Por João Lucas Dornellas e Mariana Soares
O ácido linoleico é um ácido graxo ômega-6, presente nas cápsulas do Linolen e também nos alimentos rotineiramente consumidos, principalmente de origem vegetal. Há estudos que mostram seus efeitos no metabolismo lipídico, mas são geralmente inconclusivos em relação à diminuição de peso e medidas propostas pela propaganda do Linolen.
É válido investir na cara suplementação com ácido linoleico objetivando esses resultados?
RESUMO
Trata-se
de uma linha de produtos idealizada pela Nutrilatina, com a proposta de ser um
programa de redução de peso e medidas através da atuação no metabolismo de
gorduras, principalmente da região abdominal[1]. Daremos destaque
às cápsulas do Linolen® que, segundo o fabricante, é um suplemento alimentar à
base de Carthamus tinctorius, planta
da qual os princípios ativos são extraídos, purificados e concentrados nas
cápsulas, o que garantiria a qualidade e velocidade nos processos de redução de
gorduras corporais[1], e pode ser um argumento usado para
justificar o seu alto custo: a embalagem com 180 cápsulas custa entre R$180,00
e R$200,00, enquanto outras marcas vendem as cápsulas de óleo de cártamo por
cerca de R$80,00[9].
Sua
propaganda é voltada para um público ativo, que faz exercícios físicos e
pretende melhorar seus resultados no que diz respeito à estética corporal e
saúde através dos suplementos. Sendo assim, é esperado que haja uma redução da
gordura corporal provocada pelo exercício e alimentação por si, e a
suplementação deve ter a função auxiliar, intensificando esse processo de forma
saudável, sem comprometer a saúde do indivíduo.
Entretanto,
os estudos com uso humano são poucos e inconclusivos, o que coloca em xeque a
real necessidade de uma suplementação dessa natureza. O ácido linoleico, principal componente das
cápsulas, é facilmente obtido na alimentação e por isso a sua deficiência é considerada sem relevância clínica.
LEGISLAÇÃO
O produto tem registro na ANVISA na categoria de
“Novos alimentos e novos ingredientes”, o que indica que o produto não pode
fazer nenhuma alegação de propriedade funcional ou para a saúde[7] [8].
Para obter o registro, é necessário comprovar que não há inclusão de ácido
linoleico conjugado (CLA) na composição, proibido pela agência em 2007 sob o
argumento de que os estudos de segurança e eficácia de suplementos à base de
CLA eram inconclusivos[6].
ASPECTOS BROMATOLÓGICOS, TOXICOLÓGICOS E
REGULATÓRIOS
As
cápsulas do Linolen® são compostas de 1000mg de óleo de cártamo. O óleo tem o
ácido linoleico (LA) como componente majoritário, e ele é a substância
extraída, concentrada e purificada no produto. Trata-se de um ácido graxo essencial
do tipo ômega-6 (ω-6): ácido cis,
cis-9,12-octadecadienoico. Está presente em outros óleos de origem vegetal como
os de milho e girassol, compõe cerca de 51% do óleo de soja e 76% do óleo de
cártamo[2]. As recomendações
diárias desse nutriente são controversas, pois dependem de uma relação entre as
quantidades de ω-6 e ω-3 ingeridas na dieta. A FAO/OMS recomenda o consumo de
10 a 12g/dia de ω-6 e 1,1 a 1,5g/dia de ω-3 para indivíduos de 19 – 30 anos, o
que fornece uma relação aproximada 10:1[3]. Há estudos considerando
que não há uma relação ótima: as diferentes proporções têm diferentes efeitos
fisiológicos[4].
Uma vez ingerido, o ácido linoleico é esterificado,
formando triacilglicerol no enterócito e passando para a circulação sanguínea
na forma de quilomícrons. A lipase lipoproteica (LPL) é uma enzima presente na
parede interna dos capilares sanguíneos e hidrolisa o triacilglicerol do
quilomícron, liberando ácidos graxos que incorporam-se ao tecido adiposo,
inibindo a expressão de enzimas participantes da lipogênese[2]. O
ácido linoleico inibe a LPL, impedindo a incorporação do ácido graxo no tecido
adiposo, o que faz com que o organismo use os estoques já existentes para as
necessidades energéticas[5].
