possível perceber que a legislação específica para informação nutricional complementar permite que sejam vendidos produtos que utilizam sua dubiedade para ludibriar o consumidor, que geralmente interpreta os termos “light” e “diet” como referentes a produtos que podem ser utilizados em dietas de emagrecimento e irão ser mais saudáveis do que produtos convencionais.

Análise bromatológica:

Produtos alimentícios com alegações de características nutricionais especiais devem ser atentamente analisados para que se possa garantir que o consumidor não está “comprando gato por lebre”.
O produto analisado, o chocolate Chocobeauty, traz em seu rótulo e em sua propaganda diversas alegações de características especiais que soam muito atraentes para consumidores que desejam obter a satisfação ao se alimentar com chocolate mas de forma saudável e ainda trazendo benefícios para sua saúde. No rótulo do chocolate ao leite, encontramos as seguintes características:
“0% açúcar”: O produto afirma conter 0% de açúcar. Para cumprir esse requisito, conforme analisado no item anterior, deveria conter no máximo 0,5g de açúcar por porção. A tabela nutricional informa a presença de 2,7g de açúcar por porção.
“Rico em fibras”: O produto afirma ser rico em fibras. Para cumprir esse requisito, de acordo com a legislação, deveria conter ao menos 5,0g de fibra alimentar por porção. Em sua tabela nutricional, informa-se que o mesmo contém 3,2g de fibras alimentares.
“Com colágeno”: O chocolate afirma conter colágeno. Segundo a RDC nº54/2012, para isso deveria conter 6g de proteína por porção. No rótulo, lê-se 2,0g.
Percebe-se, portanto, que o rótulo do produto em questão apresenta-se completamente fora do determinado em legislação e com o objetivo único de convencer o consumidor desavisado.
Com relação ao colágeno, é importante ainda que se faça uma análise crítica da administração por via oral de proteínas. O colágeno, assim como qualquer outra proteína, é composto por aminoácidos e tem a particularidade de compor a matriz extracelular do tecido conjuntivo. Por isso, atualmente, usa-se essa substância como apelo para a manutenção da beleza da pele e o efeito antiidade de muitos produtos. Porém, quando pensamos sobre o processo digestivo, é importante lembrar que as proteínas são digeridas no nosso trato gastrointestinal, sendo desconstruídas de sua estrutura e divididas em aminoácidos isolados, que não representam nenhuma proteína específica.
 Dessa forma, mesmo que um produto seja realmente adicionado de colágeno, por maior que seja a quantidade, nenhum colágeno, íntegro, será absorvido no intestino do consumidor. Isso configura mais uma jogada estratégica que os produtos usam para convencer o consumidor a comprá-los.
Cabe ainda uma análise crítica da propaganda do produto, que se vende como saudável e se compara a produtos diet, apesar de não afirmar sê-lo. Uma simples análise do rótulodo produto, comparado a chocolates comuns na prateleira do consumidor, sem características nutricionais especiais, nos leva a questionar a saúde que o produto vende.


 

De acordo com os rotúlos acima, é possível perceber por exemplo que no caso do chocolate ao leite “Batom”, o valor energético em Kcal corresponde a 4% de VD, enquanto o chocobeaty supera em em 2% o valor energético deste. Além disso, o mesmo é observado para caboidratos, gorduras totais, saturadas e trans. Portanto, conforme mencionado anteriomente é notório que o produto abordado não apresenta-se como a opção mais saudável e menos calórica para o consumidor. Destacando-se a importância  do maior esclarecimento por parte dos consumidores aliado a necessidade de uma regulamentação mais rígida destes produtos e suas propagandas.
 

Referências bibliográficas:

www.beautyin.net.br

http://www.portaleducacao.com.br/culinaria/artigos/48619/historia-do-chocolate-no-brasil-e-no-mundo#ixzz32gLgZFSU

RDC 54/2012

Dupla: Fábio Sanches e Gabrielle Neves

Um comentário:

  1. Marcella Chaves Flores - aluna Farmácia UFRJ23 de outubro de 2014 às 09:13

    Gostaria de agradecer por esse post. Primeiro por estar totalmente esclarecedor e desmitificando a realidade por trás das propagandas modernas, em que tudo hoje em dia parece ser mais saudável. Vemos aqui que claramente trata-se de uma estrategia de marketing.
    Muitas vezes somos enganados a pensar que um produto é mais saudavel e benéfico para saúde apenas pela propagando que vem em seus rotulos, mas se formos analisar friamente suas informações nutricionais, vemos que estão sendo feitos de palhaços.
    Esse chocolate por exemplo, muitas vezes já consumi enganada, e para ser sincera o gosto é extremamente ruim.
    Mais uma vez obrigada pelo esclarecimento do blog.

    Marcella Chaves Flores
    dre:110083043

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