Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Dieta Entomofágica X Dieta Convencional: uma solução para a fome mundial?




Por Sérgio Maurício Ribeiro e Evani Freitas,

Os dados de pessoas subnutridas hoje no mundo são alarmantes. Para os próximos anos a projeção desses dados é ainda mais assustadora, com o aumento da população não acompanhado pela intensificação da produção alimentícia.  Diante disso a dieta entomofágica ganha força como uma possível solução para tal escassez de nutrientes. Seria plausível a inclusão de insetos na dieta em substituição a outros alimentos? Qual a constituição desses alimentos e qual o impacto que a substituição poderia causar a nível global?


Pode parecer nojento, mas o consumo de insetos tem sido apontado como uma solução viável para a carência nutricional global. Entre milhões de espécies de insetos conhecidas, quase 1,7 mil são consumidas por humanos. Geralmente, a preferência é devido ao sabor. Os mais consumidos são: lagartas, percevejos, gafanhotos, baratas e ovos de formiga. No Brasil, em algumas regiões, consomem-se larvas e pupas de moscas e formigas tanajuras, as quais são servidas fritas e com farinha.

Do ponto de vista nutricional, os insetos, de maneira geral, representam alimentos ricos em proteínas e gorduras insaturadas, porém pobres em gorduras saturadas. Eles têm qualidades nutricionais importantes e também são importantes fontes de vitaminas e sais minerais. Como podemos ver na tabela abaixo, 100 gramas de insetos possuem maior quantidade de proteínas do que carnes de mamíferos e aves. Esse dado é importante visto que alguns pesquisadores prevêem escassez e encarecimento desse item nos próximos anos, o que afetaria muito a vida da maioria da população mundial, especialmente dos ocidentais.


Fonte de alimento (100g)
Proteína (g)
Gafanhotos do gênero Sphenarium
46
Formiga da espécie Atta cephalotes
42,5
Carne de frango
28,9
Carne bovina
29,3
Carne de Peru
29,3


Além da vantagem de seu alto valor nutricional, um outro benefício da dieta entomofágica é o fato do cultivo sustentável de insetos diminuir a exploração de bovinos por exemplo. Por se tratar de animais de “sangue frio”, não gastam a energia proveniente da alimentação para manter sua temperatura corporal; dessa forma, os insetos consomem em média apenas 1,7 kg de ração para produzir 1 kg de carne. Os gados, por outro lado, precisam consumir 7,7 kg de comida para produzir o mesmo 1 kg. A tabela abaixo compara essa relação para variadas espécies.


Animal
Kg de alimento consumido para produzir 1 kg de carne
Grilo
1,7
Frango
2,2
Vaca
7,7
Carneiro
6,3
Porco
3,6


O valor de um dado animal como fonte de alimento para a espécie humana não apenas é determinado por seu aporte nutritivo, mas também se relaciona com a eficácia com que ele converte o alimento que consume em peso de seu próprio corpo. Em outras palavras, o peso mais alto que se ganha por cada grama de alimento consumido corresponde ao animal mais eficiente na conversão do alimento. Estudos apontam que os insetos comestíveis são altamente eficientes, competindo apenas com o frango. Um grilo pode ser menor que um boi, mas converte as plantas que consome em biomassa cinco vezes mais rápido.

O problema dessa dieta é sem dúvidas o pudor alimentar da cultura ocidental, onde os insetos são considerados animais nocivos, transmissores de doenças e pragas. Basicamente trata-se de um problema de hábito alimentar, ainda não desenvolvido ou disseminado, mas que promete ganhar força ao longo dos próximos anos.

Do ponto de vista da legislação, as leis e regulamentações ainda permanecem obscuras, o que existe é determinação de limites de presença de insetos em alimentos para consumo humano, tratando apenas de limites de contaminação. A comercialização e controle de qualidade para o consumo de insetos ainda não é regulamentado, pelo menos no Brasil. O que existe no país é o uso de insetos para complementar a alimentação (ração) de animais.

O uso de insetos comestíveis na alimentação, se explorado de maneira sustentável, representa um enorme potencial alimentar no que diz respeito à redução do problema de deficiência protéica que existe em grande parte do mundo. É preciso mudar a ideia de que insetos não podem ser incluídos na alimentação do dia-a-dia. Passemos, então, a saborear pastéis de grilos, doces de baratas-d’água em conserva, lagartas ao molho de maracujá e outras guloseimas!


Referências:

ü  Carrera M (1992) Entomofagia humana. Revista Brasileira de Entomologia 36:889-894.

ü  Coimbra Júnior CEA, Santos RV (1993) Bicudo das palmáceas: praga ou alimento? Ciência Hoje 16(95): 59-60.

ü  Costa-Neto EM (2000) Insetos no cardápio. Ciência Hoje 27(161): 63-65.

Um comentário:

  1. Nicholas Tiellet - Aluno 8° período Farmácia UFRJ31 de outubro de 2014 às 00:28

    Post interessantíssimo!!! Insetos com certeza são uma grande alternativa, que é de certa maneira praticada há anos na cultura oriental. Além de ter o uso como fonte de alimentos justificada nutricionalmente, deve-se considerar o impacto ambiental que envolve a pratica pecuária, o qual seria consideravelmente diminuído ao se utilizar insetos.
    Resta apenas acabar com o preconceito do mundo ocidental frente ao consumo de tais iguarias.

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