Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

sábado, 4 de dezembro de 2010

O morango não saiu do pé e a fonte está um pouco seca. Esse sorvete é bom mesmo para você?





O cálcio é um nutriente essencial. Importante para a formação de ossos e dentes, auxilia na coagulação sanguínea e contração muscular.O leite é o alimento natural com a maior concentração de cálcio.O morango é uma fruta que contém grande quantidade de vitamina C, possui também potássio, ferro e cálcio em sua composição, entre outros nutrientes mas...Sorvete de morango é diferente de sorvete sabor morango.Apesar da imagem no rótulo, o sorvete Kibon não tem morango e a fonte de cálcio não vem do leite.Então, de onde vem o cálcio e o morango deste produto?



O pote de 2 litros de Kibon Morango é um sorvete enriquecido com cálcio, sendo considerado uma fonte deste mineral. Duas bolas deste sorvete, segundo o fabricante, equivalem à mesma quantidade de cálcio encontrada em 100 ml de leite – o que representa 15% da necessidade diária de uma pessoa. No entanto, este produto é um sorvete de sabor morango e em virtude deste fato já deveria estar implícito que a fruta pode ou não estar presente. Além disso, trata-se de um produto que não contém uma fonte de cálcio vinda do leite.

Embora estes sejam fatos reais, a imagem no rótulo de morangos e do leite misturado a bolas da sobremesa pode levar o consumidor a um equívoco, já que a partir deste rótulo se constrói uma informação que não condiz à realidade, tanto no que diz respeito a presença de morango quanto a presença de cálcio proveniente do leite. Essas são estratégias para tornar o produto mais atrativo, apesar de ele não possuir as propriedades presentes no morango ou todas do leite. É necessário, então, avaliar se o cálcio presente no sorvete é o mesmo cálcio presente no leite e se caso não seja, se sua disponibilidade e absorção são equivalentes.

O fato da quantidade do mineral presente em determinada porção do produto ser equivalente ao leite (em cálcio, apenas, como anunciado pelo fabricante), não significa que a disponibilidade e absorção serão a mesma, levando em consideração diferentes tipos de cálcio. Além disso, se no rótulo tem morango no produto também deveria ter morango, sendo esta outra importante avaliação.



A Resolução - RDC nº 259, de 2002 aprova o Regulamento Técnico para Rotulagem de Alimentos Embalados e estabelece que todos os ingredientes devem constar em ordem decrescente, da respectiva proporção. Sendo assim, não há presença da fruta ou polpa da fruta, uma vez que sua descrição não consta no rótulo.


A Resolução - RDC Nº 269, de 2005 aprova o Regulamento Técnico sobre a Ingestão Diária Recomendada (IDR) de Proteínas, Vitaminas e Minerais. Segundo a FAO/OMS (Food and Agriculture Organization of the United Nations/ Organização Mundia da Saúde) a recomendação diária ingestão de cálcio é de 1000mg/dia. Portanto, o valor mencionado de ingestão diária de cálcio está de acordo com a legislação, já que é recomendado para um adulto a ingestão diária de 1000mg e o produto oferece 9%, com base no valor diário, em sua porção.

A Resolução - RDC Nº 2 de 2007 aprova o Regulamento Técnico sobre Aditivos Aromatizantes. Com isso, a utilização de aromatizantes está conforme a legislação.

No entanto, a Resolução - RDC nº 259, de 2002 estabelece que os alimentos embalados não devem ser descritos ou apresentar rótulo que: utilize vocábulos, sinais, denominações, símbolos, emblemas, ilustrações ou outras representações gráficas que possam tornar a informação falsa, incorreta, insuficiente, ou que possa induzir o consumidor a equívoco, erro, confusão ou engano, em relação à verdadeira natureza, composição, procedência, tipo, qualidade, quantidade, validade, rendimento ou forma de uso do alimento. Portanto a imagem de morangos e leite envolvendo bolas do sorvete, podem induzir o consumidor ao equívoco, confusão em relação a natureza, procedência ou composição.

