Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Um olhar mais crítico dos produtos zero lactose 







Percebe-se que a empresa investiu muito no marketing e tomou as devidas precauções em relação a regulamentação de indicação de nutrientes através da RDC 259/2002, mas, será que  isso é o suficiente ?
O público consegue entender que esse tipo de leite é apenas para quem de fato é intolerante a lactose? 
O caso da garota de 2 anos e meio que teve a reação alérgica a um dos produtos ‘’ zero lactose’’ reflete como o conceito de intolerância e alergia ainda causa dúvidas e como a lactose é muitas vezes associada a componente único do leite.
Como a campanha #poenorotulo  mudou a rotulagem  não apenas do leite, como também de outros produtos considerados alergênicos  ? LEIA MAIS



Introdução :

A intolerância a lactose ocorre quando não ocorre a digestão de Lactose em quantidades significativas pela enzima lactase, logo, a digestão e absorção da lactose ficam comprometidas,  acumulando-se no intestino grosso no qual as bactérias realizam o processo de fermentação, gerando ácido lático e gases que promovem retenção de água, diarréia e cólicas.
Além disso, não há participação do sistema imunológico no processo, como ocorre em uma alergia.
O processo alérgico é uma resposta  do sistema imunológico a proteínas, logo, não existe alergia a lactose que é um açúcar e sim as proteínas do leite, por exemplo, a caseína. A alergia não é apenas um mecanismo complexo, como também é fatal em qualquer dose, o que não ocorre com a intolerância.


Intolerância a lactose
Alergia
Não consegue fazer a digestão da lactose em Galactose e glicose, comprometendo a absorção.
Resposta do sistema imunológico a proteína do leite.
Vômito, diarréia, retenção de água e cólicas.
Urticária (placas vermelhas disseminadas), inchaço dos lábios e olhos, choque anafilático
Pode consumir qualquer alimento que não contenha lactose.
Alguns conseguem consumir alimentos com lactose, mas, é necessário realizar um tipo de exame para verificar a partir de que quantidade de lactose, começa a reação de intolerância.
Não pode entrar em contato com nenhuma proteína do leite, mesmo que o alimento seja zero lactose, pois a proteína continua presente.







2-) Fundamentos bromatológicos
O leite é composto por gordura, proteína ( principalmente caseína e albumina), sólidos não gordurosos e água que possuem valores mínimos considerados normais de 3 % , 2,9% e 8,4 % respectivamente, mas, a água não está incluída nos sólidos totais.
Dentre esses sólidos, podemos destacar a Lactose que é um dissacarídeo composto por dois tipos de açúcar ( Galactose e Glicose) e não é tão doce quanto outros dissacarídeos, como a sacarose.

3-) Legislação
A RDC 259/2002,  se aplica à rotulagem de todo alimento que seja comercializado, qualquer que seja sua origem, embalado na ausência do cliente, e pronto para oferta ao consumidor, mas, o problema é que não abrange os alimentos que causam alergia. O caso da garota de 2 anos e meio que teve a reação alérgica a um dos produtos ‘’ zero lactose’’ é um exemplo de como essa RDC é falha nessa parte. O caso foi investigado, porém, a empresa seguiu as regras de rotulagem estabelecidas pela RDC 259/2002. Em 2014, foi criado o movimento Põe no rótulo ( #poenorotulo) cujo objetivo é conscientizar a população para a necessidade da rotulagem destacada de alimentos reconhecidamente mais alergênicos : trigo, leite, soja, ovo, peixe, crustáceos, amendoim, oleaginosas.
O resultado desse movimento foi em Junho de 2015 com a criação da RDC 26/2015 que dispõe sobre os requisitos para a rotulagem obrigatória dos principais alimentos que causam alergias alimentares. A norma se aplica aos alimentos, incluindo as bebidas, ingredientes, aditivos alimentares e coadjuvantes de tecnologia embalados na ausência de consumidores, inclusive aqueles destinados exclusivamente ao processamento industrial e os destinados aos serviços de alimentação. Essa resolução é aplicada de forma complementar a RDC   259/2002 e foi estabelecido um prazo de 12 meses para as empresas se adequarem a essa RDC.
Dentre as medidas, é a declaração " Alérgicos : Pode conter (nomes comuns dos alimentos que causam alergias alimentares) " que deve constar no rótulo em casos em que não for possível garantir a ausência de contaminação cruzada dos alimentos, ingredientes, aditivos alimentares ou coadjuvantes de tecnologia por alérgenos alimentares.





