Assim, os suplementos vendidos conforme as especificações da ANVISA podem ser pouco efetivos para o aumento da performance durante os exercícios - apesar da RDC nº18/10 tratar de
alimentos para atletas. Mas será que os consumidores sabem disso? Por que a creatina faria tanto sucesso entre os freqüentadores de academia se não produzisse efeitos? É importante lembrar que esses suplementos já vinham sendo utilizados antes da RDC nº 18/10 na sociedade brasileira. Inclusive, a consulta pública que deu origem a essa norma teve as seguintes participações: 60% de setores que, de alguma forma, lucram com a venda do produto e 20% de consumidores, que provavelmente eram usuários do produto ou interessados em sua regulamentação.
Isso indica que, apesar das recomendações da ANVISA, muitas pessoas podem estar utilizando o produto de forma indiscriminada, conforme orientações duvidosas. O fato de 57% das contribuições apresentadas na consulta pública não serem baseadas em documentos científicos parece confirmar isso.
Para completar, as instruções de uso do Creatine Tabs recomendam
“Mastigar 2 tabletes ao dia, o que corresponderá a ingestão de 3 g de creatina. Consumir, preferencialmente, antes da atividade física.”
mas não há menção ao tipo de atividade física que deve ser praticada. Alguns estudos indicam que algumas atividades, como natação e corrida, talvez não sejam afetadas pelo uso de creatina. Outro aspecto questionável é a instrução de consumo antes da atividade física, que parece não levar em consideração o tempo necessário para a absorção da associação entre creatina e maltodextrina.
Os problemas não terminam por aí. A legislação ainda diz que as expressões "anabolizantes", "hipertrofia muscular", "massa muscular", "queima de gorduras", "fat burners", "aumento da capacidade sexual", "anticatabólico", "anabólico", equivalentes ou similares não podem constar no rótulo, mas de que adianta se são usadas nas propagandas, nos websites e em publicações duvidosas que circulam na internet entre os consumidores?
Assim, o Creatine Tabs parece ser pouco eficaz dentro da margem de segurança imposta pela autoridade sanitária. Mas também pode ser prejudicial nas doses utilizadas por atletas. E, pelos motivos expostos, é impossível, nesse momento, garantir sua inocuidade. O que fazer?
É importante ressaltar que esse produto é apenas um exemplo ilustrativo. Provavelmente, outros encontram-se no mercado sob as mesmas condições. As críticas tendem a se concentrar na ANVISA: “é preciso regulamentar melhor”, “é preciso fiscalizar melhor”. É claro que isso é desejável. Mas, a rigor, o fabricante encontra-se dentro da regulamentação, o que demonstra que sempre pode haver margem para burlar as normas. Assim, não parece ser produtivo, nesse momento, discutir se a comercialização do produto deveria suspensa devido às questões aqui abordadas. A solução do problema não parece residir apenas na proibição, fiscalização ou regulamentação, visto que não existem consensos científicos que justifiquem plenamente essas ações. Então, o combate à desinformação parece ser a melhor alternativa, pois possibilita que os consumidores saibam exatamente o que estão adquirindo e que, através de informações idôneas, sejam capazes de optar entre essa e outras alternativas do mercado.
Anexo - Plotter
Referências
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http://www.ethikasaude.com/conteudo/produtos/creatina-tabs/descricao-creatina-tabs/ acesso em 06/12/2010
http://www.ethikasaude.com/media/laudos/2010/Creatina_Tabs_Laranja_0111-10.pdf acesso em 06/12/10
https://bromatologia-ufrj.googlegroups.com/web/laudo-creatina_.pdf?pli=1&hl=pt-br
https://groups-beta.google.com/group/bromatologia-ufrj/web/Creatina-Consumidor.pdf?hl=pt-br
po, muitoo maneiro.
ResponderExcluirtava usando outro, n era esse,de creatina. 3g todo dia mas ai nem tava funcionando e agora eu vo usar whey protein
vlw!!!!!
Muito bom.
ResponderExcluirRealmente é preciso dar mais acesso a esses tipo de informações sobre produtos desse tipo, tem muitas pessoas que fazem uso totalmente errado justamente pela falta de informação sobre os efeitos colaterais.
Muito bom mesmo.
