Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Uso de aceleradores do crescimento em alimentos: O curioso caso das melancias explosivas





No mês de maio deste ano fomos surpreendidos com uma curiosa notícia: “Uso de produtos químicos gera melancias explosivas na China”, alerta o título do Jornal Eletrônico do Estadão. A suspeita quando mais da metade das plantações de melancia no leste do país simplesmente explodiram foi o uso de um acelerador de crescimento conhecido como forclorfenurão. Embora a prática seja comum, a inexperiência de “novos” agricultores acrescida ao uso em concentrações absurdas da substância podem ter causado o fenômeno. Esse caso anormal nos permite questionar sobre o uso de hormônios e aceleradores de crescimento nos alimentos que ingerimos. Afinal, se essas substâncias são capazes de explodir melancias, o que será que não podem fazer no nosso organismo?!




Por: Laizes Johanson e Talita Stelling de Araújo






A nível mundial, a melancia é a quarta hortaliça em volume de produção, com cerca de 47 milhões de toneladas anuais. O maior produtor é notoriamente a China, onde as explosões da fruta ocorreram.



O caso das melancias explosivas chinesas foi atribuído ao uso de um acelerador de crescimento de plantas relativamente novo (registrado em 2004): o forclorfenurão. Este composto da classe das feniluréias foi aplicado nas melancias cultivadas a fim de provocar um aumento no tamanho da fruta e torná-la, dessa forma, mais atrativa ao comércio. Mais quais são as conseqüências do uso destes reguladores de crescimento? E qual o impacto na saúde humana?


Os reguladores vegetais agem alterando a morfologia e a fisiologia da planta. O regulador envolvido neste escândalo, o forclorfenurão, é uma citocinina que age de maneira sinérgica com as auxinas naturais (hormônios de crescimento), promovendo a divisão celular e o crescimento lateral da fruta (alongamento). Tem sido usado principalmente em plantas que não toleram a aplicação da giberelina (ácido giberélico), como certas variedades de uvas e kiwi. O atrativo do uso de reguladores é a diminuição no tempo de cultivo e o aumento do peso da fruta, aumentando a produtividade e tornando a fruta mais atrativa comercialmente.



As taxas recomendadas de uso do forclorfenurão são extremamente baixas, variando de 2 – 10 gramas do ativo por acre (A). A aplicação deve ser feita uma vez por estação e a aspersão do produto no solo deve ocorrer nas fases mais iniciais do desenvolvimento da planta, antecedendo o seu florescimento e frutificação.



Dentre os motivos, a explosão das melancias parece estar relacionada com o uso de concentrações excessivas do produto e com a sua aplicação muito tardia. Segundo Nozomu Makishima, pesquisador agrônomo da EMBRAPA, os produtos aceleram em muito o crescimento, mas as células não conseguem acompanhar a velocidade. Assim, a fruta absorve ainda mais líquido, até que não suporte e exploda.



O fenômeno da explosão pode acontecer em condições naturais. Se chover muito ou a plantação for irrigada excessivamente, a planta pode absorver uma quantidade grande de água do solo, explodindo. Entretanto, é um fenômeno em menor escala e não se compara com as inúmeras explosões que ocorreram no leste chinês.



De acordo com a Agência Americana de Proteção ao Meio Ambiente, os únicos sintomas apresentados associados a ingestão de forclorfenurão (400 mg/dia) em estudos com ratos, são alopecia e perda de peso tanto da mãe quanto do feto durante a gestação. Nenhum dos estudos realizados até o momento indicou que a substância apresente neurotoxicidade, embora sejam estudos preliminares e necessitem de maior aprofundamento. Nenhum sintoma de desregulação endócrina também foi observado em estudos com camundongos e coelhos. Os estudos de carcinogenicidade não indicaram aumento da incidência de tumores em ratos ou camundongos, portanto, o forclorfenurão foi classificado como não susceptível a ser um carcinógeno humano.

Em ratos, o único órgão que foi afetado pelo uso desta substância foi o rim num estudo que durou 2 anos com a exposição de 93 mg/kg/dia para machos e 122 mg/kg/dia de forclorfenurão para fêmeas. Lesões microscópicas no estômago também foram observadas.



Usando as categorias da EPA, o forclorfenurão encontra-se classificado nas categorias III e IV, isto significa que ele é pouco ou nada tóxico/irritante.



É importante, entretanto, ressaltar que o produto é novo e, portanto, os estudos citados tem a limitação temporal. Deve-se lembrar que muitas patologias necessitam de exposições consecutivas ao agente e o aparecimento das mesmas pode levar muitos anos. Um desses casos é o próprio desenvolvimento do câncer. Por isso, é necessário ter cuidado com as informações apresentadas nos estudos e não concluir que a substância é inócua ou não tenha grandes riscos a saúde humana.