Afinal, de onde vem a fonte de cálcio? Conforme o rótulo (figura 1), 2 bolas de Kibom Morango com Cálcio é igual a 100ml de leite em cálcio, ou seja, o consumo de 2 bolas proporciona a mesma quantidade em cálcio presente em 100ml de leite. Ao analisar os ingredientes (figura 3) constata-se que a fonte de cálcio vem da adição de carbonato de cálcio e não do leite. Este fato demonstra que o enriquecimento com cálcio não é atribuído ao leite e sim ao carbonato de cálcio. Portanto, o valor biológico do mineral, provavelmente, é diferente.


Analisando a informação nutricional (figura 2), observa-se que a porção é de 1 bola, mas levando em consideração que para atingir a mesma quantidade em cálcio de 100ml de leite, deve-se consumir 2 bolas, nestas condições, o valor calórico aumenta significativamente, além dos valores de gorduras totais e saturadas que devem ser consumidas diariamente.


Outro fator importante é que dificilmente uma pessoa consome apenas 100ml de leite, mas em geral, pelo menos 200ml (como sugerido no rótulo, um copo de leite o qual não possui apenas 100ml, mas provavelmente 200ml ou mais) e, sendo assim, para atingir os valores em cálcio de 200ml de leite seriam necessárias 4 bolas do sorvete, o que resultaria em 44% de gorduras totais e 56% de gorduras saturadas do valor diário estabelecido, além de 352 Kcal (é muita caloria não?).


Observa-se na figura 3 que na relação de ingredientes não há a presença da fruta ou da polpa da fruta. A utilização de aromatizantes capazes de conferir aroma e/ou sabor aos alimentos, embora permitida pela legislação, possivelmente é uma técnica utilizada pela indústria para gerar o sabor morango, o que confirma o fato de não haver esta fruta no produto. Além disso, a cor rosa do sorvete é devido aos corantes carmim de cochonilha e urucum.

Adequar o cálcio na dieta tem sido motivo de muitas pesquisas científicas, umas vez que a importância deste mineral já tenha sido comprovada. Devido ao seu efeito biológico, a carência dele pode acaretar muitos danos à saúde, como por exemplo a osteoporose. Nesse contexto, surgem os alimentos enriquecidos com cálcio. Embora seja proibida as alegações de saúde; ou seja, frases ou símbolos contidos em rótulos de alimentos que sugerem ou implicam uma relação entre o alimento ou componente deste com benefícios para a saúde, o que é respeitado pelo fabricante, o termo “Fonte de cácio” associado à imagem do leite, leva ao consumidor ao equívoco. A proveniência do cálcio é constatada em seu rótulo. Observa-se que a fonte de cálcio é proveniente do carbonato de cálcio e não do leite ou do morango.


A forma e a solubilidade em que o elemento será ingerido irão interferir na sua absorção. O cálcio é pouco solúvel em água. No leite que possui pH alcalino, o cálcio se manterá em suspensão devido a formação de caseinato de cálcio, citrato de cálcio e complexado à lactose. Os três fatores que mantém o cálcio solúvel no leite - lactose, caseinato e citrato - podem manter a solubilidade do cálcio no leite. Com isso, a absorção do cálcio neste alimento é mais provável do que em outras fontes alimentares. Deve-se levar em consideração que um aporte adequado de vitamina D é importante para maior absorção do cálcio.


Por outro lado, embora alguns estutos sejam divergentes em relação a interferência do aumento do pH gástrico na absorção do cálcio, alguns autores acreditam que o carbonato de cálcio não terá uma absorção satisfatória com o aumento.


Além disso, o morango possui muitas propriedades importantes, mas com a utilização de adtivos que conferem cor e sabor aos alimentos, essas propriedades se perdem e com isso a imagem não deveria estar presente, já que não há a presença da fruta.

