Na década de 50, a Unilever desenvolveu
a margarina Becel que, ao contrário da manteiga, da banha e de outras
margarinas do mercado, continha em sua formulação gorduras poliinsaturadas
(Ômega 3 e Ômega 6), auxiliares na redução do colesterol sanguíneo. Inicialmente,
Becel era comercializada em farmácias, sob prescrição médica, para pessoas com
alto risco de doenças cardiovasculares. Logo se percebeu, porém, que os
benefícios à saúde pública seriam maiores se o produto fosse vendido em larga
escala. Assim, Becel – cujo nome se originou de B-C-L, iniciais de “Blood
Cholesterol Lowering” (diminuição do colesterol sanguíneo) – tornou-se
disponível como alimento, sem restrição de consumo.
Nas décadas de 80 e 90, novos
comportamentos colocaram o corpo em evidência. A mídia passou a debater
assuntos relativos à saúde e a discutir questões antes restritas ao universo
médico, como as doenças cardíacas. O combate à obesidade, ao tabagismo e ao sedentarismo
entrou na pauta das conversas do dia a dia. E o colesterol, palavra antes desconhecida,
incorporou-se de vez ao vocabulário da maioria das pessoas. As mudanças
favoreceram Becel, que a partir de meados dos anos 80 começou a adquirir uma
imagem positiva entre os consumidores, conforme revelavam as pesquisas de
mercado. A propaganda buscou uma nova linguagem, fugindo do conceito de produto
medicinal para ressaltar a seriedade de Becel e o aspecto da prevenção de
doenças.
Na virada do milênio, a qualidade de
vida despontou como meta prioritária, sobretudo para as populações das grandes
cidades. Apostar numa vida longa e saudável implicava, para muitos, em rever
hábitos, começando por assumir uma dieta balanceada. Novidade entre os
brasileiros, os alimentos funcionais – que, além de cumprir seu papel
nutricional, produzem efeitos benéficos à saúde – passaram a ser divulgados e
recomendados. Em sintonia com essa demanda do consumidor moderno, Becel lançou
a variante Pro-Activ em 2000. A novidade do produto era a fórmula com
fitoesteróis, substâncias extraídas de óleos vegetais que inibem a absorção do
colesterol ruim no intestino. O diferencial fez de Becel Pro-Activ o primeiro
alimento funcional aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) – órgão ligado ao Ministério da Saúde.
FUNDAMENTOS BROMATOLÓGICOS
Considerados uma das últimas inovações da indústria de alimentos, os alimentos funcionais (AF) compõem um segmento de mercado que vêm crescendo rapidamente, alcançando taxas de crescimento de 14% ao ano.
Para a ANVISA, uma alegação de propriedade funcional “é aquela relativa ao papel metabólico ou fisiológico que o nutriente ou não nutriente tem no crescimento, desenvolvimento, manutenção e outras funções normais do organismo humano”; enquanto que uma alegação de propriedade de saúde “é aquela que afirma, sugere ou implica a existência de relação entre o alimento ou ingrediente com doença ou condição relacionada à saúde” (ANVISA, 1999). Um produto não necessita deste registro para ter em sua composição um nutriente “funcional” – proteína de soja, fibras alimentares ou outros – este registro é necessário para que uma empresa alegue – na embalagem de um produto ou em campanhas publicitárias – que seu produto contém propriedades funcionais – dizeres como fonte de fibras ou auxilia na redução do colesterol, por exemplo – desta forma, o controle das alegações visa impedir que os produtores exibam ao público informações cientificamente infundadas e/ou confusas.
A ANVISA reconhece, até o momento, as seguintes alegações: Ácidos graxos (Ômega-3); Carotenóides (Licopeno, Luteína, Zeaxantina); Fibras Alimentares (Fibras Alimentares, Dextrina Resistente, Frutooligossacarídeo, Goma Guar Parcialmente Hidrolisada, Inulina, Lactulose, Polidextrose, Beta Glucana, Psillium); Fitoesteróis; Proteína de Soja; Quitosana; Polióis (Manitol, Xilitol, Sorbitol); Probióticos.
A margarina Becel Pro-Activ, por ser adicionada de ômega-3 e de fitoesteróis, substâncias extraídas de óleos vegetais que inibem a absorção do colesterol ruim no intestino, é um alimento funcional aprovado pela ANVISA.
