1. Apresentação do Produto
Os vinhos SO2 free, sem sulfitos ou sem adição de
sulfuroso são uma corrente recente na indústria vinícola. Para atender a
apreciadores de vinho com intolerância ao conservante presente neste e a
consumidores conscientes do impacto de uma alimentação cada vez mais industrializada,
que introduz uma grande variedade e quantidade de conservantes na dieta, nas
mais variadas regiões vinhateiras estão a ser produzidos este tipo diferenciado
de vinhos. Comercializados em todo o Brasil, estes produtos atingem preços
elevados, por isso é importante que o consumidor, intolerante ou não, tenha uma
opinião esclarecida.
2. Fundamentos Bromatológicos e/ou Toxicológicos
As características sensoriais são a
marca de um vinho e necessitam de ser preservadas, mas este também tem que ser
seguro para o consumidor e ao mesmo tempo ter validade adequada.
Os agentes sulfitantes, dióxido de
enxofre (INS 220) e os seus sais, são conservantes multi-funcionais custo-efectivos
exercendo efeito por vários mecanismos:
- Acção anti microbiológica: Inibem
bactérias prejudiciais ao desenvolvimento do mosto (bactérias láticas e
acéticas por exemplo) e selecionam leveduras com maior capacidade fermentadora.
-Atividade anti-oxidante: bloqueia
enzimas oxidantes, principalmente na formação do mosto, evitando o
escurecimento do vinho
- Alta afinidade com o Oxigénio
reagindo com este, impedindo as reações com outros compostos orgânicos favorecendo
a qualidade geral e a longevidade do vinho.
Segundo dados da OMS 1 em 100
pessoas é intolerante a estes agentes e cerca de 5% dos asmáticos são sensíveis
aos sulfitos pela FDA.
É importante realçar um erro
recorrente: as reações adversas aos sulfitos são intolerâncias e não alergias
pois não há um comprometimento do sistema imunitário. Os sintomas esses podem
ser muito parecidos, desde náuseas, vómitos, dor abdominal, broncoespasmo em
asmáticos até distúrbios neurológicos em uma parcela da população. A intolerância
se deve a uma expressão diminuída da enzima sulfito oxidase que faz a conversão
deste em sulfato, produto esse rapidamente excretado.
3. Legislação Pertinente
No Brasil, regulamentado pela
ANVISA, a legislação estipula um máximo de 350 mg/L de Dióxido de enxofre
total, concordante com a legislação Norte Americana. É obrigatório a indicação
no rótulo da garrafa a presença de sulfitos quando estes estão em quantidade
maior que 10mg/L.
4. Discussão
Os sulfitos
presentes no vinho provem de duas origens, sulfitos adicionados durante a
produção e sulfitos que surgem naturalmente. Esta quantidade natural pode ser
um resíduo de tratamentos feitos nas videiras mas também da própria fermentação
microbiológica. Assim, mesmo num vinho que anuncia sem sulfitos adicionados,
pode legalmente ter até 10 mg de sulfitos totais naturalmente presentes.
Pessoas com intolerância
podem desenvolver as reações adversas com essa concentração ou inferior,
dependendo do grau de actividade da enzima sulfito oxidase, o que não torna
estes vinhos 100% seguros para todas as pessoas intolerantes aos vinhos convencionais.
5. Conclusão e Recomendações
A
denominação SO2 FREE, como vimos anteriormente, pode ser enganosa pois mesmo
que o produtor não tenha adicionado agentes sulfitantes, estes podem estar
presentes numa concentração de até 10mg/L de proveniência natural. Apesar de
apresentar uma alternativa para muitos intolerantes a vinho convencional, ainda
assim alguns destes podem continuar a desenvolver reações adversas. É então
necessário que o consumidor esteja informado destes meandros na legislação e
que o consumidor intolerante tome precauções na hora de provar este tipo de
vinhos.
Para a
população em geral tendo em conta que a IDA – Ingestão Diária Aceitável – é de
0,7mg/kg de peso corpóreo/Dia, é importante manter uma dieta que não tenha por
base alimentos industrializados, em muitos dos quais são também utilizados
sulfitos.
6.Bibliografia
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