Noni, é o fruto da árvore Morinda citrifolia que pode chegar de 3 a 6 metros de altura com
folhas ovaladas e verdes brilhantes. É uma fruta incomum de forma ovoide e que
pode chegar até 12 cm, mais ou menos o tamanho de uma batata inglesa. O fruto
imaturo é duro e possui uma cor verde brilhante, mas após a maturação ele se
torna macio e com cor amarelada ou branca. A fruta madura possui odor butírico,
parecido com odor de queijo e possui sabor desagradável. A espécie é originária
do sudeste asiático, mas pela facilidade de cultivo pode ser encontrada tanto
em florestas tropicais como em terrenos rochosos ou arenosos. Com longa tradição
como planta medicinal, seu cultivo e consumo foi disseminado pelas Ilhas do
Pacífico, Ásia Meridional, Polinésia Francesa, Porto Rico e República
Dominicana e encontrada no Brasil nas regiões centro oeste e nordeste
principalmente. Sendo também comercializado, na forma de suco de fruta, e
geralmente em um mix de frutas com uva ou açaí a fim de disfarçar o sabor
amargo do Noni. As embalagens destes sucos, em geral promovem a ideia de
vitalidade e saúde relacionadas ao consumo de Noni; entretanto, atualmente no
Brasil, a venda de produtos comercializados contendo Noni está proibida pela
ANVISA.
Fundamentos Bromatológicos
Considerado por muitos um alimento funcional, o noni tornou-se popular
desde a década de 80 quando uma publicação reinvidicou a presença de uma
substância, um alcalóide, que seria capaz de prevenir o envelhecimento, reduzir
pressão arterial, melhorar sintomas de cólica menstrual, artrite, úlceras gástricas, torções, lesões, depressão
mental, má digestão, aterosclerose, dependência química, como tratamento
complementar do câncer, para o alívio da dor, e muitos outros sintomas, ou
seja, o fruto da saúde como alguns rótulos indicam. A fruta milagrosa é vendida
em forma de sucos, extratos e até mesmo na composição de shampoos para revitalização
e evitar queda de cabelo. Seria capaz uma fruta possuir tanta funcionalidade
assim?
A medicina tradicional
oriental, que se utiliza de produtos naturais, como plantas, parte de animais,
minerais na cura diversas doenças, afirma que o Noni é capaz de trazer diversos
benefícios a saúde. Baseado nesta tradição milenar a propagação da fama do Noni
nas feiras das cidades do centro oeste e nordeste do Brasil é cada vez maior. E
devido a sua fama rapidamente difundida, o quilo da fruta pode sair por R$15,00
ou R$2,00 a unidade, fazendo com que os adeptos da utilização do noni cheguem a
gasta R$50,00 em 15 dias. Será que cura para diversas enfermidades sairia por
R$100,00 mensais?
Devido ao crescente
numero de adeptos ao consumo do Noni e a histórias de cura sobre diversas
doenças, pesquisadores iniciaram estudos com o propósito de comprovar a
eficácia do Noni no tratamento de doenças especificas como o câncer, identificar
a substância ativa capaz de promover a cura, e garantir a segurança do consumo
do Noni como um alimento medicinal. Estes estudos identificaram a presença de
substâncias com atividade de inibição do câncer de mama e antiinflamatórias em camundongos;
no entanto estes estudos não são conclusivos. Há relatos que associam o consumo
do Noni com hepatotoxicidade em caráter grave por isso, a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA) impediu a comercialização e uso de produtos
derivados da fruta. De acordo com a agência, os estudos realizados até o
momento, apesar de não conclusivos ainda revelam alguns casos de danos ao
fígado e aos rins. No entanto ainda se pode encontrar a fruta disponível para
compra nas feiras de rua nacionais.