Os estudos dos efeitos do ácido linoleico em humanos
são limitados e controversos no que diz respeito à perda de peso[5],
e a maior parte deles é feito em indivíduos obesos ou com sobrepeso, o que não
necessariamente representa o público a quem se dirige o Linolen®.
Quanto à legislação, o Linolen® traz no rótulo as
inscrições indicando que não há evidências científicas que comprovem que ele
trate, previna ou cure doenças, como estipula a legislação[7]. No
site do produto, entretanto, há a clara informação de auxiliar na redução de
gorduras corporais[1]. Apesar de existir uma legislação sobre o CLA
proibindo sua comercialização com base na falta de evidências científicas, os
estudos sobre o ácido linoleico também não chegam a uma conclusão definitiva
sobre seus efeitos e toxicidade.
CONCLUSÃO
Concluímos
que a suplementação com Linolen® deve
ser vista com cuidado pelas autoridades sanitárias, devido à falta de consenso
nos estudos. Principalmente, deve ser acompanhada e orientada por profissionais
habilitados para avaliar e
ajustar a alimentação do usuário a fim de manter o balanço de ácidos graxos
adequado e orientar quanto à importância da atividade física para obter o
resultado desejado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[2] RODRÍGUEZ-CRUZ, M.; et
al. Mecanismos moleculares de acción de los ácidos
grasos poliinsaturados y sus beneficios en la salud. In: Revista de Investigación Clínica,
2005. Disponível em: < http://www.scielo.org.mx/scielo.php?pid=S0034-83762005000300010&script=sci_arttext&tlng=en>.
Acesso: 11/08/2013.
Realmente não há estudos conclusivos para os efeitos beneficos do ácido linoleico. Kriketos et al (2001) e Bjermo et al (2012)mostraram que não há relação direta entre o consumo de ômega 6 e redução de peso. Por outro lado, há ainda estudos que correlacionam a ingestão de suplementos ácidos graxos ômega 6 e o aumento do risco de câncer, como mostra a revisão por Zock e Katan no American Journal of Clinical Nutrition em 1998. Além disso, o consumo de ácido graxos está tem sido relacionado a esteatose hepática (Bradbury, M.W.; 2006) e a ingestão de ômega 6 e a formação de placas de ateroma no endotélio resultando em complicações cardiovasculares foi relatada por Harris et al, 2010.
ResponderExcluirAinda não existem comprovações científicas de que a suplementação com CLA reduza o peso corporal ou o índice de massa corporal em humanos, porém algum efeito relacionado à redução do tecido adiposo parece ocorrer com doses acima de 3g de CLA por dia, especialmente na região abdominal de homens obesos, e no tecido muscular esquelético, que reflete em alterações apenas na composição corporal, mas não na perda de peso. No entanto, existem alguns indícios de que indivíduos pós-obesos, em novo ganho de peso, sejam mais suscetíveis aos efeitos do CLA do que os de peso estável; assim como homens obesos em relação a mulheres obesas. Contudo, essas suposições ainda são inconsistentes devido à grande variabilidade nos delineamentos experimentais, especialmente quanto à dose, ao tipo de isômero(s) usado(s), e ao tempo de intervenção. Além de ser encontrado em alimentos de origem vegetal, o CLA é encontrado em maiores concentrações na gordura de ruminantes, como, por exemplo, carne de gado, laticínios, entre outros. Nove isômeros diferentes do CLA foram relatados como de ocorrência natural nos alimentos, sendo que o 9-cis, 11-trans é o de maior ocorrência e é incorporado à membrana plasmática. Já o isômero 10-trans, 12-cis não é incorporado às membranas, parecendo estar mais relacionado ao metabolismo energético. Em produtos lácteos, a concentração de CLA varia de 2,9 a 8,92mg CLA/g de gordura, sendo que o isômero 9-cis, 11-trans contribui com cerca de 73% a 93% do total de isômeros do CLA nesses produtos. A gordura da carne de gado contém cerca de 3,1 a 8,5mg de CLA/g de gordura, com os isômeros 9-cis, 11-trans contribuindo com cerca de 57% a 85% do CLA total6.É importante ressaltar ainda que alguns efeitos indesejáveis relacionados ao uso do CLA foram encontrados tanto em estudos com humanos quanto em animais, como aumento da resistência à insulina, aumento da glicose e insulina de jejum; elevação da peroxidação lipídica, redução da HDL-colesterol em indivíduos com síndrome metabólica (dislipidemia, hiper-tensão) tratados com o isômero 10-trans, 12-cis.
