Sem açúcar, com afeto: segundo a empresa Línea, o adoçante sucralose é o único adoçante artificial que pode ser utilizado sem restrições. Mas, sem restrições? E o que podemos dizer sobre o que seria, segundo a mesma empresa, tido como "escolha certa" para o uso de adoçantes sendo a sucralose um “primo” químico dos defensivos agrícolas, pesticidas e outros agrotóxicos? Isso poderia ter sérios riscos do ponto de vista toxicológico para ser dito que pode ser consumido “sem restrições”? E porquê teria, já que se trata de um "inofensivo" derivado do açúcar que adoçamos todos os dias os nossos cafezinhos?
Por Diego Lopes e Adrian Sena, 2011
A sucralose é prontamente solúvel em água, em alcoóis de cadeia pequena (até 5 carbonos) e em pH neutro. Porém, pode sofrer hidrólise em pH ácido (estudos de estabilidade conduzidos em 1998 pelo SCF – Comitê Científico sobre Alimentos da EU – mostram que a hidrólise ocorre numa taxa de 0,3% a pH 3,0 em 20°C por seis meses) em dois fragmentos: o 4-deoxigalactose (4-CG) e o 1,6-dicloro-1,6-dideoxifrutose (1,6-DCF) os quais podem ser gerados a nível estomacal por ação do ácido clorídrico que pode variar o pH entre 1,0-2,0, a temperatura de aproximadamente 36°C (superior aos estudos de estabilidade do SCF, algo que poderia aumentar a velocidade de hidrólise). Um detalhe que vale a pena ser acrescentado: são prontamente absorvidos pelo trato gastrointestinal.
A sucralose teve seu consumo largamente explorado devido ao fato de não ser calórica, ter poder adoçante maior do que a sacarose em 600 vezes e ser termoestável. Além disso, não interage quimicamente com alimentos (razão pela qual pode ser utilizada como edulcorante em alimentos industrializados) e pode ser estocada, mantendo seu sabor. Outras características que são relativas à sucralose é sua não interferência à secreção de insulina, absorção e metabolismo da glicose (Claudio & Campos, 1995).
Porém, o JECFA (Joint Expert Comitte on Food Aditives) realizou, em 1999, estudos sobre a metabolização da sucralose e os riscos do seu principal metabólito: o 1,6-DCF (ainda que o 4-CG seja gerado, acredita-se que a tensão no anel de 5 membros torne o 1,6-DCF um metabólito potencialmente mais perigoso do que o 4-CG, que possui um anel de 6 membros). Os resultados preliminares indicaram que a sucralose não apresentava efeitos observáveis (NOEL – No Observable Effects Limit) na secreção de insulina além de não ser bioacumulado em fetos de roedores em gestação. Contudo, foi observado redução na massa corporal dos testes, sugerindo a impalatabilidade da sucralose adicionada aos alimentos (simulando o consumo humano para o adoçante) e não um efeito direto do próprio edulcorante que provocasse o emagrecimento.
Estudos mais recentes (ca. 2000) foram realizados pelo SCF, e revistos por Rodero, 2009, para atualizar os dados relativos à sucralose, incorporar fatores desconsiderados até então como: imunotoxicidade, alterações na flora intestinal e teratologia, além de responder de maneira mais conclusiva questões relativas ao uso da sucralose e variações do peso corporal – algo que foi atribuído anteriormente à impalatabilidade. Entretanto, a sucralose, administrada na dose de 1,0mg/kg/dia mostrou que não sofre metabolização e é eliminada em grande medida pela urina (78,3%). Outros estudos (John et al, 2000) empregando adminstração oral durante o período gestacional, utilizando 5 dias de administração com doses entre 1000, 1500 (preconizada como NOEL) e 3000 mg/dia, não mostraram alterações na absorção e, por conseguinte, a eliminação renal foi mantida nas suas proporções, excretada de forma inalterada. Os produtos de hidrólise já comentados (4-CG e o principal, 1-6 DCF) foram também analisados. São eliminados pela urina, tanto quanto a sucralose e são seguramente metabolizadas e eliminadas como conjugados ao ácido glicurônico (John, 2000). Estudos quanto à teratologia dos produtos de hidrólise (i.e. se há má formações) foram feitos em ratos em gestação nas doses de 500, 1000, 1500 e 2000mg/ dia e não foram detectadas alterações quanto à formação fetal. Porém, os mesmos estudos mostraram que ocorriam alterações quanto à contagem leucocitária e também houve um aumento de nefropatias, provavelmente decorrente por sobrecarga renal, já que a via de eliminação é majoritariamente urinária. Os estudos feitos (Goldsmith & Meckel, 2000) com os metabólitos da sucralose, como o 1,6-DCF e o 4-CG (e também com intermediários destes metabólitos, como o 6-cloro-6-deoxifrutose, 6-CF) não revelaram efeitos teratológicos em ratos na dose de 16g/kg/dia – bem acima do recomendado pelo FDA – em concentrações de 1, 2 e 5%. Os resultados mostram que, a 5%, ocorre as alterações hematológicas – como redução na contagem linfocitária – além de aumento de excreção de cálcio e magnésio.
