Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

sábado, 3 de agosto de 2013

Vinhos SO2 FREE: Realmente sem sulfitos e 100% seguros para intolerantes? 


Recentemente, apareceram nos mercados os vinhos SO2 free, vinhos estes sem adição dos tão impopulares conservantes sulfitos. 
Produtores e distribuidores afirmam que o grande diferencial do seu produto é que não representa mais um problema para pessoas “alérgicas” aos sulfitos. Será isso completamente verdade ou mais uma estratégia de marketing e propaganda para escoar um produto mais caro e com menor prazo de validade? 



1. Apresentação do Produto

Os vinhos SO2 free, sem sulfitos ou sem adição de sulfuroso são uma corrente recente na indústria vinícola. Para atender a apreciadores de vinho com intolerância ao conservante presente neste e a consumidores conscientes do impacto de uma alimentação cada vez mais industrializada, que introduz uma grande variedade e quantidade de conservantes na dieta, nas mais variadas regiões vinhateiras estão a ser produzidos este tipo diferenciado de vinhos. Comercializados em todo o Brasil, estes produtos atingem preços elevados, por isso é importante que o consumidor, intolerante ou não, tenha uma opinião esclarecida.


2. Fundamentos Bromatológicos e/ou Toxicológicos
 
As características sensoriais são a marca de um vinho e necessitam de ser preservadas, mas este também tem que ser seguro para o consumidor e ao mesmo tempo ter validade adequada.
Os agentes sulfitantes, dióxido de enxofre (INS 220) e os seus sais, são conservantes multi-funcionais custo-efectivos exercendo efeito por vários mecanismos:
- Acção anti microbiológica: Inibem bactérias prejudiciais ao desenvolvimento do mosto (bactérias láticas e acéticas por exemplo) e selecionam leveduras com maior capacidade fermentadora.
-Atividade anti-oxidante: bloqueia enzimas oxidantes, principalmente na formação do mosto, evitando o escurecimento do vinho
- Alta afinidade com o Oxigénio reagindo com este, impedindo as reações com outros compostos orgânicos favorecendo a qualidade geral e a longevidade do vinho.

Segundo dados da OMS 1 em 100 pessoas é intolerante a estes agentes e cerca de 5% dos asmáticos são sensíveis aos sulfitos pela FDA.
É importante realçar um erro recorrente: as reações adversas aos sulfitos são intolerâncias e não alergias pois não há um comprometimento do sistema imunitário. Os sintomas esses podem ser muito parecidos, desde náuseas, vómitos, dor abdominal, broncoespasmo em asmáticos até distúrbios neurológicos em uma parcela da população. A intolerância se deve a uma expressão diminuída da enzima sulfito oxidase que faz a conversão deste em sulfato, produto esse rapidamente excretado.

3. Legislação Pertinente

 No Brasil, regulamentado pela ANVISA, a legislação estipula um máximo de 350 mg/L de Dióxido de enxofre total, concordante com a legislação Norte Americana. É obrigatório a indicação no rótulo da garrafa a presença de sulfitos quando estes estão em quantidade maior que 10mg/L.

4. Discussão

Os sulfitos presentes no vinho provem de duas origens, sulfitos adicionados durante a produção e sulfitos que surgem naturalmente. Esta quantidade natural pode ser um resíduo de tratamentos feitos nas videiras mas também da própria fermentação microbiológica. Assim, mesmo num vinho que anuncia sem sulfitos adicionados, pode legalmente ter até 10 mg de sulfitos totais naturalmente presentes.
Pessoas com intolerância podem desenvolver as reações adversas com essa concentração ou inferior, dependendo do grau de actividade da enzima sulfito oxidase, o que não torna estes vinhos 100% seguros para todas as pessoas intolerantes aos vinhos convencionais.

5. Conclusão e Recomendações

A denominação SO2 FREE, como vimos anteriormente, pode ser enganosa pois mesmo que o produtor não tenha adicionado agentes sulfitantes, estes podem estar presentes numa concentração de até 10mg/L de proveniência natural. Apesar de apresentar uma alternativa para muitos intolerantes a vinho convencional, ainda assim alguns destes podem continuar a desenvolver reações adversas. É então necessário que o consumidor esteja informado destes meandros na legislação e que o consumidor intolerante tome precauções na hora de provar este tipo de vinhos.
Para a população em geral tendo em conta que a IDA – Ingestão Diária Aceitável – é de 0,7mg/kg de peso corpóreo/Dia, é importante manter uma dieta que não tenha por base alimentos industrializados, em muitos dos quais são também utilizados sulfitos.

6.Bibliografia

Nenhum comentário:

Postar um comentário