Maravilhoso o Trabalho
ResponderExcluirParabéns
Interessante gabi, é que me aconselharam usar isso outro dia mesmo. Mas tenho muito receio desses suplementos devido a quase nenhum deles ter provas segurança conclusivas. Trabalho bem estruturado e referenciado.
ResponderExcluirErick, na minha opinião, o principal problema não é só a segurança, mas a falta de garantia da eficácia. Você usa um produto que não sabe se vai funcionar e que pode trazer riscos pela questão da pureza e da própria toxicologia mesmo...
ResponderExcluirMinha preocupação maior mesmo gabi é trazer danos a saúde, pois imagine você pode tomar alguma coisa que não funcione mas ela pode ser indiferente ao organismo no tocante a malefícios. Agora imagina, mesmo que funcione você vai ter problemas como esteróides, funcionar funcionam mas ........
ResponderExcluirAo analisar alguns estudos realizados acerca da suplementaçäo de creatinina encontrei que não há evidência forte de ligação a suplementação de creatina e a deterioração das funções do coraçäo, fígado, rins, trato gastrointestinal e músculos. Na verdade, a maioria dos relatos sobre os efeitos colaterais, como dores musculares, sintomas gastrointestinais, alterações nos valores laboratoriais renal e hepático, permanecem anedótico, porque os estudos dos casos não representam ensaios bem controlados. Dessa forma, nenhuma relação causal entre a suplementação de creatina e estes efeitos colaterais ainda foram estabelecidos. O único efeito colateral documentado é um aumento da massa corporal. (Is the use of oral creatine supplementation safe? Bizzarini E, De Angelis L. J Sports Med Phys Fitness. 2004 e Adverse effects of creatine supplementation: fact or fiction? Poortmans JR, Francaux M. Sports Med. 2000)
ResponderExcluirDiante do exposto, concordo com o artigo apresentado acerca de estudos inconclusivos sobre a utilizaçäo da suplementaçäo de creatinina e adicionalmente acredito que regulamentos legais sanitários devam ser incisivos quanto às alegaçöes em saúde destes tipos de produtos, cujos os efeitos colaterais näo säo expostos aos consumidores, assim como apresentarem em propaganda uma garantia a qual näo é cinentificamente conclusiva.
Parabéns Gabi pelo excelente trabalho!
ResponderExcluirGabriela, você utilizou uma frase que resume praticamente todos os produtos relacionados ao produtos presentes no blog: "'é preciso regulamentar melhor', 'é preciso fiscalizar melhor'".
ResponderExcluirEsse é o ponto chave. Apesar dos últimos avanços na legislação, há ainda muitas brechas e falta de fiscalização.
O consumidor acaba por acreditar nas informações presentes nos rótulos, o que muitas vezes não reflete a senso da comunidade científica como um todo.
Mas acredito que os consumidores também devam se informar melhor antes de comprar esses produtos e evitando dessa forma alguns maléficos a saúde, como dito pelo Erick.
Seu trabalho está muito bem fundamentado.
Gaby vc relatou muito bem q o grande problema destes produtos são a não adequada regulamentação e falta de informação, mas como nos profissionais da saúde podemos esclarecer a população se nem nos sabemos quais são os resultados do uso continuo destes produtos.
ResponderExcluirNathalia,
ResponderExcluirpor mais que isso seja quase óbvio para nós que fizemos essa disciplina...
se você pegar quase todos os trabalhos aqui apresentados, verá que, a rigor, os fabricantes estão dentro da lei.
Infelizmente, a lei brasileira é muito interpretativa. O poder dessas grandes coorporações é imenso. Eles acabam dando um jeito de fazer uma gambiarra aqui, outra ali. O marketing sempre vence.
Por isso, seria interessante difundir essas informações. E talvez seja esse um dos objetivos do Professor ao colocar os nossos trabalhos na Internet...
Tatiane,
ResponderExcluirpor outro lado, penso em professores de Educação Física, que atuam nas academias e dão suporte à utilização desses produtos.
Quantas vezes não são eles mesmos que estão vendendo para os alunos?
É claro que não são todos. Há vários profissionais sérios e bem informados. Mas pelo menos umas três vezes meu irmão já foi abordado por ofertas desse tipo de produto.
Talvez essa formação de alimentos focada em suplementos fosse importante para esse público também...