Legislação Pertinente
De acordo com o artigo 56 do Decreto-Lei n. 986/69 os produtos com
finalidade terapêutica ou medicamentosa não são considerados alimentos. Por não
possui histórico de consumo no Brasil, os produtos derivados do noni, para
serem comercializados de acordo com seu marketing de “cura tudo”, eles
necessitariam de comprovação de segurança e uso para serem registrados na
ANVISA e após, serem liberados para a comercialização. Com o intuito de
proteger e promover a saúde a da população, os produtos contendo noni foram
proibidos de serem comercializados de acordo com o informe técnico número 25 de
maio de 2007 da ANVISA. Em nota a ANVISA justifica tal proibição alegando que
os estudos apresentados até o momento são controversos, e que foram
identificados diversos relatos de hepatotoxicidade após o consumo da fruta em
suas diversas formas. Portanto, até que estudos sistemáticos comprovem a
segurança e a eficácia, produtos contendo Noni não podem ser comercializados.
Em 2004, a Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos da
América enviou uma carta de alerta à empresa Flora, Inc. devido a propagandas
sobre o consumo do suco de noni com testemunhos e reinvindicações de estudos
científicos. A FDA não aprovou no que se diz respeito a efeitos médicos e
terapêuticos do suco de noni e substâncias relacionadas. Na União Europeia, o
suco de noni está registrado como ingrediente alimentar, pois segundo um comitê
científico o consumo de noni não é superiomente benéfico para a saúde comparado
a outros sucos de frutas, e portanto, é proibido por lei vender produtos
alimentares com finalidades terapêuticas.
Discussão
As promessas de cura, vitalidade e promoção de saúde que circundam o
Noni criam no imaginário do consumidor que este fruto é milagroso e a ingestão
do mesmo será a solução de todos os seus problemas de saúde, abandonado, então,
o tratamento específico e comprovadamente eficaz. Outro perigo identificado é o
possível poder hepatotóxico do Noni, gerando agravamentos ao estado de saúde do
consumidor, que ao procurar o Noni para o consumo já está, em geral,
debilitado.
Conclusões e Recomendações
Os alimentos comercializados com finalidade terapêutica devem ter um
cuidado especial na comercialização e no consumo. O Noni, apesar da
utilização milenar, não apresenta estudos científicos sistemático que garantam
a eficácia das ações prometidas, e nem que garanta a segurança do seu consumo. Sendo
assim a ANVISA proibiu a comercialização de produtos contendo o Noni
entretanto, sucos e extratos da fruta são encontrados facilmente na região
nordeste e centro-oeste, regiões mais pobres, com um acesso dificultado a
informações e mais propensas a consumir o suco. Desta forma cabe a ANVISA
intensificar fiscalizações e exigir maiores estudos sobre o Noni e o consumidor
deve estar atento aquilo que consome, buscando sempre o maior número de
informações sobre produto.
Referências Bibliográficas
·
AloeVita Produtos Naturais. Noni. <http://www.aloevita.com.br/?m=informes&ir=mostrar&InformeID=35>
Acesso em 2 de Agosto de 2013.
·
Department of health &
human services. <http://www.fda.gov/downloads/Drugs/GuidanceComplianceRegulatoryInformation/EnforcementActivitiesbyFDA/CyberLetters/ucm056351.pdf>
Acesso em 2 de Agosto de 2013.
·
Mesmo com restrições da Anvisa, fruta 'milagrosa'
vira sensação em PE <http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2013/04/mesmo-com-restricoes-da-anvisa-fruta-milagrosa-vira-sensacao-em-pe.html>
Acesso em 3 de Julho de 2013.
·
Agência Nacional
de Vigilância Sanitária. Gerência Geral de Alimentos. Gerência de Produtos
Especiais. Informe Técnico n. 25, de maio de 2007.
<http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/a3c4d6004eb543508635868a610f4177/Informe+T%C3%A9cnico+sobre+Noni.pdf?MOD=AJPERES>
Acesso em 3 de Julho de 2013.