4-) Discussão e conclusão
O marketing pode confundir o consumidor acerca de produtos zero lactose, apesar da RDC 26/2015.
Um exemplo disso é da marca Piracanjuba através da frase “ É indicado para todos os níveis de intolerância á lactose, mesmo para os consumidores mais sensíveis “. Se o produto não possui lactose, quem é intolerante não vai apresentar nenhuma reação, logo, não faz sentido o ‘’ sensíveis ‘’.
 Além disso, o consumidor pode pensar que quem é alérgico pode consumir. A idéia de sensível para quem apresenta reação alérgica não é errada visto que é necessário o contato com apenas uma pequena quantidade do alérgeno e a reação é grave, porém, nunca será a lactose pois é um açúcar e não uma proteína que continua presente no leite zero lactose.
Enfim, a verdade é que as pessoas pensam que a lactose é o principal componente do leite e a partir daí surge a idéia de que a pessoa que apresenta algum problema com o leite ou seus derivados é devido a esse açúcar, logo, o produto zero lactose torna-se a solução do problema, porém, não o é para quem é alérgico.
O surgimento de produtos zero lactose, fez várias empresas investirem no marketing, mas, pode passar uma mensagem que é interpretada de forma errônea pelo consumidor, gerando episódios de reação alérgica como o caso da garota de 2 anos e meio que teve a reação alérgica a um dos produtos ‘’ zero lactose’’.
5-) Referências
BRASIL. Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. Resolução RDC n. 26, de 2 de Julho de 2015. Requisitos para rotulagem obrigatória dos principais alimentos que causam alergias alimentares.. Diário Oficial da União, Brasília, 3 de Julho de 2015.

BRASIL. Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. Resolução RDC n. 259, de 20 de Setembro de 2002.  Regulamento Técnico sobre Rotulagem de Alimentos Embalados. Disponível em : <http://www.ibravin.org.br/admin/arquivos/informes/1455824267-1ed.pdf

Intolerância á lactose. Disponível em : < http://drauziovarella.com.br/letras/l/intolerancia-a-lactose/ > Acesso em  3 de Agosto de 2016

Movimento Põe no rótulo. Disponível em : < http://www.poenorotulo.com.br/ > Acesso em  3 de Agosto de 2016.
Como rotular alergênicos de acordo com a RDC 26/15 . Disponível em : < http://foodsafetybrazil.org/como-rotular-alergenicos-de-acordo-com-a-rdc-2615/ > . Acesso em 3 de Agosto de 2016.

BRANDÃO, C, SEBASTIÃO ;  CARDOSO, L. MARIA ; MATEDI, L, MILEDE.  Alergia e intolerância ao leite de vaca.  Disponível em : < http://www.ufv.br/dta/artigos/tolerancia.htm >. Acesso em 3 de Agosto de 2016.

DURR, WALTER, JOÃO.  et al. Produção de leite conforme instrução normativa número 62. 4. Ed. Brasília : SENAR 2012. Disponível em : <http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/file/CRC/SENAR%20-%20Produ%C3%A7%C3%A3o%20de%20leite%20conforme%20IN%2062.pdf >. Acesso em 3 de Agosto de 2016.


GONZÁLEZ, H, D. ET al. Uso do leite para monitorar a nutrição e o metabolismo de vacas leiteiras.  Porto Alegre. 2001.


SIMON, DANIEL ; SILVEIRA, R, THEMIS ; WORTMANN, C, ANDRÉ.  Análise molecular da hipolactasia primária do tipo adulto : uma nova visão do diagnóstico de um problema antigo e freqüente. Porto Alegre.  Revista da AMRIGS. 2013.
Disponível em < http://www.amrigs.org.br/revista/57-04/0000222859-14_1222_Revista%20AMRIGS.pdf >. Acesso em 3 de Agosto de 2016.

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