Relacionar sorvete com quantidade de leite (mesmo que só em cálcio) teria validade, caso a fonte de cálcio tivesse origem no leite. A adição de carbonato de cálcio não equivale ao cálcio do leite, já que a absorção pode ser diferente. Além disso, como não há as propriedades do morango no sorvete a imagem não deveria estar no rótulo. Que sorvete é bom, seja ele Kibon ou de outra marca isso quase todos concordam. O que precisa sempre ficar claro para o consumidor é que cálcio do leite é diferente do carbonado de cálcio e que a fruta não está presente e sim aromatizantes que originam cor e sabor.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

• BRASIL. Resolução RDC n. 259 de 2002 – Regulamento Técnico para Rotulagem de Alimentos Embalados.
• BRASIL. Resolução RDC n. 269 de 2005 – Regulamento Técnico sobre a Ingestão Diária Recomendada (IDR) de Proteínas, Vitaminas e Minerais.
• BRASIL.
• GRÜDTNER, V.S; WEINGRILL, P.; FERNANDES, A.L. Aspectos da absorção no metabolismo do cálcio e vitamina D. Rev Bras Reumatol – Vol. 37 – Nº 3 – Mai/Jun, 1997.
• BUZINARO, E.F.; ALMEIDA, R.N.A.; MAZETO, GLÁUCIA, M.F.S.; Biodisponibilidade do Cálcio Dietético. Arq Bras Endocrinol Metab vol 50 nº 5 Outubro 2006.

Disponível em:

http://www.anvisa.gov.br
http://www.anvisa.gov.br/alimentos/rotulos/manual_consumidor.pdf
http://www.loveicecream.com/default.aspx?site=brazil
http://www.fao.org




16 comentários:

  1. Poxa, achei muito interessante a análise.

    Só que por outro lado, eu penso que as pessoas não compram sorvete pensando em saúde... Ou será que pensam?

    É claro que essas coisas criam um diferencial no produto (e que nem sempre existe esse diferencial), então talvez a análise seja mais pelo lado da proteção à concorrência.

    Uma coisa que eu não entendi muito bem é porque (quimicamente) o cálcio adicionado é diferente do in natura do leite.

    Abraços!

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  2. Acho que realmente a questão é essa: porque enriquecer? se sorvete já não é um alimento "funcional", "saudável" - se assim posso falar.
    Talvez seja somente uma questão de marketing, de concorrencia, pois o pensamento do consumidor torna-se "já que vou comprar sorvete que seja entao ese que pelo menos me traz algum beneficio"

    "A adição de carbonato de cálcio não equivale ao cálcio do leite, já que a absorção pode ser diferente."
    Muito bom o foco, alertando assim que não se deve, apesar da propaganda induzir a isto, substituir o leite.

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  3. Antes de mais nada, achei muito interessante a análise Ju. Já havia te falado isso.

    O que mais achei interessante foi da origem do cálcio. Ao analisar o rótulo, parece que ele vem do leite; porém, na verdade, ele vem do carbonato de cálcio. Por mais que, o cálcio vindo do leite ou do carbonato, quimicamente e fisiologicamente, não tenha diferença, no mínimo, o consumidor precisa saber de onde esse cálcio veio. Nada mais justo. E ao se deparar com o rótulo, ele é induzido a pensar que vem do leite. Será que se o consumidor soubesse que o cálcio vem do carbonato de cálcio e não do leite, ele compraria aquele produto??? Talvez sim, talvez não...

    É tudo merchandising mesmo!

    Corroborando, Ju, muito bom o seu trabalho!

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  4. A percepçäo diferenciada que trás um informativo importante ao consumidor sobre a diferença entre FONTE de cálcio e ENRIQUECIDO com cálcio foi muito interessante. O produtor deveria deixar isso claro, e a vigilância sanitária deveria fiscalizar melhor. Contudo, percebe-se através de seu trabalho estas falhas.
    Além disso, o tipo de sal de cálcio mais presente no leite de vaca é o fosfato de cálcio e näo o carbonato de cálcio (The minerals of milk. Frédéric Gaucheron. Reprod. Nutr. Dev., 2005). Esta diferença é de grande importância para a biodisponibiidade do cálcio no organismo.