A Anvisa utiliza, como parâmetro base de sua regulamentação técnica para edulcorantes, as advertências da OMS, FDA e o próprio UE-SCF. Assim, o uso é liberado. A autoridade sanitária nacional afirma que os estudos feitos em outros países atestam a segurança da sucralose, algo que é endossado pelo aumento de consumo e mesmo prescrição por parte de médicos endocrinologistas e nutricionistas quando recomendam dietas com restrição calórica aos pacientes, em substituição ao aspartame e ao ciclamato monossódico.
SASAKI, Y. F. et al. The comet assay with 8 mouse organs: results with 39 currently used food additives Mutation Research/Genetic Toxicology and Environmental Mutagenesis, v. 519, n. 1-2, p. 103-119, ago. 2002.
EUROPEAN COMMISSION - HEALTH & CONSUMER PROTECTION DIRECTORATE-GENERAL - Directorate C - Scientific Opinions - C3 - Management of scientific committees II; scientific co-operation and networks. Opinion of the Scientific Committee on Food on sucralose
BRASIL. Resolução RDC n. 18 de 24/03/2008 – Regulamento Técnico que autoriza o uso de aditivos edulcorantes em alimentos, com seus respectivos limites máximos.
JECFA (1991) Evaluation of certain food additives and contaminants. Thirty-seventh
Report of the Joint FAO/WHO Expert Group on Food Additives. WHO Technical Report Series 806. WHO, Geneva.
Bem interesante o trabalho.
ResponderExcluirGostaria de complementar, mencionando alguns estudos que foram feitos sobre a segurança da sucralose.
A segurança da sucralose já foi analisada pelas principais autoridades médicas, científicas e regulatórias do mundo inteiro, entre elas: Administração de Drogas e Alimentos dos EUA (FDA), Organização Européia de Segurança Alimentar (EFSA), Organização de Saúde do Canadá, Normas Alimentares (Austrália/Nova Zelândia), Conselho Japonês de Saúde Alimentar e Comitê Conjunto de Peritos em Aditivos Alimentares (JECFA), formado pela FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) e OMS (Organização Mundial da Saúde).
Todos concluíram pela segurança do uso da sucralose como ingrediente alimentar por parte do público em geral, inclusive crianças, gestantes e lactantes. Também é adequado seu uso por pessoas com diabetes, porque ele não afeta os níveis de glicose ou insulina no sangue.
Os estudos de segurança demonstram que a sucralose é um ingrediente seguro e basicamente inerte. Algumas das conclusões destes estudos são as seguintes: não há efeitos adversos conhecidos, não é tóxica: não foram observados efeitos adversos em animais de teste, mesmo em quantidades de doçura equivalente a mais de 18 kg de açúcar por dia para o resto da vida, não produz efeitos sobre o metabolismo de carboidratos; não tem efeito sobre o controle a curto ou longo prazo da glicose no sangue ou sobre os níveis de insulina sérica: a sucralose é adequada ao consumo por pessoas com diabetes*; não tem calorias ou carboidratos: a sucralose não é reconhecida pelo organismo como carboidrato e não é metabolizada ou decomposta de outra forma como fonte de energia.
