Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

domingo, 8 de junho de 2014

Flúor em excesso: Tóxico ou inofensivo?





      O flúor está presente em nossas vidas diariamente, desde ao beber um copo de água, ao escovar os dentes, ao fazer uso de um enxaguante bucal, e até mesmo quando fazemos um tratamento no dentista. O que muitos não sabem é o risco do uso em excesso deste elemento. O fluoreto tem sido amplamente utilizado como um agente terapêutico para a cárie dentária em diversos países devido à sua capacidade de diminuir o processo de desmineralização. Entretanto, a ingestão excessiva de fluoreto pode causar efeitos colaterais, sendo que a fluorose dentária é a mais comum. Além disso, pelo fato do flúor ser um elemento tóxico, quando encontrado em concentrações elevadas também pode causar distúrbios no sistema nervoso central, como: déficit de atenção, concentração e memória.

      Afinal, quais são os efeitos do flúor na saúde? Deve-se fazer uso de diversos produtos contendo flúor ao mesmo tempo? Qual o limite diário de consumo de flúor permitido para diferentes faixas etárias segundo a legislação? Quais as possíveis consequências do uso excessivo de flúor? 


                            Por: Julia de Andrade e Nathany Prado
 INTRODUÇÃO

     No Brasil, ao contrário de vários outros países, a fluoretação da água é obrigatória em todas as cidades. Esse requisito foi promulgado através da lei nº 6050, de 24 de maio de 1974.

     Após a observação de que comunidades com água naturalmente fluoretada tinham menor incidência de cárie dentária, muitos países desenvolvidos iniciaram programas de fluoretação artificial de água, onde o fluoreto é adicionado à água de abastecimento. (LUDLOW et al., 2007).

     O fluoreto tem sido amplamente utilizado como um agente terapêutico para a cárie dentária devido à sua capacidade de diminuir o processo de desmineralização. Dentre os métodos de utilização do fluoreto no controle da cárie, a fluoretação da água e a escovação com dentifrícios fluoretados são os mais comumente empregados. Entretanto, a ingestão excessiva de fluoreto pode causar efeitos colaterais, sendo que a fluorose dentária é a mais comum. Isto implica que a ingestão de fluoreto precisa ser controlada.

     O flúor é uma substância tóxica que pode causar distúrbios no sistema nervoso central como déficit de atenção, concentração e memória, mas somente quando encontrado em concentrações elevadas. Entretanto, a concentração de flúor nas águas da maioria dos estados brasileiros está em torno de 0,7 mg F/la, o que não representa risco para a saúde humana, segundo a literatura. Sabemos que a fluoretação da água pode reduzir a incidência de cárie em até 60%.

     As principais dúvidas relacionadas ao uso do fluoreto dizem respeito a seus efeitos sistêmicos (em outros tecidos diferentes dos tecidos bucais) o que implica na necessidade do conhecimento de uma dose segura que possa ser ingerida sem problemas. Esses dados são relevantes, uma vez que o fluoreto é adicionado na água de abastecimento de muitas cidades brasileiras e nos produtos odontológicos (principalmente dentifrícios) no Brasil e em outros países (BUZALAF et al.; 2001, 2002, 2004).

     A ingestão excessiva de fluoreto por um longo período de tempo pode resultar na fluorose, caracterizada por manchas nos dentes e manifestações esqueléticas como deformidades, osteoporose, esclerose óssea. A fluorose endêmica é observada mundialmente, ocorrendo em todos os continentes e afetando milhões de pessoas (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2006).

  Alguns tipos celulares especialmente sensíveis ao fluoreto são as células ósseas (osteoblastos e osteoclastos), podendo levas ao desenvolvimento de fluorose esquelética em humanos. Hoje é conhecido que o fluoreto também afeta células em tecidos moles, como células renais, endoteliais, das gônadas e neuronais (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 2006).

     Há ainda relatos e estudos que comprovam que a exposição excessiva ao fluoreto aumenta o processo de estresse oxidativo em tecidos moles, como fígado, rim, cérebro, pulmão, testículos. A fluorose ainda inibe a atividade de enzimas antioxidantes dentre elas a glutationa peroxidase, alterando os níveis de glutationa.

     O flúor não é um elemento essencial para a saúde humana, mas tem um papel preventivo indiscutível na prevenção e no aparecimento da cárie. Por outro lado, trabalhos recentes demonstraram que, nos países onde a fluoretação foi abolida como Canadá, Alemanha, Cuba e Finlândia, o índice de aparecimento de cárie dental não sofreu nenhuma alteração.