ResponderExcluirO ácido linoleico conjugado (CLA) é um termo utilizado para descrever um grupo de isômeros geométricos e posicionais do ácido linoleico. Esses compostos são encontrados naturalmente na gordura do leite e da carne de animais ruminantes como resultado do processo de isomeração enzimática do ácido linoleico conduzido pelas bactérias localizadas no intestino desses animais. O CLA também pode ser produzido industrialmente por meio da isomeração alcalina do ácido linoleico.
ResponderExcluirPara que as preparações comerciais de CLA possam ser comercializadas no Brasil, é necessário que os interessados comprovem a segurança de uso desses produtos, uma vez que essas substâncias serão utilizadas em níveis superiores aos atualmente observados na alimentação da população brasileira.
A segurança de uso do CLA isolado, nas formas líquidas ou em cápsulas, ou como ingrediente alimentar para adição em vários alimentos já foi avaliada em diversas ocasiões e todos os processos foram indeferidos porque as informações, encaminhadas pelas empresas, não demonstraram a segurança de uso destes produtos.
Foi observado que muitas empresas descreviam que a finalidade de uso do CLA era fornecer ácidos graxos poli-insaturados essenciais ômega 6, com uma recomendação diária de aproximadamente 3,5 g/dia. Porém a RDC 360/2003, a qual aprova o regulamento técnico sobre rotulagem nutricional obrigatória, apresenta as seguintes definições para gorduras poli-insaturadas e trans: "Gorduras poli-insaturadas: são triglicerídeos que contém ácidos graxos com duplas ligações cis-cis separadas por grupo metileno, expressos como ácidos graxos livres" e "Gorduras trans: são os triglicerídeos que contém ácidos graxos insaturados com uma ou mais dupla ligação trans, expressos como ácidos graxos livres."
A partir das definições descritas, verifica-se que, legalmente, o CLA é considerado uma gordura trans e não pode ser enquadrado como uma gordura poli-insaturada. O CLA não pode ser considerado um ácido graxo poli-insaturado ômega 6 e nenhuma evidência científica que comprove que o CLA é essencial para o organismo humano foi apresentada.
Por mais que muitos estudos investigam o efeito do CLA na redução do peso e da gordura corporal e que em alguns países comercializam produtos contendo CLA com tal propósito, esta finalidade não foi comprovada cientificamente pelas empresas interessadas em comercializar o CLA no Brasil.
Alguns estudos toxicológicos foram realizados em animais, porém não foram suficientes e adequados para a caracterização dos efeitos adversos do CLA e, consequentemente, para a determinação do seu limite de segurança. Tais estudos apresentam resultados controversos quanto à segurança da suplementação do CLA, tendo sido relatados os seguintes fatos observados: (i) Aumento dos níveis de LDL e triglicerídeos totais e redução dos níveis de HDL; (ii) Alterações negativas no metabolismo da glicose e insulina, com aumento da resistência à insulina em indivíduos com diabetes tipo 2 e obesidade; (iii) Aumento de marcadores inflamatórios e de estresse oxidativo; e (iv) Redução na quantidade de gordura no leite materno.
Logo, pode-se concluir que ainda não foi esclarecido adequadamente o propósito de uso do CLA.