*A sucralose é segura para as pessoas com diabetes: os estudos demonstram que a sucralose não é reconhecida pelo organismo como carboidrato e, portanto, não tem qualquer efeito sobre o controle da glicose no sangue ou a resposta de insulina. Estes estudos incluíram alguns de uso prolongado e alta dosagem por pessoas com diabetes, bem como por indivíduos que não sofrem desta doença.
Mas Thais, de fato ela não atua sobre os níveis insulinêmicos e nem altera a metabolização de glicose. Isso eu até já havia mencionado no texto. O problema não é esse, ao meu ver, mas sim a falta de comparação toxicológica com outros adoçantes no mercado ou então, não se pode dizer que é mais seguro do que aspartame ou acessulfame K, por exemplo. E tem mais, ela pode causar sim (vide acima) efeitos que são, no mínimo, interessantes, como as alterações hematológicas, nefropatias e alterações no metabolismo do cálcio. E isso, ninguém sabe ao certo como e porquê. Mas, tá valendo...
ResponderExcluirDML.
Estudos demosntraram que o consumo de substitutos de açúcar em refrigerantes diet e outros alimentos com a finalidade de reduzir calorias pode tornar mais difícil o controle do peso.
ResponderExcluirOs ratos no estudo da Universidade Purdue, que foram alimentados com alimentação regular de iogurte adoçado com sacarina não calórico arrecadou mais calorias totais e ganharam mais peso do que ratos alimentados com ração regular de iogurte adoçado com açúcar.
Os pesquisadores especulam que ao longo do tempo, o uso de adoçantes como a sacarina, aspartame, sucralose condicionam o corpo para não mais associar com o açúcar com calorias, interrompendo, assim, sua capacidade de avaliar com precisão a ingestão calórica.
Essa pesquisa corrobora com o fato de que se deve evitar o consumo desenfreado desses adoçantes.
Então, Sylvia, é algo muito mais psicológico do que efetivamente metabólico. Interessante, não havia pensado dessa forma.
ResponderExcluirDML
Ao notar que fiz a mesma observação que a aluna Thais, decidi trazer uma outra abordagem ao tema.
ResponderExcluirAdoçantes artificiais são adicionados a uma grande variedade de alimentos, bebidas e drogas. Desde sua introdução, os meios de comunicação têm relatado sobre os riscos de câncer em potencial, o que tem contribuído para minar a sensação de insegurança. Pode-se supor que cada cidadão dos países ocidentais usa adoçantes artificiais, conscientemente ou não. A atividade indutora de câncer de uma dessas substâncias significaria um risco de saúde para uma população inteira. Foram realizadas várias pesquisas sobre adoçantes artificiais. Estes artigos incluídos "primeira geração" adoçantes como a sacarina, ciclamato e aspartame, assim como adoçantes "nova geração", como o acessulfame-K, SUCRALOSE, alitame e neotame. Estudos epidemiológicos em seres humanos não encontrou o câncer de bexiga induzindo pelos efeitos da sacarina e ciclamato, que haviam sido relatados em estudos com animais.
Para adoçantes de nova geração, é muito cedo para estabelecer qualquer evidência epidemiológica sobre possíveis riscos carcinogênicos. Como muitos adoçantes artificiais são combinados em produtos de hoje, o risco carcinogênico de uma única substância é difícil de avaliar. No entanto, de acordo com a literatura atual, o possível risco de adoçantes artificiais para induzir o câncer parece ser insignificante.
Ainda é cedo para se dizer se a sucralose é segura ou não. Então todo o cuidado é pouco.
Seu uso não deve ser descartado, mas também não deve ser indiscriminado.
Como uma pesquisa séria como essa comete um erro tão banal.
ResponderExcluirO sachê da línea pesa 800mg no total (todos os ingredientes juntos). A quantidade de suclarose é apenas 8mg (e não 800mg como essa pesquisa séria indica).
Ou seja, especificamente falando da sucralose, se a pessoa ingerisse 100 sachês por dia (total de 800mg) ainda estaria abaixo dos 15mg/kg por dia.
Contesto. Como há só 1% em um sachê de sucralose? Talvez, você que não leu direito o rótulo.
ExcluirAcho que a pesquisa feita e falha. Os sachets nao sao 100% sucralose, por isso nao ha o consumo de 800mg de sucralose, leia corretamnte o sachet e vera a descricao dos ingredientes
ResponderExcluirQue tal deixar isso tudo pra lá e adoçar o cafezinho com uma colherinha de açucar mascavo ou um pedacinho de rapadura...com certeza é seguramente saudável.