Apesar dos estudos iniciais não apontarem para uma alta toxicidade por parte do forclorfenurão, o fato de grande parte das melancias terem explodido indica o uso de grandes quantidades da substância, e isso já constitui um risco a saúde. Além disso, este escândalo das melancias explosivas na China ocorreu dentre a uma série de outros escândalos envolvendo adulterações que levaram, inclusive, algumas pessoas ao óbito.
A regulamentação para o uso do forclorfenurão ainda não é muito clara, embora seu uso seja permitido e amplamente difundida.



Na realidade, durante busca na literatura, apenas a recomendação da quantidade a ser usada foi encontrada. Isso era de se esperar por ser um produto com registro relativamente recente. Entretanto, após os casos das melancias explosivas, fica claro a necessidade de uma regulamentação mais rígida e estudos mais aprofundados envolvendo este produto assim como outros reguladores que são usados de maneira indiscriminada.



Referências Bibliográficas:
1. Costa, N. D. e Leite, W. M. O Cultivo da Melancia. Disponível em:http://www.epa.gov/opprd001/factsheets/forchlorfenuron.pdf Acesso em: 29 de maio de 2011.
2. Globo Rural Online com informações da Agência EFE. Pesquisador da Embrapa explica o caso das melancias explosivas na China. Disponível em:<http://www.blogger.com/%3Chttp://revistagloborural.globo.com/Revista/Common/0,,EMI234304-18078,00-PESQUISADOR+DA+EMBRAPA+EXPLICA+O+CASO+DAS+MELANCIAS+EXPLOSIVAS+NA+CHINA.html%3E> Acesso em: 29 de maio de 2011.
3. US Environmental Protection Agency. EPA Toxicity Categories. Disponível em:<http://www.blogger.com/%3Chttp://www.fs.fed.us/r6/invasiveplant-eis/Region-6-Inv-Plant%20Toolbox/Herbicide%20Info/EPA-Toxicity-Categories-081607ver.pdf%3E Toolbox/Herbicide%20Info/EPA-Toxicity-Categories-081607ver.pdf> Acesso em: 30 de maio de 2011.
4. US Environmental Protection Agency. Forchlorfenuron. Disponível em: <http://www.blogger.com/%3Chttp://www.epa.gov/opprd001/factsheets/forchlorfenuron.pdf%3E> Acesso em: 30 de maio de 2011.





7 comentários:

  1. Dois fatores são importantes na classificação de produtos utilizados na agricultura: A persistência, tempo durante o qual, após a aplicação, o produto se mantém no ambiente, e a capacidade de deixar resíduos (ligeiramente, moderadamente ou altamente residuais).Afinal, estes produtos podem não só permanecer no alimento, sendo tóxicos para quem os consome, mas também para os trabalhadores que os aplicam, para o solo e a água do ambiente.
    Além disso, o que pode se dizer da qualidade nutritiva dessas frutas?O aumento do tamanho e do peso delas beneficia os vendedores que arrecadam pelo Kg, mas quem compra está levando para casa mais fruta ou mais água?Apesar de ser a composição majoritária da melancia, não se deve ignorar os demais nutrientes, não só nesta mas em todas as frutas que recebem estes aceleradores de crescimento.É claro que não se testa cada fruta ou cada colheita para determinar a qualidade e informar em rótulos nos mercados, mas se a qualidade da fruta é diminuída consideravelmente pelo uso de certo pesticida e ainda existem possíveis riscos à saúde pelo consumo deles, o uso deles não deveria ser permitido.
    Os métodos para a ANVISA e FDA liberarem estes produtos, aditivos etc se resume no fato de não encontrarem estudos indicando riscos e toxidez, porém só se sabe da existência destes componentes ou da toxicidade deles quando casos como o da melancias explosivas acontecem, ou seja, quando é tarde demais e já houve algum problema.E após a notificação de uma série de riscos e de danos é que estes órgãos passam a considerar o uso inadequado.

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  2. Muitos artifícios são utilizados para aumentar a produção de alguns alimentos ou para atrair os consumidores resultando em um lucro maior aos produtores e empresas. No caso deste trabalho foi utilizado um hormônio que aumenta o tamanho da melancia, tornando-a mais atrativa.
    As explosões das melancias devem ser melhor investigadas, mas nos leva a crer que foi devido ao excesso de hormônio utilizado. Deve ser investigado se este excesso pode ser prejudicial à saúde.
    Como se trata de um fato recente, mais estudos devem ser realizados ao longo do tempo, pois muitas patologias decorrem depois de um certo tempo.
    A legislação precisa ficar mais alerta a cerca deste fato limitando a quantidade máxima deste hormônio e em quais alimentos pode ser utilizado.
    Além disso, é importante que o consumidor saiba o que está ingerindo. Portanto, os alimentos que tenham o hormônio em sua composição devem tê-lo citado em seu rótulo.