LEGISLAÇÃO

      Como dito anteriormente, no Brasil, a fluoretação da água é obrigatória em todas as cidades, a partir da promulgação da lei nº 6050, de 24 de maio de 1974. Porém nem todos os países possuem leis que estabeleçam essa obrigatoriedade, e alguns exemplos de países que não possuem o fluoreto adicionado à água são: Bélgica, Finlândia e Itália.

      Informações para todas as faixas etárias (adultos, lactentes e crianças, e gestantes e lactantes) quanto à ingestão diária recomendada (IDR) de flúor está disponível na RDC 269, de 22 de setembro de 2005, publicada pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), referente ao "REGULAMENTO TÉCNICO SOBRE A INGESTÃO DIÁRIA RECOMENDADA (IDR) DE PROTEÍNA, VITAMINAS E MINERAIS". Estes valores foram agregados conforme na tabela abaixo.

Tabela 1 - Ingestão Diária Recomendada de Flúor – Legislação Nacional

(c) mg alfa-TE/dia; 1,49 UI = 1mg d-alfa-tocoferol (1).


     De acordo com a legislação internacional, Food and Nutrition Board, Institute of Medicine, National Academies, os valores da ingestão diária recomendada do flúor (IDR), levando em consideração as faixas etárias, podem ser observados na tabela abaixo.


 Tabela 2 - Ingestão Diária Recomendada de Flúor – Legislação Internacional























FUNDAMENTOS BROMATOLÓGICOS E DISCUSSÃO


     O flúor é um elemento amplamente conhecido por seus efeitos como agente terapêutico no tratamento da cárie dentária. Além da água, que no Brasil é obrigatoriamente fluoretada, diversos produtos contém flúor, como: cremes dentais, enxaguantes bucais, produto de aplicação tópica por profissional treinado, e até em alguns alimentos. Dois exemplos de cremes dentais, evidenciando sua concentração de flúor, usando como referência produtos da Colgate, são: o Creme Dental Colgate Total 12 Clean Mint, que contém em sua composição o Fluoreto de Sódio (1450 ppm de Flúor), e o Creme Dental Colgate Smiles Barbie 6+ Anos (desenvolvido para crianças acima de 6 anos) contém em sua composição Fluoreto de Sódio (1100 ppm de flúor). Já em relação a composição de enxaguantes bucais, levando como exemplo o Antisséptico Bucal Plax Fresh Mint, este contém 225ppm de Flúor em sua composição, enquanto o Antisséptico Bucal Plax Kids contém a mesma concentração.

     Com tudo que foi dito anteriormente, é necessário haver muito cuidado com relação ao uso excessivo de produtos que contenham flúor, levando em consideração que a água que consumimos no Brasil já é fluoretada. Este cuidado deve ser tomado para evitar problemas futuros como fluorose, osteoporose,distúrbios no sistema nervoso central, devido ao caráter tóxico do flúor.
Sabendo que no Brasil há ingestão do flúor, é importante saber algumas das maneiras pelas quais ele age quando administrado desta maneira. O flúor ingerido é rapidamente absorvido pela mucosa do estômago e do intestino delgado. Já a sua via de eliminação são os rins, responsáveis por eliminarem 50% do flúor diariamente ingerido, e o restante acaba buscando um refúgio em alguma parte do corpo, que geralmente é junto ao cálcio de algum dos tecidos conjuntivos. Como os dentes e os ossos são os maiores reservatórios de cálcio, é para lá que o excesso de flúor tende a se dirigir, passando a deformá-los e a provocar o que cientificamente se conhece como fluorose, citada diversar vezes anteriormente. Em casos de pessoas com disfunções renais, ao não haver a perfeita eliminação do excesso de flúor, levam a um aumento dos riscos da fluorose. No caso dos ossos, dentes e glândula pineal, acrescenta-se ainda a facilidade com que os íons de flúor substituem os da hidroxila OH- e se incorporam à estrutura dos cristais de apatita. Por isso, diante do excesso de flúor, esses tecidos perdem a flexibilidade e se tornam extremamente rígidos e quebradiços.