Lembrando que, em tese, Educação Física faz parte das profissões de saúde.
ResponderExcluirAo ler o trabalho notei que a autora durante o texto, acusa o fabricante pela disseminação de “falsas verdades” a respeito de seu produto e cria uma argumentação objetivando responsabilizar o fabricante, apesar da própria autora admitir que as informações divulgadas têm fundamento científico: “Essas informações, divulgadas pelo fabricante, são baseadas em artigos científicos. “. Este tipo de argumentação carece de uma visão mais crítica e realista de todo esse processo. O senso comum, que nos leva a culpar as indústrias, elegendo-as como as grande vilãs soa, algumas vezes, como uma alternativa simplista para se ausentar do trabalho de realizar uma análise mais profunda de todas as partes envolvidas nesse fenômeno, que eu dividido em três grupos principais, com interesses distintos e com suas parcelas de culpa: o fabricante, o consumidor e a agência reguladora.
ResponderExcluirPrimeiro temos a empresa, que vive do lucro da venda de seu produto e está sujeita às leis regulatórias. Não se pode cobrar desta nada além do que o comprimento das normas dispostas em lei. Na conclusão do trabalho, podemos ver que “ a rigor, o fabricante encontra-se dentro da regulamentação”. Essa constatação enfraquece toda tentativa anterior de responsabilização da empresa, uma vez que seus atos não constituem nenhum tipo de infração. Aliás, discordo da frase “o que demonstra que sempre pode haver margem para burlar as normas”. Pois, nesse caso, a empresa não burlou nenhuma lei, apenas aproveitou-se de suas brechas. Todavia, mesmo não burlando nenhuma lei, nota-se que o fabricante utilizou-se de valores éticos reprováveis ao lidar com seu público alvo, incitou o uso indiscriminado do suplemento e omitiu informações relevantes ao consumidor.
Depois temos o consumidor, a quem deve ser assegurado o direito à informação do produto e à segurança do mesmo. O consumidor deve ter acesso a toda informação do produto, tanto através de bulas e informativos da ANVISA, quanto dos profissionais de Educação Física nas academias e/ou nutricionistas. Contudo, é importante que o consumidor seja visto como agente ativo em toda a história. Afinal, ele toma doses maiores mesmo quando não recomendado, compra o suplemento de forma ilícita quando este é proibido, indica o produto para outras pessoas, divulga informações através do chamado “boca-a-boca” contribuindo para um uso indiscriminado do produto, entre outras atitudes que não podem ser reguladas. Será que o caminho é penalizar o consumidor que pratique tais ações? Oferecer toda informação disponível e permitir o uso indiscriminado para atender os ansejos dos consumidores? Proibir o uso? Essa é uma discussão que deve ser aprofundada e que é pouco valorizada uma vez que a culpa sempre recai sobre o fabricante e a ANVISA. Porém, é importante reconhecer a parcela de culpa do consumidor e não olhá-lo como uma vítima “ad eternum”.
Por fim, existe a agência regulatória, ANVISA, a quem cabe a função de normatizar as relações entre o vendedor e o comprador. No caso específico da Creatine Tabs, notamos que há uma falta de regulamentação, uma certa permissividade no que concerne às informações divulgadas no site da empresa e uma certa indecisão na elaboração de informativos técnicos quanto à segurança do produto devido às divergências dos artigos científicos a respeito do tema. Além disso, outro problema é a fragilidade de algumas normas que são incapazes de proteger o consumidor do propagandismo, muitas vezes enganoso da indústria alimentícia.
Com isso, percebe-se que os problemas de uso incorreto e/ou indiscriminado de suplementos como a Creatine Tab e outros produtos é um problema complexo que envolve consumidor, ANVISA e fabricante e que para soluciona-los precisamos não só aumentar a eficiência da ANVISA para impedir os abusos legalmente cometidos pelas indústrias, como também termos maior responsabilidade como consumidores.