·
Potterat, O.,
Matthias, H.. Morinda
citrifolia (Noni)
Fruit - Phytochemistry, Pharmacology, Safety. Planta Med 2007; 73(3): 191-199 DOI:
10.1055/s-2007-967115
Semelhante ao Noni, o Goji (fruto originário do sul da ásia) ganhou o status de super alimento e o consumo deste fruto aumentou recentemente no Brasil com a promessa de redução de peso, ação anti-inflamatória, ação anti-hipertensiva, regular nívies glicêmicos, ação anticancerígena, reduzir níveis de colesterol, combater impotência sexual, prevenir envelhecimento e a lista continua a crescer. Todos estes benefícios estariam supostamente relacionados a presença de Vitamina C, Vitaminas do Complexo B, polifenóis antioxidantes, aminoácidos essenciais, beta sisterol, cyperona, fisalina, ácido linolieco, entre outros. O Goji também vem recebendo grande atenção da mídia devido a relatos de uso por famosos. No entanto, há controvérsias quanto aos estudos científicos que comprovem todos este benefícios. Embora alguns estudos relatam de fato efeitos benéficos do fruto como o aumento de biomarcadores antioxidantes, bem-estar, melhora da funcão gastrointestinal, propriedade antiaging ou prevenção de doenças relacionadas ao envelhecimento ou ainda ação anticancerígena, muitos destes estudos foram conduzidos em experimentos in vitro com céluas ou em animais e não há resultados conclusivos em humanos (Chang & So, 2007; Amagase et al, 2008; Luo et al, 2009) Além disso, há estudos que relatam a interação de Goji com varfarina (anticoagulante), reduzindo eficácia do medicamento, e casos de riscos a saúde relacionados a sua ingestão, como anafilaxia (Rivera et al, 2012; Monzón Ballarín et al, 2011). Sendo assim, não há evidências suficientes quanto a eficácia do Goji e seus efeitos benéficos a saúde ou quanto a segurança do seu consumo (Potterat, O.; 2010). No Brasil, assim como vários outros alimentos ditos funcionais e nutracêuticos, o Goji e seus produtos como cápsulas ou sucos estão sendo vendidos sob o rótulo de alimentos, livres de registro e regulação baseados na Resolução n.53 de 15 de março de 2000 da AVISA, um exemplos é Goji Berry (Supra Vita), cápsulas de extrato de Goji.
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ResponderExcluirPara complementar a publicação, o alcalóide o qual o texto da Mariana Senna se refere é a xeronina e o seu precursor, a proxeronina. A xeronina, segundo Raph Heinicke ( Heinicke RM: The pharmacologically active ingredient of noni. Pacific Tropical Botanical Garden Bulletin. 1985;15:10-14), teoricamente, seria responsável por diminuir inchaços, dores e outros fatores relacionados a inflamação, isso porque ela evitaria a cascata inflamatória, do ácido araquidônico, diminuindo fatores pro-inflamatórios.Também segundo Heinicke, o nosso corpo acumularia xeronina na forma de proxeronina, no fígado, onde do qual sairia a proxeronina em direção a um órgão cujas as células do seu tecido tivessem uma redução de níveis de xeronina.Infelizmente, Ralph Heinicke cometeu algumas gafes ao longo do seu estudo, a principal delas foi não elucidar a estrutura química do alcalóide ao qual ele se refere, a xeronina, como é mostrado no estudo: McClatchey.W: From Polynesian Healers to Health Food Stores: Changing Perspectives
ResponderExcluirof Morinda citrifolia (Rubiaceae). Integrative Cancer Therapies 1(2); 2002 pp. 110-120, no qual também é mostrado o caráter comercial, devido a associação do suco da Morinda cintrifolia(Noni) com a xeronina, tal associação elevaria o valor agregado do produto, que deixaria de ser um alimento comum, para ser produto alimentício com atividades terapêuticas.