Todos ficamos surpresos quando lemos no pacote de biscoitos recheados, considerado por muitos vilão da dieta e da boa saúde, a frase "0% de gordura trans". Por que será então que os deliciosos biscoitos recheados são vistos como alimentos gordurosos que fazem mal a saúde? Será que podemos confiar nos rótulos? O que a legislação diz sobre isso? Essa e muitas outras dúvidas surgem quando o assunto envolve saúde, rótulo de alimentos e leis.
Por Julia Vasconcellos
e Rebeca Cantanhede
DESCRIÇÃO DO PRODUTO E LEGISLAÇÃO PERTINENTE
As gorduras trans são um tipo específico de gordura formada por um
processo de hidrogenação natural (ocorrido no rúmem de animais) e apresenta
este nome por conta das ligações químicas que esta gordura apresenta. A gordura
trans está presente naturalmente, em pequenas quantidades, nos alimentos de
origem animal, por exemplo, leite e carnes, como processo de biohidrogenação ou
em produtos alimentícios industrializados, formados durante o processo de hidrogenação
industrial que forma óleos vegetais líquidos em gordura sólida à temperatura
ambiente. Industrialmente, são utilizadas para melhorar a consistência dos
alimentos e também aumentar a vida de prateleira de alguns produtos sendo muito
empregadas na produção de margarinas, creme vegetal, cobertura de chocolates, biscoitos,
produtos de panificação, sorvetes, massas, batatas fritas, entre outros.
O consumo de gordura saturada e gordura trans na dieta têm sido
associados ao desenvolvimento da doença cardiovascular. O consumo de biscoitos que contêm como ingrediente gordura vegetal hidrogenada,
rica em gordura trans, por crianças e adolescentes, pode contribuir para o
desenvolvimento dessa doença. Nesse sentido, torna-se uma importante medida de saúde
publica melhorar a qualidade nutricional e as informações contidas nos rótulos
de alimentos industrializados que fazem parte do habito alimentar da população.
A OMS preconiza o controle no consumo de alimentos que contenham gordura
trans, com objetivo de reduzir o risco e aumentar a efetividade do tratamento
da doença cardiovascular, e aconselha que o consumo de gordura trans seja
inferior a 1% das calorias totais da dieta.
Com a finalidade de obter mais informações quanto a presença das gorduras
trans em lipídeos utilizados em processos de alimentos, o FDA definiu em 2003
que a indústria alimentícia incluísse a quantidade de gorduras trans nas informações
nutricionais em todos os rótulos das embalagens de produtos alimentícios. Foi recomendado,
também, que seja informada a quantidade especifica de gordura trans, bem como
sua ausência.
No Brasil, a resolução RDC n° 360, de 23/12/2003, sobre a rotulagem
nutricional de alimentos, permite que a informação
nutricional seja expressa por extenso ou numérico para valor energético. Para nutrientes
, quando o alimento contiver quantidades menores ou iguais as estabelecidas,
pode utilizar o termo não significativo. No caso de gordura trans e gorduras
saturadas, em produtos com quantidades menores ou iguais a 0.2 g por porção
expressa em gramas(g) ou mililitros (ml), o fabricante pode informar valor
igual à zero ou que não contém.
“3.4.3.
Expressões dos valores
3.4.3.1.
O Valor energético e o percentual de Valor Diário (% VD) devem ser declarados
em números inteiros. Os nutrientes serão declarados de acordo com o
estabelecido na seguinte tabela e as cifras deverão ser expressas nas unidades
indicadas.
3.4.3.2.
A informação nutricional será expressa como “zero” ou “0” ou “não contém” para
valor energético e ou nutrientes quando o alimento contiver quantidades menores
ou iguais as estabelecidas como “não significativas” de acordo com a Tabela
seguinte:
”
Cabe salientar que estas regras dificultam o estabelecimento de recomendações
quantitativas quanto à ingestão de gorduras, principalmente em relação a
gordura trans e gordura saturadas.
Essa é a brecha na legislação que permite ao fabricante colocar zero gordura
trans na tabela nutricional quando na verdade o alimento possui gordura trans.