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  3. Estudos mostraram isso, estudos mostraram aquilo...
    Já começo a duvidar de certo estudos científicos. O comprometimento científico está sendo corrompido. Que tal começarmos a fazer da forma correta? Vamos esperar mais 1 ou 2 meses para a produção natural da melancia, da uva, do maracujá ou qualquer um ocorra. Ou então vamos investir na capacitação desses produtores, estudos a respeito de macro e micronutrientes no solo. O que vejo, na realidade, é a boa e velha demagogia em ação, é a mudança do foco para o que realmente importa.

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  4. Em parte concordo com o comentário acima. Sim, talvez seja mais seguro e efetivo por enquanto investir na capacitação dos produtos, na elaboração de esquemas de plantio mais eficientes que não esgotem o solo, porém em um futuro não muito distante vamos chegar neste impasse: teremos mais bocas para alimentar do que capacidade de produzir. Por enquanto, ‘experimentos’ como estes podem parecer apenas um luxo ou uma tentativa de lucrar mais rapidamente. Afinal, por que esperar a galinha crescer se você pode usar hormônios e tê-la nos mercados mais cedo?
    No entanto, essa lógica falha quando analisamos um dos produtos mais basais nas mesas do mundo: o milho. O milho fornece a melhor demonstração de uma colheita domesticada que acabou gerando um vegetal mais atrativo, já que ao colher e plantar espécimes que eram mais fáceis de coletar, esbugalhar, mais rentáveis, acabou-se propagando mutações que resultaram em uma ‘planta inferior’, mas um alimento melhor. Atualmente, a planta que consumimos depende quase inteiramente dos seres humanos para a sua sobrevivência. O milho foi ‘selecionado naturalmente’ pelas centenas de anos de colheita chegando a tal ponto que se tornou incapaz de sobreviver por si mesmo, mas pôde fornecer alimento suficiente para sustentar civilizações inteiras.
    Será que é possível continuar aumentando a produção deste vegetal no ritmo de nosso crescimento, preservando o solo sem a utilização de tecnologias mais avançadas, seja em fertilizantes, plantações entressafras mais ‘inteligentes’, manipulação genética ou desenvolvimento de maquinário altamente especializado? Não acredito nisso. Os milhões investidos em pesquisas parecem confirmar. Não necessariamente a tecnologia estará no produto a ser consumido, mas até as gramas plantadas entressafras são híbridos planejados de forma que eles possam evitar a espoliação total do solo.
    Acho que devemos estar preparados para aceitar que novos produtos virão. E quando afirmo isso quero dizer que as agências reguladoras devem criar departamentos voltados para a identificação e avaliação de novas tecnologias/insumos, para assim avaliar o seu real risco. Uma empresa deveria ser obrigada a relatar detalhadamente quaisquer modificações no processo de plantio/produção de algum produto que já exista no mercado. Chega da política do esperar para ver, onde todos nós acabamos virando cobaias involuntariamente.
    Bellwood, Peter. First farmers: The Origins of Agricultural Societies. Oxford, Blacwell, 2005.
    http://www.physorg.com/news195831792.html

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  5. Wang Liangju, um professor da faculdade de Horticultura Agricultural da Nanjing University disse que o forclorfenurão é seguro e eficaz quando utilizado corretamente. (Uma alegação clichê) Ele disse que a droga tinha sido usada num estágio tardio, e que a chuva também aumentou o risco de quebra do fruto. Entretanto, ele disse que a variedade da fruta também desempenhou um papel.

    "Se tivesse sido usado em frutas muito jovem, não seria um problema", disse Wang. "Outra razão é que trata-se de uma variedade de casca, fina e estes tipos são realmente apelidado de " melancia explosiva" porque elas tendem a dividir naturalmente."

    Assim como outros compostos químicos da indústria agrícola, inseticidas, conservantes, hormônios de maturação podem não haver riscos preliminares ao primeiro olhar. Entretanto, sabe-se que a exposição e eles é longa, seja no consumo ou no cultivo o que de longe já gera incertezas. É muito inconclusivo tomar como veredicto os resultados apresentados em estudos simples, partindo de premissas que as vezes induzem a equívocos

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  6. O uso de substancias que atuam com a finalidade de aumentar a produtividade e tornar o alimento mais atrativo comercialmente, o que representa uma manobra dos comerciantes para diminuir custos financeiros, tem sido largamente empregado nos alimentos. Paralelamente a isso encontra-se o descaso dos produtores frente ao potencial risco dessas substancias para a saude de seus consumidores. O pensamento capitalista de vender mais e a menores custos tem colocado o consumidor na posição de cobaia, já que muitos consomem estes alimentos sem saber o tipo de substancia que tem sido usada na fabricação destes. Cabe a nós, futuros farmacêuticos, exigir uma maior regulação sobre essas substancias, incentivando a promoção de estudos cientificos sobre as possiveis ações dessas substancias no organismo humano.

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  7. p.s.: capacitação dos 'produtores'..não dos produtos

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