LEGISLAÇÃO PERTINENTE
Informações nutricionais importantes
acerca de um produto são encontradas em seu rótulo e servem para especificar
seu conteúdo e auxilia o consumidor na hora da compra, pois para escolher o
produto mais adequado deve-se analisar e compreender tais informações. O termo
light é sinônimo de “reduzido”, e é usualmente empregado com o objetivo de
fornecer informações complementares de um ou mais componentes presentes no
alimento em questão, portanto, é classificado como Informação Nutricional
Complementar (INC).
A
redução em um produto light não se restringe apenas às quantidades de gorduras,
podendo ter também redução no valor energético, açúcares, gorduras totais,
gorduras saturadas, sódio e colesterol. Entretanto, para que o alimento seja
classificado como “light”, deve haver redução de, no mínimo 25% no valor
energético em relação ao alimento convencional. De acordo com o Regulamento
técnico de Informação Nutricional Complementar – INC (Resolução RDC n.
54/2012), o rótulo de um produto que promete ser “light ou reduzido” deve
informar a diferença em %, fração ou valor absoluto no valor energético ou
conteúdo dos nutrientes entre os alimentos comparados. Sendo assim, o produto
deve conter, além do termo “light”, a informação de quanto foi a redução e em
qual nutriente constituinte. Por ex: “Light” – 29% menos sódio.
Deve-ser
esclarecer que a Informação Nutricional Complementar é uma avaliação
qualitativa, pois fornece a qualidade nutricional específica do alimento e não
todas as características do mesmo. Ou seja, saber se um alimento é mais
nutritivo que outro usando apenas uma INC é inviável, pois um alimento cujo
rótulo possui a afirmação “não contém gorduras”, pode apresentar quantidades
elevadas de açúcares e sódio.
ANÁLISES E COMENTÁRIOS
Uma pesquisa realizada em fevereiro de
2004 pelo Idec em conjunto com a Consumentenbond (associação de consumidores da
Holanda), revelou que a quantidade de gorduras trans presente nas margarinas e
cremes vegetais, que foram objeto do estudo, varia muito de uma marca para
outra. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Anvisa, o consumo
de gorduras trans não deve ultrapassar 1% do total de calorias ingeridas por
dia ou 2 g. As dez amostras analisadas pelo Idec estavam de acordo com esse
padrão, porém, as diferenças constatadas entre as marcas comprova que a
informação sobre a quantidade de gorduras trans nos rótulos dos alimentos é
fundamental para orientar a escolha do consumidor, como mostrado na tabela a seguir:
Porém, a margarina da marca Qualy,
fabricada pela Sadia, apresentou uma quantidade expressivamente mais elevada de
gorduras trans que as demais marcas. Embora os porcentuais não tenham
ultrapassado os limites recomendados, se um indivíduo ingerir uma porção de 10
g (o equivalente a 1 colher de sopa) dessa marca de margarina por dia, terá,
conforme a Anvisa, uma margem muito pequena para consumir outros produtos que
também contenham gorduras trans. É importante lembrar que as gorduras trans
estão presentes em grande parte dos alimentos industrializados, como biscoitos
(principalmente os recheados), bolos, pães, salgadinhos, massas em geral,
cremes, sorvetes etc. Dessa forma, é bastante provável que o consumidor acabe
ultrapassando o limite diário de ingestão se consumir 10 g de um único produto
com os teores apresentados pela margarina Qualy. Resultados mais satisfatórios
foram obtidos por duas marcas de creme vegetal (Becel e Becel Pró-Activ) e
outra de margarina (Doriana Light), todas fabricadas pela Unilever Best Foods
Brasil. Os três produtos apresentaram os menores índices de gorduras trans da
amostragem, contribuindo muito pouco para atingir o consumo máximo diário
dessas substâncias.
O estudo também avaliou a relação
existente entre as quantidades de gorduras totais e as de gorduras trans
(Tabela a seguir). Nesse aspecto, as margarinas Vigor, da Cia. Leco de Prod.
Alim., e Primor Happy Day, da Bunge Alimentos, apresentaram as maiores relações
entre as duas categorias de gorduras, ou seja, ambas possuem,
proporcionalmente, os maiores teores de gorduras trans em relação à quantidade
total de gorduras existente nas amostras.
A margarina Becel, que se apresenta no mercado como um
produto “recomendado para quem deseja controlar os níveis de colesterol e faz
uma dieta de baixas calorias”, alegando que 52% dos lipídeos presentes são
poliinsaturados, além de ser complementada com vitaminas, apresenta como substituinte da gordura trans, a gordura
interesterificada, empregada com o objetivo de fornecer uma
consistência adequada da margarina.