ResponderExcluirNão vejo como uma coisa boa o consumo indiscriminado e ainda 100% duvidoso de um produto 100% sintético. Eu e meu marido fazemos uso da sucralose por 5 anos (podemos dizer que fizemos parte do grupo de estudo). Há 2 meses sentimos fortes dores de cabeça, minha imunidade está baixa e sabe Deus o que mais podemos ter. Não tenho certeza da culpa da sucralose nisso tudo, mas depois de avaliar tantos estudos e ver uma indústria transformando um produto natural em um elemento químico com átomos de cloro (o mesmo acontece com a fabricação de pesticidas), fico com os dois pés atrás. Preciso dizer que se uma pessoa não tem a necessidade de consumir adoçantes é melhor adequar a dieta com as calorias necessárias para uma vida saudável, dar preferência por consumir produtos naturais e ficar bem longe dos industrializados.
ResponderExcluirAlguém ouviu relato de pessoas que toma enalapril, a sucralose causar taquicardia?
ResponderExcluirBom dia a todos.
ResponderExcluirGostaria de ver publicado neste conceituado BLOG. Alguma matéria sobre estudo e análise do emprego do adoçante Stevisídeos (Stévia). E a segurança para consumo humano no papel de adoçante.
Grato pela atenção dispensada
Excelente texto!
ResponderExcluirA Sucralose é um adoçante de uso geral que pode ser encontrado em uma variedade de alimentos, incluindo assados, bebidas, gomas de mascar, gelatinas e sobremesas lácteas congeladas. É estável ao calor, o que significa que permanece doce mesmo quando usado em altas temperaturas durante o cozimento, o que o torna adequado como um substituto do açúcar em produtos assados. Tem seu uso aprovado desde 1998 devido aos estudos realizados na época que comprovavam sua eficácia e atualmente já é permitida em quase todo o mundo, como a European Food Safety Authority (EFSA), a FAO/WHO Joint Expert Committee on Food Additives (JECFA), o Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-estar do Japão, o Food Standards Australia New Zealand e a Health Canada.
Nos dias atuais a dose diária aceitável (IDA) estabelecida pela FDA para a sucralose é de 5 miligramas por quilograma de peso corporal (mg / kg) por dia. E sendo que a quantidade de sucralose nos saches continua o mesmo de 800mg em uma pessoa de peso médio de 70 kg, temos então o consumo de 350mg/dia, o que ao consumir 1 sachê de 800mg passa da ingestão diária. Já para a ANVISA o consumo diário recomendado é de 15mg/kg/dia, na qual uma pessoa de 70kg pode consumir até 1050mg, o que é obtida em dois sachês de sucralose, tendo um consumo extra de 550mg.
De acordo com sua segurança, diversos estudos tem demostrado que ele pode ser consumido sem efeitos adversos graves, porém investigações cientificas estão demonstrando que quando aquecido, esse adoçante torna-se quimicamente instável, liberando compostos potencialmente tóxicos e cumulativos ao organismo humano, podendo levar a formação de câncer. Outros estudos também mostraram que a sucralose sofre decomposição térmica quando submetida às temperaturas utilizadas no cozimento e que o aquecimento de sucralose com glicerol (triglicerídeos), gerou cloropropanóis, uma 9 classe de compostos tóxicos ao ser humano.
Em relação aos seus efeitos no metabolismo, pôde-se observar que existe estimulo na liberação de GLP-1 e diminuição da glicemia em pacientes saudáveis, mas não em pacientes diabéticos tipo 2, inabilitando seu uso nos pacientes mais necessitados. No entanto, existe grande contradição na literatura, exigindo mais pesquisas para esclarecer as informações disponibilizadas.
Podemos dizer que por mais que seja bastante utilizada ao redor do mundo, deve-se sempre manter o cuidado com o excesso de ingestão e também priorizar escolhas que podem ser mais saudáveis para sua vida.
https://repositorio.uniceub.br/jspui/bitstream/235/11733/1/21404468.pdf
https://www.cancer.gov/about-cancer/causes-prevention/risk/diet/artificial-sweeteners-fact-sheet