Isso significa que a quantidade é pequena o suficiente para não ser declarada
na porção, mas existe no produto, pincipalmente se considerarmos o pacote
inteiro.
FUNDAMENTOS BROMATOLOGICOS, ANALISES E
COMENTARIOS
Para realizar a fundamentação foi escolhido o produto biscoito recheado,
por ser muito consumido, principalmente, por crianças e na correria do dia-dia
muitas pessoas acabam optando por sua ingestão ao invés de uma refeição por ser
de rápido e prático consumo.
Diversos produtos, de marcas e preços distintos, foram analisados
como: Chocolate recheado Mousse da marca
Adria, Bono da marca Nestlé, Trakinas da
marca Mondelēz, Chocolícia da Lacta ,Wafer
Chocolate com avelã da Bauducco, Wafer brigadeiro da Mabel e Passion da Arcor.
Através das informações contidas nos rótulos dos produtos vimos que
algumas das marcas escolhidas apresentam como “zero” a quantidade de gordura
trans na tabela nutricional. No entanto quando se faz uma análise mais crítica
ao olhar os ingredientes, vemos que há si a presença de gordura trans na
composição dos biscoitos, como é o caso dos biscoitos: Wafer Chocolate com
avelã da Bauducco, Chocolícia da Lacta , Passion da Arco e Bono da Nestlé .
Outros , especificam a quantidade de gordura trans nas informações
nutricionais, como é o caso dos biscoitos: Trakinas da Mondelēz e Wafer brigadeiro da Mabel.
Isso, mostra para nós consumidores a importância de olharmos todas as
informações que estão presente nos rótulos dos produtos que consumimos. Pois as
vezes, as informações que buscamos estão identificadas como “ zero”, “ não
contém” na tabela nutricional, mas quando olhamos seus ingredientes encontramos
sim a presença de tal ingrediente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
Ministério da Saúde (BR), Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Folheto explicativo sobre rotulagem de gorduras trans. Brasília (DF); 2006.
Disponível em <http://www.anvisa.gov.br/alimentos/gordura_trans.pdf>.
Acesso em novembro de 2015.
PROENÇA, R., P., C., et al. Recomendações de ingestão e rotulagem de
gordura trans em alimentos industrializados brasileiros: análise de documentos
oficiais. Rev. Saúde Pública vol.46 no.5 São Paulo. Outubro 2012
Stender S, Dyerberg. The influence of trans
fatty acids on health: a report of the Danish Nutrition Council. 4.ed. Søborg;
2003. (The Danish Nutrition Council Publication, 34). Disponível em
<http://www.meraadet.dk/gfx/uploads/Rapporter_pdf/Trans%20fatty%20acids_4.th%20ed.
_UK_www.pdf> Acesso em novembro
de 2015
FDA Cuts Trans
Fat in Processed Foods. Disponível
em <http://www.fda.gov/ForConsumers/ConsumerUpdates/ucm372915.htm> Acesso
em novembro de 2015
O consumo em excesso de alimentos com gordura do tipo trans, aumenta o colesterol total do organismo, aumenta os níveis de LDL -colesterol (o "mau colesterol') e diminui os níveis de HDL -colesterol ("colesterol bom"), o que favorece, por exemplo o surgimento da ateroesclerose, que é o entupimento de veias e artérias que podem levar o indivíduo a ter um AVC.
ResponderExcluirMuitos produtos, principalmente as bolachas recheadas, como citado no trabalho acima, colocam em suas embalagens que aquele produto tem 0% de gordura trans. Na porção. Um exemplo típico é o biscoito Trakinas. Na embalagem esta escrito: 0% de gordura trans na porção. A porção corresponde a 2,5 biscoitos, sendo quase impossível uma pessoa comer apenas essa quantidade. Além disso, um dos seus ingredientes é a gordura vegetal hidrogenada, ou seja, a gordura trans.