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  5. Concordo com os comentários do pessoal que, nesse caso, se trata muito mais de "Marketing" do que algo voltado para a promoção da saúde da população. Podemos observar isso claramente quando a Ju cita que não há propriedades do morango na composição do produto, e portanto, esta imagem não deveria estar no rótulo do mesmo, assim como deveria "sempre ficar claro para o consumidor é que cálcio do leite é diferente do carbonado de cálcio".

    Achei muito interessante o enfoque do trabalho. Como consumidora, achei bastante esclarecedor.

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  6. Gabi, muito obrigada. Concordo que as pessoas não compram sorvete pensando em saúde, mas um sorvete sabor morango apenas e um sabor morango que seja “fonte de cálcio” faz com que os consumidores pensem em saúde na hora de comprar e aí o marketing realmente sai ganhando, como comentou a aninha. Como acrescentado pela Bia, o cálcio presente no leite é diferente do carbonato de cálcio presente no sorvete, o que explica o motivo pelo qual a biodisponibilidade e absorção podem ser diferentes. Jú, você chegou em um ponto muito importante, pois como consumidora você associou a imagem do leite ao cálcio, o que mostra o equívoco gerado ao consumidor em relação à verdadeira origem. E por fim, Marcelle você tem razão, pois o que parece é que o objetivo não é a promoção da saúde. Fico feliz em saber que o trabalho foi esclarecedor. Muito obrigada meninas.

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  7. Acho importante falar que a legislação permite que informações como esta sobre a fonte de cálcio que é uma informação classificada como complementar seja anunciada em letras imensas, no rótulo frontal e com cores chamativas e contrastantes enquanto a tabela de informações nutricionais e a lista de ingredientes que são obrigatórias ficam quase escondidas em letras pequenas e sem destaque. E sorvete é por si só um produto caro. Se for comparar 1L de sorvete com o preço de 1L de leite, então...Ainda mais se o sorvete for da marca Kibon.Então, não é qualquer consumidor que vai comprá-lo e apreciar a sua “fonte de cálcio”.Além dos demais componentes do sorvete que por mais leigo que seja o consumidor basta tomar sorvete todo dia para ver que ele engorda bastante, logo, a troca pela fonte de cálcio fica incompreensível.