A interesterificação de
triglicerídeos é um processo que também leva ao ‘endurecimento’ de óleos
vegetais, pelo rearranjo dos ácidos graxos na cadeia do glicerol em uma molécula de
triglicerídeo, sem a formação de ácidos graxos trans.
Para analisar a natureza “saudável”
desse novo processo, SUNDRAM, Kalyana et. al. realizou uma comparação entre os
ácidos graxos trans e as gorduras interesterificadas com uma gordura saturada
não modificada, quanto ao impacto nos lipídeos sanguíneos e na glicose
plasmática. Tratou-se de um ensaio clínico cruzado onde 30 voluntários humanos
foram alimentados com dietas com controlado teor de gordura total (aprox. 31%
da energia diária, sendo que mais de 70% era o tipo de gordura do teste (óleo
de palma, gordura trans ou gordura interesterificada) e composição de ácidos
graxos, por um período de 4 semanas. Com a análise do estudo, viu-se que ambas
as gorduras modificadas (trans e
interesterificada) alteraram o metabolismo das lipoproteínas plasmáticas e da
glicose sanguínea. Ou seja, tal estudo mostra que o que era pra ser uma alternativa
às gorduras trans também pode ser igualmente prejudicial.
Portanto, conhecendo-se
os malefícios em termos de saúde inerentes às gorduras trans, o processo de
fabricação das margarinas já não passa pela fase de hidrogenação. A alternativa
utilizada é dita “mais saudável”, porém o estudo citado acima mostrou que a
interesterificação pode apresentar danos aos consumidores. Sendo assim, o
consumidor deve ter ciência do que está adicionando em sua dieta e cabe às
legislações determinar a necessidade de fornecer informações a respeito das
gorduras trans e interesterificadas nos rótulos dos produtos. Portanto, para
poder identificar qual produto melhor se enquadra às necessidades individuais,
é importante analisar as informações nutricionais contidas nos rótulos dos
alimentos embalados, sendo direito do consumidor adicionar ou excluir de sua
alimentação tais produtos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1.
Consumo
e Saúde: Alimentos diet e light – entenda a diferença. OUVIDORIA/ANVISA E
DPDC/SENACON – Ano 5 N.33, Dezembro de 2013
2. Resoluções da Anvisa: Res n. 54, de 12
de novembro de 2012. Res n. 259, de 20 de setembro de 2002. Res n. 123, de 13
de maio de 2004. Portaria n. 29, de 13 de janeiro de 1998. Manual de Orientação
aos Consumidores – Educação para o Consumo Saudável - Anvisa. Lei
8.078/90 (CDC) art.4° caput, incisos I a III; art6°I, II, III; art 8°, art.10 e
art.18.
3. SUNDRAM,
Kalyana; KARUPAIAH, Tilakavati e HAYES, KC. Stearic acid-rich interesterified
fat and trans-rich fat raise the LDL/HDL ratio and plasma glucose relative to
palm olein in humans. Nutr Metab. 2007.
4. SBAF. O que são Alimentos Funcionais. Disponível em: < http://www.sbaf.org.br/alimentos_funcionais.htm>. Acesso
em: 25 Nov 2015.
5.
POLLAN,
Michael. Em Defesa da Comida. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2008. 272p.
6.
GRISOTTI,
M. et al . OS ALIMENTOS FUNCIONAIS EM SUPERMERCADOS NO BRASIL E NA HOLANDA:
Análise sociológica da construção social das alegações de saúde e o seu papel
nas políticas de saúde pública e no perfil das escolhas dos consumidores.
2010c.
7.
COPPENS, Patrick. The Impact of the Nutrition and
Health Claims Regulation on the Food Industry. 2007
Por Priscila Alves e Rafael Moreira.
A solução encontrada pela indústria de alimentos para substituir a gordura trans, é um processo altamente industrializado, chamado interesterificação. O processo químico que produz gordura interesterificada é um tanto complicado, mas, essencialmente, um óleo vegetal natural como o de girassol é combinado com ácido esteárico e vários catalisadores alcalinos. A gordura interesterificada apresenta várias vantagens para os fabricantes de alimentos processados- aumento do tempo de prateleira do produto e sabor semelhante ao da gordura animal.
