Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

sábado, 16 de dezembro de 2017

Contaminação por arsênio em produtos infantis à base de arroz

Vinicius Alves Duarte da Silva



A adição de farinha de arroz a alimentos infantis é uma prática comum que visa aumentar a consistência do produto, tornando-o, assim, visualmente mais aceitável. No entanto, o arroz é o cereal mais afetado pela contaminação com arsênio
por absorvê-lo em maiores quantidades, em parte devido ao crescimento do vegetal em áreas alagadas. O arsênio é um elemento extremamente tóxico que impacta negativamente no desenvolvimento de diversos sistemas do organismo, sobretudo os sistemas imune e nervoso.

Descrição do Produto: Como exemplo de alimento infantil, vamos utilizar as papinhas industrializadas. Estas são indicadas para bebês a partir dos 6 meses de vida, que começam a complementação alimentar com outros alimentos além do leite materno. As papinhas da marca Nestlé, por exemplo, possuem adição de farinha de arroz em quase todas as variedades como ingrediente essencial na manutenção da consistência do produto.


Exemplo de papinha de ameixa da marca Nestlé, apresentando farinha de arroz como ingrediente.


Fundamentos Bromatológicos e Legislação: Estudos epidemiológicos recentes sugerem que a exposição ao arsênio na vida uterina e nos primeiros estágios de vida podem estar associados a efeitos adversos de desenvolvimento, sobretudo dos sistemas imune e nervoso [1], [2], [3]. O arsênio é encontrado em pesticidas e herbicidas e seu acúmulo nos vegetais pode impactar em uma contaminação crônica desse elemento no organismo. Os limites de tolerabilidade ao arsênio vem se tornando cada vez mais restritos dado o alto grau de toxidez do mesmo. Por isso, em 2015, o FDA alterou o limite máximo de ingestão de arsênio para 200 ng/g em arroz polido e a União Europeia reduziu o limite ainda mais, para 100 ng/g em alimentos infantis [4]. No Brasil, no entanto, o cenário é outro. Segundo a ANVISA, o arroz brasileiro não apresenta riscos de contaminação e portanto, a preocupação internacional não se aplica ao Brasil. Por outro lado, pesquisas brasileiras mostram que algumas amostras de arroz nacional apresentam níveis acima do tolerado de arsênio [5]. Além disso, o limite de tolerabilidade ao arsênio da ANVISA é de 300 ng/g para arroz polido, valor consideravelmente mais elevado que os padrões internacionais. 

Discussão e Conclusão: Posto isso, as papinhas industrializadas, um dos alimentos mais consumidos por lactentes a partir dos 6 meses, devem ser alvos de monitoramento sanitário constante a fim de que os limites de arsênio sejam mantidos controlados. Além disso, levanta-se um outro aspecto não mencionado anteriormente - a necessidade da adição de farinha de arroz a esses produtos. Em meio a tantas controvérsias, o ideal seria a retirada desse ingrediente de produtos infantis, uma vez que a farinha de arroz não compõe um ingrediente essencial para o preparo desses alimentos e muitos consumidores sequer encontram-se devidamente informados sobre a presença do mesmo.

Referências:

[1] Karagas et al. Association of Rice and Rice-Product Consumption With Arsenic
Exposure​ ​Early​ ​in​ ​Life​. JAMA Pediatrics, 2016.
[2] Farzan et al. In utero arsenic exposure and infant infection in a United States
cohort:​ ​a​ ​prospective​ ​study​. Environmental Research, 2013.
[3] Nadeau et al. In utero arsenic exposure and fetal immune repertoire in a US
pregnancy​ ​cohort​. Clinical Immunology, 2014.
[4] FDA Statement on Testing and Analysis of Arsenic in Rice and Rice Products
(https://www.fda.gov/Food/FoodborneIllnessContaminants/Metals/ucm367263.htm)
[5] Souza et al. ARSÊNIO E ARROZ: TOXICIDADE, METABOLISMO E SEGURANÇA
ALIMENTAR​. Química Nova, 2015.

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