Já é sabido a respeito dos riscos e consequência da ingestão de gordura trans de forma diária e abusiva, como descrito no trabalho acima. Entretanto, muitas das vezes é vantajoso para as indústrias, de uma forma geral, usufruirem dessa tecnologia de processo para melhorar a consistência dos alimentos e também aumentar o tempo de conservação de alguns produtos. Por outro lado, como também dito acima, alimentos de origem animal naturalmente apresentam esse tipo de gordura. As indústrias alimentícias ao realizar a remoção desse tipo de gordura, na prática, está simplesmente substituindo por outras gorduras, como a gordura cis, o que inevitavelmente mantém a composição de gorduras totais. Estudos mostram que 25% do colesterol presente no sangue vem dos alimentos que consumimos. Consequentemente, estipula-se que o consumo diário acima de 1,4 g de gordura trans pode favorecer a formação de doenças cardiovasculares, já que ela eleva os níveis de colesterol ruim, LDL, e diminui o colesterol bom, o HDL. Isso também pode ser agravado por diversos alimentos que têm no máximo 0,2g de gordura por porção e são considerados “livres de gorduras trans”, porém o consumo superior às porções estabelecidas e/ou a ingestão de diversos produtos com suas repectivas porções “livres de gordura trans” acarreta em um problema de saúde muito maior.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirO trabalho acima exposto alerta com bastante clareza o problema da gordura trans encontrada na maioria dos alimentos. Uma vez que este assunto há alguns anos atrás não era tão relevante e preocupante para a sociedade. As pessoas não davam tanta importância a esse tipo de substancia e apenas as gorduras saturadas eram vistas como vilãs da dieta. Hoje depois de inúmeros estudos, foi comprovado que a gordura trans traz diversos malefícios ao organismo. Entre eles, a formação de gordura visceral, o chamado “pneuzinho”, tão temido pela mulherada, o desencadeamento da síndrome metabólica, diabetes e pressão alta e até outros problemas sérios. Para isso, nós consumidores, os mais interessados na nossa saúde, devemos conhecer o produto que estamos comprando. Por exemplo, podemos encontrar esse tipo de gordura em alimentos como: batatas fritas, nos bolos, nos biscoitos cream cracker e nas bolachas recheadas, no chocolate, nos salgadinhos, no sorvete, na pipoca de micro-ondas, na margarina e em muitos outros alimentos industrializados.
ResponderExcluirHoje em dia, as principais patologias que levam à óbito são as doenças cardiovasculares. Por vezes pensamos que levamos uma vida saudável, sem exagerar em lipídeos, comendo "só um biscoitinho" onde lemos Zero Gordura Trans, mas não são percebidas as implicações disso. Como descrito no texto, se a quantidade na porção for menor do que a quantidade que legislação obriga a declarar, o produto é classificado como zero gordura trans. Isso equivale a uma porção, mas e a ingestão de várias porções? Isso deve ser bem estabelecido para o consumidor, principalmente aqueles que tenham propensão a problemas cardiovasculares, uma vez que será impossível o consumidor ingerir menos gordura trans do que o limite preconizado. Deve-se considerar que o consumidor na maioria das vezes não perde tempo lendo rótulos e se para, pode não interpretar o escrito, e o que vem em letras garrafais na frente é o que implica na escolha do produto.
ResponderExcluirHoje em dia, as principais patologias que levam à óbito são as doenças cardiovasculares. Por vezes pensamos que levamos uma vida saudável, sem exagerar em lipídeos, comendo "só um biscoitinho" onde lemos Zero Gordura Trans, mas não são percebidas as implicações disso. Como descrito no texto, se a quantidade na porção for menor do que a quantidade que legislação obriga a declarar, o produto é classificado como zero gordura trans. Isso equivale a uma porção, mas e a ingestão de várias porções? Isso deve ser bem estabelecido para o consumidor, principalmente aqueles que tenham propensão a problemas cardiovasculares, uma vez que será impossível o consumidor ingerir menos gordura trans do que o limite preconizado. Deve-se considerar que o consumidor na maioria das vezes não perde tempo lendo rótulos e se para, pode não interpretar o escrito, e o que vem em letras garrafais na frente é o que implica na escolha do produto.
ResponderExcluirUm fato muito importante apresentado foi quanto à "manipulação" do tamanho das porções para que o alimento seja rotulado como zero trans. Por isso, como as autoras sugeriram, é importante a leitura dos ingredientes contidos no alimento quando se tem a preocupação com ingerir ou não determinado ingrediente.
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