Conforme eu já disse em comentários anteriores sobre produtos com "health claim": é uma questão muito maior de estilo de vida do que de saúde. A suplementação com creatina cai no mesmo problema da suplementação vitamínica, do uso de shakes de emagracimento e tantos outros produtos que são vendidos como agentes miraculosos de melhora ou promoção de saúde. Como a cultura do bem estar está profundamente enraizada na sociedade atual, então há exploração dos elementos legais. Recentemente, passando por uma farmácia eu vi um destes potes contendo os chamados BCAA´s (aminoácidos de cadeia ramificada) que, em tese, são utilizados para reconstrução da musculatura lesionada depois de exercícios físicos (depreende-se que seja musculação, embora não seja afirmado pelo fabricante qual exercício seria o indicado para levarmos a reconstrução). Se aliarmos o fato de que Ciência vende, então aí que o negócio desanda de vez, porquê não há nada que imponha regulamentações sobre a propaganda. Considerando que a maioria das pessoas que consomem estes produtos são cientificamente leigas, então tudo aquilo que é posto por "comprovado cientificamente" é bem aceito. Em suma, para mim, é um mal que é explorado habilmente pelos fabricantes, mas que é em grande medida culpa da desinformação gerada sobre comprovação científica, sobre conscientização dos riscos do uso destes produtos e etc.
ResponderExcluirSou nutricionista e trabalho com suplementos há anos. Trabalho com MMA e patrocino atletas do meio.
ResponderExcluirAo meu ver é uma questão de estilo de vida. O cidadão não vai comer o que foi planejado e você acaba por prescrever um suplemento.
O que eu vejo que acontece demais é que: nós, que vendemos suplementos com ética profissional e responsabilidade, damos mais resultados que muitas nutricionistas por aí só com indicações de produtos na loja. Quem tiver interesse em comprovar, tenho certeza que nossos clientes estarão a disposição para participar de um estudo(para aqueles que se dizem cientistas e querem comprovar algo) e isso gera uma dor de cotovelo tremenda.
Eu sou a favor da suplementação. Obviamente que cada caso é um caso. Quem não é, paciência. É preciso ter respeito e mais união na classe.
Realmente o mecanismo de ação do suplemento de creatina ainda é muito controverso. Como pode ser visto no artigo " a creatina como suplemento ergogênico para atletas" - http://www.scielo.br/pdf/rn/v15n1/a09v15n1.pdf - diz que a creatina como suplemento parece não aumentar a concentração de ATP muscular de repouso, mas sim de ajudar a manter os níveis de ATP durante um esforço físico máximo, ou seja, bem diferente do que foi postado. Além disso, neste artigo diz sobre a quantidade armazenada de creatina durante a suplementação.Diz que esta é bem variável entre as pessoas. Também fala que essas variações sugerem que a captação desta substância é dependente de diferenças na
ResponderExcluircomposição da dieta,sexo como também de composição de fibras musculares.Um outro ponto bem interessante, é que parece que os individuos vegetarianos sao os que mais se beneficiam com a suplementação com creatina. Por isso que doses seguras dos suplementos de creatina podem não estar sendo efetivas no treinamento.
A creatina (ácido α-metil guanidino acético) é uma amina de ocorrência
ResponderExcluirnatural encontrada primariamente no músculo esquelético e
sintetizada endogenamente pelo fígado, rins e pâncreas a partir dos
aminoácidos glicina e arginina. Também pode ser obtida via alimentação,
especialmente pelo consumo de carne vermelha e peixes. Os efeitos da suplementação de creatina sobre a função renal são
debatidos intensamente na literatura científica.
Apesar da existência de inúmeros relatos de
caso na literatura indicando que a creatina possa prejudicar a função
renal, não há evidências sustentáveis de que essa substância possa
apresentar riscos a homens saudáveis. Pesquisas bem controladas, no
entanto, devem investigar sujeitos com doenças renais pré-existentes e
com propensão à nefropatia. Recomenda-se a monitoração sistemática
nesses consumidores, até que se ateste a segurança da suplementação
nesses casos. Aos sujeitos saudáveis que consomem regularmente esse
suplemento, sugere-se que não ultrapassem a quantidade de 5g/dia,
pois não há evidências científicas suficientes que garantam a segurança
da ingestão acima dessa dosagem, em longo prazo (para detalhes, ver
Shao e Hathcock(32)). Fornecer essas orientações aos consumidores
pode ser uma alternativa prudente e interessante à mera proibição da
comercialização do produto, sem respaldo científico adequado.
Referência:
http://www.scielo.br/pdf/rbme/v14n1/a13v14n1.pdf