Pode parecer
nojento, mas o consumo de insetos tem sido apontado como uma solução viável para
a carência nutricional global. Entre milhões de espécies de insetos conhecidas,
quase 1,7 mil são consumidas por humanos. Geralmente, a preferência é devido ao
sabor. Os mais consumidos são: lagartas, percevejos, gafanhotos, baratas e ovos
de formiga. No Brasil, em algumas regiões, consomem-se larvas e pupas de moscas
e formigas tanajuras, as quais são servidas fritas e com farinha.
Do ponto de vista nutricional, os insetos, de maneira geral,
representam alimentos ricos em proteínas e gorduras insaturadas, porém pobres
em gorduras saturadas. Eles têm qualidades nutricionais importantes e também são
importantes fontes de vitaminas e sais minerais. Como podemos ver na tabela abaixo,
100 gramas de insetos possuem maior quantidade de proteínas do que carnes de
mamíferos e aves. Esse dado é importante visto que alguns pesquisadores prevêem
escassez e encarecimento desse item nos próximos anos, o que afetaria muito a
vida da maioria da população mundial, especialmente dos ocidentais.
Fonte
de alimento (100g)
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Proteína
(g)
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Gafanhotos do gênero Sphenarium
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46
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Formiga da espécie Atta cephalotes
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42,5
|
Carne de frango
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28,9
|
Carne bovina
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29,3
|
Carne de Peru
|
29,3
|
Além da vantagem de
seu alto valor nutricional, um outro benefício da dieta entomofágica é o fato
do cultivo sustentável de insetos diminuir a exploração de bovinos por exemplo.
Por se tratar de animais de “sangue frio”, não gastam a energia proveniente da
alimentação para manter sua temperatura corporal; dessa forma, os insetos
consomem em média apenas 1,7 kg de ração para produzir 1 kg de carne. Os gados,
por outro lado, precisam consumir 7,7 kg de comida para produzir o mesmo 1 kg. A
tabela abaixo compara essa relação para variadas espécies.
Animal
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Kg
de alimento consumido para produzir 1 kg de carne
|
|
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Grilo
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1,7
|
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Frango
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2,2
|
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Vaca
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7,7
|
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Carneiro
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6,3
|
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Porco
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3,6
|
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O valor de um dado animal como fonte de
alimento para a espécie humana não apenas é determinado por seu aporte
nutritivo, mas também se relaciona com a eficácia com que ele converte o
alimento que consume em peso de seu próprio corpo. Em outras palavras, o peso
mais alto que se ganha por cada grama de alimento consumido corresponde ao
animal mais eficiente na conversão do alimento. Estudos apontam que os insetos
comestíveis são altamente eficientes, competindo apenas com o frango. Um grilo
pode ser menor que um boi, mas converte as plantas que consome em biomassa
cinco vezes mais rápido.
O problema dessa dieta é sem dúvidas o pudor
alimentar da cultura ocidental, onde os insetos são considerados
animais nocivos, transmissores de doenças e pragas. Basicamente trata-se de um
problema de hábito alimentar, ainda não desenvolvido ou disseminado, mas que
promete ganhar força ao longo dos próximos anos.
Do
ponto de vista da legislação, as leis e regulamentações ainda permanecem
obscuras, o que existe é determinação de limites de presença de insetos em
alimentos para consumo humano, tratando apenas de limites de contaminação. A
comercialização e controle de qualidade para o consumo de insetos ainda não é
regulamentado, pelo menos no Brasil. O que existe no país é o uso de insetos
para complementar a alimentação (ração) de animais.
O
uso de insetos comestíveis na alimentação, se explorado de maneira sustentável,
representa um enorme potencial alimentar no que diz respeito à redução do
problema de deficiência protéica que existe em grande parte do mundo. É preciso
mudar a ideia de que insetos não podem ser incluídos na alimentação do
dia-a-dia. Passemos, então, a saborear pastéis de grilos, doces de baratas-d’água
em conserva, lagartas ao molho de maracujá e outras guloseimas!
Referências:
ü Carrera
M (1992) Entomofagia humana. Revista Brasileira de
Entomologia 36:889-894.
ü Coimbra
Júnior CEA, Santos RV (1993) Bicudo das palmáceas: praga ou alimento? Ciência
Hoje 16(95): 59-60.
ü Costa-Neto
EM (2000) Insetos no cardápio. Ciência Hoje 27(161): 63-65.
Post interessantíssimo!!! Insetos com certeza são uma grande alternativa, que é de certa maneira praticada há anos na cultura oriental. Além de ter o uso como fonte de alimentos justificada nutricionalmente, deve-se considerar o impacto ambiental que envolve a pratica pecuária, o qual seria consideravelmente diminuído ao se utilizar insetos.
ResponderExcluirResta apenas acabar com o preconceito do mundo ocidental frente ao consumo de tais iguarias.