ResponderExcluirA gordura interesterificada não estará discriminada no rótulo do alimento. Se o indivíduo tem por hábito ler rótulos de produtos que compra no supermercado, não adianta procurar por gordura interesterificada no rótulo porque não vai encontrar. Na prática, se o rótulo do alimento processado contém óleo vegetal como ingrediente, ou gordura vegetal hidrogenada, certamente indica que o indivíduo estará consumindo ou gordura interesterificada ou gordura trans.
Os produtos que se utilizam da ferramenta citada acima no comentário da colega Anne Gomes, ao “substituir a gordura trans pela gordura interesterificada, fazem uso da alegação “0% de gordura trans”. Esta alegação conduz a mensagem ao consumidor de que tais produtos estariam isentos de efeitos prejudiciais associados às gorduras trans (principalmente os efeitos cardiovasculares amplamente descritos e discutidos). Não seria esta informação, todavia, equivocada ou ao menos precipitada?
ResponderExcluirEsta alegação, que culmina numa ideia de alimentos “mais saudáveis”, leva o consumidor leigo à ideia de que poderia consumir quantidades maiores uma vez que o produto, teoricamente, “não faz mal” por não ter a mais conhecida vilã gordura trans. O consumo excessivo aumenta ainda mais a exposição aos riscos ainda não determinados do uso destes produtos, superestimando, talvez, seus benefícios à saúde.
Além disso, alguns estudos associam as gorduras interesterificadas a desvios no metabolismo do açúcar e na função pancreática, com comprometimento da produção de insulina e elevação dos níveis plasmáticos de glicose.
Através da excelente discussão do trabalho, pode-se perceber que a solução encontrada para possíveis problemas causados pela gordura trans também apresenta riscos. Além dos riscos cardiovasculares presentes também no consumo de gordura trans, as gorduras interesterificadas também já foram associadas a disfunções pancreáticas, tendo como consequência elevadas taxas de glicose. A margarina Becel faz sua publicidade baseada em garantir que o consumo irá manter o coração saudável, “Becel, ame seu coração” ou “Becel para o coração saudável”, de forma que fica claro a necessidade de atualizações das legislações vigentes, de modo a garantir que o consumidor tenha consciência do produto que está sendo adquirido.
ResponderExcluirAtravés do estudo podemos afirmar que o que faz da margarina becel pro-activ um alimento funcional é a adição de fitoesteróis,que são extratos naturais de óleos vegetais, são substâncias que auxiliam na redução da absorção de colesterol e contribuem para a redução do LDL. Por essa razão é um alimento que, além das funções nutricionais básicas, quando consumido como parte da dieta usual, produz efeitos metabólicos e/ou fisiológicos e/ou benéficos à saúde.
ResponderExcluirAtraves de analises realizadas por vários analistas, foi visto que
ResponderExcluiros porcentuais não ultrapassam os limites recomendados pela anvisa de gorduras trans em margarinas de diversas marcas, porém se um indivíduo ingerir uma porção de 10 g (o equivalente a 1 colher
de sopa) de margarina por dia, terá, conforme a Anvisa, uma margem muito pequena para consumir outros produtos que também contenham gorduras trans. E isso que se torna perigoso no consumo diário.
A OMS recomenda que a ingestão de gordura trans não ultrapasse 1% do valor calórico da dieta. Numa dieta de 2000 calorias diárias, sua ingestão de trans não deve ultrapassar 2g. E visando melhorar a saúde da população, já existem substitutos para a gordura trans. Um processo chamado 'interesterificação' solidifica os óleos vegetais, sem que eles tenham que ser hidrogenados. Porém, ainda são poucos os alimentos produzidos por esse processo. Alguns ácidoss graxos extraídos do óleo de palma também são bons substitutos da trans.
Caraca....Leia o artigo !!!
ExcluirAlguém saberia me informar se, apesar de tudo isso, o melhor seria consumir a manteiga extra em pouca quantidade ?
ResponderExcluirAmigo Jaime Cesar, CORTE QUALQUER TIPO de margarina. Se for para usar, prefira mil vezes a manteiga. Faça algo simples, leia os ingredientes da margarina e leia o da manteiga. Depois pesquise os ingredientes da margarina.
ExcluirParece que a margarina acelera o processo de endurecimento das artérias.
ResponderExcluirÉ melhor consumir alimentos naturais. Deixemos os alimentos processados.
ResponderExcluir