     Além disso, em relação à questão da fluoretação da água, é importante ressaltar que é algo muito controverso, por diversas razões. A primeira é referente à OMS (Organização Mundial de Saúde), que considera o flúor um medicamento, mas ainda assim, incentiva não só: os auto-cuidados de higiene bucal (escovação adequada), aplicação tópica de flúor feita por profissionais treinados e fluoretação de cremes dentais (dentifrícios), como também a fluoretação da água de consumo público. A única razão para tal atitude é a prevenção e busca ao combate de cáries. Porém, em momento algum a OMS cita os problemas que o consumo de flúor em excesso pode causar ao ser humano. Outra razão para essa contradição, é que apesar de o flúor desempenhar um papel importante na prevenção e no aparecimento da cárie, ele não é um elemento essencial para a saúde humana, não devendo ser de consumo obrigatório à população. Mais uma razão para esta controvérsia é o fato do benefício gerado pelo uso do flúor é principalmente relacionado a sua aplicação tópica e não sistêmica, não sendo coerente a população ser obrigada a beber o flúor através da água. Uma última razão a ser explicada é a existência de pesquisas realizadas pela própria Organização Mundial de Saúde, e também pelos centros para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, nas quais revelam que não houve diferenças relevantes no declínio da taxa de dentes cariados em países onde não há a fluoretação das águas de abastecimento público, em comparação com países em que há adição de fluoreto à água. Logo, o uso de produtos contendo flúor podem ser importantes na prevenção da cárie, porém o consumo de água fluoretada com este mesmo objetivo, parece cada vez mais desnecessário.


CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES

     De acordo com todas as informações evidenciadas acima, o uso do flúor tópico traz benefícios indiscutíveis na prevenção e no aparecimento da cárie. Porém, não deve ser feito uso excessivo deste elemento, pois ele é tóxico, podendo gerar muitas consequências ruins, como a fluorose ou distúrbios no sistema nervoso central, por exemplo. Além disso, a fluoretação da água, obrigatória em determinados países, como o Brasil, é bastante controverso, pois a ação do flúor é tópica, não sendo necessário beber água fluoretada para alcançar o mesmo objetivo. E além disso, países que não possuem a água fluoretada, não apresentam um índice de dentes cariados maior que o dos países que tornaram a fluoretação da água obrigatória. Portanto, seria interessante realizar possíveis estudos específicos, buscando obter uma definição em relação à necessidade da água ser fluoretada, e caso seja comprovado que a adição deste elemento à água é desnecessária, deve haver uma modificação na legislação atual.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Buzalaf MA, Granjeiro JM, Damante CA, de Ornelas F. Fluoride content f infant formulas prepared with deionized, bottled mineral and fluoridated drinking water. ASDC J Dent Child. 2001; 68(1):37-41, 10.

Buzalaf MA, Granjeiro JM, Duarte JL, Taga ML. Fluoride contento f infants foods in Brazil and risk of dental flourosis. ASDC J Dent Child. 2002; 69(2):196-200.

Buzalaf MA, Carroselli EE, Cardoso de Oliveira R, Granjeiro JM, Whitford GM. Nail and boné surface as biomarkers for acute floride exposure in rats. J Anal Toxicol. 2004; 28(4):249-52.

Burt BA. The changing patters os systemic fluoride intake. J Dent Res. 1992; 71(5):1228-37.

Institute of Medicine. Food and Nutrition Board.Dietary Reference Intakes.National Academic Press, Washington D.C., 1999-2001.

Ludlow M, Luxton G, Mathew T. Effects of fluoridation of community water supplies for people with chronic kidney disease. Nephrol Dial Transplant. 2007; 22(10):2763-7.

BRASIL. RDC 269, de 22 de setembro de 2005. REGULAMENTO TÉCNICO SOBRE A INGESTÃO DIÁRIA RECOMENDADA (IDR) DE PROTEÍNA, VITAMINAS E MINERAIS.

4 comentários:

  1. Mas se já foi comprovado que não há necessidade do flúor na água, porque o benefício é o mesmo nos países que foi abolido. E porque estão insistindo em manter o flúor na água? Assim com mentes fracas, falta de concentração e de memória, será fácil para eles enganarem o povo e roubarem cada vez mais. O povo precisa acordar urgentemente, antes que tudo se perca.

    ResponderExcluir
  2. Mas se já foi comprovado que não há necessidade do flúor na água, porque o benefício é o mesmo nos países que foi abolido. E porque estão insistindo em manter o flúor na água? Assim com mentes fracas, falta de concentração e de memória, será fácil para eles enganarem o povo e roubarem cada vez mais. O povo precisa acordar urgentemente, antes que tudo se perca.

    ResponderExcluir