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  8. Achei muito vago no trabalho as informações sobre a absorção do carbonato de cálcio. De fato, o cálcio presente no leite de vaca é majoritariamente fosfato de cálcio e o cálcio usado na composição deste produto é o carbonato de cálcio, que é utilizado para dar a consistência cremosa. Embora a fonte seja diferente, não aprovei o modo como foi escrito sobre a solubilidade e a absorção do carbonato de cálcio. Realmente nem todo carbonato de cálcio ingerido é absorvido pelo organismo, sendo cerca de 65 a 80% eliminado. Entretanto, com o fosfato de cálcio (presente no leite verdadeiro) não é muito diferente, sendo sua solubilidade cerca de 4 x 10^23 vezes menor que a do carbonato em água a 25 ºC.
    O carbonato de cálcio pode ter sua absorção otimizada sendo administrado junto com as refeições, pois no estômago poderá ser convertido a cloreto de cálcio e com o aumento da secreção ácida gástrica pós-prandial, aumentará a formação de cloreto de cálcio, que é um sal solúvel e absorvível. Essa é uma das justificativas do porquê o carbonato de cálcio é usado como fonte de reposição de cálcio em pacientes com osteoporose.
    Mais recentemente foi introduzido no mercado nacional o fosfato de cálcio. Muito semelhante à composição mineral do osso, o fosfato de cálcio pode ser utilizado como suplemento oral de cálcio, no entanto, é comumente considerado como não absorvível devido à sua insolubilidade.
    Sabemos que a solubilidade tem relação direta com a biodisponibilidade. Assim sendo, baseada nas informações anteriormente mencionadas, no caso do carbonato de cálcio como aditivo no sorvete não há problemas quanto a sua biodisponibilidade no organismo.
    No trabalho ainda há a seguinte frase: “no leite que possui pH alcalino, o cálcio se manterá em suspensão devido a formação de caseinato de cálcio, citrato de cálcio e complexado à lactose”. Essas mesmas premissas são verdadeiras para o carbonato de cálcio adicionado no sorvete, uma vez que este produto possui 70% de leite em sua composição. Logo, haverá formação de caseinato de cálcio, citrato de cálcio e complexação com açúcares. Além disso, este sorvete possui como acidulante o próprio ácido cítrico, que pode muito bem formar citrato de cálcio, que também é um sal mais absorvido que o carbonato (cerca de 22 a 27 % melhor absorvido e duas vezes e meia mais rapidamente absorvido).
    Outra coisa, no rótulo a fonte de cálcio vem como do carbonato de cálcio. Na minha opinião, o fabricante pode estar se referindo somente ao cálcio a mais (enriquecido), uma vez que o sorvete contém leite (cerca de 70 %, como já dito anteriormente) e leite contém cálcio. E não é carbonato de cálcio não... é fosfato mesmo!!!
    Mais uma observação é que da mesma forma que, ao consumirmos menos, pecamos, ao consumirmos exageradamente, pecamos também. Na idade adulta, a ingesta de cálcio deve variar entre 1000 a 1200 mg/dia. Me preocupo com o apelo de suplementos, aditivos e produtos contendo palavras “Enriquecido” ou “Fonte”, que acabam por fazer apelos de consumo aumentado de determinados nutrientes. A falta de cálcio é prejudicial, mas sua ingesta excessiva também. Não vou aprofundar muito neste aspecto, pois a hipercalcemia é conhecidamente um problema grave. Apenas uma observação interessante a ser feita é que, não precisamos comentar casos extremos, como a hipercalcemia, um potencial efeito adverso do cálcio é a diminuição na absorção de minerais traços. Vários estudos mostram que a ingesta elevada de cálcio conduz a uma diminuição na absorção de ferro, fósforo e zinco, nutrientes essenciais ao nosso organismo. A pergunta é: O que adianta para indivíduos com níveis normais de cálcio, então, enriquecer com cálcio?
    Concordo com a Julianna Henrique no seu comentário: “É tudo merchandising mesmo!”.

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  9. Quanto ao corante usado, o comentário é mais por curiosidade mesmo. Não sei quantos sabem, mas cochonilha é um inseto (Dactylopius coccus). Várias organizações de defesa dos direitos dos animais e vegetarianos criticam a prática de obtenção do corante a partir do inseto cochonilha. A alegação é que tal prática é antiética, cruel e fútil, uma vez que é necessário matar cerca de setenta mil insetos para se conseguir cerca de meio quilo de corante. Para cada bola deste sorvete, foram necessários mais ou menos 40 insetos. Alguns grupos também defendem o uso deste inseto já que ele constitui-se numa praga de vegetações. De um lado ou de outro, até parece que alguém vai deixar de tomar sorvete por causa disso!!!

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  10. Quando eu vi esse trabalho publicado no blog, dois públicos-alvo saltaram aos meus olhos: idosos (que necessitam de uma dose ótima de cálcio de,

    aproximadamente, 1.200 mg/dia) e crianças (com uma necessidade de 800 mg/dia) - como pode ser visto em

    http://www.3apoliclinica.cbmerj.rj.gov.br/modules.php?name=News&file=article&sid=323 - . Entretanto, sabemos que a Kibon não está preocupada com sua saúde,

    mas sim em traçar quais estratégias mercadológicas adotará para atrair mais consumidores. E uma alternativa foi esta: enriquecer o sorvete com cálcio.

    Sinceramente, uma criança não vai comprar o sorvete porque ele é enriquecido com cálcio. Talvez seus pais até sim, por achar que o enriquecimento trará algum

    tipo de benefício pra sua criança. Porém, vão comprar, principalmente, porque é gostoso, é rosa, é refrescante, é docinho e, também, porque a criança não

    para de encher o saco pedindo pra comprar. E os idosos, por vezes carentes de informações, ao lerem no rótulo que 2 bolas do sorvete equivalem a 100ml de

    leite em termos de cálcio, sem dúvida acham o produto atrativo e saudável, outrora até substituíveis. E aí encontra-se o perigo: a proposital falta de

    informação. Nenhum desses públicos conhece a bioquímica/fisiologia da absorção de cálcio. Muito menos que há, principalmente, 2 tipos de sais de cálcio. O

    fosfato (do leite) e o carbonato (do sorvete) - sendo estes possuidores de perfis de absorção completamente diferentes. O carbonato, por exemplo, precisa da

    ação do suco gástrico pra ser melhor absorvido, pois é convertido em cloreto de cálcio (o que aumenta sua absorção). Isso, sem pensar na quantidade de

    carboidratos presentes no sorvete, né? 2 bolas (28g de carboidratos) representam 10% do seu VD.

    E, agora, dando um enfoque diferente no paciente idoso, no que tange a terapia medicamentosa que ele é submetido por causa da idade (por vezes diabético e

    hipertenso), podemos afirmar que muitos fazem uso do omeprazol, um bloqueador de bomba de H+, que eleva o pH estomacal a longo prazo (paciente crônico),

    observaremos que sua absorção de cálcio é consideravelmente prejudicada. Não vai ser o sorvetinho depois do almoço que vai fazer melhorar isso. Mas nós

    podemos pensar assim, nós temos embasamento técnico-científico. E o idoso? E a criança? E os pais dessas crianças?

    Portanto, a palavra aqui é "marketing" sim, como já dita por outros acima. Se eu posso usar isso pra atrair meu consumidor, eu vou usar. Afinal, entre 2

    bolas de sorvete e 1 copinho de leite, eu fico com o sorvete - mesmo sendo os insetos da espécie Dactylopius coccus fonte da cor rosinha. Eu que me lasque depois.

    Pra quê enriquecer? Eu vou buscar no sorvete uma maneira de manter minha homeostase de cálcio? Ou eu deveria procurar um médico ou outro profissional da saúde pra me orientar?

    Muita informação.
    Pouca informação.

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  11. Amanda Rezende Miranda24 de abril de 2011 às 19:05

    Concordo que a figura do morango e do leite no rótulo, acrescido da informação "fonte de cálcio", levam o consumidor a acreditar que o produto oferece um nutriente importante na nossa alimentação, o cálcio, a partir do morango e do leite. Sendo que, a fonte de cálcio EXTRA é de fato proveniente do carbonato de cálcio, como diz no rótulo. Entretanto, discordo com a crítica feita em relação a biodisponibilidade do carbonato de cálcio, já que o carbonato de cálcio é utilizado como suplemento de cálcio para pessoas intolerantes a lactose e/ou pessoas com deficits deste íon no organismo. Portanto, considero o marketing utilizado pelo fabricante importante para a venda do seu produto, sem conferir danos á saúde do consumidor, já que o consumo do carbonato de cálcio de fato levará ao aumento da ingesta de cálcio propiciando os benefícios que o cálcio do morango ou do leite propiciariam. Mas, não seria inteligente colocar uma figura das fontes de carbonato de cálcio no rótulo, já que os consumidores não seriam atraidos pelo produto por desconhecimento ou falta de interesse. E como a Laizes mesmo disse, ninguem deixaria de comprar o sorvete porque a fonte de cálcio não é do morango ou do leite e sim do carbonato de cálcio, né? Mas , realmente acredito que a informação trasmitida pelo trabalho foi curiosa considerando o aspecto do marketing, para que fiquemos atentos quanto as imagens dos rótulos e nos prevernismos de sermos enganados e realmente prejudicados com isso.

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  12. Interessante o foco do trabalho alertando que as imagens do rótulo acompanham a informação de fonte de cálcio e sabor do sorvete apesar de não serem devidos a eles (leite e morango) que se obtém tais aspectos. Como consumidora, não havia relacionado os fatos, nem analisado as informações na hora de comprar o produto. Como o Edgar mesmo disse “nós temos embasamento técnico-científico”, mas mesmo assim eu não me alertei para tais fatores quando adquiri o produto. O que poderíamos pensar então dos outros consumidores? Realmente é apenas marketing, para aumentar as vendas através de imagens “bonitinhas e apelativas” que levam o consumidor a erro (apesar de que nesse caso o erro não ser tão prejudicial, pois só ludibria com relação a fonte e não o conteúdo em si) . O que realmente me espanta é o fato da regulamentação para rotulagem não proibir essa prática ou achar suficiente colocar frases como: “imagem meramente ilustrativa de sabor” ou na composição “carbonato de cálcio (fonte de cálcio)”, já que isso é feito em letras pequenas e sabidamente o que chama mais atenção são as figuras (bem maiores). Mas já que a legislação permiti...

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  13. Um dos pontos que o trabalho citou foi a importância da nutrição com cálcio para indivíduos em qualquer idade, embora seja claro que alguns como crianças e idosos tem necessidades diárias diferenciadas e, também, a necessidade de complementação da vitamina D para a ingesta visando uma melhor absorção de cálcio, contudo um artigo intitulado “Vitamin D and calcium: a systematic review of health outcomes” analisou 165 artigos primários e 11 revisões sistemáticas(que incorporou mais de 200 outros artigos primários) e descobriu que a associação de ambos nem sempre demonstra resultados claros ou conclusivos sobre possuir alguma vantagem e mesmo os resultados onde houve diferenciação de absorção de cálcio nem sempre eles se referiram a população como um todo ,mas um certo grupo de indivíduos e mais importante ainda é que nem sempre aumentar a absorção do cálcio além dos valores recomendados pode ser benéfica, como supracitados, a exemplo,o artigo cita que embora tenha a vantagem de reduzir a pressão sistólica não reduz a diastólica em hipertensos, não houve aceleração ou vantagem no crescimento de crianças embora tenha se aumentado a biodisponibilidade de cálcio, resultou em pequenos aumentos da densidade óssea porém apenas em mulheres pós menopáusicas e para o câncer de próstata um consumo elevado pareceu estar associado a um risco aumentado. Sendo assim dizer unicamente que ingerir cálcio, ou cálcio mais vitamina D é bom e ponto final reduzir demais a informação tornando-a mentirosa, mas será que o consumidor deseja todos essas informações? Será que a culpa do consumo de sorvete é apenas do rótulo? Quem toma a decisão de com o que se alimentar?
    Fonte: Vitamin D and calcium: a systematic review of health outcomes. Chung M, Balk EM, Brendel M, Ip S, Lau J, Lee J, Lichtenstein A, Patel K, Raman G, Tatsioni A, Terasawa T, Trikalinos TA. Evid Rep Technol Assess (Full Rep). 2009 Aug;(183):1-420. Review.

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  14. Sorvete é muito doce, contém muita gordura e engorda. Aí você adiciona cálcio, e pronto! Cria-se o marketing: "Olha consumidor, o senhor está engordando, mas pense pelo lado positivo, seus ossos e dentes estão fortalecidos. Coisa que o senhor poderia conseguir consumindo leite, mas todos sabemos que sorvete é mais gostoso, e você só precisa de uma desculpa pra se encher para ingerir todos o nosso pote após seu almoço."
    Toda propaganda visa vender uma idéia de um benefício que você acha que precisa. Pra mim é isso que este sorvete tenta fazer e consegue muito bem.

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